CASO SUZANNE URBAN – Binswanger (trad. Tadeu Costa Andrade)

Fonte: https://www.yumpu.com/pt/document/read/12536208/o-caso-suzanne-urban-psicopatologia-fenomenologica-

DIC:

Beeindruckbarkeit: impressionabilidade

Besessenheit: obsessão; possessão (demoníaca).

In der Wirklichkeitstehen: estar com os pés no chão (terra; realidade)

lazareto: hospital de leprosos, espaço destinado à quarentena

mit-teilsam: com-unicativo

Selbst-Verblendung: autocegamento

Verantwortlichkeit: responsabilidade


Da ist eine Fliege in meiner Suppe”

ins Dasein kommen” vir-a-ser

Desde que eu me entendo por gente

Caso Ilse: o <ponto de partida> era o amor passional pelo pai e o sofrimento constante pelos maus-tratos que ele dispensava à mãe.”

“Enquanto, no Caso Ilse, o Dasein estaba sob uma alta-tensão que durou muitos anos e <deu vazão> a si mesma primeiramente no sacrifício da queimadura, depois no delírio de perseguição e no delírio amoroso, a alta-tensão sob a qual está o Dasein no caso Suzanne Urban mostra-se não apenas em um amor <idólatra> pelos pais, mas também em um culto amoroso hipocondríaco <quase anormal> aos pais e ao esposo. Esse culto é afetado profundamente e é colocado sob a máxima prova quando o esposo (um primo) contrai câncer na bexiga.” “Além disso, ressalte-se que não se trata de um delírio de perseguição singular <residual> que se liga a uma vivência de desabamento do mundo, como no caso Schreber-Flechsig, mas, como nos casos Lola e Ilse, de um delírio de perseguição anônimo ou plural.”

(Nota: os títulos a seguir foram insertos por mim de forma arbitrária, não correspondendo nem à posição dos capítulos e tópicos do livro nem coincidindo em nomenclatura.)

1. A FAMÍLIA RELATA O CASO

“nenhuma amizade autêntica.”

“Sobretudo nos últimos anos, colocou que o ideal haveria sido não ter se casado, mas ter feito carreira no teatro. Natureza muito erótica (…) gostava de contar ao velho pai piadinhas eróticas.”

Quem não vira artista fica doido; mas e o artista, anormal, fica o quê?

“Quando menina, era notavelmente bonita. (…) Não agia como uma coquette” “Tornou-se noiva de um primo muito rapidamente”

“Aos 27 anos começaram ataques de espirro paroxísticos [?] que permaneceram fechados à influência terapêutica. A organoterapia junto a renomados laringologistas falhou completamente.”

“O marido era dominado pela esposa, cedia a ela constantemente”“só tinha interesse pelo câncer do marido, não suportava qualquer outro assunto. Indignava-se se alguém risse em sua frente. Queria acima de tudo matar o marido ela mesma e suicidar-se depois. Desejava um acidente que trouxesse a morte para os dois.” “Insultava os médicos porque eles não matavam o marido.”

“A paciente ingressou num hospital psiquiátrico (…) desde o começo, acreditava que estava sendo observada, perseguida pela polícia, radiografada; segundo ela, a família (…) estava tomando seus bens; no parque havia fios elétricos que registravam os passos de todos, ela teria sido infectada com sífilis, além de ter câncer, e todas as doenças possíveis. Recusava comida, acreditando que estava envenenada. À noite, vozes entravam-lhe na cabeça e mandavam-na repetir tudo que havia de mau; tudo seria impresso e divulgado por meio de gravadores especiais. Havia fios por toda parte. Mesmo no banho, haveria aparatos que a fotografavam nua para expô-la publicamente. Julgava que misturados aos remédios tomava sêmen de rãs e lagartos, queria vomitar tudo.”

“As idéias persecutórias pioravam cada vez mais. Gritava da janela (…) haviam cortado fora o nariz, as orelhas, os braços da mãe. Os familiares estavam enfiados em meio a fezes, batiam neles com barras de ferro, etc.”

“alta após 4 semanas”

“Nos últimos tempos, envelheceu muito, os cabelos esbranquiçaram rapidamente.”

2. COMO SUZANNE SE VÊ

“[Internada na clínica de Binswanger,] escreveu em poucos dias 2 cadernos completos, em alemão, embora esse não fosse seu idioma natal. (…) A partir dos escritos, pode-se perceber o quão exatamente as informações dadas pela paciente concordam com as dadas pelos familiares do ponto de vista do tempo e dos fatos”

Visto que a doença piorava cada vez mais, que meu marido começou a sofrer de insônia total apesar da medicação e que só comia se o forçavam e se alimentava principalmente de sangue prensado com creme, ovos e carne, os médicos sugeriram, uma vez que não se podia obter o novo medicamento (mesotório) onde morávamos, que fôssemos a Paris, ao que meus familiares também me encorajavam, dizendo que eu devia de toda maneira, embora estivesse arrasada, inconsolável, tentar também isso, a fim de nunca poder me culpar por [não] ter tentado fazer todo o possível para, se não salvar, ao menos prolongar a vida do homem. Essa estadia de 2 meses em P. foi o inferno para o pobre homem; alguns médicos queriam mandar operar meu marido, proposta, contudo, veementemente rejeitado por outros médicos.”

Enquanto eu estou andando pelo parque, eu escuto minhas expressões um tanto triviais serem repetidas por algumas mulheres que estão andando o mais perto possível de mim, a fim de me mostrar que elas ouviram tudo. Isso me deixa frenética. Até mesmo meus pensamentos são repetidos por outras pessoas. Eu digo para minha irmã ‘Nós estamos aqui entre espiões, o que eles querem de mim?’, mas ela apenas ri”

eu pressinto uma corrente elétrica”

tornei-me assassina de toda a família; não isso apenas; eu mando despedaçar a tumba do meu pai. Esses pensamentos me vêm na língua …, que eu nunca usei em casa. (…) e eu, assassina, estou deitada aqui na cama, estou sendo alimentada, estão me dando banho enquanto meus inocentes familiares atormentam-se.”

nós somos mendigas, eu caluniei vocês todos por meio do poder do diabo.”

Agora estou vivendo com a única esperança de escrever um pedido (petição) de que fuzilem as pobres pessoas sofridas ao invés de martirizarem-nas por tanto tempo.”

3. ANOTAÇÕES DE BINSWANGER

“Teriam-na mandado dizer que seu sobrinho é um socialista. Sente depois, com toda a exatidão, que estão arrancando os olhos dele.”

“tão logo conta uma piada, faz mais uma vez censuras a si mesma. (…) Conta com muito gosto as piadas mais sujas. Pergunta quem lhe tirou o entendimento.”

“Em 4 de setembro de 1920 é retirada do hospital psiquiátrico pela irmã imprudente, depois da assinatura de uma declaração rigorosa (…) Desde então, não ouvimos sequer mais uma palavra a seu respeito, e todas as buscas ficaram sem resultado devido aos caos da I e II Guerras Mundiais.”

“Até o último momento, a letra era tão precisa e pequena que a paciente podia colocar toda a história de seu sofrimento em um cartão postal”

4. ANÁLISE DO DASEIN

O médico disse-lhe que havia uma parte da bexiga que estava ferida, mas, quando ele virou as costas, fez para mim uma cara tão terrivelmente desesperançosa que fiquei completamente paralisada (…) de modo que o médico agarrou minha mão para me indicar que eu não devia mostrar a ele nenhuma das minhas sensações. Essa mímica foi uma coisa pavorosa! Meu marido também percebeu algo, talvez, mas exibiu uma expressão completamente amigável e apenas perguntou ao médico de onde isto poderia ter vindo; ele respondeu que isso frequentemente está no sangue, sem que se saiba sua origem.”

“horror mudo”

“Suzanne Urban leu no rosto e na mímica do médico não apenas a sentença de morte do marido, mas também a perspectiva das dores tormentosas que o aguardavam.”

“Todo o Dasein estava agora sob o domínio do tema de que foi encarregado na <cena original>, o tema do <câncer do marido>. Como algo de que alguém é encarregado <a partir de fora>, esse tema implica um encargo, o encargo, propriamente, de <levar a cabo> esse tema de alguma maneira, de não sucumbir a ele, mas vencê-lo.”

“Suzanne Urban agora fala consigo mesma, ouve a si mesma, escuta exclusivamente a si mesma. Se o dito de que todo monólogo é um diálogo (Vossler) é correto, isso também se aplica neste caso.”

“Enquanto o si-mesmo aberto (aberto à verdadeira comunidade) atenua a carga de tal tema falando a respeito dele com um amigo, o si-mesmo que se enclausura com o tema procura carregá-la <exclusivamente> em seus próprios ombros, sem ver que esses ombros se tornaram fracos demais para isso há muito. A essa altura estamos diante do 1º passo desse Dasein em direção ao cegamento do si-mesmo ou à extravagância.”

Vacas não-malhadas e gatos no telhado: “Nachts sind alle Kühe grau”

“Como é regra nos delírios de perseguição plurais, aqui o pretenso fundador da <desgraça de toda a família> [o psiquiatra da internação] vai depressa para o 2º plano para temporariamente dar lugar a uma pessoa completamente diferente (<a prostituta de rua>, a enfermeira) e somente ser mencionado de novo ocasionalmente. O Dr. R. figura aí como aquele que a separou de seu marido (…) o carrasco da família” “Apesar de tudo isso, não parece fora de questão que o Dr. R. deva seu significado de desgraça ou de pavor a uma <identificação atmosférica> com o urologista que <martirizou> o marido com seu exame e lhe revelou o diagnóstico de câncer tão <pavorosamente>. Pois o verdadeiro carrasco, aquele com quem <a desgraça de toda a família> começou, é decerto o médico da cena original

Te peguei pela nota de rodapé.

Tu te tornas eternamente citável pelo artigo que publicas.

“Também a autosseculusão frente aos outros é uma forma desse ser compartilhado (…) Todavia, com isso ainda estamos na superfície, completamente à parte do fato de que a passividade sempre implica uma forma de atividade e vice-versa.”

Mundchen, a boquinha de Munique.

É fitar e começar: start and resume (pressing start): starren: é ver pra crer: que fita, pode crer!

Select your destinyfreedom!

Pausar qualquer progresso.

Engessar qualquer um que deu um pau na máquina que deu pau.

Congelar, reter, dar crise de pânico e resetar.

Meu torpor seguro onde cristalizaram as emoções já faz um tempo.

Já faz um tempo que as pessoas agem como se portas-afora fossem.

Ágora é que são elas, cuspindo na cara dos carnavais.

Parcas fora do baralho, só estão no mundo real –

Presente de hilota e pelego!

Recebo, não nego, dadivoso logro quando hipomaníaco eu estiver.

Rancorosa Lola Corre do Tempo que Assedia a Moça de Somas Bonitas.

Poxa que rosa sua coxa, recorro aos meus pensamentos para encerrar o coro

Com uma mensagem que não escoe pelo ralo: uma ponte entre nossas

Aspirações.

Abismo cheio de miasma, conhecido como el mismo.

Cacarejou a cara do novo dia normal e malogrado.

O Apanhador de Sentidos no Campo do Nonsense.

Em termos de sentido da vida, a única coisa que se apanha, em muitas pessoas, é seu eu-criança. Isso é falta de apanhar, K.! Preguiça mental!

Entorpecido em suas sólidas crenças morais.

Fagulhas de luz negra em seu olhar gasoso, de névoa desinteressada.

História da Moral: Não conte.

Wish-to-do-list:

Ator: doar um

Um ator, atordoar

fina morte morna de morfina

“Em lugar da simesmação autentica do Dasein no sentido da existência, entra a errância sem-fim para o <mundo pavoroso>, para a <odisséia pavorosa>.”

“A notável idiossincrasia das narrações delirantes dos esquizofrênicos está correlacionada ao fato de que o <como> da narração, a representação linguística, pode ser extremamente sucinta e precisa – tão precisa que um leigo, em regra, dará crédito às declarações delirantes da paciente prontamente se elas não forem abstrusas demais –, enquanto o <o quê>, o conteúdo de suas narrativas, é em regra notavelmente impreciso, vago, ambíguo, até mesmo <aventuroso>.”

me sinto como se…”

“Quanto mais evidente é a sinistra entrega de Suzanne à publicidade, mais os órgãos executores dela (aqui como em outros lugares) se subtraem a uma verificação exata. Todos procedem de maneira mais ou menos secreta. (…) está cercada de espiões, contudo não consegue vê-los e identificá-los; ela escuta <um apitar policial>, mas não vê nenhum policial. (…) A despeito do sentimento de ódio para com o Dr. R e para com a <prostituta de rua>, Suzanne, ao contrário do presidente do senado Schreber, não implica com uma pessoa determinada, ao redor da qual circula amor & ódio. Não foi <ele> nem <ela> que armou, mas simplesmente <armaram> uma <armadilha pavorosa>” Bem weberiano!

“Lidamos com duas <linguagens> da paciente ao mesmo tempo: uma linguagem do pavor e uma linguagem da verificação calma e da reflexão. Delírio e reflexão sóbria não se excluem mutuamente”

“Suzanne ouve dia e noite um uivo pavoroso, como o dos lobos. <Tossem> e <cospem> alto diante da janela dela, ela vê grandes facas de cozinha que estão numa janela e grita alto ao ver algumas gotas de sangue sobre o chão, etc.”

“a criada do hospital está vestindo os aventais dela, para <mostrar-lhe> que estão fazendo <revistas> (policiais) em seu quarto. As declarações de uma senhora de que se deveria deixar o gato <dar uma boa mastigada no pássaro>, certos movimentos manuais e o ato de puxar o nariz, tudo isso tem o mesmo sentido, que algumas vezes ela escuta expresso por palavras: <a cabecinha precisa cair>.”

“Depois de pensar como seria bom se quisessem decapitar ela própria (em lugar de seus familiares), ela vê <diante de si> um menino que tem um sabre de brinquedo fazer o movimento da decapitação. Ao capinara grama <mostram> a foice significativamente: <Eu, contudo, entendi o sentido da foice>.”

zombam dela, até mesmo da doença do marido: Câncer, câncer, pelo amor de Deus! Por que não lagosta?”

“O que torna o <paciente que sofre de delírio> alheio a nós, o que o faz parecer alienado não são percepções ou idéias isoladas, mas o fato de seu enclausuramento em um esboço de mundo dominado por um único ou alguns poucos temas, ou seja, enormemente estreito.”

“há os pensamentos que mandam-na pensar!”

“obrigam-na a pensar que os familiares são cobertos com chumbo e piche.”

“O mais tormentoso de todos os tormentos é, na verdade, a obrigação, que parte de um poder diabólico, de caluniar seus familiares <em pensamentos> ou com palavras e, desse modo, de fazer-se culpável pelos martírios e pela decadência tormentosa deles, portanto, de ser uma criminosa, por assim dizer, uma criminosa a contragosto.”

1) ‘voz’ inquisidora; 2) poder caluniador dos pensamentos e das palavras; 3) instância transcendente que reflete o jogo de perguntas e respostas, sendo aceita como destino pela ‘voz’, que no entanto ‘corrige’ as respostas quando necessário.

“Aí vemos que O Dasein ainda consegue resistir à publicização dos <pensamentos> ou, ao menos, ainda consegue encará-la de frente se ela estiver em extrema contradição com o si-mesmo. No entanto, é claro que as acusações caluniadores surgem a partir do próprio Dasein.”

