CASO SUZANNE URBAN – Binswanger (trad. Tadeu Costa Andrade)

Fonte: https://www.yumpu.com/pt/document/read/12536208/o-caso-suzanne-urban-psicopatologia-fenomenologica-

DIC:

Beeindruckbarkeit: impressionabilidade

Besessenheit: obsessão; possessão (demoníaca).

In der Wirklichkeitstehen: estar com os pés no chão (terra; realidade)

lazareto: hospital de leprosos, espaço destinado à quarentena

mit-teilsam: com-unicativo

Selbst-Verblendung: autocegamento

Verantwortlichkeit: responsabilidade


Da ist eine Fliege in meiner Suppe”

ins Dasein kommen” vir-a-ser

Desde que eu me entendo por gente

Caso Ilse: o <ponto de partida> era o amor passional pelo pai e o sofrimento constante pelos maus-tratos que ele dispensava à mãe.”

“Enquanto, no Caso Ilse, o Dasein estaba sob uma alta-tensão que durou muitos anos e <deu vazão> a si mesma primeiramente no sacrifício da queimadura, depois no delírio de perseguição e no delírio amoroso, a alta-tensão sob a qual está o Dasein no caso Suzanne Urban mostra-se não apenas em um amor <idólatra> pelos pais, mas também em um culto amoroso hipocondríaco <quase anormal> aos pais e ao esposo. Esse culto é afetado profundamente e é colocado sob a máxima prova quando o esposo (um primo) contrai câncer na bexiga.” “Além disso, ressalte-se que não se trata de um delírio de perseguição singular <residual> que se liga a uma vivência de desabamento do mundo, como no caso Schreber-Flechsig, mas, como nos casos Lola e Ilse, de um delírio de perseguição anônimo ou plural.”

(Nota: os títulos a seguir foram insertos por mim de forma arbitrária, não correspondendo nem à posição dos capítulos e tópicos do livro nem coincidindo em nomenclatura.)

1. A FAMÍLIA RELATA O CASO

“nenhuma amizade autêntica.”

“Sobretudo nos últimos anos, colocou que o ideal haveria sido não ter se casado, mas ter feito carreira no teatro. Natureza muito erótica (…) gostava de contar ao velho pai piadinhas eróticas.”

Quem não vira artista fica doido; mas e o artista, anormal, fica o quê?

“Quando menina, era notavelmente bonita. (…) Não agia como uma coquette” “Tornou-se noiva de um primo muito rapidamente”

“Aos 27 anos começaram ataques de espirro paroxísticos [?] que permaneceram fechados à influência terapêutica. A organoterapia junto a renomados laringologistas falhou completamente.”

“O marido era dominado pela esposa, cedia a ela constantemente”“só tinha interesse pelo câncer do marido, não suportava qualquer outro assunto. Indignava-se se alguém risse em sua frente. Queria acima de tudo matar o marido ela mesma e suicidar-se depois. Desejava um acidente que trouxesse a morte para os dois.” “Insultava os médicos porque eles não matavam o marido.”

“A paciente ingressou num hospital psiquiátrico (…) desde o começo, acreditava que estava sendo observada, perseguida pela polícia, radiografada; segundo ela, a família (…) estava tomando seus bens; no parque havia fios elétricos que registravam os passos de todos, ela teria sido infectada com sífilis, além de ter câncer, e todas as doenças possíveis. Recusava comida, acreditando que estava envenenada. À noite, vozes entravam-lhe na cabeça e mandavam-na repetir tudo que havia de mau; tudo seria impresso e divulgado por meio de gravadores especiais. Havia fios por toda parte. Mesmo no banho, haveria aparatos que a fotografavam nua para expô-la publicamente. Julgava que misturados aos remédios tomava sêmen de rãs e lagartos, queria vomitar tudo.”

“As idéias persecutórias pioravam cada vez mais. Gritava da janela (…) haviam cortado fora o nariz, as orelhas, os braços da mãe. Os familiares estavam enfiados em meio a fezes, batiam neles com barras de ferro, etc.”

“alta após 4 semanas”

“Nos últimos tempos, envelheceu muito, os cabelos esbranquiçaram rapidamente.”

2. COMO SUZANNE SE VÊ

“[Internada na clínica de Binswanger,] escreveu em poucos dias 2 cadernos completos, em alemão, embora esse não fosse seu idioma natal. (…) A partir dos escritos, pode-se perceber o quão exatamente as informações dadas pela paciente concordam com as dadas pelos familiares do ponto de vista do tempo e dos fatos”

Visto que a doença piorava cada vez mais, que meu marido começou a sofrer de insônia total apesar da medicação e que só comia se o forçavam e se alimentava principalmente de sangue prensado com creme, ovos e carne, os médicos sugeriram, uma vez que não se podia obter o novo medicamento (mesotório) onde morávamos, que fôssemos a Paris, ao que meus familiares também me encorajavam, dizendo que eu devia de toda maneira, embora estivesse arrasada, inconsolável, tentar também isso, a fim de nunca poder me culpar por [não] ter tentado fazer todo o possível para, se não salvar, ao menos prolongar a vida do homem. Essa estadia de 2 meses em P. foi o inferno para o pobre homem; alguns médicos queriam mandar operar meu marido, proposta, contudo, veementemente rejeitado por outros médicos.”

Enquanto eu estou andando pelo parque, eu escuto minhas expressões um tanto triviais serem repetidas por algumas mulheres que estão andando o mais perto possível de mim, a fim de me mostrar que elas ouviram tudo. Isso me deixa frenética. Até mesmo meus pensamentos são repetidos por outras pessoas. Eu digo para minha irmã ‘Nós estamos aqui entre espiões, o que eles querem de mim?’, mas ela apenas ri”

eu pressinto uma corrente elétrica”

tornei-me assassina de toda a família; não isso apenas; eu mando despedaçar a tumba do meu pai. Esses pensamentos me vêm na língua …, que eu nunca usei em casa. (…) e eu, assassina, estou deitada aqui na cama, estou sendo alimentada, estão me dando banho enquanto meus inocentes familiares atormentam-se.”

nós somos mendigas, eu caluniei vocês todos por meio do poder do diabo.”

Agora estou vivendo com a única esperança de escrever um pedido (petição) de que fuzilem as pobres pessoas sofridas ao invés de martirizarem-nas por tanto tempo.”

3. ANOTAÇÕES DE BINSWANGER

“Teriam-na mandado dizer que seu sobrinho é um socialista. Sente depois, com toda a exatidão, que estão arrancando os olhos dele.”

“tão logo conta uma piada, faz mais uma vez censuras a si mesma. (…) Conta com muito gosto as piadas mais sujas. Pergunta quem lhe tirou o entendimento.”

“Em 4 de setembro de 1920 é retirada do hospital psiquiátrico pela irmã imprudente, depois da assinatura de uma declaração rigorosa (…) Desde então, não ouvimos sequer mais uma palavra a seu respeito, e todas as buscas ficaram sem resultado devido aos caos da I e II Guerras Mundiais.”

“Até o último momento, a letra era tão precisa e pequena que a paciente podia colocar toda a história de seu sofrimento em um cartão postal”

4. ANÁLISE DO DASEIN

O médico disse-lhe que havia uma parte da bexiga que estava ferida, mas, quando ele virou as costas, fez para mim uma cara tão terrivelmente desesperançosa que fiquei completamente paralisada (…) de modo que o médico agarrou minha mão para me indicar que eu não devia mostrar a ele nenhuma das minhas sensações. Essa mímica foi uma coisa pavorosa! Meu marido também percebeu algo, talvez, mas exibiu uma expressão completamente amigável e apenas perguntou ao médico de onde isto poderia ter vindo; ele respondeu que isso frequentemente está no sangue, sem que se saiba sua origem.”

“horror mudo”

“Suzanne Urban leu no rosto e na mímica do médico não apenas a sentença de morte do marido, mas também a perspectiva das dores tormentosas que o aguardavam.”

“Todo o Dasein estava agora sob o domínio do tema de que foi encarregado na <cena original>, o tema do <câncer do marido>. Como algo de que alguém é encarregado <a partir de fora>, esse tema implica um encargo, o encargo, propriamente, de <levar a cabo> esse tema de alguma maneira, de não sucumbir a ele, mas vencê-lo.”