Detalhe curioso: a ‘voz’ diz-lhe injustamente o tempo todo que seu marido, inocente, é um falso-moedeiro. “Em Kreuzlingen [segunda internação, na Suíça], ela sempre ouve o martelar de uma forja <nos ouvidos>, que indica que ali mora a mulher do falsificador de dinheiro!”

“E se alguém designa todos esses pensamentos como idéias delirantes, declara ela energicamente: Não são idéias delirantes, são idéias verdadeiras! E logo após Suzanne faz de novo um relato completamente objetivo sobre o novo medicamento que foi inventado contra o câncer em Munique e que seu irmão buscará.”

“a intenção de matar o marido com veneno (arsênico) agora é colocada como a causa de sua internação no 1º hospital”

A paciente passa a se arranhar (no lugar da enfermeira), a se masturbar sem consideração com quem a assiste ao invés de ter vergonha de qualquer atitude em seclusão, uma vez que é sempre, de alguma forma, filmada e gravada: “O mundo compartilhado, que normalmente tem o papel principal no delírio, aqui afunda em direção à completa insignificância. O Dasein retorna à vida no próprio corpo e ao gozo do próprio corpo, agora não mais na seclusão do mundo com-partilhado, mas <diante dos olhos dele>.”

ESPACIALIZAÇÃO DO DASEIN ou TEATRO DA PERSEGUIÇÃO: “Ellen West designava seu Dasein como uma prisão, uma rede e, sobretudo, um palco, cujas saídas estão ocupadas por homens armados <de espadas sacadas>

Jemandem auf den Leibrücken

“Mesmo os pensamentos são <coisas> que são como que tiradas de um recipiente e inseridas nele.”

“mundo sinistro marionético” “Essa consciência de ser uma simples marionete nas mãos de manipuladores desconhecidos está relacionada ao que há de mais pavoroso nos pavores” “Também o predomínio da tecnologia e do maquinário tecnológico está correlacionado à redução do mundo desse delírio a um simples mundo do contato.”

Minkowski – Les notions de distance vécue

E agora, que devir poderá dar uma condição de possibilidade de me salvar? EEEEuuuuuuu

Já conhecemos da <experiência natural> o papel da polícia como um poder sinistro-anônimo. É preciso ler somente O Processo de Kafka para ter uma idéia do tipo, da dimensão e do efeito desse poder. Além da polícia, agora entram em ação também seus companheiros, seja a mando dela, seja por conta própria.” “o médico encaminhador ou ‘carrasco’, os enfermeiros, os outros pacientes, os companheiros de viagem, etc.” “órgãos executores do pavoroso

“Em todos os casos, trata-se das formas do pegar ou ser-pego por algo relacionados ao mundo compartilhado, no sentido da impressionabilidade.

“Acima desses <ramos> dos órgãos executores do pavoroso e, especialmente, acima da polícia, encontramos – como contratantes – o partido (anti-socialista), o exército de ocupação (vive-se então a Primeira Guerra Mundial) ou mesmo o Estado. E sobre tudo isso está simplesmente o poder diabólico do pavoroso, que ora é apenas pressentido, ora é ouvido como uma ‘voz’ terrível.”

“Apesar de ele assumir uma voz, não se chega manifestamente à personificação propriamente dita do poder do pavoroso na forma de um diabo ou um demônio, como muitas vezes podemos constatar em outros casos. Em todo caso, também não ouvimos dizer nada sore visões diabólicas.”

Szilasi – Potência e impotência do espírito

5.O PALCO: CASO ELLEN WEST X CASO URBAN. QUANDO A PEÇA ENCENADA E MUITO CONVINCENTE TORNA-SE POR FIM O REAL (TEATRO DO PAVOR). REFERÊNCIA À TRAGÉDIA GREGA CLÁSSICA.

“o Dasein que adentrou o símile do palco de Ellen West está de uma vez por todas cercado por cortinas que não podem ser deslocadas, por inimigos insuperáveis.”

Resignação como a “ajuda que vem do próprio Dasein”.

“Uma vez que a possibilidade de ser da impressionabilidade se autonomize completamente e, com isso, se torne desmedida e ilimitada, e, consequentemente, o Dasein se limite ao recebimento de impressões, fala-se de alucinação. Se essa receptividade estiver sob a supremacia do pavoroso e obtiver instruções dele, trata-se necessariamente de alucinações pavorosas. O mesmo vale para os pensamentos.”

“O <palco> inteiro está posto em cena por um único <diretor>, por um único poder que confere sentido e dá uma direção. É apenas a partir desse poder que todos os atos que conferem e cumprem sentidos recebem sua diretiva e seu cumprimento intencional.”

Mergulho na viscosa piscina do delírio. Fácil entrar, difícil sair.

“Enquanto o delírio é uma das formas da sujeição do Dasein a esse poder do pavoroso, o mito e a religião, a poesia e a filosofia representam, pelo contrário, formas da superação dele.” “O pavoroso diz respeito ao Dasein em seu isolamento no autismo

Partida bem disputada antes da partida bem acenada

como se…” símile, analogia, erga mínimo distanciamento, abstração, consideração fria de uma autoimagem – diferente de quando se passa ao delírio (psicose) p.d.

“O ser-espiritual é exatamente esse retorno, esse recuperar-a-si-mesmo do tumulto do mundo, a possibilidade da capacidade de ser no espírito.”

passa-se à voz passiva do ente

“O próprio pavoroso-aflitivo se transformou aqui: em lugar do marido, encontramos toda a família ameaçada pelo martírio e pela morte, no lugar do martírio por uma doença incurável, entraram os martírios feitos pela polícia, etc.”

“Daí resulta que, para a compreensão do delírio, não podemos recorrer nem a um distúrbio do juízo em termos de um equívoco, nem a um distúrbio de percepção sensorial, de ilusão por meio de alucinações. Ambos são já consequências da transformação da estrutura do ser-no-mundo como um todo, no sentido do ser-no-mundo deliróide.”

“Ele não se porta de maneira diferente de uma pessoa a quem aconteceu uma injustiça real. Não tem somente a necessidade de <dizer o que sofre>, mas também de defender a si mesmo e os outros dos sofrimentos. (…) o contato com o mundo compartilhado não está de nenhuma maneira interrompido.”

Quem tem inimigos sempre tem testemunhas e objetos neutros no universo. Não houvesse isso, seria apenas uma câmara de yin-yang e partir-se-ia para o confronto direto. No entanto, o inimigo é covarde, é astuto e “mais sujo” do que nós (os personagens delirantes), precisa recorrer a subterfúgios e a táticas infames para “ganhar de nós”. Como ainda cremos, apesar de tudo, numa justiça como princípio das coisas, olhamos em todos os recantos atrás de alguém que simpatize com nossa causa e perceba a vileza e a má-fé de nossos oponentes-perseguidores.

Desse ponto de vista, aquele que sofre de delírio de perseguição não é de forma alguma autista.” Ele sofre de hiper-realidade. Ele pensa que cometeu o crime perfeito e agora sofre uma retaliação não menos impecável…

O perseguido é um secreto exibicionista.

“a <conversão> dos acontecimentos em <ação> vai muito mais longe do que onde já se chegou ou pode se chegar na tragédia e também no mais arrepiante drama barroco. (…) o delírio (…) supera a (…) tragédia (…) [porque] (…) também os pensamentos [são] recebidos [de fora e incluídos] na ação.”

“aqui, como na tragédia, não há <rua sem-saída>, mas tudo vai a qualquer lugar e vem de qualquer lugar e claramente <se refere a um centro>”, o que, como já ressaltamos, exclui o acaso. (…) [Mas,] enquanto na tragédia o poeta é quem <transforma a matéria-prima com sua força>, no delírio o poder formador (…) é cego, e isso implica DESTRUIR A FORMA” Édipo é o autor dessa mímica infernal.

6. CONTINUAÇÃO DO TÓPICO ANTERIOR. REFERÊNCIA À POESIA DE BAUDELAIRE.

Para usar o idioleto idiótico de Einstein, no delírio de perseguição, deus joga todos os dados que tem à mão!

À procura da batida perfeita, quer dizer da cena perfeita, quer dizer, da cena original.O protótipo de todos os males.

O SONETO DA DESTRUIÇÃO AUTÔMATO-SANGRENTA

Sem cessar, ao meu lado, se agita o Demônio,

Ele nada em torno de mim como um ar impalpável

Eu o trago e sinto que queima meu pulmão

E o enche de um desejo eterno e culpável.

Por vezes ele toma, sabendo meu grande amor pela Arte,

A forma da mais sedutora das mulheres

E, sob pretextos especiosos da tristeza,

Acostuma meu lábio a filtros infames.

Ele me conduz assim, longe do olhar de Deus,

Arquejando e quebrado de fadiga, em meio

Às planícies do Tédio,¹ profundas e desertas.

E lança aos meus olhos cheios² de confusão

Vestimentas sujas, feridas abertas,

É a máquina sangrenta da Destruição!”

Baudelaire

¹ Tártaro

² de cisne

νος

Nada no ar

Ar que queima

Fogo que chamusca,

soterra

Terra que cobre

Tudo de novo.

Imagina se esse eidos pega n’olho

Você vê resultados nos testes de Rorschach?

7. A PARANÓIA DE ROUSSEAU

“nos ocuparemos de um caso especialmente famoso e bem-documentado da literatura mundial, o de Jean-Jacques Rousseau.”

“Esse caso é muito apropriado ao que nos interessa, pois a língua francesa é extraordinariamente rica em expressões metafóricas, que são aquilo de que se trata aqui.”

“Rousseau sofria de um delírio de perseguição completamente não-sangrento, puramente social ou reputacional, em termos de uma difamação levada ao extremo, e, no entanto, nele encontramos um vasto número de expressões da esfera do maquinário e da tecnologia a serviço da destruição.” UnB murky atmosphere

Rousseau, Dialogues (vol. XVIII[!] das Obras completas)

Barbarus hic ego sum quia non intelligor illis”

Ovídio

Aqui sou um bárbaro, pois não me entendem”

agrupamentos, cochichos, risos desrespeitosos, olhares cruéis e selvagens, escárnio… atentados… o inimigo sabe exatamente aquilo que mais nos pode ferir, como que magicamente… somos nós que temos rivais finalmente à nossa altura, ou nossa mente nos prega essa peça tão pesada (nosso maior inimigo é nossa própria inteligência tão sutil em seu masoquismo autoacusatório?)?

esse corredor polonês assintótico, entre a certeza absoluta de ser o bode expiatório e a certeza de ser só um ser-num-mundo-ruim, eternamente em dúvida entre os dois pólos perfeitos, eternamente num julgamento impreciso sobre todos os eventos e circunstâncias em pingue-pongue

Eles encontraram a arte de me fazer sofrer uma morte lenta me mantendo enterrado vivo”

R.

“lama”

“apunhalam-me impunemente”

“tudo é uma armadilha”

“maldade diabólica”

não soa, é!

a ameaça de um vago processo…

ocafka da Kapes

a vingança é impessoal

Imaginem pessoas que começam a colocar cada um uma boa máscara, bem ajustada, que se armam com ferro até os dentes, que surpreendem seu inimigo em seguida, o acertam por trás, colocam-no nu, atam-lhe o corpo, os braços, as mãos, os pés, a cabeça, de modo que ele não possa se mover, colocam-lhe uma mordaça na boca, furam-lhe os olhos, o estendem sobre a terra e passam, enfim, sua nobre vida a massacrá-lo de pavor docemente, de modo que, morrendo por suas feridas, ele não cesse de senti-las tão cedo … a vista cruel deles fere seus olhos por todas as partes … o espetáculo do ódio o aflige e o dilacera ainda mais [na mente que no corpo]”

…estes Senhores conjurados em um complô anônimo para difamar-me, inclusive em face do amanhã…” “o grupo parte de 2 rivais, cujo número rapidamente aumenta para 10, mas gradualmente passa a abranger o mundo inteiro (l’univers)”

neurose de transferência do inimigo mortal zena-carolina (nevrose à 4)

cassaram-lhe a aposentadoria integral

invejavam seu carrão

não o valorizavam o suficiente

obviamente falavam mal dele as suas costas (((sem provas)))

UnB – tornar-se um adulto – emular o progenitor

pessoas falam mal de mim às costas

fazem cartazes, infringem normas do Orkut (sim, com provas!)

desvalorizam-me a olhos vistos (a imbecil que desistiu do curso para cursar medicina diz que Heisenberg não pode ser citado numa aula de Introdução à sociologia, pois “não tem nada a ver”, física nada tem a ver com este mundo compartilhado em que pisamos – e mesmo se tivesse, vc fez uma analogia idiota!!)

o calouro que tomou pinho-sol (como se tivesse sido um litro, foi um gole de desafio, mas isso não importa, é a última coisa que importaria, o que importa é a mofa e a troça, passar adiante este relato mui cômico… e ele não tem direito de se enfezar com essa história, afinal, quem mandou ele… inclusive quebrar o dente numa escada numa festa… que ridículo! que ridículo ele descontar hipócrita e dissimuladamente em seu blog intelectual – ele não tem esse direito! – ele me chamou de chato lá… disse que eu dou sono, eu atrapalho, que NÓS SOMOS BURROS, inadmissível, alguém que tomou um gole de pinho-sol ser superior a nós, ovelhas de rebanho, em qualquer coisa que seja!…apague seu blog, viva de acordo com meus preceitos, seu… doido… retifico… seu menos-que-doido pois eu li em Foucault que doidos são seres complexos e honrados vc é um menos-que-nada-e-além-do-mais-vc-é-um-playboyzinho-que-estudou-no-CEUB, meu pai arquiteto que gosta de ornar a casa com colunas gregas jamais teria dinheiro para pagar 700 reais por mês numa FACULDADE para mim, embora ele custeie minha vida numa cidade longe de Fortaleza num apartamento NO CENTRO DA CIDADE, o que pelas minhas contas, para o ano de 2007, excede com facilidade as 2 mil pratas… ó!)

O curso inteiro virou meu inimigo

Mas tinha começado com um núcleo duro…

Logo me afastei até mesmo dos meus amigos mais próximos, que decerto não compactuavam com nada dessa marmotada toda…

Virei um desconfiado de carteirinha. Estava sendo observado na biblioteca, na cantina…

E depois? Ninguém me deus os parabéns, era mera obrigação… Então, a OBRIGAÇÃO de honrar os pais eu a cancelo, porque eu sou livre. Sua obrigação é sofrer seu destino.

Meu destino foi sofrer meu estágio probatório. E rir no meio de uma pandemia, rir, gargalhar, galhofar cada vez mais alto e espalhafatoso, até o dia que por acidente (pois já não mais me perseguem, as pessoas estão paranoicas com outras coisas muito mais importantes, sem dúvida! estou curado!) – por acidente eu disse! – toparem com seus nomes nodoados num post numa entrada miserável na internet e tudo recomeçar?… MAS ESTE É UM PROCESSO SEM-FIM E AUTORRETROALIMENTADO, não se esqueça! Ele faz e paga e sofre e recebe o que pagou e assim por diante incessante infinitamente até que alunos e professores todos se esmaguem num abraço coletivo cheio de ruído e cólera e, não foi nada demais… insignificante.

No fim, eles têm de admitir: eu sou marcante. Eu tenho digitais, eu marco aquilo que toco. Se transformo em ouro ou cinzas, não interessa, o Dasein não tem – para emitir diagnósticos – qualquer resquício de pressa

A vítima de racismo que comeu uma banana e deixou o agressor com cara de tacho é uma história que me lembra muito a minha!

Eu lavei minha boca e troquei a dentadura, para poder falar (com) coisas(-pessoas) melhores.

Eu sou viciado nessa história porque apesar da dor que me causou e que ainda me causa marginalmente, eu viveria todos estes capítulos de novo e de novo… Se sou doente de alguma coisa, essa é minha doença e ela é com toda certeza absolutamente intencional e culpa minha!

A provocação tem 1000 vozes. É próprio da provocação misturar os gêneros, multiplicar os vocábulos, fazer literatura, e esta integridade da matéria dura que nos provoca vai ser atacada, não somente pela mão armada, mas pelos olhos ardentes, pelas injúrias. O ardor combativo, o neikos, é polivalente.”

Bachelard

Mas e Rousseau?

8.DESCONTINUIDADE TEMPORAL

“No pavor abismal relativo ao diagnóstico de câncer e no congelamento de todo o Dasein, <o tempo> estava, por assim dizer, em repouso, não se desdobrou em seus êxtases e, portanto, o Dasein não existia mais no sentido pleno da palavra.”

ab –ismo (até o exagero)

Mitwelt

mundo.com

niilismo&vc.td.a.ver.

“Enquanto no quarto estudo, o Caso Lola Voss, tivemos que nos contentar essencialmente com a verificação e a descrição dessa transformação, esperamos, neste quinto estudo, ter dado um passo a mais na compreensão daseinanalítica [hm] dela. Temos consciência que ainda estamos longe da meta.”

“A palavra physis vem do verbo phyo (nascer, originar-se).”

Um grau além da citação cruzada ou autocitação: a citação de um livro que é dedicado à própria teoria! Grosso modo: “Como diz Binswanger apud Szilasi …” Binswanger [!!!]

“com a evolução da esquizofrenia crônica, acontece pouca coisa, e sempre menos, na medida em que os pacientes esquizofrênicos não têm experiências novas no sentido da experiência natural, i.e., que <adicionem algo novo> às antigas, mas apenas experiências em termos da monotonia do velho estribilho. Permanece-se fundamentalmente na experiência do elemento geral único, e, assim, <não acontece muita coisa>”

“uma longura que se diferencia da lentidão da depressão.”

“no delírio de perseguição, tem-se uma imensidão de <<novas>> experiências

“A temporalização da longura nunca conduz à temporalização do tédio

“Vale notar que o termo utilizado para <andamento musical> em alemão é Tempo

Adorno riria desse esforço: “Binswanger está tentando distinguir na etimologia de longura e lentidão vestígios de formas diferentes de lidar com o tempo. Infelizmente não é possível manter essas relações etimológicas em português.”

“A palavra para tédio é Langweile, formada pelo adjetivo lang e o substantivo Weile (momento, intervalo de tempo).”

“Se alguém, no convívio da vida e do trabalho, for irritado repetidamente da mesma maneira pela mesma pessoa, <ele não vai suportar para sempre>. Em verdade, aqui se experiencia a generalidade da irritação novamente em cada particularidade, mas não de maneira que (como no delírio) o particular represente o geral e exista somente pela graça dele, mas de modo que o geral se particularize de fato em toda sua dimensão, i.e., experiencie sua plena concreção em cada <ensejo> particular (…) É isso que, frente ao irritante, não suportamos para sempre.”

9. A CONSUMAÇÃO DO PAVOR

Husserl, Ideen zu einer reinen Phänomenologie und phänomenologischen Philosophie

“Só se repare de passagem que eu, a despeito de minha convicção da importância filosófica e científica imperecível do método puramente fenomenológico, não estou no campo do <intuicionismo absoluto> da maneira que Husserl o advoga, razão pela qual ainda sou aberto a contemplações e reflexões, como disse Hans Kunz em O problema do espírito na Psicologia Profunda (art.).”

Dormimos todos juntos sobre vulcões”

Goethe

Naquilo que é teu, também vejo o que é meu”

Ulisses no Ájax de Sófocles

é 1000, tio! run!

é 100&cia.

10. TENTATIVAS DE DIAGNÓSTICO

“quando o clínico fala de pessoa ou personalidade, ele já deixou o campo da análise do Dasein.”

estamos demasiado acostumados a agir como se a doença invadisse uma pessoa saudável como se fosse alguém estranho!”

Tiling, Tipificação e Distúrbio Individual do Espírito, 1904.

“Eu vejo em T., a despeito de seus esquemas psicológicos historicamente condicionados, um predecessor da psiquiatria clínica moderna.”

“Suzanne Urban nunca perdeu sua <orientação> e nunca exibiu os distúrbios de pensamento esquizofrênicos formais. Isso também é importante para o tipo de ocorrência delirante de forma de delírio de nosso caso. Pois, ainda que se diferencie dos casos Strindberg e Rousseau pelo <afeto> melancólico em alto grau, tem em comum com eles a forma do delírio.”

“A alguém que leia o histórico da doença pode surgir a suspeita de que, no caso de Suzanne Urban, se tratasse de um delírio puramente depressivo (<afetivo>, <holotímico> ou <sintímico>). Esta suspeita se funda no fato de que de acordo com a família a doença começou com um <transtorno triste de humor>, que o humor permaneceu até o final depressivo e [que] os delírios [são de tipo] melancólico.”

O delírio de culpabilidade leva a acreditar que se cometeram os crimes mais graves sem que haja razão para tanto, ou transforma más ações pequenas e reais em pecados imperdoáveis. Por causa do crime, não somente o paciente é castigado de maneira atroz nessa e na outra vida, mas também todos [os] seus familiares, o mundo inteiro”

Bleuler

7 x 77: a Bíblia é um manual psiquiátrico de primeira grandeza!

“Aqui não se fala de um pecado imperdoável e de seu castigo atroz.” Suzanne sente-se injustiçada. Além disso ela foi uma “criminosa” completamente passiva (de acordo consigo mesma).

hunter x hunter

paranoid x depressed

sense vs. sense

Muito Além da Melancolia (de Ken?)

Delírio de referência: sistematizado e independente do ciclo crime-culpa-e-castigo. Perto disso, a pura mel-ancolia é uma doce brisa.

“há uma perda das inibições morais que não é conciliável com o diagnóstico de melancolia.”

“Com isso, chegamos ao terreno espinhoso da paranoidia, da parafrenia e da paranóia. Já dizemos de antemão que, juntamente com Kolle, Bleuler, Mayer-Gross e outros, somos da opinião de que, hoje em dia, tanto a paranóia (psicótica) quanto a parafrenia devem ser classificadas como esquizofrenia.”

“Do ponto de vista puramente sintomatológico, o caso S.U. poderia ser classificado como a paraphrenia systematica de Kraepelin, já que se trata aqui de um desenvolvimento sorrateiro de um delírio de perseguição constantemente em avanço sem degeneração da personalidade.” Sublinhados: discordantes do caso S.U.

Este sujeito é incurrável, disse o doktor alemal. Ele não pode ser comido!

“o fosso de lama, semelhantemente à caverna, é uma forma particular especialmente feia, fétida e pútrida de profundeza da terra.”

“Uma vez que o diagnóstico de esquizofrenia parece confirmado, e visto que, <onde idéias delirantes e alucinações … estão em primeiro plano>, fala-se (como em Bleuler) de paranoidia, precisamos incluir o caso nesse subgrupo esquizofrênico e, quanto à orientação delirante, classificá-lo como delírio de perseguição paranóide.” Ainda assim: “não vemos sintomas catatônicos, negativismos, estereotipias, excentricidades, maneirismos e também neologismos ou propriedades lingüísticas esquizofrênicas”.

“paralisia das pernas”: histeria

delírio de perseguição singular (portanto necessariamente identitário, vinculado a um sujeito) x delírio de perseguição plural identitário (teoricamente possível, mas que sempre tenderia a alargar seus inimigos, tendendo ao próximo) x delírio de perseguição plural anônimo (caso S.U.)

INFERÊNCIA DA DESCONFIANÇA

Aquele que não desconfia de ninguém… talvez desconfie de si mesmo.

Aquele que não desconfia de ninguém, nem de si mesmo… talvez simplesmente não exista!

Aquele que desconfia de si mesmo, talvez não desconfie de mais ninguém. Saudável desconfiado! Homem invejável!

Aquele que desconfia de um, mas que não desconfia de si mesmo, pode desafortunadamente desconfiar de muitos.

Mas, amigos, aquele que desconfia de muitos, esse desconfia de todos os homens, mais cedo ou mais tarde!

Schreber, por exemplo, o típico delirante singular, vai sucumbindo ao delírio em degraus – imagem perfeita, porque uma escada não é uma rampa. Há uma descontinuidade, mas a ocorrência de ataques ou surtos agudos, que, pelo menos até o segundo, são visivelmente mais importantes do ponto de vista clínico e do ponto de vista do aprofundamento do delírio. Após o segundo, Schreber já está convencido de que ele está no centro de uma trama que envolve o destino do mundo inteiro. E no entanto é só uma figura que emite a voz. Seu pai ou deus. Há posteriormente certa contração (relaxamento), que podemos chamar de descida da escada.

Suzanne, ao contrário, ignora a escada, dá um drible da vaca no real, mesmo no real do delírio, enquanto o delirante for um Schreber. Quem são os inimigos de Suzanne? A sociedade anônima. Enfermeiras, doutores, bedéis, a polícia inteira da cidade ou do país, todos os fascistas e capitalistas, em última instância. Porque de repente os Urban são um bando de socialistas. O mundo não vai ser salvo nem acabar de maneira alguma, mas esse terremoto com Suzanne no centro de seu palco seria suficiente para liquefazer toda a ordem do seu dia. Ela, a vítima. Não deixarão constar nas manchetes de jornais nem nos livros de história a verdadeira história: que Suzanne é inocente. O Grande Irmão a apanhou. E ele tem infinitos avatares intercambiáveis. O que é que fazem com os perseguidos políticos? Podem muito bem metralhar. Mas se não metralham? Talvez não metralham porque existe o risco de se tornarem mártires! Aí então são mais cosméticos e cirúrgicos: basta com exilá-los, torná-los párias inofensivos, eternas personae non gratae. Se Suzanne está viva, só pode ser esse o tratamento a ela dispensada pelos inimigos ocultos!

O dia em que cri que o apresentador do canal de esportes se dirigia a mim, porque sabia que eu estava na pior. A mim!

A internet escamoteia Cila ou Caribde.

Ou eu bem gostaria que fosse verdade, para vender mais livros…

Quem cai na boca do trombone e é o centro das fofocas quer se matar –

Porque não pode se identificar

Com o lunático solitário que só queria ser falado e criticado!

Ou vice-versa.

Schreber x Professor Flechsig

ódio concentrado, advindo do amor pelo pai

Suzanne x “autoridades”

culpa sem relação interpessoal específica, difundida por todos os sentidos alucinados

culpa totalizante, culpa da própria nulidade social

o delírio seria a vingança da moral contra um eu torpe, que se torna mera coisa, títere no teatro. e sua punição deve ser universalmente contemplada, como num reality show ou grande panóptico avant la lettre, seu corpo nu, sua micção, defecação, o ato de comer, transpirar, assoar o nariz, gozar… menos exibicionismo a contragosto que um voyeurismo de si, um sadomasoquismo em que se é boneco, personagem trágico, platéia, direção e os próprios antagonistas.

Schuld em alemão significa tanto culpa quanto dívida.”

“Uma vez que o conceito de autismo é usado ora no sentido daseinanalítico, ora no psicológico, caracterológico, psicopatológico ou psicanalítico, ele se tornou cientificamente quase inutilizável hoje em dia.”

novo demais pra ser demente, velho demais pra ser bobão.

“Nós vimos que nossa própria paciente se encontra na menopausa e os cabelos esbranquiçaram rapidamente nos últimos tempos.”

“Lembramos que Bleuler notou muito freqüentemente nos paranóides uma <sexualidade fraca>, bem como a falta de desejo por filhos. (…) um autoerotismo <forte> dificilmente pode ser concebido como um sinal de sexualidade forte.” “sem a predisposição sadomasoquista, o exame e o adoecimento do marido não teriam esse papel proeminente na doença.”

“seguimos Bleuler quando ele diz <de acordo com nossos conceitos, a constituição hipo-paranóica é uma subforma da psicopatia esquizóide, assim como a paranóia involutiva é uma subforma da esquizofrenia paranóide.>

11. DE VOLTA A HEIDEGGER& ARREMATE

“Aqui o medo não mantém o Dasein <no nada>, desse modo, ele não deixa o mundo naufragar na insignificância, antes confere a ele uma significância distinta e absolutizada, a do pavoroso e, assim, do significado pavoroso de toda singularidade.

“Vemos no conceito de necessidade de delírio o quanto a investigação do delírio (para o mal do conhecimento psiquiátrico) acabou sendo levada a reboque pela investigação normal-psicológica.”

Diretamente relacionado com as polêmicas Freud//Adler: “Bleuler observa com muita agudeza mais uma vez [péla-saco] que se alguém fala de desejo ou necessidade de estar doente, de interesse pela doença, de meta, de ganho da doença, de fuga para as doenças, de intenção e organização, é necessário ter claro em mente, por causa das conseqüências práticas, que essas expressões e conceitos são tirados das idéias de um leigo sobre a psique [!] normal e, na verdade, não deveriam ser de forma alguma empregados em relação a estados mórbidos.”

Nunca vou entender como os autores cinicamente (acordo tácito?), após ridicularizarem Freud num parágrafo, sem citar, nas suas linhas, ‘F.’ e ‘psicanálise’, procedem, logo a seguir, a uma exaltação fabulosa do <legado>: “Em F., o conceito é muito mais profundo do que naquilo que se costuma falar [mais ainda?] sobre o processo de cura, uma vez que ele está firmemente baseado na teoria (construída com muita fineza) da libido, do recalque, do retorno do recalcado e da projeção.”

Projeção continua, a meu ver, o conceito mais problemático da psicologia em geral.

“A partir desse caso de Schwab, pode-se encontrar facilmente um caminho para o <demônio diabólico> de Suzanne Urban e de muitos outros pacientes que sofrem de delírio”

“nos afastamos de Bleuler e de Jung quando eles querem desqualificar a teoria do delírio primário com a assunção e freqüente evidenciamento de motivos inconscientes

“Hans Kunz acreditava que era necessário ver a vivência de desabamento do mundo (cf. Schreber) <como o conteúdo> do delírio primário <mais adequado à ocorrência>, contudo essa vivência (como nosso caso mostra) não é de forma alguma um pressuposto necessário para o delírio primário.”

Heidenhain, J.J. Rousseaus Persönlichkeit, Philosophie und Psychose

“Vê-se quão pouco o critério da recorrência pode, do ponto de vista da <deflagração do delírio>, ser utilizado no diagnóstico diferencial de paranóia e esquizofrenia.”“Mesmo o <esquizofrênico> que chega imediatamente à certeza delirante tem, como nosso caso mostra também, experiências sempre novas que confirmam as antigas.”