“Suzanne Urban agora fala consigo mesma, ouve a si mesma, escuta exclusivamente a si mesma. Se o dito de que todo monólogo é um diálogo (Vossler) é correto, isso também se aplica neste caso.”

“Enquanto o si-mesmo aberto (aberto à verdadeira comunidade) atenua a carga de tal tema falando a respeito dele com um amigo, o si-mesmo que se enclausura com o tema procura carregá-la <exclusivamente> em seus próprios ombros, sem ver que esses ombros se tornaram fracos demais para isso há muito. A essa altura estamos diante do 1º passo desse Dasein em direção ao cegamento do si-mesmo ou à extravagância.”

Vacas não-malhadas e gatos no telhado: “Nachts sind alle Kühe grau”

“Como é regra nos delírios de perseguição plurais, aqui o pretenso fundador da <desgraça de toda a família> [o psiquiatra da internação] vai depressa para o 2º plano para temporariamente dar lugar a uma pessoa completamente diferente (<a prostituta de rua>, a enfermeira) e somente ser mencionado de novo ocasionalmente. O Dr. R. figura aí como aquele que a separou de seu marido (…) o carrasco da família” “Apesar de tudo isso, não parece fora de questão que o Dr. R. deva seu significado de desgraça ou de pavor a uma <identificação atmosférica> com o urologista que <martirizou> o marido com seu exame e lhe revelou o diagnóstico de câncer tão <pavorosamente>. Pois o verdadeiro carrasco, aquele com quem <a desgraça de toda a família> começou, é decerto o médico da cena original

Te peguei pela nota de rodapé.

Tu te tornas eternamente citável pelo artigo que publicas.

“Também a autosseculusão frente aos outros é uma forma desse ser compartilhado (…) Todavia, com isso ainda estamos na superfície, completamente à parte do fato de que a passividade sempre implica uma forma de atividade e vice-versa.”

Mundchen, a boquinha de Munique.

É fitar e começar: start and resume (pressing start): starren: é ver pra crer: que fita, pode crer!

Select your destinyfreedom!

Pausar qualquer progresso.

Engessar qualquer um que deu um pau na máquina que deu pau.

Congelar, reter, dar crise de pânico e resetar.

Meu torpor seguro onde cristalizaram as emoções já faz um tempo.

Já faz um tempo que as pessoas agem como se portas-afora fossem.

Ágora é que são elas, cuspindo na cara dos carnavais.

Parcas fora do baralho, só estão no mundo real –

Presente de hilota e pelego!

Recebo, não nego, dadivoso logro quando hipomaníaco eu estiver.

Rancorosa Lola Corre do Tempo que Assedia a Moça de Somas Bonitas.

Poxa que rosa sua coxa, recorro aos meus pensamentos para encerrar o coro

Com uma mensagem que não escoe pelo ralo: uma ponte entre nossas

Aspirações.

Abismo cheio de miasma, conhecido como el mismo.

Cacarejou a cara do novo dia normal e malogrado.

O Apanhador de Sentidos no Campo do Nonsense.

Em termos de sentido da vida, a única coisa que se apanha, em muitas pessoas, é seu eu-criança. Isso é falta de apanhar, K.! Preguiça mental!

Entorpecido em suas sólidas crenças morais.

Fagulhas de luz negra em seu olhar gasoso, de névoa desinteressada.

História da Moral: Não conte.

Wish-to-do-list:

Ator: doar um

Um ator, atordoar

fina morte morna de morfina

“Em lugar da simesmação autentica do Dasein no sentido da existência, entra a errância sem-fim para o <mundo pavoroso>, para a <odisséia pavorosa>.”

“A notável idiossincrasia das narrações delirantes dos esquizofrênicos está correlacionada ao fato de que o <como> da narração, a representação linguística, pode ser extremamente sucinta e precisa – tão precisa que um leigo, em regra, dará crédito às declarações delirantes da paciente prontamente se elas não forem abstrusas demais –, enquanto o <o quê>, o conteúdo de suas narrativas, é em regra notavelmente impreciso, vago, ambíguo, até mesmo <aventuroso>.”

me sinto como se…”

“Quanto mais evidente é a sinistra entrega de Suzanne à publicidade, mais os órgãos executores dela (aqui como em outros lugares) se subtraem a uma verificação exata. Todos procedem de maneira mais ou menos secreta. (…) está cercada de espiões, contudo não consegue vê-los e identificá-los; ela escuta <um apitar policial>, mas não vê nenhum policial. (…) A despeito do sentimento de ódio para com o Dr. R e para com a <prostituta de rua>, Suzanne, ao contrário do presidente do senado Schreber, não implica com uma pessoa determinada, ao redor da qual circula amor & ódio. Não foi <ele> nem <ela> que armou, mas simplesmente <armaram> uma <armadilha pavorosa>” Bem weberiano!

“Lidamos com duas <linguagens> da paciente ao mesmo tempo: uma linguagem do pavor e uma linguagem da verificação calma e da reflexão. Delírio e reflexão sóbria não se excluem mutuamente”

“Suzanne ouve dia e noite um uivo pavoroso, como o dos lobos. <Tossem> e <cospem> alto diante da janela dela, ela vê grandes facas de cozinha que estão numa janela e grita alto ao ver algumas gotas de sangue sobre o chão, etc.”

“a criada do hospital está vestindo os aventais dela, para <mostrar-lhe> que estão fazendo <revistas> (policiais) em seu quarto. As declarações de uma senhora de que se deveria deixar o gato <dar uma boa mastigada no pássaro>, certos movimentos manuais e o ato de puxar o nariz, tudo isso tem o mesmo sentido, que algumas vezes ela escuta expresso por palavras: <a cabecinha precisa cair>.”

“Depois de pensar como seria bom se quisessem decapitar ela própria (em lugar de seus familiares), ela vê <diante de si> um menino que tem um sabre de brinquedo fazer o movimento da decapitação. Ao capinara grama <mostram> a foice significativamente: <Eu, contudo, entendi o sentido da foice>.”

zombam dela, até mesmo da doença do marido: Câncer, câncer, pelo amor de Deus! Por que não lagosta?”

“O que torna o <paciente que sofre de delírio> alheio a nós, o que o faz parecer alienado não são percepções ou idéias isoladas, mas o fato de seu enclausuramento em um esboço de mundo dominado por um único ou alguns poucos temas, ou seja, enormemente estreito.”

“há os pensamentos que mandam-na pensar!”

“obrigam-na a pensar que os familiares são cobertos com chumbo e piche.”

“O mais tormentoso de todos os tormentos é, na verdade, a obrigação, que parte de um poder diabólico, de caluniar seus familiares <em pensamentos> ou com palavras e, desse modo, de fazer-se culpável pelos martírios e pela decadência tormentosa deles, portanto, de ser uma criminosa, por assim dizer, uma criminosa a contragosto.”

1) ‘voz’ inquisidora; 2) poder caluniador dos pensamentos e das palavras; 3) instância transcendente que reflete o jogo de perguntas e respostas, sendo aceita como destino pela ‘voz’, que no entanto ‘corrige’ as respostas quando necessário.

“Aí vemos que O Dasein ainda consegue resistir à publicização dos <pensamentos> ou, ao menos, ainda consegue encará-la de frente se ela estiver em extrema contradição com o si-mesmo. No entanto, é claro que as acusações caluniadores surgem a partir do próprio Dasein.”

Detalhe curioso: a ‘voz’ diz-lhe injustamente o tempo todo que seu marido, inocente, é um falso-moedeiro. “Em Kreuzlingen [segunda internação, na Suíça], ela sempre ouve o martelar de uma forja <nos ouvidos>, que indica que ali mora a mulher do falsificador de dinheiro!”

“E se alguém designa todos esses pensamentos como idéias delirantes, declara ela energicamente: Não são idéias delirantes, são idéias verdadeiras! E logo após Suzanne faz de novo um relato completamente objetivo sobre o novo medicamento que foi inventado contra o câncer em Munique e que seu irmão buscará.”

“a intenção de matar o marido com veneno (arsênico) agora é colocada como a causa de sua internação no 1º hospital”

A paciente passa a se arranhar (no lugar da enfermeira), a se masturbar sem consideração com quem a assiste ao invés de ter vergonha de qualquer atitude em seclusão, uma vez que é sempre, de alguma forma, filmada e gravada: “O mundo compartilhado, que normalmente tem o papel principal no delírio, aqui afunda em direção à completa insignificância. O Dasein retorna à vida no próprio corpo e ao gozo do próprio corpo, agora não mais na seclusão do mundo com-partilhado, mas <diante dos olhos dele>.”