“Hoje não podemos mais dizer que as idéias persecutórias se misturam ao quadro da doença <em razão de ilusões sensoriais>, como se podia ler na avaliação do hospital psiquiátrico Sonnenberg sobre o presidente do senado Schreber e infelizmente ainda se pode ler freqüentemente. Antes temos que perceber de uma vez por todas que as alucinações não são distúrbios isolados, como ressaltam Schröder e Meyer-Gross. Mas o precursor nesse tema foi Minkowski em Le Temps vécu, 1923.”

Um louco não faz mais do que perceber a condição humana a sua maneira”

Sartre

As alucinações não se originam de um distúrbio do sensório – compreendendo-se essas funções no sentido psicológico –, também não se originam de um distúrbio das funções da percepção, do pensamento, do juízo, mas partem de um distúrbio e uma variação das funções simpáticas da sensação. Visto que essas funções estão alteradas, o paciente vive outra comunicação com o mundo; mas uma vez que os modos de ser-no-mundo são fundamentais para todas as vivências, as alucinações não são distúrbios isolados”

Erwin Straus, Do Sentido dos Sentidos, 1935

“No conto Na Colônia Penal de Kafka, um viajante, ao ver um delinquente, pergunta ao oficial se ele sabia sua sentença. <Não>, diz o oficial, <seria inútil anunciá-la a ele. Ele já a sente sobre seu corpo>. Dessa maneira, Suzanne Urban não vem a saber de sua sentença, mas de seu sofrimento <sobre seu corpo>, e, por isso, é <inútil> <anunciar> ou explicar a sentença a ela, ou esclarecê-la. E quando Kafka continua: <não é fácil decifrar a escrita (da sentença) com os olhos; nosso homem a decifra, mas com suas feridas>, também nossa pobre S.U. decifra a escrita de seu <destino> não com os olhos (da compreensão), mas com suas <feridas> e as de seus familiares, com os <sofrimentos infligidos> a ela e a eles. (…) O Dasein zomba de qualquer outra experiência; pois esta é a mais <impressionante> no sentido duplo da palavra.” (íntimo e doloroso)

“Por mais que a clínica não consiga evitar todas as tentativas psicológicas, caracterológicas e biológicas de responder o porquê dessa questão em termos de um conhecimento objetificante, a tarefa da psiquiatria como ciência não se esgota nisso.”

“As capacidades anímicas, as propriedades anímicas, a alma (no sentido da psicologia e da psicopatologia), o caráter, a pessoa, a personalidade, o impulso, etc., tudo isso está ontologicamente no limbo, ou seja, não tem fundamento ontológico. Encontramos esse fundamento na analítica do Dasein de Heidegger.”

Jaeger, Paideia II [!!], Die griechische Medizin als Paideia

“o terrível não pode mais se tornar algo impessoal e extramundano contra o qual se pode invocar o destino, mas ele se tornou um ente intramundo que ainda é acessível sob o aspecto da hostilidade.”

Não existe satisfação compensatória: não é uma expiação que demande “x” de tempo ou energia, até haver a quitação. Em tese Suzanne poderia sofrer de seu delírio um tempo infinito (enquanto viver), sem tendência à cura. Realmente o poema de Baudelaire caía bem: uma máquina infernal!

Não importa o conteúdo do delírio: o médico deve analisar a vida pregressa desse tipo de paciente esquizofrênico.

Situação de partida > Autonomização delirante (a paciente perde o foco da ‘angústia original’, quando ainda tinha um ser-no-mundo autêntico)

LECTURES EN TRADUCTOLOGIE – Evaine Le Calvé Ivičević (Org.), 2015. –OU: UM MERGULHO AERODINÂMICO NA LINGÜÍSTICA–

DA POSSIBILIDADE DA TRADUÇÃO

Trechos de Mounin, Les problèmes théoriques de la traduction

« Cette notion de langue-répertoire, ajoute Martinet, se fonde sur l’idée simpliste que le monde tout entier s’ordonne, antérieurement à la vision qu’en ont les hommes, en catégories d’objets parfaitement distinctes, chacune recevant nécessairement une désignation dans chaque langue »

« à Paris, il ne savait pas nommer chaque céréale par son nom; parce qu’il n’était pas en situation d’avoir besoin de la nommer. (Son système risque encore de lui faire nommer blé un champ de riz jeune en Camargue, ou de jeune maïs en Dordogne ou de sorgho dans le Vaucluse.) Maintenant, son pouvoir de nomination différentielle des céréales correspond à sa pratique sociale de petit citadin en vacances au nord de Lyon, capable de nommer ce qu’il voit. Mais le même système des céréales, ou des herbes, est susceptible, selon le même processus, de se compliquer encore, pour des gens – ce petit garçon devenant ingénieur agronome, ou vendeur de semences – dont la pratique sociale est liée à une détermination différentielle plus poussée du même champ de réalité à nommer. De ce filet à une seule maille du petit citadin qui débarque à la campagne, ils feront un filet à dizaines de mailles, de formes et de tailles différentes, qui couvrira la même surface sémantique; c’est-à-dire qui désignera la même quantité de réalité dans le monde extérieur, mais connue, c’est-à-dire organisée, ou qualifiée autrement, – ordonnée de plus en plus, selon des différenciations de plus en plus poussées. Saussure a pleinement raison quand il définit la valeur d’un terme comme étant ce que tous les autres termes (du système) ne sont pas. Là où le petit citadin dit: de l’herbe, le producteur distingue et nomme 53 variétés de 23 espèces (…), par le processus génétique qui vient d’être analysé: système dont tous les termes se tiennent, car si le spécialiste ne sait pas distinguer les 7 variétés de flouves, par exemple, 6 mailles sautent dans son système à 53 mailles, mais la maille unique restante couvre la même surface sémantique que les 7 noms de flouve qui seraient possibles. »

« Notion traditionnelle qui remontait peut-être à la Bible, décrivant la nomination des choses comme une attribution de noms propres: ‘Et Dieu nomma la lumière Jour, et les ténèbres, Nuit […]. Et Dieu nomma l’étendue, Cieux […] Et Dieu nomma le sec, Terre; il nomma l’amas des eaux, Mers’ (Genèse, I, 5-8-10). ‘Or l’Éternel Dieu avait formé de la terre toutes les bêtes des champs, et tous les oiseaux des cieux: puis il les avait fait venir vers Adam, afin qu’il vît comment il les nommerait: et que le nom qu’Adam donnerait à tout animal vivant fût son nom. Et Adam donna les noms à tous les animaux domestiques, et aux oiseaux des cieux, et à toutes les bêtes des champs…’ (Genèse, II, 19-20). A ce propos, quelle que soit l’intention finale de Platon dans le Cratyle, il faut aussi souligner la place énorme, dans ce dialogue, des exemples tirés des noms propres (49 exemples sur 139, plus du tiers) pour exposer une théorie des noms communs, c’est-à-dire de la nomination des choses en général; et plus important que le nombre d’exemples, le fait que Platon parte du nom propre, base tout son exposé sur le nom propre, passe indifféremment du nom propre au nom commun, comme si ces deux operations de nomination pouvaient être assimilées. La Bible et le Cratyle, qui tiennent une grande place dans l’origine de notre notion traditionnelle de langue-répertoire, illustrent aussi le processus mental archaïque par lequel l’assignation des noms aux choses (et des sens aux mots), se voyait conçue comme un baptême et comme un recensement. »

« Voulant donc éviter toute définition mentaliste de la notion de sens, il a recours à la définition behaviouriste: le sens d’un énoncé linguistique est <la situation dans laquelle le locuteur émet cet énoncé, ainsi que le comportement-réponse que cet énoncé tire de l’auditeur> (Bloomfield, Language, p. 139). » « La définition de Bloomfield se trouve matérialisée dans le fait que nous pouvons lire certaines langues mortes sans pouvoir les traduire parce que toutes les situations qui pouvaient nous donner le sens de ces langues ont disparu avec les peuples qui les parlaient. Mais sa définition, de l’aveu de Bloomfield lui-même, amène à dire que la saisie du sens des énoncés linguistiques est scientifiquement impossible, puisqu’elle équivaut, reconnaît-il, à postuler <guère moins que l’omniscience> » « La théorie bloomfieldienne en matière de sens impliquerait donc une négation, soit de la légitimité théorique, soit de la possibilité pratique, de toute traduction. Le sens d’un énoncé restant inaccessible, on ne pourrait jamais être certain d’avoir fait passer ce sens d’une langue dans une autre. »

« Il existe un véritable postulat de Bloomfield (jamais assez mis en relief au cours des discussions) qui justifie la possibilité de la science linguistique en dépit de la critique bloomfieldienne de la notion de sens, postulat qu’on doit toujours remettre au centre de la doctrine bloomfieldienne après l’avoir critiquée: <Comme nous n’avons pas de moyens de définir la plupart des significations, ni de démontrer leur constance, nous devons adopter comme un postulat de toute étude linguistique, ce caractère de spécificité et de stabilité de chaque forme linguistique, exactement comme nous les postulons dans nos rapports quotidiens avec les autres hommes. Nous pouvons formuler ce postulat comme l’hypothèse fondamentale de la linguistique, sous cette forme: Dans certaines communautés (communautés de langue), il y a des énoncés linguistiques qui sont les mêmes quant à la forme et quant au sens> (Bloomfield, ouvr. cit. p. 144). »

« Jusqu’à ce jour, 40 ans après l’enseignement de Saussure, les linguistes n’ont pas encore réussi à découvrir une méthode qui permettrait de délimiter les monèmes sans tenir compte du signifié » (Frei, Critères de délimitation, p. 136)

« L’analyse distributionnelle, ainsi réduite à sa dimension théorique correcte, apparaît comme une formulation trop extrême de la vieille méthode combinatoire, proposée, dès le XVIIIème siècle, par l’abbé Passeri et employée pour accéder aux langues non déchiffrées. C’est sur des cas comme l’étrusque qu’on pourrait vérifier si cette théorie fonctionne, car toutes les fois qu’on l’applique à des langues dont le linguiste connaît les significations par ailleurs, il est établi qu’il ne peut pas se comporter comme s’il ignorait ces significations. L’analyse distributionnelle appliquée au corpus connu de textes étrusques, permettrait de vérifier si, en conclusion, nous nous retrouverions ou non devant un formulaire impeccable de combinaisons, mais dont nous ne saurions toujours pas à quoi appliquer les formules – ou devant une description de l’étrusque qui soit utilisable (à la lettre, il faut imaginer un volume rempli de signes et de calculs algébriques, dont nous restituerions toute la logique, mais dont nous ne posséderions pas les valeurs, de sorte qu’il serait impossible de deviner si elles concernent le cubage du bois, la résistance du ciment vibré, le débit des liquides dans des conduites, etc… sauf si nous avions, d’autre part, des notions en ces matières). »

« Pour Hjelmslev, le langage offre à notre observation deux substances; 1) la substance de l’expression, généralement considérée comme physique, matérielle, analysable en sons par la physique et la physiologie, mais étudiée par Hjelmslev uniquement dans sa valeur abstraite: les relations entre les différences élémentaires qui font que ces sons deviennent utilisés comme éléments de signaux (nous n’en parlerons plus ici); 2) la substance sémantique, ou substance du sens, ou substance du contenu. »

É IMPRESSÃO MINHA OU A INGENUIDADE DOS LINGÜISTAS AINDA OS SITUA ANTES DE KANT? “«la substance (du contenu, du sens), étant par elle-même, avant d’être ‘formée’, une masse amorphe, échappe à toute analyse, et, par là, à toute connaissance». (Il n’envisage même pas la possibilité, théoriquement concédée par Bloomfield, d’une connaissance du sens par référence à la situation correspondante.)”

« L’étude linguistique de l’expression ne sera donc pas une phonétique, ou étude des sons, et l’étude du contenu ne sera pas une sémantique, ou étude des sens. La science linguistique sera une sorte d’algèbre… (Martinet, Au sujet des fondements, p. 31) conclut-il [Hjelmslev], en ce sens qu’elle étudiera uniquement les formes, vides, des relations des éléments linguistiques entre eux. »

SUNS A’XÉDOLLS

sons sens

sans sons

nonsens

sins&pins

sinsao

k b Ludotec4

« L’analyse hjelmslévienne, elle non plus, ne détruit donc pas la notion de signification en linguistique. Pour des raisons de méthode, elle écarte tout recours au sens comme substance du contenu, elle veut éviter le cercle vicieux qui consiste à fonder l’analyse des structures (phonétiques, morphologiques, lexicales, syntaxiques) d’une langue en s’appuyant implicitement sur le postulat qu’on connaît (sens exact des énoncés linguistiques qu’on analyse) – pour ensuite établir la connaissance du sens de ces mêmes énoncés d’après l’emploi des structures qu’on en aura tirées. Hjelmslev comme Saussure, comme Bloomfield et comme Harris, essaie de mettre la connaissance du sens au-delà du point d’arrivée de la linguistique descriptive, au lieu de la mettre (sans le dire) au point de départ. Tous quatre ne visent qu’à fournir des méthodes plus scientifiques pour approcher finalement le sens. En attendant que ces méthodes plus scientifiques soient définitivement construites, acceptées, prouvées – puis qu’elles aient permis d’analyser scientifiquement la substance du contenu – Hjelmslev écrit des livres et des articles dont chaque phrase, comme celles de Saussure, de Bloomfield et de Harris, est empiriquement fondée sur le postulat fondamental de Bloomfield lui-même: l’existence d’une signification relativement spécifique et relativement stable (dans certaines limites chaque jour mieux connues), pour chaque énoncé linguistique distinct. Mais ce postulat qui soutient, empiriquement sans doute, aussi provisoirement qu’on le voudra, la légitimité de toute recherche linguistique, soutient également – sous les mêmes reserves – la légitimité de l’opération traduisante. »

Em suma, a Tradução é um hóspede que você deixou entrar e acabou se tornando o dono da casa.

« Cette façon de concevoir les rapports entre l’univers de notre expérience (ou notre expérience de l’univers), d’une part, et les langues, d’autre part, a été lentement mais complètement bouleversée depuis cent ans, c’est-à-dire depouis les thèses philosophiques sur le langage exposées par Wilhelm von Humboldt, et surtout ses descendants, dits néo-kantians ou néo-humboldtiens. »

« Les anciens Grec n’étudièrent que leur propre langue; ils considérèrent comme évident que la strucuture de cette langue incarnait les formes universelles de la pensée humaine ou, peut-être, de l’ordre du cosmos. En conséquence, ils firent des observations grammaticales, mais les limitèrent à une seule langue, et les formulèrent em termes de philosophie. » Bloomfield

« <‘Le capitalisme de tout le monde’, qui traduit assez mal une terminologie américaine plus concise, ‘people’s capitalism’ […], qu’on a également baptisé parfois ‘capitalisme démocratique’ ou ‘capitalisme populaire’ et que nous appellerons pour plus de commodité, au cours de cet article, tout simplement, le ‘capitalisme américain’.> (Nida) Indiscutiblement, le lecteur français, même moyennement nourri d’économie politique, reconnaîtra que les 4 équivalents proposés (du terme américain) ne donnent pas une idée claire de la structure économique que veut distinguer et que semble distinguer – pour un locuteur américan – l’étiquette anglo-saxonne <people’s capitalism>. »

« überfragen, poser des questions auxquelles l’autre ne peut répondre, <coller> » Philippe Forget

Não existe masculino de imbécile em francês!

* * *

Trechos de Charles Zaremba, “Traduction – Traductions”, in: La traduction: problèmes théoriques et pratiques

« Toutes les mythologies réservent une place de choix au «paradis perdu», à «l’âge d’or», c’est-à dire à un temps et un lieu perdus (provisoirement puisqu’ils doivent revenir «à la fin destemps»), qui se caractérisent non seulement par le bien-être et l’abondance, mais aussi par um statut linguistique particulier: il n’y a qu’une seule langue.

La nostalgie de l’avant-Babel, ou si l’on préfère, d’une langue originelle et universelle, impregne profondément notre civilisation qui essaie, plus ou moins consciemment, de revenir àcet état idéal en s’efforçant de rompre les barrières linguistiques.

En effet, dans un premier temps mythique, la diversité des langues est un châtiment (aumême titre que le travail): seul Dieu possède l’entendement universel et peut le conférer »

Todas as mitologias reservam um espaço para o <paraíso perdido>, um tempo para a <idade de ouro>, isto é, um tempo e um lugar literalmente perdidos (provisoriamente, já que eles deverão retornar <no final dos tempos>), que se caracterizam não somente pelo bem-estar e abundância, mas também por um estatuto lingüístico singular: nele só há um idioma.

A nostalgia pré-babélica ou, se se preferir, duma língua seminal e universal, impregna profundamente nossa civilização, que ensaia, mais ou menos conscientemente, desde que é civilização, o retorno a esse estado de coisas com mil propostas de derrubada das barreiras lingüísticas.

Com efeito, num primeiro tempo mítico, a pluralidade das línguas é sempre um castigo (como sempre se define o trabalho): só Deus possui o dom do entendimento universal e portanto estaria autorizado distribuí-lo a um reduzido número de porta-vozes.”

Se tão perfeita por que te degradas com o uso, ó Una?! Mas cá entre nós só o que me interessa seria o exercício perfeitamente contrário: um concurso em que o campeão seria o autor do idioma mais imperfeito concebível. É mais difícil do que parece, já que teria que ser muito superior a qualquer seqüência de grunhidos animais, embora tenha de ser feia e abjeta como uma sinfonia de black metal velha guarda tocada por orcs irremediáveis! Quase sempre criaríamos minúcias de beleza sem notarmos, querendo apenas produzir nojo e aversão – como somos ingênuos, parnasianos e asseados, apesar de tudo!

« Villon ou Rutebeuf tels quels sont incompréhensibles, de même qu’un grand nombre de fabuleux; le problème devient épineux avec Rabelais, qu’on hésite à traduire. La langue de Rabelais exige tant de notes qu’elle devient difficilement lisible – mais même dans ce cas, on préfère parler de transposition que de traduction en français moderne. Le subterfuge est cousu de fil blanc: la transposition est bel et bien une traduction d’um texte dont on n’ose pas vraiment avouer qu’il est écrit dans une langue qui n’est plus la nôtre, car cela pourrait suggérer que Rabelais n’est pas vraiment français… Cependant, le travail du traducteur de Rabelais est, me semble-t-il, en tout point comparable au travail du traducteur français d’un auteur italien ou espagnol. Là encore, on a un passage d’une langue A (état ancien de la langue) à une langue B (état moderne de la même langue).

Le voyage inverse, c’est-à-dire dans le temps linguistique, a intrigué plus d’un auteur – mais rarement à ma connaissance les auteurs de science-fiction, pour qui les voyages dans le temps sont souvent étrangement atemporels, des individus distants de plusieurs siècles discourant à loisir (ainsi Pierre Boulle dans La planète des singes fait-il lire à la guenon Phyllis, vivant dans um futur très éloigné, un manuscrit rédigé par un homme). Stanislaw Lem a échappé à cette naïve commodité dans ses Mémoires trouvés dans une baignoire (Pamietnik znaleziony w wannie, 1961, Trad. D. Sila et A. Labedzka Mémoires trouvés dans une baignoire, Calmann-Lévy, 1974) où l’intrigue repose en partie sur la quasi-impossibilité pour un homme du futur de comprendre notre civilisation à partir d’un vieux manuscrit trouvé justement dans une baignoire. Le voyage dans le temps linguistique est plutôt le fait d’auteurs qui ne pratiquent pas la science-fiction. »

A viagem inversa, i.e., do presente para o futuro (lingüístico), já intrigou mais de um autor, mas raramente, que eu saiba, os de ficção científica. Para eles, a viagem temporal é estranhamente atemporal, indivíduos de vários séculos de diferença conversam entre si sem qualquer tipo de problema (sucede, por exemplo, no Planeta dos Macacos de Pierre Boulle: o autor faz a macaca Phyllis, dum futuro longínquo, achar, ler e compreender perfeitamente um manuscrito de um humano, parisiense do século XX). Stanislaw Lem soube se subtrair dessa comodidade ingênua em suas Memórias encontradas numa Banheira (original polonês, Pamiętnik znaleziony w wannie, de 1961; tradução francesa por Dominique Sila e Labedzka de 1974 [edição em português de Portugal – tradução indireta – de 1984 por Manuela Alves – quem sabe o Cila não é o primeiro a traduzir, um dia, direto do Polonês para o Português brasileiro?]). O mote da trama é a incompreensão da humanidade de um futuro distante diante de um tempo histórico muito mais antigo, que historiadores tentam decifrar com base num só vestígio, um manuscrito encontrado curiosamente dentro de uma banheira. A viagem no tempo lingüístico é muito mais para o escritor que não redige ficção científica.”

« Remarquons à ce propos que G. Karski conseille de styliser les textes ‘sans logique’, pour ne donner qu’une coloration archaïque. » …brutO

On ne traduit pas Ronsard en français modeme mais on retraduit les auteurs étrangers en français moderne, justement.”

« Des générations de Français se sont nourris de Kafka dans la traduction d’Alexandre Vialatte – et comprenaient le monde de l’auteur. Une nouvelle traduction a quand même été nécessaire. Et c’est une différence fondamentale entre l’original et la traduction: cette dernière est caduque. ‘Les traductions supportent mal le temps et mis à part de rares exceptions, elles ne deviendront jamais des chefs-d’oeuvres éternels.’ (Géher) »

polisistema intralinguistico

Poli-sistema intralingüístico de M. Wandruszka

PATOIS: « structures grammaticales différentes » (Associado ao camponês – como o Provençal ou a Langue d’oc são patoás e muito próximos do Catalão, isso só aumenta minha razão naquele debate com a catalunha [?] estúpida no twitter.)

« Toutefois, il est difficile de traduire d’une «sous-langue» dans une autre (on peut parler ici de pluriglossie et non de plurilinguisme): les passages d’un technolecte à un dialecte, par exemple, sont difficiles à imaginer. »

Les études de traduction (ou encore: les textes de traductologie) distinguent souvent deux types de textes: les textes littéraires et les textes scientifiques (les textes de traductologie littéraire font souvent preuve de mépris pour la traduction technique, cette dernière étant ravalée au rang de simple transcodage; en outre le traducteur technique est en général mieux rémunéré que son homologue littéraire).”

Os estudos de tradução (ou ainda: os textos de Tradutologia) distinguem, no mínimo, dois tipos de textos: os literários e os científicos (os tradutores literários comumente desprezam a tradução técnica, i.e., científica, limitando-se esta última, o mais das vezes, a uma simples transcodificação; se bem que o tradutor técnico-científico é em geral mais bem-pago que seu homólogo literário.)”

NICHO DO NICHO DO NICHO: “Le «mépris» va dans les deux sens, les traducteurs techniques reprochant aux littéraires leur manque de précision… Le texte littéraire possède des qualités esthétiques que ne possède pas, en principe, le texte scientifique. Le traducteur littéraire doit faire oeuvre non plus de simple transcodage, ou encore de traduction de langue à langue, mais de traduction de milieu à milieu, de texte à texte, la composante purement linguistique de son travail passant presque au second plan. Le traducteur littéraire doit être coauteur, faire preuve de «congénialité», suivant l’expression de B. Lortholary. Et là encore, on distingue la prose de la poésie, la première étant à la portée de tout traducteur, la seconde étant réservée aux poètes. On reviendra sur ce point quand on abordera la personnalité du traducteur.Falso déjà vu ou a Jéssica B***** é realmente uma TECNOCRATA da Tradução? Papo muito antigo… Vergonha da classe… (É sempre horrível quando lembramos dos piores praticantes de nossas artes e ofícios!)

Il me semble nécessaire de distinguer les textes sacrés (bibliques) des textes non-sacrés, qu’on peut aussi appeler ecclésiastiques, qui sont l’oeuvre d’hommes d’Église (gloses, commentaires, vies de saints) et ne posent pas les mêmes problèmes philosophiques de traduction, puisqu’il ne s’agit pas de la «parole de Dieu» (je ne prends en considération que la tradition chrétienne dans sa version catholique romaine – c’est-à-dire que je limite mon champ de réflexion à l’Europe qui a connu la Renaissance).” “la traduction avait été «officialisée» par le miracle de la Pentecôte qui confirme le bien-fondé de la traduction des Septantes, à savoir qu’il n’y a pas de langue sacrée. Au IVe siècle, Saint Jérôme traduit la Bible en latin (la Vulgate) mais il faudra attendre le concile de Trente (1545-1563) pour que cette version soit déclarée authentique et devant servir de base à toute traduction ultérieure. Durant une dizaine de siècles, la question n’avait été ni posée ni tranchée.”

Au siècle suivant apparaissent des traductions de la Vulgate et surtout des originaux hébreux et grecs. En 1532 est imprimé un psautier traduit au XIIIe siècle et connu sous le nom de Psalterzflorianski; en 1552, Stanislaw Murzynowski publie une traduction du Nouveau Testament, suivie de plusieurs autres. Ce siècle est donc marqué par une intense activité de traduction qui se fixe 2 buts: d’une part, faire mieux connaître la Bible au peuple, d’autre part, mieux traduire la Bible.”

le mot plagiaire n’est attesté en français qu’en 1555, plagiat date de 1697 et plagier de 1801 et qu’il vient du latin plagiarus «débaucheur et receleur des esclaves d’autrui», lui-même venant de plagium «détournement», cf. Nouveau Dictionnaire Étymologique et historique, par A. Dauzat, J. Dubois et H. Mitterand, Larousse, 1971. Remarquons d’ailleurs que la première loi sur la propriété littéraire en France, championne de l’administration, date de 1866.” SESQUICENTENÁRIO DE MERDA!

On comprend l’importance de la déclaration d’authenticité de la Vulgate: c’est, en quelque sorte, le premier copyright de l’Histoire moderne.”

L’auteur devient propriétaire de son texte et ce dernier se sacralise en quelque sorte: tout texte a droit à une traduction fidèle, au même titre que la Bible. La traduction proprement dite, opposée à la libre adaptation, devient non seulement possible, mais peu à peu souhaitable et philosophiquement obligatoire.”

La lecture de quelques ouvrages et articles de traductologie, montre d’une part que c’est un discours extrêmement répétitif et, d’autre part, que plusieurs discours coexistent qui pretendent chacun à la traductologie. On distingue très nettement deux types d’études: les textes de linguistes (très souvent, ce sont des approches théoriques) et les textes de littéraires (dans l’ensemble plus pratiques).”

Il illustre son propos par l’anglais worker qu’il faut traduire en russe par robotnik ou robotnica, c’est-à-dire que la langue russe impose la précision du genre, ce qui n’est pas le cas em anglais pour ce mot-là. De tels exemples sont légion et de nombreux ouvrages y sont consacrés, principalement écrits par des linguistes structuralistes, comme Z. Klemensiewicz.”

Jakobson ilustra seu argumento pelo inglês worker, que deve ser traduzido em russo por robotnik ou robotnica, i.e., a língua russa impõe a determinação do gênero, o que passa longe de ser o caso do inglês, pelo menos para esta palavra. Inumeráveis exemplos num sem-fim de livros foram esmiuçados século XX adentro, campo no qual se destacam os lingüistas estruturalistas, como Z. Klemensiewicz.”

Le discours des littéraires a les limites qu’ont les récits d’expériences personnelles. Il est souvent peu généralisable – mais, par la précision de certaines remarques, il est soouvent une mine de renseignements pour le linguiste comparatiste.”

Pode-se comparar o tradutor a um artesão, a meio caminho entre o artista (o autor) e o técnico (o lingüista).” Há um texto meu que já virou um clássico: https://www.recantodasletras.com.br/artigos-de-literatura/5827201 (originalmente de 2006, republicado neste link em 2016).

Eu-tradutor sou eu menos inspirado. Eu-cientista sou eu em crise.

Pour résumer, on peut dire que: 1. les linguistes disent – voici ce qu’il faut faire! 2. les littéraires disent – voilà ce que nous avons fait! et 3. les philosophes disent – comment diable pouvez-vous faire?”

Resumindo, pode-se dizer que: 1. Os lingüistas dizem – eis o que se deve fazer! 2. Os literatos dizem: eis o que nós fizemos! 3. E os filósofos dizem: como diabos podeis fazê-lo?

A VERDADEIRA REVOLUÇÃO UNIVERSAL (Altivez, loquacidade e dignidade): Alexander F. Tytler – Essay on the Principles of Translation (1791)

deux courants de traducteurs: les «fidèles» (sans doute proches des linguistes) et les auteurs de «belles infidèles» (plus proches des littéraires).”

En effet, la plupart des textes de traductologie prennent des exemples «nobles»:traduction de philosophes ou de grands auteurs comme Shakespeare, Cervantès, Corneille,etc. Je n’ai pas trouvé d’auteurs «mineurs» ou d’auteurs de best-sellers (comme, par exempleP.L. Sulitzer qui affirme dans l’un de ses livres que la Tchéka était la police secrète du tsar,qui nomme son héros polonais Taddeuz, alors que l’orthographe correcte est Tadeusz, etc).Le style des «grands écrivains» n’est pas critiquable: nous n’avons pas le droit de les juger,nous devons nous en inspirer, éventuellement les imiter – en tout cas, les respecter. Dans lestextes de traductologie, les exemples «non nobles» sont considérés froidement: ce sont destechnolectes ou des sociolectes, déviant par rapport à la langue standard mais respectablesen eux-mêmes. C’est là qu’on trouve le problème du discours politique, souvent réduit à sonaspect purement terminologique (voir à ce propos J.B. Neveux, La traduction du vocabulairepolitique, dans La traduction, 1979).

Or, il y a des textes littéraires «de moindre importance» et des textes ni littéraires ni techniques,c’est-à-dire le texte journalistique, le reportage et surtout les Mémoires et entretiens de toutesorte qu’on trouve en abondance dans les librairies – ce qu’on peut appeler la littérature de témoignage.Que faire, par exemple, avec un texte où un personnage déclare tout à fait sérieusementque «les liens» qui le lient à une certaine organisation sont «éteints»? Si on applique à lalettre les principes de Tytler, à mauvais texte en langue-source doit correspondre un mauvaistexte en langue-cible. Ou bien faut-il améliorer? C’était le point de vue de la plupart des traducteursdu XVIIème siècle, mais on en a aussi de nombreux exemples dans les traductions plusrécentes. Le discours traductologique du XXème siècle a tendance à critiquer ces améliorationsqui sont, en fait, de véritables déformations du texte.”