ESPACIALIZAÇÃO DO DASEIN ou TEATRO DA PERSEGUIÇÃO: “Ellen West designava seu Dasein como uma prisão, uma rede e, sobretudo, um palco, cujas saídas estão ocupadas por homens armados <de espadas sacadas>

Jemandem auf den Leibrücken

“Mesmo os pensamentos são <coisas> que são como que tiradas de um recipiente e inseridas nele.”

“mundo sinistro marionético” “Essa consciência de ser uma simples marionete nas mãos de manipuladores desconhecidos está relacionada ao que há de mais pavoroso nos pavores” “Também o predomínio da tecnologia e do maquinário tecnológico está correlacionado à redução do mundo desse delírio a um simples mundo do contato.”

Minkowski – Les notions de distance vécue

E agora, que devir poderá dar uma condição de possibilidade de me salvar? EEEEuuuuuuu

Já conhecemos da <experiência natural> o papel da polícia como um poder sinistro-anônimo. É preciso ler somente O Processo de Kafka para ter uma idéia do tipo, da dimensão e do efeito desse poder. Além da polícia, agora entram em ação também seus companheiros, seja a mando dela, seja por conta própria.” “o médico encaminhador ou ‘carrasco’, os enfermeiros, os outros pacientes, os companheiros de viagem, etc.” “órgãos executores do pavoroso

“Em todos os casos, trata-se das formas do pegar ou ser-pego por algo relacionados ao mundo compartilhado, no sentido da impressionabilidade.

“Acima desses <ramos> dos órgãos executores do pavoroso e, especialmente, acima da polícia, encontramos – como contratantes – o partido (anti-socialista), o exército de ocupação (vive-se então a Primeira Guerra Mundial) ou mesmo o Estado. E sobre tudo isso está simplesmente o poder diabólico do pavoroso, que ora é apenas pressentido, ora é ouvido como uma ‘voz’ terrível.”

“Apesar de ele assumir uma voz, não se chega manifestamente à personificação propriamente dita do poder do pavoroso na forma de um diabo ou um demônio, como muitas vezes podemos constatar em outros casos. Em todo caso, também não ouvimos dizer nada sore visões diabólicas.”

Szilasi – Potência e impotência do espírito

5.O PALCO: CASO ELLEN WEST X CASO URBAN. QUANDO A PEÇA ENCENADA E MUITO CONVINCENTE TORNA-SE POR FIM O REAL (TEATRO DO PAVOR). REFERÊNCIA À TRAGÉDIA GREGA CLÁSSICA.

“o Dasein que adentrou o símile do palco de Ellen West está de uma vez por todas cercado por cortinas que não podem ser deslocadas, por inimigos insuperáveis.”

Resignação como a “ajuda que vem do próprio Dasein”.

“Uma vez que a possibilidade de ser da impressionabilidade se autonomize completamente e, com isso, se torne desmedida e ilimitada, e, consequentemente, o Dasein se limite ao recebimento de impressões, fala-se de alucinação. Se essa receptividade estiver sob a supremacia do pavoroso e obtiver instruções dele, trata-se necessariamente de alucinações pavorosas. O mesmo vale para os pensamentos.”

“O <palco> inteiro está posto em cena por um único <diretor>, por um único poder que confere sentido e dá uma direção. É apenas a partir desse poder que todos os atos que conferem e cumprem sentidos recebem sua diretiva e seu cumprimento intencional.”

Mergulho na viscosa piscina do delírio. Fácil entrar, difícil sair.

“Enquanto o delírio é uma das formas da sujeição do Dasein a esse poder do pavoroso, o mito e a religião, a poesia e a filosofia representam, pelo contrário, formas da superação dele.” “O pavoroso diz respeito ao Dasein em seu isolamento no autismo

Partida bem disputada antes da partida bem acenada

como se…” símile, analogia, erga mínimo distanciamento, abstração, consideração fria de uma autoimagem – diferente de quando se passa ao delírio (psicose) p.d.

“O ser-espiritual é exatamente esse retorno, esse recuperar-a-si-mesmo do tumulto do mundo, a possibilidade da capacidade de ser no espírito.”

passa-se à voz passiva do ente

“O próprio pavoroso-aflitivo se transformou aqui: em lugar do marido, encontramos toda a família ameaçada pelo martírio e pela morte, no lugar do martírio por uma doença incurável, entraram os martírios feitos pela polícia, etc.”

“Daí resulta que, para a compreensão do delírio, não podemos recorrer nem a um distúrbio do juízo em termos de um equívoco, nem a um distúrbio de percepção sensorial, de ilusão por meio de alucinações. Ambos são já consequências da transformação da estrutura do ser-no-mundo como um todo, no sentido do ser-no-mundo deliróide.”

“Ele não se porta de maneira diferente de uma pessoa a quem aconteceu uma injustiça real. Não tem somente a necessidade de <dizer o que sofre>, mas também de defender a si mesmo e os outros dos sofrimentos. (…) o contato com o mundo compartilhado não está de nenhuma maneira interrompido.”

Quem tem inimigos sempre tem testemunhas e objetos neutros no universo. Não houvesse isso, seria apenas uma câmara de yin-yang e partir-se-ia para o confronto direto. No entanto, o inimigo é covarde, é astuto e “mais sujo” do que nós (os personagens delirantes), precisa recorrer a subterfúgios e a táticas infames para “ganhar de nós”. Como ainda cremos, apesar de tudo, numa justiça como princípio das coisas, olhamos em todos os recantos atrás de alguém que simpatize com nossa causa e perceba a vileza e a má-fé de nossos oponentes-perseguidores.

Desse ponto de vista, aquele que sofre de delírio de perseguição não é de forma alguma autista.” Ele sofre de hiper-realidade. Ele pensa que cometeu o crime perfeito e agora sofre uma retaliação não menos impecável…

O perseguido é um secreto exibicionista.

“a <conversão> dos acontecimentos em <ação> vai muito mais longe do que onde já se chegou ou pode se chegar na tragédia e também no mais arrepiante drama barroco. (…) o delírio (…) supera a (…) tragédia (…) [porque] (…) também os pensamentos [são] recebidos [de fora e incluídos] na ação.”

“aqui, como na tragédia, não há <rua sem-saída>, mas tudo vai a qualquer lugar e vem de qualquer lugar e claramente <se refere a um centro>”, o que, como já ressaltamos, exclui o acaso. (…) [Mas,] enquanto na tragédia o poeta é quem <transforma a matéria-prima com sua força>, no delírio o poder formador (…) é cego, e isso implica DESTRUIR A FORMA” Édipo é o autor dessa mímica infernal.

6. CONTINUAÇÃO DO TÓPICO ANTERIOR. REFERÊNCIA À POESIA DE BAUDELAIRE.

Para usar o idioleto idiótico de Einstein, no delírio de perseguição, deus joga todos os dados que tem à mão!

À procura da batida perfeita, quer dizer da cena perfeita, quer dizer, da cena original.O protótipo de todos os males.

O SONETO DA DESTRUIÇÃO AUTÔMATO-SANGRENTA

Sem cessar, ao meu lado, se agita o Demônio,

Ele nada em torno de mim como um ar impalpável

Eu o trago e sinto que queima meu pulmão

E o enche de um desejo eterno e culpável.

Por vezes ele toma, sabendo meu grande amor pela Arte,

A forma da mais sedutora das mulheres

E, sob pretextos especiosos da tristeza,

Acostuma meu lábio a filtros infames.

Ele me conduz assim, longe do olhar de Deus,

Arquejando e quebrado de fadiga, em meio

Às planícies do Tédio,¹ profundas e desertas.

E lança aos meus olhos cheios² de confusão

Vestimentas sujas, feridas abertas,

É a máquina sangrenta da Destruição!”

Baudelaire

¹ Tártaro

² de cisne

νος

Nada no ar

Ar que queima

Fogo que chamusca,

soterra

Terra que cobre

Tudo de novo.

Imagina se esse eidos pega n’olho

Você vê resultados nos testes de Rorschach?