A maior parte dos textos de Tradutologia utiliza exemplos <nobres>: tradução de filósofos ou de grandes autores como Shakespeare, Cervantes, Corneille, etc. Não encontro, neles, os chamados <autores menores> ou de best-sellers (como, p.ex., P.L. Sulitzer, que afirma em um de seus livros que a Tcheka era a polícia secreta do czar, e batiza seu herói polonês de Taddeuz, ao passo que a grafia correta seria Tadeusz, etc.). O estilo dos <grandes escritores> não é criticável, evidentemente: não temos o direito de julgá-los, devemos sim nos inspirar neles, eventualmente imitá-los – em todo caso, respeitá-los. Nos textos de Tradutologia, exemplos <plebeus> são olhados com desconfiança: estes são classificáveis como tecnoletos ou socioletos, desvios da língua-padrão ainda respeitáveis em si mesmo, regulares o bastante, porém não têm um <estilo>, portanto não merecem grande atenção.

Daí deriva o conhecido problema do discurso político, com frequência reduzido a seu aspecto puramente terminológico (ver, a respeito, J.B. Neveux, La traduction, capítulo <A tradução do vocabulário político>, 1979).

Ademais, há sempre os textos literários <de menor importância> e os textos que não são tampouco literários ou técnicos, i.e., textos jornalísticos, a reportagem, memórias e entrevistas de todo gênero, encontrados em abundância nas bibliotecas e livrarias – o que se passou a denominar literatura de testemunho ou biográfica. O que fazer, p.ex., dum texto onde o personagem declara, de forma séria, que <les liens> (as relações) que o ligam a uma determinada organização são <éteints> (apagadas, nulas, opacas – termo difícil de traduzir)? Se se aplicam à letra os princípios de Tytler, aos textos mal-feitos da língua de partida deveria corresponder um mau texto na língua de chegada. Ou seria lícito melhorá-lo? O auge deste ponto de vista foi no século XVII, mas essa tendência nunca esmoreceu de verdade entre os tradutores (sendo aliás a obsessão por excelência dos editores). Nos discursos tradutológicos do século XX vemos uma pronunciada tendência à crítica desses <melhoramentos>, que são considerados agora deformações do texto original.”

Qui est traducteur (je ne prends en considération que les traducteurs littéraires et je n’aborderaidonc pas les problèmes des traducteurs jurés, techniques ou interprétes dont la traduction estla principale source de revenus)? A priori, toute personne connaissant bien une langue étrangèreet sa langue maternelle, sans être nécessairement «parfaitement bilingue» – les dictionnairesle sont suffisamment – peut être traductrice.Cependant, le traducteur est avant tout um lecteur: sans goût pour la littérature (ou même simplement la chose écrite), il est peu probableque quelqu’un se mette à traduire, puisque cet acte nécessite une première lecture (en termeslinguistiques: un premier décodage). Le nombre des traducteurs est tout de même inférieur aunombre de lecteurs connaissant plus d’une langue, car en plus, il faut savoir écrire (être capablede faire le ré-encodage) – c’est-à-dire avoir au moins un peu de talent littéraire, ainsi que le remarquefort justement G. Karski et même le structuraliste Z. Klemensiewicz qui parle de congénialité:la traduction ne doit être «ni une réécriture, ni une transécriture, mais une co-écriture». C’est d’ailleurs un métier qui ne s’enseigne pas: les écoles de traducteurs forment des interprèteset des traducteurs techniques, non des traducteurs littéraires.”

ANATOMIA DO TRADUTOR – Quem é tradutor? (Daqui para a frente, me eximo da responsabilidade de considerar os tradutores não-literários, isto é, NÃO ABORDAREMOS EM ABSOLUTO OS PROBLEMAS DAS TRADUÇÕES JURAMENTADAS, TÉCNICAS OU DE INTÉRPRETES, PROFISSÕES BASICAMENTE DE DEDICAÇÃO EXCLUSIVA)

RESPOSTA: A priori, qualquer bom conhecedor de ao menos uma língua estrangeira e da própria língua materna, sem ser necessariamente <um bilíngue perfeito> – de modo que os dicionários já lhe são ajuda suficiente.

Acima de tudo, o tradutor é um leitor. Sem tesão pela literatura (ou simplesmente pela <coisa escrita>), é muito pouco provável que qualquer um se meta a traduzir. Trata-se dum ato que exige no mínimo uma primeira leitura (o que na Lingüística se chamaria de primeira decodificação). Segunda implicação: o número de tradutores é sempre inferior ao de leitores conhecedores de mais de um idioma, porque, afora a <decodificação inicial>, é preciso saber fazer a re-codificação (em termos leigos, saber (re)escrever).

O que é esse <saber ler-reescrever>? Possuir um mínimo de talento literário (este mínimo não é <mensurável>), o que lingüistas como Karski e Klemensiewicz definem como a posse da cogenialidade, isto é, menos que a genialidade mas mais do que a banalidade, além de ser sempre uma espécie de <parceria diacrônica> com um outro co-gênio que precede ao tradutor.¹ Resumindo, é uma atividade impassível de ensino: as escolas de tradutores formam intérpretes e tradutores técnicos, não tradutores literários.”

¹ Matizes kardecistas, até!

Os vilões do meu universo encastelado: os assessores, os sociólogos não-marxianos, os pré-existencialistas e, finalmente, os tradutores juramentados ou leigos que solicitam ou falam em “tradução livre” (verdadeira abominação em forma de binômio). Trocando em miúdos, estes são os péssimos profissionais das minhas áreas ou ex-áreas de atuação (respectivamente, Jornalismo, Sociologia, Filosofia, Letras), tudo que eu jamais seria ou jamais tomaria como modelo.

Rares sont les traducteurs littéraires dont la traduction est la principale (ou seule) source derevenus: la plupart du temps, ils exercent des métiers intellectuels, sont souvent des universitaires- mais rarement des écrivains. Il suffit de consulter les bibliographies d’auteurs pour levoir: les écrivains écrivent «pour leur propre compte». Quant aux traducteurs, s’ils ont assez detalent pour traduire, il leur en manque pour créer. Remarquons toutefois que le travail de traductionest ingrat : il demande un effort considérable, est plus ou moins bien rémunéré – mais lestraducteurs passés à la postérité sont rares, si l’on excepte les premiers traducteurs de la Bible.Comme le remarque I. Géher, on ne lit jamais un texte parce qu’il a été traduit par X, mais parcequ’il a été écrit par Y. Les grands traducteurs sont donc peu nombreux: en France, Baudelairen’est un traducteur célèbre que parce qu’il était par ailleurs un immense poète, en Pologne TadeuszBoy-Zelenski n’est célèbre que parce qu’il a, à lui seul, traduit énormément de littératurefrançaise (dont Montaigne, Descartes, Pascal, Rabelais, tout Molière, Chateaubriand, Stendhal,Proust, Gide, tout Balzac, etc.) alors que lui-même n’était qu’un écrivain-créateur médiocre.

Donc, les écrivains ne sont pas des traducteurs – sauf les poètes. Cependant, il est remarquableque les poètes signent quelquefois des traductions de langues qu’ils ne connaissent pas. En fait, ils ne sont pas traducteurs, mais «poétisateurs» de textes précédemment traduits par destraducteurs non poètes (dans la terminologie de H. Meschonnic, l’un parle «langue» et l’autreparle «texte». L’auteur s’insurge avec raison, contre cette pratique qui pose des problèmesphilosophiques et méthodologiques sur lesquels je ne m’attarderai pas).”

O PARADOXO DO POETA NÃO-ESCRITOR E DO ESCRITOR NÃO-POETA (ALÉM DO LIMBO CHAMADO TRADUTOR)

Raros são os tradutores literários para quem traduzir é a principal (ou única) fonte de renda: a maior parte do tempo, eles exercem qualquer outra função intelectual, comumente nas universidades – salvo que raramente são escritores. Basta consultar as bibliografias dos autores para atestá-lo: os escritores <escrevem por conta própria>. Quanto aos tradutores, malgrado tenham o talento imprescindível à tradução, falta-lhes o talento para criar. Observemos quão ingrato é o ofício do tradutor: traduções demandam um esforço considerável e são mais ou menos bem-remuneradas, dependendo do contexto – mas o notável da carreira é quão poucos dentre os tradutores gravam seu nome na posteridade. As maiores exceções foram os primeiros tradutores da Bíblia, por motivos óbvios. Como lembra Géher, ninguém lê um livro <porque foi traduzido por Fulano>, mas sim <porque foi escrito por Cicrano>. Os grandes tradutores são, desta feita, pouco numerosos: na França, Baudelaire só se tornou um tradutor de renome porque além de traduzir era também um enorme poeta; na Polônia, Tadeusz Boy-Zelenski só atingiu fama imortal por ter sido quem traduziu sozinho quase toda a Literatura francesa que realmente interessa: Montaigne, Descartes, Pascal, Rabelais, Molière (a obra completa), Chateaubriand, Stendhal, Proust, Gide, Balzac (a obra completa), e ainda outros! Fora isso, o próprio Tadeusz nada era senão um escritor autoral medíocre.

Sendo assim, os escritores não são tradutores – isto é, com a exceção dos poetas. O insólito da situação do poeta é que ele assina traduções de línguas que não conhece (conhece muito mal, comparado com os tradutores por vocação). Na verdade, quando poetas se aventuram a traduzir, não são tradutores, são <poetizadores> de textos anteriormente traduzidos por tradutores não-poetas (na terminologia de Meschonnic, o poeta fala uma língua, o tradutor fala um texto). O autor (escritor) se insurge (com razão?) contra esta prática, que encerra uma vasta gama de problemas filosóficos e metodológicos, os quais por si só já mereceriam livros e mais livros.”

Tudo já foi escrito” é a desculpa esfarrapada do primeiro dos últimos pós-modernos!

Já traduzi até Heine… Não sei nem mais que(m) sou…

Quem

Queim

Queime

Queimei

Quem

Ei!

Quem queimou

Quem queimou meu queijo?

#IdéiadeTítulodeLivro

UÉ?!

E quem disse que o filósofo é mais escritor do que poeta e tradutor?

Qual é o TAMANHO da sua escrita? Imortal e milenar ou 500 páginas sem margens e espaçamento 1?

Le traducteur est doublement dépendant: en amont, de l’auteur, en aval de l’éditeur.”

L’éditeur est une invention récente que toutefois on trouve à l’état embryonnaire dès l’invention de l’imprimerie. Avant, chaque livre était unique et le copiste devait posséder un savoir (la lecture et l’écriture) et maîtriser une technique (la calligraphie). L’imprimerie introduit une technique lourde et extérieure au copiste et donc, qui plus est, à l’auteur. L’imprimeur devient l’intermédiaire obligatoire (monopolistique) entre auteur et lecteur. Cette situation dure très longtemps: l’éditeur, c’est l’imprimeur, c’est-à-dire un technicien qui se double rapidement d’un commerçant (dans des cas extrêmes, l’imprimeur peut être analphabète, comme le père Séchard dans les Illusions perdues de Balzac). Voulant connaître la nature de sa marchandise, il se met à lire et à juger ce qu’il imprime, pour décider peut-être de ne pas le faire, et devient éditeur à proprement parler. Le statut de l’éditeur est ambigu: il est à la fois connaisseur littéraire et commerçant. Suivant le cas, c’est l’une ou l’autre facette qui l’emporte. Son double jugement (littéraire et/ou commercial) n’est pas infaillible, loin de là. Actuellement, l’éditeur délègue les travaux d’impression (le côté technique) et assume les rôles de commerçant et de juge, quitte, bien sûr, à s’entourer de «commerciaux» et d’un «comité de lecture».”

Lorsqu’un auteur propose (soumet) um texte à un éditeur et que ce dernier accepte de le publier, il accepte par là-même de faire un investissement correspondant aux frais d’impression, de diffusion et éventuellement de publicité. Les revenus de l’auteur dépendent alors étroitement de ceux de l’éditeur. La démarche du traducteur est différente, encore qu’il faille distinguer deux cas de figure: 1. le traducteur propose un texte à l’éditeur, 2. l’éditeur commande une traduction. La différence entre les deux s’inscrit dans la durée. Dans le second cas, le traducteur reçoit un travail pour lequel il sera rétribué. Il n’a donc aucune démarche – au sens propre du terme – à accomplir. Dans le premier cas, le traducteur commence en général par convaincre longuement l’éditeur de l’intérêt littéraire d’un texte, échantillon à l’appui. En cas de refus, il aura travaillé pour rien. Dans les deux cas de figure, si l’éditeur accepte de publier la traduction, son investissement est important: il doit racheter les droits d’auteurs s’ils n’appartiennent pas encore au domaine public, il doit payer le traducteur et, bien sûr, veiller à l’impression, etc.

Le contrat de traduction est signé et, quelques temps après, le manuscrit (ou plutôt le «tapuscrit») est remis à l’éditeur qui va le lire, ou le faire lire. Ce lecteur (qu’il soit l’éditeur lui-même ou une personne tierce, on l’appellera le correcteur) ne connaît pas nécessairement le milieu-source: il ne fera donc que veiller au respect du 3ème principe de Tytler, c’est-à-dire la lisibilité. L’intermédiaire du correcteur est une bonne chose en soi: quel traducteur n’a pas remarqué une baisse affligeante de sa compétence linguistique en langue-cible, qui est en général sa langue maternelle, pendant l’acte de traduction? Les relectures que l’on fait «à froid» sont nécessaires pour se débarrasser du modèle contraignant de la langue-source, mais même là, il arrive que des phrases sonnent juste seulement pour le traducteur, hélas! C’est ce qu’exprime clairement G. Mounin (cité par J.R. Ladmiral), quand il parle de la «richesse merveilleuse de toutes les langues de départ, pauvreté incurable de toutes les langues d’arrivée». Encore faut-il que le correcteur soit effectivement compétent…

C’est là que se pose le problème du «mauvais» texte de départ, ou, si l’on préfere, des maladresses stylistiques qui peuvent s’y trouver. Si on applique le principe de fidélité, à mauvais original doit correspondre mauvais texte en traduction (et ce sera justement cela la bonne traduction) – la première réaction du correcteur sera de considérer que la traduction est mauvaise, et non le texte original, et il se dépêchera de corriger, d’améliorer le texte en langue-cible, pratique autrefois courante, aujourd’hui plutôt critiquée. Il faut cependant faire une distinction entre «petites» et «grosses» maladresses. Voyons un exemple de petite maladresse.

Dans La légende de Pendragon, Antal Szerb répète très souvent le mot különös, quelquefois à l’intérieur d’un même paragraphe. Ce mot signifie «singulier, bizarre, étrange». La stricte fidélité à l’original demanderait de choisir l’un de ces adjectifs – de préférence «singulier» – et de l’employer systématiquement, comme un terme technique. Or, pour la traduction, nous avons choisi de varier les équivalents français pour éviter des répétitions qui, tout en alourdissant le style, n’apportent pas d’information particulière et – surtout – nous auraient fait passer pour de mauvais traducteurs… Nous avons donc prévenu les critiques du correcteur, d’autant plus qu’il s’agissait effectivement d’une maladresse de la part d’Antal Szerb: c’était un éminent historien de la littérature qui écrivait des romans en dilettante, vite et sûrement sans se relire, ce que le lecteur français ne sait pas, alors que le personnage de Szerb est très connu en Hongrie. On a ici un problème non de langue, mais de milieu. Ce roman est passionnant de bout en bout – il n’en est pas pour autant exempt de ce type de maladresses qu’on peut corriger sans porter atteinte au texte.”