7. A PARANÓIA DE ROUSSEAU

“nos ocuparemos de um caso especialmente famoso e bem-documentado da literatura mundial, o de Jean-Jacques Rousseau.”

“Esse caso é muito apropriado ao que nos interessa, pois a língua francesa é extraordinariamente rica em expressões metafóricas, que são aquilo de que se trata aqui.”

“Rousseau sofria de um delírio de perseguição completamente não-sangrento, puramente social ou reputacional, em termos de uma difamação levada ao extremo, e, no entanto, nele encontramos um vasto número de expressões da esfera do maquinário e da tecnologia a serviço da destruição.” UnB murky atmosphere

Rousseau, Dialogues (vol. XVIII[!] das Obras completas)

Barbarus hic ego sum quia non intelligor illis”

Ovídio

Aqui sou um bárbaro, pois não me entendem”

agrupamentos, cochichos, risos desrespeitosos, olhares cruéis e selvagens, escárnio… atentados… o inimigo sabe exatamente aquilo que mais nos pode ferir, como que magicamente… somos nós que temos rivais finalmente à nossa altura, ou nossa mente nos prega essa peça tão pesada (nosso maior inimigo é nossa própria inteligência tão sutil em seu masoquismo autoacusatório?)?

esse corredor polonês assintótico, entre a certeza absoluta de ser o bode expiatório e a certeza de ser só um ser-num-mundo-ruim, eternamente em dúvida entre os dois pólos perfeitos, eternamente num julgamento impreciso sobre todos os eventos e circunstâncias em pingue-pongue

Eles encontraram a arte de me fazer sofrer uma morte lenta me mantendo enterrado vivo”

R.

“lama”

“apunhalam-me impunemente”

“tudo é uma armadilha”

“maldade diabólica”

não soa, é!

a ameaça de um vago processo…

ocafka da Kapes

a vingança é impessoal

Imaginem pessoas que começam a colocar cada um uma boa máscara, bem ajustada, que se armam com ferro até os dentes, que surpreendem seu inimigo em seguida, o acertam por trás, colocam-no nu, atam-lhe o corpo, os braços, as mãos, os pés, a cabeça, de modo que ele não possa se mover, colocam-lhe uma mordaça na boca, furam-lhe os olhos, o estendem sobre a terra e passam, enfim, sua nobre vida a massacrá-lo de pavor docemente, de modo que, morrendo por suas feridas, ele não cesse de senti-las tão cedo … a vista cruel deles fere seus olhos por todas as partes … o espetáculo do ódio o aflige e o dilacera ainda mais [na mente que no corpo]”

…estes Senhores conjurados em um complô anônimo para difamar-me, inclusive em face do amanhã…” “o grupo parte de 2 rivais, cujo número rapidamente aumenta para 10, mas gradualmente passa a abranger o mundo inteiro (l’univers)”

neurose de transferência do inimigo mortal zena-carolina (nevrose à 4)

cassaram-lhe a aposentadoria integral

invejavam seu carrão

não o valorizavam o suficiente

obviamente falavam mal dele as suas costas (((sem provas)))

UnB – tornar-se um adulto – emular o progenitor

pessoas falam mal de mim às costas

fazem cartazes, infringem normas do Orkut (sim, com provas!)

desvalorizam-me a olhos vistos (a imbecil que desistiu do curso para cursar medicina diz que Heisenberg não pode ser citado numa aula de Introdução à sociologia, pois “não tem nada a ver”, física nada tem a ver com este mundo compartilhado em que pisamos – e mesmo se tivesse, vc fez uma analogia idiota!!)

o calouro que tomou pinho-sol (como se tivesse sido um litro, foi um gole de desafio, mas isso não importa, é a última coisa que importaria, o que importa é a mofa e a troça, passar adiante este relato mui cômico… e ele não tem direito de se enfezar com essa história, afinal, quem mandou ele… inclusive quebrar o dente numa escada numa festa… que ridículo! que ridículo ele descontar hipócrita e dissimuladamente em seu blog intelectual – ele não tem esse direito! – ele me chamou de chato lá… disse que eu dou sono, eu atrapalho, que NÓS SOMOS BURROS, inadmissível, alguém que tomou um gole de pinho-sol ser superior a nós, ovelhas de rebanho, em qualquer coisa que seja!…apague seu blog, viva de acordo com meus preceitos, seu… doido… retifico… seu menos-que-doido pois eu li em Foucault que doidos são seres complexos e honrados vc é um menos-que-nada-e-além-do-mais-vc-é-um-playboyzinho-que-estudou-no-CEUB, meu pai arquiteto que gosta de ornar a casa com colunas gregas jamais teria dinheiro para pagar 700 reais por mês numa FACULDADE para mim, embora ele custeie minha vida numa cidade longe de Fortaleza num apartamento NO CENTRO DA CIDADE, o que pelas minhas contas, para o ano de 2007, excede com facilidade as 2 mil pratas… ó!)

O curso inteiro virou meu inimigo

Mas tinha começado com um núcleo duro…

Logo me afastei até mesmo dos meus amigos mais próximos, que decerto não compactuavam com nada dessa marmotada toda…

Virei um desconfiado de carteirinha. Estava sendo observado na biblioteca, na cantina…

E depois? Ninguém me deus os parabéns, era mera obrigação… Então, a OBRIGAÇÃO de honrar os pais eu a cancelo, porque eu sou livre. Sua obrigação é sofrer seu destino.

Meu destino foi sofrer meu estágio probatório. E rir no meio de uma pandemia, rir, gargalhar, galhofar cada vez mais alto e espalhafatoso, até o dia que por acidente (pois já não mais me perseguem, as pessoas estão paranoicas com outras coisas muito mais importantes, sem dúvida! estou curado!) – por acidente eu disse! – toparem com seus nomes nodoados num post numa entrada miserável na internet e tudo recomeçar?… MAS ESTE É UM PROCESSO SEM-FIM E AUTORRETROALIMENTADO, não se esqueça! Ele faz e paga e sofre e recebe o que pagou e assim por diante incessante infinitamente até que alunos e professores todos se esmaguem num abraço coletivo cheio de ruído e cólera e, não foi nada demais… insignificante.

No fim, eles têm de admitir: eu sou marcante. Eu tenho digitais, eu marco aquilo que toco. Se transformo em ouro ou cinzas, não interessa, o Dasein não tem – para emitir diagnósticos – qualquer resquício de pressa

A vítima de racismo que comeu uma banana e deixou o agressor com cara de tacho é uma história que me lembra muito a minha!

Eu lavei minha boca e troquei a dentadura, para poder falar (com) coisas(-pessoas) melhores.

Eu sou viciado nessa história porque apesar da dor que me causou e que ainda me causa marginalmente, eu viveria todos estes capítulos de novo e de novo… Se sou doente de alguma coisa, essa é minha doença e ela é com toda certeza absolutamente intencional e culpa minha!

A provocação tem 1000 vozes. É próprio da provocação misturar os gêneros, multiplicar os vocábulos, fazer literatura, e esta integridade da matéria dura que nos provoca vai ser atacada, não somente pela mão armada, mas pelos olhos ardentes, pelas injúrias. O ardor combativo, o neikos, é polivalente.”

Bachelard

Mas e Rousseau?

8.DESCONTINUIDADE TEMPORAL

“No pavor abismal relativo ao diagnóstico de câncer e no congelamento de todo o Dasein, <o tempo> estava, por assim dizer, em repouso, não se desdobrou em seus êxtases e, portanto, o Dasein não existia mais no sentido pleno da palavra.”

ab –ismo (até o exagero)

Mitwelt

mundo.com

niilismo&vc.td.a.ver.

“Enquanto no quarto estudo, o Caso Lola Voss, tivemos que nos contentar essencialmente com a verificação e a descrição dessa transformação, esperamos, neste quinto estudo, ter dado um passo a mais na compreensão daseinanalítica [hm] dela. Temos consciência que ainda estamos longe da meta.”

“A palavra physis vem do verbo phyo (nascer, originar-se).”

Um grau além da citação cruzada ou autocitação: a citação de um livro que é dedicado à própria teoria! Grosso modo: “Como diz Binswanger apud Szilasi …” Binswanger [!!!]

“com a evolução da esquizofrenia crônica, acontece pouca coisa, e sempre menos, na medida em que os pacientes esquizofrênicos não têm experiências novas no sentido da experiência natural, i.e., que <adicionem algo novo> às antigas, mas apenas experiências em termos da monotonia do velho estribilho. Permanece-se fundamentalmente na experiência do elemento geral único, e, assim, <não acontece muita coisa>”

“uma longura que se diferencia da lentidão da depressão.”

“no delírio de perseguição, tem-se uma imensidão de <<novas>> experiências

“A temporalização da longura nunca conduz à temporalização do tédio

“Vale notar que o termo utilizado para <andamento musical> em alemão é Tempo

Adorno riria desse esforço: “Binswanger está tentando distinguir na etimologia de longura e lentidão vestígios de formas diferentes de lidar com o tempo. Infelizmente não é possível manter essas relações etimológicas em português.”

“A palavra para tédio é Langweile, formada pelo adjetivo lang e o substantivo Weile (momento, intervalo de tempo).”

“Se alguém, no convívio da vida e do trabalho, for irritado repetidamente da mesma maneira pela mesma pessoa, <ele não vai suportar para sempre>. Em verdade, aqui se experiencia a generalidade da irritação novamente em cada particularidade, mas não de maneira que (como no delírio) o particular represente o geral e exista somente pela graça dele, mas de modo que o geral se particularize de fato em toda sua dimensão, i.e., experiencie sua plena concreção em cada <ensejo> particular (…) É isso que, frente ao irritante, não suportamos para sempre.”

9. A CONSUMAÇÃO DO PAVOR

Husserl, Ideen zu einer reinen Phänomenologie und phänomenologischen Philosophie

“Só se repare de passagem que eu, a despeito de minha convicção da importância filosófica e científica imperecível do método puramente fenomenológico, não estou no campo do <intuicionismo absoluto> da maneira que Husserl o advoga, razão pela qual ainda sou aberto a contemplações e reflexões, como disse Hans Kunz em O problema do espírito na Psicologia Profunda (art.).”

Dormimos todos juntos sobre vulcões”

Goethe

Naquilo que é teu, também vejo o que é meu”

Ulisses no Ájax de Sófocles

é 1000, tio! run!

é 100&cia.

10. TENTATIVAS DE DIAGNÓSTICO

“quando o clínico fala de pessoa ou personalidade, ele já deixou o campo da análise do Dasein.”

estamos demasiado acostumados a agir como se a doença invadisse uma pessoa saudável como se fosse alguém estranho!”

Tiling, Tipificação e Distúrbio Individual do Espírito, 1904.

“Eu vejo em T., a despeito de seus esquemas psicológicos historicamente condicionados, um predecessor da psiquiatria clínica moderna.”

“Suzanne Urban nunca perdeu sua <orientação> e nunca exibiu os distúrbios de pensamento esquizofrênicos formais. Isso também é importante para o tipo de ocorrência delirante de forma de delírio de nosso caso. Pois, ainda que se diferencie dos casos Strindberg e Rousseau pelo <afeto> melancólico em alto grau, tem em comum com eles a forma do delírio.”

“A alguém que leia o histórico da doença pode surgir a suspeita de que, no caso de Suzanne Urban, se tratasse de um delírio puramente depressivo (<afetivo>, <holotímico> ou <sintímico>). Esta suspeita se funda no fato de que de acordo com a família a doença começou com um <transtorno triste de humor>, que o humor permaneceu até o final depressivo e [que] os delírios [são de tipo] melancólico.”

O delírio de culpabilidade leva a acreditar que se cometeram os crimes mais graves sem que haja razão para tanto, ou transforma más ações pequenas e reais em pecados imperdoáveis. Por causa do crime, não somente o paciente é castigado de maneira atroz nessa e na outra vida, mas também todos [os] seus familiares, o mundo inteiro”

Bleuler

7 x 77: a Bíblia é um manual psiquiátrico de primeira grandeza!

“Aqui não se fala de um pecado imperdoável e de seu castigo atroz.” Suzanne sente-se injustiçada. Além disso ela foi uma “criminosa” completamente passiva (de acordo consigo mesma).

hunter x hunter

paranoid x depressed

sense vs. sense

Muito Além da Melancolia (de Ken?)

Delírio de referência: sistematizado e independente do ciclo crime-culpa-e-castigo. Perto disso, a pura mel-ancolia é uma doce brisa.

“há uma perda das inibições morais que não é conciliável com o diagnóstico de melancolia.”

“Com isso, chegamos ao terreno espinhoso da paranoidia, da parafrenia e da paranóia. Já dizemos de antemão que, juntamente com Kolle, Bleuler, Mayer-Gross e outros, somos da opinião de que, hoje em dia, tanto a paranóia (psicótica) quanto a parafrenia devem ser classificadas como esquizofrenia.”

“Do ponto de vista puramente sintomatológico, o caso S.U. poderia ser classificado como a paraphrenia systematica de Kraepelin, já que se trata aqui de um desenvolvimento sorrateiro de um delírio de perseguição constantemente em avanço sem degeneração da personalidade.” Sublinhados: discordantes do caso S.U.

Este sujeito é incurrável, disse o doktor alemal. Ele não pode ser comido!

“o fosso de lama, semelhantemente à caverna, é uma forma particular especialmente feia, fétida e pútrida de profundeza da terra.”

“Uma vez que o diagnóstico de esquizofrenia parece confirmado, e visto que, <onde idéias delirantes e alucinações … estão em primeiro plano>, fala-se (como em Bleuler) de paranoidia, precisamos incluir o caso nesse subgrupo esquizofrênico e, quanto à orientação delirante, classificá-lo como delírio de perseguição paranóide.” Ainda assim: “não vemos sintomas catatônicos, negativismos, estereotipias, excentricidades, maneirismos e também neologismos ou propriedades lingüísticas esquizofrênicas”.

“paralisia das pernas”: histeria

delírio de perseguição singular (portanto necessariamente identitário, vinculado a um sujeito) x delírio de perseguição plural identitário (teoricamente possível, mas que sempre tenderia a alargar seus inimigos, tendendo ao próximo) x delírio de perseguição plural anônimo (caso S.U.)

INFERÊNCIA DA DESCONFIANÇA

Aquele que não desconfia de ninguém… talvez desconfie de si mesmo.

Aquele que não desconfia de ninguém, nem de si mesmo… talvez simplesmente não exista!

Aquele que desconfia de si mesmo, talvez não desconfie de mais ninguém. Saudável desconfiado! Homem invejável!

Aquele que desconfia de um, mas que não desconfia de si mesmo, pode desafortunadamente desconfiar de muitos.

Mas, amigos, aquele que desconfia de muitos, esse desconfia de todos os homens, mais cedo ou mais tarde!

Schreber, por exemplo, o típico delirante singular, vai sucumbindo ao delírio em degraus – imagem perfeita, porque uma escada não é uma rampa. Há uma descontinuidade, mas a ocorrência de ataques ou surtos agudos, que, pelo menos até o segundo, são visivelmente mais importantes do ponto de vista clínico e do ponto de vista do aprofundamento do delírio. Após o segundo, Schreber já está convencido de que ele está no centro de uma trama que envolve o destino do mundo inteiro. E no entanto é só uma figura que emite a voz. Seu pai ou deus. Há posteriormente certa contração (relaxamento), que podemos chamar de descida da escada.

Suzanne, ao contrário, ignora a escada, dá um drible da vaca no real, mesmo no real do delírio, enquanto o delirante for um Schreber. Quem são os inimigos de Suzanne? A sociedade anônima. Enfermeiras, doutores, bedéis, a polícia inteira da cidade ou do país, todos os fascistas e capitalistas, em última instância. Porque de repente os Urban são um bando de socialistas. O mundo não vai ser salvo nem acabar de maneira alguma, mas esse terremoto com Suzanne no centro de seu palco seria suficiente para liquefazer toda a ordem do seu dia. Ela, a vítima. Não deixarão constar nas manchetes de jornais nem nos livros de história a verdadeira história: que Suzanne é inocente. O Grande Irmão a apanhou. E ele tem infinitos avatares intercambiáveis. O que é que fazem com os perseguidos políticos? Podem muito bem metralhar. Mas se não metralham? Talvez não metralham porque existe o risco de se tornarem mártires! Aí então são mais cosméticos e cirúrgicos: basta com exilá-los, torná-los párias inofensivos, eternas personae non gratae. Se Suzanne está viva, só pode ser esse o tratamento a ela dispensada pelos inimigos ocultos!