Escrita, a anti-bosta: quanto mais mexe, menos fede?! Há um momento, no entanto, em que ela petrifica, para o bem ou para o mal…

Il arrive cependant que la «maladresse» (en particulier, la répétition) soit voulue et significative. C’est le cas du roman du Polonais Julian Kawalec intitulé W sloncu où la répétition de mots ou de membres de phrase crée un effet lancinant comparable à la poésie de Gertrude Stein. Dans ce cas, il faut conserver cet aspect de l’original – et il ne sera guère aisé de convaincre l’éditeur qu’il doit en être ainsi. L’éditeur est un être soupçonneux: il met en doute les compétences linguistiques du traducteur aussi bien en langue-source qu’en langue-cible – ce qui n’est d’ailleurs qu’une manifestation de son souci du lecteur.”

¹ E mais uma vez o dia foi salvo graças ao poder deveras oportuno da… NOTA DE RODAPÉ!!!

Prancha de salvação que leva direto aos tubarões. Conversas off-topic gravadas. Quando a nota é do editor, o “tradutor venceu” a guerra, e o Ed. se vinga. Quando a nota é do tradutor, o “editor venceu” a guerra, e o Trad. quita dalgum modo a dívida e restabelece o equilíbrio. Isso supondo que não se trate só de mea culpas baratas…

Remarquons que la plupart des «notes du traducteur» sont des informations portant sur le milieu-source.”

Quelle frustration de voir écrit en bas de page «calembour intraduisible». La responsabilité repose entièrement sur les épaules du traducteur; et comme la plupart des calembours sont intraduisibles, le traducteur essaie de compenser comme il peut, éventuellement en plaçant un bon mot à un autre endroit du texte. Ces deux types d’exemples sont peu importants – même s’ils donnent quelquefois des nuits blanches aux traducteurs – si l’on pense qu’ils ne concernent la plupart du temps que des mots et expressions éparpillés dans un texte par ailleurs normalement traduisible. Le problème se pose plus gravement quand c’est le texte tout entier qui nécessite une note du traducteur – qui alors peut choisir de se taire ou de se manifester par une introduction. Je ne citerai qu’un seul exemple: l’introduction à la traduction française de Trans-Atlantique de W. Gombrowicz. Il s’agit d’une longue introduction historico-littéraire ainsi que traductologique. C. Jelenski & G. Serreau, les traducteurs, expliquent que le roman, écrit en 1948, s’inscrit dans une convention littéraire du XVIIIème siècle – j’en ai parlé au début, à propos du «voyage dans le temps». La traduction est stylisée, archaïsée au point qu’elle crée une impression aussi étrange et grotesque que l’original. On a un «style fonctionnellement équivalent» (Taber). De ce point de vue, et du point de vue des libraires aussi, c’est une réussite et pourtant… Le texte français est beaucoup plus long que l’original polonais. On observe, pour employer la terminologie de J.R. Ladmiral une incrémentialisation et une péri-paraphrase généralisées – en d’autres termes, c’est une traduction explicative.”

Mais C. Jelenski n’a-t-il pas dit lui-même à propos de ce travail qu’on ne comprenait vraiment une oeuvre qu’en la traduisant? Cette traduction illustre l’application stricte du second principe de Tytler, au détriment du premier – à cela près, qu’il n’y a pas déperdition, mais excès. Ce phénomène est constant dans tout le roman – en fait de traduction, on a presque une adaptation.”

HAHA: “adaptation, appelée quelquefois traduction libre (…) L’apparition des notions de propriété littéraire et de plagiat oblige l’adaptateur à citer son modèle – quitte à se faire passer pour un traducteur.” Bom menino-mau: Em nome da Honra – Chapeuzinho Vermelho; O Orfanato & O Senhor-Robô – Dalá-gonu Borô Zeta; Do Caos ao Barro, da Lama ao Caos: Lisboa, 1755 – Moonspell & Nação Zumbi & Chico Science… O Andarilho Triclope… …. ….. Sofrimentos do Jovem Ed…itor

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Trechos de Marianne Lederer, “La traduction aujourd’hui”

Même à un stade très avancé de l’acquisition d’une langue étrangère, on entend encore des étudiants demander comment traduire tel mot ou tel mot. Comment dit-on <préposé> en anglais? ou <pronouncement> en français? Ils espèrent une réponse qui ferait apparaître une forme sonore différente dans uns signification inchangée.”

Les mots anglais <control>, <region>, <opportunity> ont tout d’abord été compris au sens français de <contrôle> (vérification), <région> (partie d’un pays), <opportunité> (qui vient à propos). (…) Aujourd’hui <contrôle> a perdu en grande partie sa signification initiale pour prendre le sens anglais de <maîtriser>, <commander>, <diriger>; <région> englobe plusieurs pays et <opportunités> remplace de plus en plus <occasion>. Les déformations sémantiques de <global>, <rampant>, <attractif>, etc., ont suivi ce processus à des degrés divers. <Global>, à l’instar de l’anglais, signifie aujourd’hui <universel> en plus de sa signification de <entier>, <total>. <Rampant> a gardé sa signification française mais est utilisé avec une fréquence qui lui vient de l’anglais. <Attractif> a la forme de l’anglais tout en gardant la signification de <attrayant>, <attirant>, etc.”

La stylistique comparée du français et de l’anglais, cependant, malgré toutes ses qualités, n’est pas une méthode de traduction des textes, contrairement à ce que laisse entendre son sous-titre, <Méthode de traduction>. Elle ne peut l’être car, observant les désignations différentes de situations identiques, elle ne va pas, sauf pour en analyser le résultat, jusqu’à expliquer la traduction par équivalences.”

J. Delisle écrit: L’analyse de la langue que pratiquent les stylisticiens comparatistes reste en deçà de l’analyse du discours sur lequel se fonde toute vraie traduction.

Les 7 procédés techniques si célèbres de La stylistique comparée (…) (l’emprunt, le calque, la traduction littérale, la transposition, la modulation, l’équivalence, l’adaptation) ne peuvent contribuer à la traduction, qui est essentiellement un exercice d’interprétation car, ne facilitant ni l’analyse d’un message ni sa restitution, ils ne peuvent pas avoir valeur de règles pratiques de traduction.”

La stylistique (et d’autres <manuels de traduction>) peuvent rendre de grands services aux étudiants dans leur auto-perfectionnement linguistique. L’apprenant peut puiser à la source du comparatisme pour perfectionner ses connaissances.”

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La polémique “Cibliste vs. Sourciste”.

Trechos de Pierre Baccheretti, “Traduire ou interpréter”, in: La traduction: problèmes théoriques et pratiques

Dans la pluplart de cas, c’est la réalité décrite qui se refuse à la traduction, pour la simples raison qu’elle n’a point d’équivalent dans le pays où est parlée l’autre langue. Se pose alors le problème, bien connu, de la traduction des <réalia>.”

Nous traduirons donc filosofija trëx vesëlyx kombinatorov P’enikle. Nous soulignerons, en qualifiant cette philosophie de mudrënaja et en recourant à un verbe noble:

A brotik Pol’, zabrosiv azbuku, po veceram, lëza v krovatke, vnikal v mudrenuju filosofiju <Trëx vesëlyx Kombinatorov P’enikle>”

E meu irmão Paulinho, em sua cama, penetrava nos segredos da sábia filosofia dos três fanfarrões vigaristas Pieds Nickelés, menos três patetas que uma espécie de Cebolinha arquitetando um de seus Planos Infalíveis…

Um dia só é bom quando o próximo é um feriado.

le français montagne se verra-t-il attribuer comme équivalent le russe gora. C’est du moins ce que recommandent, à l’unanimité, tous les dictionnaires bilingues. Et, pourtant, un examen, même superficiel, des emplois de gora en russe montre à l’évidence que la réalité recouverte ressemble souvent, à s’y méprendre, à une simple colline de Provence.”

Il est évident que l’imagination des parents ne connaît point de bornes lorsqu’il s’agit de toruver un nom zoologique gentil à ces chers petits, et, dans l’intimité du nid familial, tout est permis. Mais les assimilations être humain/animal sont loin d’avoir une valeur universelle immuable, et dans le domaine de la traduction, il est, sans aucun doute, souhaitable d’éviter des équivalences au mot à mot qui, dans la langue d’arrivée, risquent d’avoir une valeur comique qui n’était certainement pas recherchée au départ.”

Je frappai le mulet sous le ventre […] tandis que le paysan l’appelait: <carcan, carogne> et l’accusait de se nourrir d’excréments.

Pagnol fait là allusion à une injure fort prisée dans le Midi et dont le sens laisserait à supposer que votre interlocuteur, pour se sustentar, mange autre chose que de la fougasse et des olives. Malgré la richesse de son vocabulaire dans ce domaine, le russe ne possède pas d’équivalent terme à terme qui soit couramment utilisé. Et, difficulté supplémentaire, tout cet aspect de la langue parlée est totalement tabou dans la langue écrite: le bon citoyen russe peut être, dans la vie de chaque jour, tout aussi mal embouché que le plus grossier des charretiers de France, mais l’usage littéraire jette un voile pudique sur les expressions qui sortent des sentiers battus, et les dictionnaires – à l’exception d’un ouvrage anglais (Beyond the Russian dictionary, 1973, London, Flegon Press) restent étrangement muets sur le sujet.”

Le grossier personnage n’hésitera pas à compléter nos points de suspension en recourant à un verbe précis que conférera à la phrase le sens approximatif de tu sais ce qu’on lui fait à ta mère? L’injure est à ce point vivante en russe que la langue en arrive à renoncer à employer à l’accusatif le mot mat’ précedé du possessif, de façon à éviter toute réminiscence mal venue.”

ryba, le poisson, est, en russe, de genre féminin”

De la même façon, dans la traduction du Petit Prince, le traducteur soviétique a été amené à traduire le renard et la Fleur respectivement pas lis, masculin, quasiment inemployé en russe, à côté du très courant lisa de genre féminin, et roza (la rose, et non la fleur cvetok masculin) de façon à respecter la répartition féminin/masculin, essentielle dans le texte original.”

En effet, alors qu’en français, le mâle donne habituellement son non à l’espèce (un chat, une chatte, le chat), le russe préférera d’ordinaire la forme féminine pour désigner l’espèce (kot, koska). Le canard sera ainsi utka de genre féminin, ce qui saurait convenir à un exemplaire, défini comme le vieux père canard, et, plus loin dans le texte, le vieux dur-à-cuire.”

Le locuteur français (qui dit ) reste, en quelque sorte, à distance, immobile, considère le mouvement d’un point fixe, depuis l’endroit d’où il observe, et il n’est qu’observateur. Le locuteur russe (qui dit ici) se déplace en même temps que son personnage, participe au mouvement, est, d’une certaine façon, acteur de la scène.”

On pourrait expliquer l’implicite du français par le fait d’une capacité d’abstraction plus grande, le contexte étant suffisamment clair pour donner à comprendre la succession chronologique de divers mouvements sous-entendus.”

Jacques entra dans le café, avisa une table libre à l’écart, et commanda une bière.

=

Zak vosël v kafe, primetil svobodnyj stolik v storone, sel i zakazal pivo

=

Jacques entra dans le café, avisa une table libre à l’écart, s’assit et commanda une bière.

Là oú le locuteur français, du seul fait du cheminement de la logique interne de l’énoncé, distingue sans ambiguïté les divers personnages, tous nommés <il>, le russe ne reconnait pour <il> (on) que la personne qui était déjà le sujet de la proposition précédente, et si la personne, sujet de la nouvelle proposition, est autre, doit impérativement la nommer, ou recourir au démonstratif tot qui désigne la personne ou l’objet éloigné, par opposition à étot réservé à l’objet de la personne proche.”

nous avions la triste impression de lire un autre livre qui parlait la même chose, mais ne disait rien.”

il n’y a qu’un pas entre l’abattoir, skotobojnja, et bojnja, la tuerie, la boucherie, la guerre.”

En effet, on peut constater dans l’usage russe une tendance marquée à préciser ce que le français se contentait de suggérer, et, sur un certain nombre de points, la langue dispose d’une série de moyens techniques pour le faire, moyens que le français, soit ne possède pas, soit répugne à utiliser”

En français, le contexte éclaire la mimique, donne leur signification aux gestes, alors qu’en russe ce sont les gestes qui contribuent à créer le contexte.”

Ainsi l’expression zadrav nos, littéralement <le nez en l’air> marque, en russe, l’attitude hautaine, l’air conquérant de celui qui est trop content de soi, et non, comme en français, une certaine insouciance, un manque évident d’attention.”

Cabeça na lua, nariz empinado, olhando sempre pra baixo, boca tesa, ouvido surdo concentrado, pêlos eriçados, cabelo sem viço, derrubado.

O russo precisa incluir muitos travessões num diálogo, certo, Dosto?

…dit ma mère, répliqua vivement mon père, précisa tante Rose, dit, dubitatif, mon pére, etc. Bien entendu, tous ces verbes auraient été possibles dans le texte français, mais telle ne semble pas être la tendance de la langue.”

Le verbe de parole en fraçais répond essentiellement à la question: qui parle? Le russe va, souvent, plus loin: qui parle, et comment?

c’est la vi(ll)e désertes amis

Trechos de Françoise Flamant, “Pour en venir au texte lui-même”, in: La traduction: problèmes théoriques et pratiques

O artigo de Pierre Baccheretti Traduire ou interpréter, que se funda sobre uma prática assídua da tradução, incita com naturalidade todo tradutor a refletir sobre sua própria prática. Constatamos imediatamente que os tradutores, que se comprazem, em geral, em debater e confrontar pares, repugnam, o mais das vezes, comunicar suas experiências por escrito. Esta repugnância – ou essa negligência – (que o próprio P. Baccheretti decerto não reprova em alguns contextos) não seria reveladora da inquietude que acompanha o tradutor incontinenti ao longo da elaboração de seu texto, e desse resíduo de insatisfação que persiste nele ao contemplar o resultado de seu trabalho? Angústia e insatisfação que não são sanadas pela leitura de nenhuma obra teórica sobre tradução. Com efeito, a atividade do tradutor não se caracteriza como uma posta em prática de teorias e princípios, quaisquer que sejam, estabelecidos pelo tradutor mesmo ou consagrados muito antes dele – se caracteriza, sim, como uma tensão irredutível entre dois pólos: duma parte a convicção de que a estrangeiridade dum texto compõe um de seus atributos primordiais; doutra, a necessidade imperiosa de comunicar essa estrangeiridade, i.e., esse algo insólito e inefável, convertendo-o nalgo familiar para o receptor, e, afinal, redigido na língua natal deste último! A tradução se realiza num vaivém permanente entre estes 2 pólos, percorrendo uma infinidade de escolhas, uma mais insatisfatória que a outra, caso fossem examinadas em separado, mas que tendem a se equilibrar, se compensar, consideradas como um todo mais que a soma das partes.”