O dia em que cri que o apresentador do canal de esportes se dirigia a mim, porque sabia que eu estava na pior. A mim!

A internet escamoteia Cila ou Caribde.

Ou eu bem gostaria que fosse verdade, para vender mais livros…

Quem cai na boca do trombone e é o centro das fofocas quer se matar –

Porque não pode se identificar

Com o lunático solitário que só queria ser falado e criticado!

Ou vice-versa.

Schreber x Professor Flechsig

ódio concentrado, advindo do amor pelo pai

Suzanne x “autoridades”

culpa sem relação interpessoal específica, difundida por todos os sentidos alucinados

culpa totalizante, culpa da própria nulidade social

o delírio seria a vingança da moral contra um eu torpe, que se torna mera coisa, títere no teatro. e sua punição deve ser universalmente contemplada, como num reality show ou grande panóptico avant la lettre, seu corpo nu, sua micção, defecação, o ato de comer, transpirar, assoar o nariz, gozar… menos exibicionismo a contragosto que um voyeurismo de si, um sadomasoquismo em que se é boneco, personagem trágico, platéia, direção e os próprios antagonistas.

Schuld em alemão significa tanto culpa quanto dívida.”

“Uma vez que o conceito de autismo é usado ora no sentido daseinanalítico, ora no psicológico, caracterológico, psicopatológico ou psicanalítico, ele se tornou cientificamente quase inutilizável hoje em dia.”

novo demais pra ser demente, velho demais pra ser bobão.

“Nós vimos que nossa própria paciente se encontra na menopausa e os cabelos esbranquiçaram rapidamente nos últimos tempos.”

“Lembramos que Bleuler notou muito freqüentemente nos paranóides uma <sexualidade fraca>, bem como a falta de desejo por filhos. (…) um autoerotismo <forte> dificilmente pode ser concebido como um sinal de sexualidade forte.” “sem a predisposição sadomasoquista, o exame e o adoecimento do marido não teriam esse papel proeminente na doença.”

“seguimos Bleuler quando ele diz <de acordo com nossos conceitos, a constituição hipo-paranóica é uma subforma da psicopatia esquizóide, assim como a paranóia involutiva é uma subforma da esquizofrenia paranóide.>

11. DE VOLTA A HEIDEGGER& ARREMATE

“Aqui o medo não mantém o Dasein <no nada>, desse modo, ele não deixa o mundo naufragar na insignificância, antes confere a ele uma significância distinta e absolutizada, a do pavoroso e, assim, do significado pavoroso de toda singularidade.

“Vemos no conceito de necessidade de delírio o quanto a investigação do delírio (para o mal do conhecimento psiquiátrico) acabou sendo levada a reboque pela investigação normal-psicológica.”

Diretamente relacionado com as polêmicas Freud//Adler: “Bleuler observa com muita agudeza mais uma vez [péla-saco] que se alguém fala de desejo ou necessidade de estar doente, de interesse pela doença, de meta, de ganho da doença, de fuga para as doenças, de intenção e organização, é necessário ter claro em mente, por causa das conseqüências práticas, que essas expressões e conceitos são tirados das idéias de um leigo sobre a psique [!] normal e, na verdade, não deveriam ser de forma alguma empregados em relação a estados mórbidos.”

Nunca vou entender como os autores cinicamente (acordo tácito?), após ridicularizarem Freud num parágrafo, sem citar, nas suas linhas, ‘F.’ e ‘psicanálise’, procedem, logo a seguir, a uma exaltação fabulosa do <legado>: “Em F., o conceito é muito mais profundo do que naquilo que se costuma falar [mais ainda?] sobre o processo de cura, uma vez que ele está firmemente baseado na teoria (construída com muita fineza) da libido, do recalque, do retorno do recalcado e da projeção.”

Projeção continua, a meu ver, o conceito mais problemático da psicologia em geral.

“A partir desse caso de Schwab, pode-se encontrar facilmente um caminho para o <demônio diabólico> de Suzanne Urban e de muitos outros pacientes que sofrem de delírio”

“nos afastamos de Bleuler e de Jung quando eles querem desqualificar a teoria do delírio primário com a assunção e freqüente evidenciamento de motivos inconscientes

“Hans Kunz acreditava que era necessário ver a vivência de desabamento do mundo (cf. Schreber) <como o conteúdo> do delírio primário <mais adequado à ocorrência>, contudo essa vivência (como nosso caso mostra) não é de forma alguma um pressuposto necessário para o delírio primário.”

Heidenhain, J.J. Rousseaus Persönlichkeit, Philosophie und Psychose

“Vê-se quão pouco o critério da recorrência pode, do ponto de vista da <deflagração do delírio>, ser utilizado no diagnóstico diferencial de paranóia e esquizofrenia.”“Mesmo o <esquizofrênico> que chega imediatamente à certeza delirante tem, como nosso caso mostra também, experiências sempre novas que confirmam as antigas.”

“Hoje não podemos mais dizer que as idéias persecutórias se misturam ao quadro da doença <em razão de ilusões sensoriais>, como se podia ler na avaliação do hospital psiquiátrico Sonnenberg sobre o presidente do senado Schreber e infelizmente ainda se pode ler freqüentemente. Antes temos que perceber de uma vez por todas que as alucinações não são distúrbios isolados, como ressaltam Schröder e Meyer-Gross. Mas o precursor nesse tema foi Minkowski em Le Temps vécu, 1923.”

Um louco não faz mais do que perceber a condição humana a sua maneira”

Sartre

As alucinações não se originam de um distúrbio do sensório – compreendendo-se essas funções no sentido psicológico –, também não se originam de um distúrbio das funções da percepção, do pensamento, do juízo, mas partem de um distúrbio e uma variação das funções simpáticas da sensação. Visto que essas funções estão alteradas, o paciente vive outra comunicação com o mundo; mas uma vez que os modos de ser-no-mundo são fundamentais para todas as vivências, as alucinações não são distúrbios isolados”

Erwin Straus, Do Sentido dos Sentidos, 1935

“No conto Na Colônia Penal de Kafka, um viajante, ao ver um delinquente, pergunta ao oficial se ele sabia sua sentença. <Não>, diz o oficial, <seria inútil anunciá-la a ele. Ele já a sente sobre seu corpo>. Dessa maneira, Suzanne Urban não vem a saber de sua sentença, mas de seu sofrimento <sobre seu corpo>, e, por isso, é <inútil> <anunciar> ou explicar a sentença a ela, ou esclarecê-la. E quando Kafka continua: <não é fácil decifrar a escrita (da sentença) com os olhos; nosso homem a decifra, mas com suas feridas>, também nossa pobre S.U. decifra a escrita de seu <destino> não com os olhos (da compreensão), mas com suas <feridas> e as de seus familiares, com os <sofrimentos infligidos> a ela e a eles. (…) O Dasein zomba de qualquer outra experiência; pois esta é a mais <impressionante> no sentido duplo da palavra.” (íntimo e doloroso)

“Por mais que a clínica não consiga evitar todas as tentativas psicológicas, caracterológicas e biológicas de responder o porquê dessa questão em termos de um conhecimento objetificante, a tarefa da psiquiatria como ciência não se esgota nisso.”

“As capacidades anímicas, as propriedades anímicas, a alma (no sentido da psicologia e da psicopatologia), o caráter, a pessoa, a personalidade, o impulso, etc., tudo isso está ontologicamente no limbo, ou seja, não tem fundamento ontológico. Encontramos esse fundamento na analítica do Dasein de Heidegger.”

Jaeger, Paideia II [!!], Die griechische Medizin als Paideia

“o terrível não pode mais se tornar algo impessoal e extramundano contra o qual se pode invocar o destino, mas ele se tornou um ente intramundo que ainda é acessível sob o aspecto da hostilidade.”

Não existe satisfação compensatória: não é uma expiação que demande “x” de tempo ou energia, até haver a quitação. Em tese Suzanne poderia sofrer de seu delírio um tempo infinito (enquanto viver), sem tendência à cura. Realmente o poema de Baudelaire caía bem: uma máquina infernal!

Não importa o conteúdo do delírio: o médico deve analisar a vida pregressa desse tipo de paciente esquizofrênico.

Situação de partida > Autonomização delirante (a paciente perde o foco da ‘angústia original’, quando ainda tinha um ser-no-mundo autêntico)

PROJECTING THE TRANSMISSION DYNAMICS OF SARS-COV-2 [COVID19] THROUGH THE POST-PANDEMIC PERIOD – Kissler, Tedijanto, Goldstein, Grad, Lipsitch, Science Magazine, 14/04

For social distancing to have reversed the epidemic in China, the effective reproduction number must have declined by at least 50-60%, assuming a baseline R0 [taxa de transmissibilidade do vírus – per capita] between 2 and 2.5. Through intensive control measures, Shenzhen was able to reduce the effective reproduction number by an estimated 85%. However, it is unclear how well these declines in R0 might generalize to other settings: recent data from Seattle suggests that the basic reproduction number has only declined to about 1.4, or by about 30-45% assuming a baseline R0 between 2 and 2.5. Furthermore, social distancing measures may need to last for months to effectively control transmission and mitigate the possibility of resurgence.”

We used data from the United States to model betacoronavirus transmission in temperate regions and to project the possible dynamics of SARS-CoV-2 infection through the year 2025.”

According to the best-fit model parameters, the R0 for HCoV-OC43 and HCoV-HKU1 varies between 1.7 in the summer and 2.2 in the winter and peaks in the 2nd week of January, consistent with the seasonal spline estimated from the data. Also in agreement with the findings of the regression model, the duration of immunity for both strains in the best-fit SEIRS model is about 45 weeks, and each strain induces cross-immunity against the other, though the cross-immunity that HCoV-OC43 infection induces against HCoV-HKU1 is stronger than the reverse.”

Next, we incorporated a third betacoronavirus into the dynamic transmission model to represent SARS-CoV-2. We assumed a latent period of 4.6 days, and an infectious period of 5 days, informed by the best-fit values for the other betacoronaviruses. We allowed the cross immunities, duration of immunity, maximum R0, and degree of seasonal variation in R0 to vary. We assumed an establishment time of sustained transmission on 11 March 2020, when the World Health Organization declared the SARS-CoV-2 outbreak a pandemic and we varied the establishment time in a sensitivity analysis. For a representative set of parameter values, we measured annual SARS-CoV-2 infections and the peak annual SARS-CoV-2 prevalence through 2025. We summarized the post-pandemic SARS-CoV-2 dynamics into the categories of annual outbreaks, biennial outbreaks, sporadic outbreaks, or virtual elimination. Overall, shorter durations of immunity and smaller degrees of cross-immunity from the other betacoronaviruses were associated with greater total incidence of infection due to SARS-CoV-2, and autumn establishments and smaller seasonal fluctuations in transmissibility were associated with larger pandemic peak sizes.”

SARS-CoV-2 can proliferate at any time of year”

If immunity to SARS-CoV-2 is not permanent, it will likely enter into regular circulation

Much like pandemic influenza, many scenarios lead to SARS-CoV-2 entering into long-term circulation alongside the other human betacoronaviruses, possibly in annual, biennial, or sporadic patterns over the next five years.”

High seasonal variation in transmission leads to smaller peak incidence during the initial pandemic wave but larger recurrent wintertime outbreaks”

The R0 for influenza in New York declines in the summer by about 40%, while in Florida the decline is closer to 20%, which aligns with the estimated decline in R0 for HCoV-OC43 and HCoV-HKU1. A 40% summertime decline in R0 would reduce the unmitigated peak incidence of the initial SARS-CoV-2 pandemic wave. However, stronger seasonal forcing leads to a greater accumulation of susceptible individuals during periods of low transmission in the summer, leading to recurrent outbreaks with higher peaks in the post-pandemic period.”

If immunity to SARS-CoV-2 is permanent, the virus could disappear for five or more years after causing a major outbreak”

Low levels of cross immunity from the other betacoronaviruses against SARS-CoV-2 could make SARS-CoV-2 appear to die out, only to resurge after a few years”

Pharmaceutical treatments and vaccines may require months to years to develop and test, leaving non-pharmaceutical interventions (NPIs) as the only immediate means of curbing SARS-CoV-2 transmission. Social distancing measures have been adopted in many countries with widespread SARS-CoV-2 transmission. The necessary duration and intensity of these measures has yet to be characterized. To address this, we adapted the SEIRS transmission model to capture moderate/mild/asymptomatic infections (95.6% of infections), infections that lead to hospitalization but not critical care (3.08% of infections), and infections that require critical care (1.32% of infections). We assumed the worst-case scenario of no cross-immunity from HCoV-OC43 and HCoV-HKU1 against SARS-CoV-2, which makes the SARS-CoV-2 model unaffected by the transmission dynamics of those viruses. Informed by the transmission model fits, we assumed a latent period of 4.6 days and an infectious period of 5 days, in agreement with estimates from other studies. The mean duration of non-critical hospital stay was 8 days for those not requiring critical care and 6 days for those requiring critical care, and the mean duration of critical care was 10 days. We varied the peak (wintertime) R0 between 2.2 and 2.6 and allowed the summertime R0 to vary between 60% (i.e. relatively strong seasonality) and 100% (i.e. no seasonality) of the wintertime R0, guided by the inferred seasonal forcing for HCoV-OC43 and HCoV-HKU1.”

In the case of a 20-week period of social distancing with 60% reduction in R0, for example, the resurgence peak size was nearly the same as the peak size of the uncontrolled epidemic: the social distancing was so effective that virtually no population immunity was built.”

Strong social distancing maintained a high proportion of susceptible individuals in the population, leading to an intense epidemic when R0 rises in the late autumn and winter. None of the one-time interventions was effective in maintaining the prevalence of critical cases below the critical care capacity.

Intermittent social distancing could prevent critical care capacity from being exceeded). Due to the natural history of infection, there is an approximately 3-week lag between the start of social distancing and the peak critical care demand. When transmission is seasonally forced, summertime social distancing can be less frequent than when R0 remains constant at its maximal wintertime value throughout the year. The length of time between distancing measures increases as the epidemic continues, as the accumulation of immunity in the population slows the resurgence of infection. Under current critical care capacities, however, the overall duration of the SARS-CoV-2 epidemic could last into 2022, requiring social distancing measures to be in place between 25% (for wintertime R0 = 2 and seasonality) and 75% (for wintertime R0= 2.6 and no seasonality) of that time. When the latent, infectious, and hospitalization periods are gamma-distributed [segundo uma constante, e não exponencialmente], incidence rises more quickly, requiring a lower threshold for implementing distancing measures (25 cases per 10,000 individuals for R0 = 2.2 in our model) and more frequent interventions.”

SERIAM NECESSÁRIOS MUITO MAIS DO QUE APENAS HOSPITAIS E LEITOS DE CAMPANHA: “Increasing critical care capacity allowed population immunity to be accumulated more rapidly, reducing the overall duration of the epidemic and the total length of social distancing measures.”

The observation that strong, temporary social distancing can lead to especially large resurgences agrees with data from the 1918 influenza pandemic in the United States, in which the size of the autumn 1918 peak of infection was inversely associated with that of a subsequent winter peak after interventions were no longer in place.”

Although disease dynamics may differ by age, we did not have sufficient data to parameterize an age-structured model. We also did not directly model any effect from the opening of schools, which could lead to an additional boost in transmission strength in the early autumn. The transmission model is deterministic, so it cannot capture the possibility of SARS-CoV-2 extinction. It also does not incorporate geographic structure, so the possibility of spatially heterogeneous transmission cannot be assessed. The construction of spatially explicit models will become more feasible as more data on SARS-CoV-2 incidence becomes available; these will help determine whether there are differences in seasonal forcing between geographic locations, as for influenza, and will also help to assess the possibility of epidemic extinction while accounting for re-introductions.”

In a recent study, an estimated 4% of individuals with coronavirus sought medical care, and only a fraction of these were tested.”

Our findings generalize only to temperate regions, comprising 60% of the world’s population, and the size and intensity of outbreaks could be further modulated by differences in average interpersonal contact rates by location and the timing and effectiveness of non-pharmaceutical and pharmaceutical interventions. The transmission dynamics of respiratory illnesses in tropical regions can be much more complex. However, we expect that if post-pandemic transmission of SARS-CoV-2 does take hold in temperate regions, there will also be continued transmission in tropical regions seeded by the seasonal outbreaks to the north and south. With such reseeding, long-term disappearance of any strain becomes less likely, but according to our model the effective reproductive number of SARS-CoV-2 remains below 1 during most of each period when that strain disappears, meaning that reseeding would shorten these disappearances only modestly.”