O tradutor moderno perdeu a tranqüila confiança de seus predecessores franceses do século passado, intimamente convencidos da supremacia de sua própria língua vernacular e de sua civilização. (…) Viardot alcançava o denominador comum (do gosto francês) entre a prosa de um Cervantes e a de um Turgueniev.”

<tradutor de Arte> (é assim que os russos denominam o <tradutor literário>)”

Veja-se o exemplo da palavra muzik, transcrita geralmente como moujik em francês (definição: <camponês russo>). Em sua obra Tolstoï et Dostoïevski (1901), o escritor e filósofo Mérejkovski consagra um capítulo à religião de Dostoïevski, para a qual duas palavras diferentes conotam o <camponês> a depender da situação: muzik ou krest’janin. Mérejkovski defende a idéia de que o apego de Dostoïevski a um cristianismo do terror que ele associa intimamente ao camponês russo (o krest’janin) teve sua origem num episódio da infância do escritor, contado aliás por ele próprio: aterrorizado pelo uivo dum lobo, Dostoïevski-criança sai correndo e se joga nos braços fortes e protetores do camponês (muzik) Maréï, que trabalha nos campos das proximidades de sua casa, o que o conforta e o alivia de sua crise. O sentido do <texto em si mesmo> indica aqui, ao tradutor, que deve se servir da palavra moujik toda vez que fizer referência ao <moujik Maréï>, e da palavra paysan [a tradução literal, i.e., camponês, o pobre, o povo, e não mujique, dicionarizada em português, inclusive] sempre que a questão for traduzir krest’janin. A palavra muzik, formação diminutiva pela qual se auto-designava o camponês-servo na sociedade feudal russa, é a que Dostoïevski aplica em seu relato da lembrança de infância. Ao conservar a denominação, o tradutor permite ao leitor francês identificar a citação – tão rapidamente quanto o próprio leitor russo. Ao traduzir o camponês médio ou o camponês em geral pela outra palavra, krest’janin, distingue-se, na prática, o evento-concreto fundador (de feição particular, historicamente datado, de caráter patriarcal, a relação, em suma, do <jovem mestre> com um de seus servos) do conceito universal ressignificado ulteriormente na visão teológica de Dostoïevski que gira em torno do arquétipo do camponês (o krest’janin).

A mesma palavra no plural, Muziki, é o título de uma longa novela de Tchékhov datada de 1897, cujo enredo se passa no mesmo ano. A tradução de um título é sempre perigosa: sua formulação geralmente lacônica (o mais lacônica possível, aliás) tem como meta representar, ou ao menos sugerir, a idéia primordial contida na obra. Mas, ao mesmo tempo, um título deve ser chamativo, despertar a vontade de ler. Daí que não nos pareça recomendável traduzir a obra como Les moujiks: a estranheza da palavra – estranheza que, em si mesma, não impede a palavra de ser utilizada, e até pode ser um critério para preferi-la, como já indicamos – não ajuda em tornar o título atrativo para o potencial leitor de ficção (muito embora o caráter de estranho possa ser sempre atrativo para aficionados em relatos de viagens, por exemplo). E, ademais, a palavra muziki passa longe de ser neutra, uma vez que designa os camponeses russos do fim do séc. XIX aproximadamente 40 anos após a abolição da servidão. Em que pese esse período coincidir com a infância de Dostoïevski, não podemos assinalá-la como bom sinônimo de krest’jane. Na verdade quem não lê a novela obviamente não pode entender o sentido do título Muziki: a estória da decadência inelutável duma família camponesa e de toda uma vila, em meio a uma sociedade que não libertou os camponeses senão para abandoná-los a eles mesmos, figuras ontologicamente irresponsáveis pela própria existência. Sendo assim, Muziki aqui é um misto de termo carregado de compaixão com leve depreciação ou crítica nuançada. Agora, em nosso tempo, essa palavra, ainda empregada, se tornou muito mais – abertamente – pejorativa. Quanto à melhor sugestão de tradução, seria Paysans, sem artigo, preferível a Les Paysans, que vem a ser a escolha mais freqüente.”

a neutralidade estilística está para o texto como o silêncio está para a peça musical e o plano de fundo para a pintura.”

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L’autre forme de l’interprétation de conférence est l’interprétation simultanée, introduite dans la pratique professionnelle à partir du procès de Nuremberg: l’interprète est isolé dans une cabine vitrée qui lui permet de voir les participants. Il reçoit le son grâce à des écouteurs et traduit ainsi dans un micro les propos entendus, non pas simultanément, mais avec un léger décalage dont la durée varie en fonction de la nature du discours. C’est à Marianne Lederer (op. cit.), ancienne directrice de l’EST, que la traductologie doit l’ouvrage majeur sur l’interprétation simultanée: La traduction simultanée, expérience et théorie, paru en 1981. Les recherches de Seleskovitch se poursuivent par toute una série d’articles qui élargissent peu à peu le champ de son étude de l’interprétation à la traduction en général. Le texte qui suit retrace le cheminement de son analyse et ses notions clés”

Trechos de Colette Laplace, Théorie du langage et théorie de la traduction

on pense mieux en parlant qu’au stade de la pensée non formulée. Toute parole est donc en même temps expression de la pensée et génératrice de pensée.” Selesk.

Selon l’interprète, la langue signale par le pluriel même auquel elle se prête (les langues), qu’elle a un caractère instrumental” “L’impression retirée de la lecture de L’interprète dans les conférences internationales se trouve immédiatement confirmée: en 20 ans de recherche, Seleskovitch ne s’est jamais lancée dans une étude analytique de la langue, elle s’est toujours tenue volontairement à l’écart des grands courants de la linguistique contemporaine, distributionnalisme bloomfieldien, strucuturalisme saussurien, glossématique de Hjelmslev, fonctionnalisme d’un Jakobson ou d’un Martinet, etc.” “Quel musicologue se contenterait d’étudier le bois dont est fait un stradivarius pour s’expliquer une musique? Ainsi les recherches d’un Chomsky sur la structure profonde ne sauraient trouver grâce à ses yeux, car elles ne permettent pas de <sortir de la langue>.”

Les idées doivent se couler dans les catégories que leur impose la langue, mais elles ne se confondent pas plus avec ces catégories qu’elles ne se confondent avec la langue.

Toute conception de la langue de Seleskovitch est dans cette phrase et ses différentes publications fourmillent d’illustrations de cette thèse.”

O KEYHOLE PRINCIPLE DE SELESK.: “un Anglais et un Français ont certainement la même représentation mentale, le même concept, d’un trou de serrure [buraco de fechadura, ‘lock-hole’], pourtant l’un utilise le terme <trou de serrure> et l’autre celui de <keyhole> (trou pour la clef).”

L’anglais dit outlet, le français dit prise (de courant)” Uma queima de estoque ligada no 220V!

a língua não diz, ela permite dizer”

Le vouloir-dire est la cause du discours, le sens en est la finalité.”

Dans les conférences internationales, les orateurs se succèdent, abordant des sujets politiques, écnonomiques, techniques ou scientifiques, que leurs auditeurs, délégués de même langue ou interprètes, sont supposés comprendre à la vitesse du débit oral, sans jamais disposer de la possibilité d’opérer un retour en arrière, alors que le lecteur a, lui, toujours loisir de le faire. C’est donc la situation idéale pour observer le jeu des mécanismes de compréhension, sans que rien ne le fausse.”

Il est certes plus difficile de dégager le sens d’un poème d’Hölderlin ou de René Char que d’un discours de Margaret Thatcher, et le travail d’exégèse n’est sans doute pas encore achevé mais il n’en reste pas moins que ce sens a une entité objective.”

The chickens are ready to eat! est ambiguë car nul ne peut opter à partir de la seule signification de la phrase: Les poulets sont cuits à point ou plutôt pour on peut maintenant donner à manger aux poulets.”

Nul besoin d’aller chercher des mots comme Gemüt et Schadenfreude pour affirmer que certains mots sont intraduisibles.”

on conserve le mot étranger come on l’a fait pour l’isba des romans russes ou pour le software des ensembles électroniques ou bien l’on crée un mot nouveau comme on l’a fait pour cybernétique, ou une acception nouvelle comme satellite qui a vite perdu son épithète d’artificiel.”

Bread pour l’Américain c’est une matière spongieuse, coupée en tranches et enveloppée de cellophane; pour le Français, le pain c’est une longue baguette croustillante et dorée” “nous serions tentée de demander si le soleil est bien la même chose pour un esquimo qui, pendant une partie de l’année seulement voit un astre pâle décrire une courbe molle au-dessus de l’horizon en difusant de la lumière 24 heures sur 24 et pour un Africain, qui identifie le soleil à une pluie de feu qui tombe du ciel et contre laquelle il convient de se protéger.”

«Ainsi les chiffres qui sont traduisibles par excellence puisqu’il y a une parfaite correspondance entre le référent et les signifiés des différentes langues, peuvent dans certaines circonstances devenir contextuels. Seleskovitch cite l’exemple des <15 jours> en français qui se traduisent par <14 Tage> en allemand. On pourrait également citer la signification attachée au chiffre 13 dans certains pays occidentaux (signification de malheur) qui se traduirait dans certains pays asiatiques par le chiffre 4.»

«Pour nous en convaincre, il suffit d’ouvrir le dictionnaire bilingue au hasard. Voici ce que propose le dictionnaire bilingue français-allemand de Sachs et Villatte: Kern: noyau, pépin, amande, coeur, puis des expressions diverses telles que der Kern der Sache: le vif do sujet; des Pudels Kern: le fin mot de l’affaire. Nous constatons que le terme allemand a un champ sémantique très large, plus large serait-on tenté de dire que celui de ces correspondants français. Mais est-ce bien vrai? Vérifions maintenant les équivalents proposés pour l’un des termes français. Coeur: Herz, Gefühl, Gemüt, Mut, etc. et d’innonbrables expressions: par coeur: auswendig; loin des yeux, loin du coeur: aus den Augen aus dem Sinn; faire à contre coeur: widerwillig machen; coeur d’un arbre: Kern, etc. Nous constatons que le champ sémantique du terme français est lui aussi très vaste, mais qu’il n’est nullement superposable au champ sémantique du terme allemand.»

Can you give me a lift? : Tu es en voiture? / Tu peux me déposer quelque part? / Vous êtes motorisé?

Trechos de Philippe Forget, Il faut bien traduire

«ces représentantes du vouloir-dire, de la parole vivante, de la conscience maîtresse du sens sont ici en train de pratiquer le spiritisme: elles convoquent le sens, donc l‘esprit, le font apparaître en dehors de sa forme matérielle pour, identifique à lui-même (insensible aux contextes, donc) le rematérialiser ensuite!»

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ELEMENTOS CULTURAIS, CONOTAÇÃO, ESTILÍSTICA

Trechos de Ladmiral (op. cit.)

«D’un point de vue historique, le concept de connotation a été remis à l’honneur par la linguistique américaine, dans le sillage de Bloomfield, avant d’être repris ensuite et thématisé surtout par les linguistes européens (cf. Mounin, 1963). Au-delà de l’héritage bloomfieldien, c’est donc essentiellement à l’apport de linguistes européens comme Martinet, Mounin, Guiraud, Lyons, Hjelmslev, voire Barthes… que nous serons conduit à faire réferérence.»

«On trouve le mot déjà chez Littré, qui consacre à la notion 3 entrées dans son dictionnaire – où connotation est définie comme ‘l’idée particulière que comporte un terme abstrait à côté du sens général’, où connoter signifie ‘faire une connotation, c’est-à-dire, indiquer, en même temps que l’idée principale, une idée secondaire qui s’y rattache’, et où connotatif a aussi une adresse qui luit est propre.»

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O CROATA APRESENTA INCRÍVEIS PARALELOS COM O PORTUGUÊS!

«C’est ici que se situe la grande majorité des cas. Notons que ces termes relèvent souvent de sphères où le français faisait jadis figure de langue de communication internationale: les lettres et les arts: esej, rezime, portret, revija, feljton, vodvilj, gvas; la politique: portfelj, revans, alijansa; les sciences et techniques: emalj, rezervoar, freza; la médecine: celulit; les finances: financije, akreditirati, garancija; l’art militaire: kampanja, bajuneta; la mode: dekolte, drapirati; l’art culinaire: blansirati, rulada, desert, fondan, frikase, et puis le savoureux frape, qu’en bon français nous préférons appeler milk-shake.

(…) interpolacija [interpolação] (…) bizuterija – désignant uniquement les bijoux de pacotille; frizura – la coiffure en général [cabelo frisado]; bombonijera – désignant une boîte de bonbons ou bien une confiserie [confeito]); soit avec una acception très pointue du mot source (apartman – qui le plus souvent désigne un logement locatif dans un lieu de villégiature); soit, et c’est beaucoup plus rare, avec une notion plus large que dans la langue d’origine (goblen, à partir de Gobelins, aboutit à l’idée de tapisserie en général).»

«avantura, butik, degutantan, dekadansa, impozantan»

TRADUZIR POESIA

Trechos de Inês Oseki-Dépré, Théories et pratiques de la traduction littéraire

«‘La Traduction-Allusion se propose seulement d’ébranler l’imagination du lecteur qui n’aura qu’à achever l’esquisse.’ Ainsi, selon Etkind, ‘n’est-il pas rare de voir les traducteurs ne faire rimer que les 4 ou les 8 premiers vers comme dans l’original, comme pour orienter l’esprit du lecteur dans la bonne direction’»

«recréer un poème dans son indivisible unité, dans sa totalité est un miracle qui ne serait accessible qu’à un poète.»

O que aconteceria se se esperasse de uma tradução poética que atendesse à lei formal das traduções, que é serem mais longas que o original?

« les Allemands et les Russes ont admirablement traduit dans leurs langues Homère, Eschyle, Sapho, Alcée, Virgile, Catulle, Horace, Juvénal. Il y a, entre la versification russe, tonique, et la versification polonaise, syllabique, une différence de principe fondamentale: elle n’a pas empêché Julian Tuwim de faire une excellente tradution d’Eugéne Onéguine de Pouchkine, ni Severin Pollack de recréer, de manière trèssatisfaisante, la poésie d’Anna Akmatova, de Maldelstam, de Tsvetaieva, de Pasternak.

De leur côté, la différence entre le système syllabique et le système tonique n’a pas empêché les poètes russes de traduire André Chénier, Évariste Parny (Pouchhine[?]), Auguste Barbier (Benediktov, Antokolski), Baudelaire, Verlaine, Rimbaud. »

«Le vers classique croule sous le poids des connotations livresques: impossible d’écrire une ligne, et encore moins une phrase, sans qu’aussitôt se présentent à l’esprit de longues séries de réminiscences scolaires, de citations et de commentaires transmis de génération en génération. Cet héritage s’est accumulé pendant plus de 4 siècles: on est fatigué par tant de liens culturels, la réalité vivante en est occultée. Libérer la vie des alluvions culturelles qui la recouvrent, telle est l’aspiration essentielle du vers libre. Paul Valéry, qui y avait tenu sa part, évoque ce refus total de l’ancienne tradition classique à partir des années 1890.»

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INDICATIONS BIBLIOGRAPHIQUES

BALLARD, Michel. Qu’est-ce que la traductologie?, 2006.

BENJAMIN, Walter. La tâche du traducteur in: Oeuvres I.

ECO, Umberto. Dire presque la même chose.

LADMIRAL, Théorèmes pour la traduction.

TYTLER, op. cit.