While long-lasting immunity would lead to lower overall incidence of infection, it would also complicate vaccine efficacy trials by contributing to low case numbers when those trials are conducted, as occurred with Zika virus. In our assessment of control measures in the initial pandemic period, we assumed that SARS-CoV-2 infection induces immunity that lasts for at least 2 years, but social distancing measures may need to be extended if SARS-CoV-2 immunity wanes more rapidly. In addition, if serological data reveals the existence of many undocumented asymptomatic infections that lead to immunity, less social distancing may be required. Serology could also indicate whether cross-immunity exists between SARS-CoV-2, HCoV-OC43, and HCoV-HKU1, which could affect the post-pandemic transmission of SARS-CoV-2. We anticipate that such cross-immunity would lessen the intensity of SARS-CoV-2 outbreaks, though some speculate that antibody-dependent enhancement (ADE) induced by prior coronavirus infection may increase susceptibility to SARS-CoV-2 and exacerbate the severity of infection.”

A vaccine would accelerate the accumulation of immunity in the population, reducing the overall length of the epidemic and averting infections that might have resulted in a need for critical care. Furthermore, if there have been many undocumented immunizing infections, the herd immunity threshold may be reached sooner than our models suggest. Still, SARS-CoV-2 has demonstrated an ability to challenge robust healthcare systems, and the development and widespread adoption of pharmaceutical interventions will take months at best, so a period of sustained or intermittent social distancing will almost certainly be necessary.”

Less effective one-time distancing efforts may result in a prolonged single-peak epidemic, with the extent of strain on the healthcare system and the required duration of distancing depending on the effectiveness. Intermittent distancing may be required into 2022 unless critical care capacity is increased substantially or a treatment or vaccine becomes available.”

DEL SIGNIFICADO A LAS OPCIONES – Gillo Dorfles

Trad. Carlos Manzano (1973, 1975)

DIC:

capellone: (it.): cabeludo

engreimiento: presunção

gagà (it.): presumida

PREFACIO: PREFERENCIA Y SIGNIFICADO

El problema de la preferencia (o de la proairesis para los griegos) es un problema candente, por el cual se suele mostrar demasiado poco interés.” Em síntese, o problema monumental para o qual as massas não estão maduras (talvez jamais estejam): a relatividade e o absoluto envolvidos no <gosto>.

SEMÂNTICA PROAIRÉTICA: SIGNIFICADO (Semiótica) + PREFERÊNCIA (Estética)

A supostamente utópica ou impossível DISCUSSÃO DO GOSTO após a Metafísica.

Até que ponto e mediante que meios é possível determinar as razões primordiais que me permitem considerar algo como preferível e atribuir um significado a tal preferência?”

Superioridade intrínseca e escala de valores.

Outridade

mosaico de opções”

Que peso tem a preferência do indivíduo contra a das massas?”

Se não se pode discutir a arte, não se pode discutir mais nada.

Hume (Of the standard of taste), ensaísta e crítico do lado de lá (metafísico): a moral bíblico-alcorânica e o drama sanguinolento são inaceitáveis.

Zeitgeist da aletheia e do Belo.

SEMÂNTICA AUTOGENÉTICA: Fragmentação pós-moderna. Morte da Zeitgeist. Coabitação virtual de todas as Zeitgeister no mesmo indivíduo. Fim de um ciclo milenar e início do IMPÉRIO DA ESQUIZOFRENIA, que não sabemos quanto tempo durará.

a necessidade de restabelecer, com critérios diferentes, um critério valorativo [valor dos valores] para aplicação aos fenômenos da vida, da arte e da sociedade.”

as enquetes de Kinsey, método contestável”

Vejamos alguns exemplos de vanguardas artísticas consideradas escandalosas quando apareceram: 1) numa galeria romana, o pintor Kounellis apresentou o quadro de uma mulher grávida, nua, por cujo ventre passeavam algumas baratas; 2) o artista americano Acconci, em NY, apresentava-se confinado em uma cabine estreita de madeira dentro da qual se entregava à masturbação; 3) na exposição Documenta de Kassel (1972), o romano Vettor Pisani expôs uma mulher nua (que vinha a ser sua irmã), cujo pescoço tinha uma argola metálica, e Pisani lhe aplicava uma <tortura simulada>, cutucando uma ferida falsa pintada na perna da modelo; 4) a escultora polaca Alina Szapocznikow expunha em Paris (1970) alguns <tumores>, modelados em plástico, hiperrealistas; 5) o artista austríaco Herman Nitsch alugou um castelo nos arredores de Viena (1968-72) para representar seu <teatro das orgias e dos mistérios> (Orgien und Mysterien Theater): tratavam-se de matanças <rituais> de cordeiros e bezerros, com cujo sangue e tripas os expectadores eram banhados; para isso, Nitsch usava condutos especialmente concebidos, que derramavam o sangue e pedaços dos intestinos sobre o público; o roteiro incluía a participação dos expectadores, que deviam, além de receber os restos mortais dos animais, besuntar-se a si mesmos e aos seus vizinhos com seus próprios excrementos; havia uma série de outros <jogos> sado-masoquistas na exposição, como a celebração de missas hereges e a crucificação simbólica de algumas das ovelhas. Aos interessados, uma descrição detalhada e explicação crítica deste evento figuram em PETER GORSEN, Das Prinzip Obszön, Rowohlt Verlag, Hamburgo, 1969,(*) pp. 114-5, que transcreve também um comunicado da polícia austríaca proibindo esse gênero de <espetáculo aberrante>. Segundo Nitsch, em carta ao próprio Gorsen, o cordeiro crucificado representa simultaneamente o Pai, o Rei, a autoridade política, o ídolo estatal, a divindade. Em suma, tratava-se de uma revivificação dos cultos dionisíacos (<A revolução é um fenômeno dionisíaco>, diz Nitsch), conducentes à liberação do homem de seus tabus religiosos e políticos. (…) É típico de nossa época pretender ressuscitar cultos e práticas iniciáticos ou pseudo-mágicos pertencentes a culturas antigas, em que ditas práticas possuíam ou podiam possuir um valor autêntico; hoje sua <imitação> – seja mediante a astrologia, alucinógenos, ritos budistas, mistérios dionisíaco-órficos como neste caso, ginástica iogue, etc. – tende a ser daninha e contraproducente a despeito da intenção autoral.

(*) Até o momento, o volume-resenha mais completo sobre as relações entre arte, pornografia e sociedade.”

Exemplos como os acima multiplicam-se em outros segmentos: já pude discorrer em outra obra sobre o caso do musicólogo que gravou em fita magnética os últimos gemidos de um homem agonizante após um acidente de trânsito; bastante conhecido é ainda o caso do cineasta japonês que filmou o transcurso dos últimos instantes da vida de seu pai moribundo de câncer.”

um deslizamento (contínuo) do significado por debaixo do significanteLacan

Conceito de ASSIMETRIA ESTÉTICA por VON WRIGHT (ou mais bem uma primeira lei da assimetria): “Assimetria significa que se um estado é preferido em relação a outro, necessariamente o segundo estado não é preferido em detrimento do primeiro; i.e., pelo mesmo sujeito na mesma ocasião” Relação subsumida na fórmula-função (pPq) ~(qPp), p≠q.

O assimétrico é a premissa de qualquer proairesis.” “O simétrico se identifica com a geometrização mórbida da esquizofrenia.” Paradoxo: a ERA DA ASSIMETRIA é a ERA DA ESQUIZOFRENIA. Que seja apenas um estágio transitório entre duas eras mais autênticas, não destrói-se a contradição inerente. Resta saber se ficaremos indefinidamente presos a uma simulação indefinida desta mesma condição, como diz Baudrillard, ou se essa dialética deixa de ser estéril e se torna propulsora da superação em algum momento. Em suma, se o “novo elemento” vitorioso será ou seguirá sendo a esquizofrenia, em seu sentido pejorativo, ou a assimetria. Em busca de uma nova simetria, de um novo pathos normal.

moral corrente: contradição em termos! moral petrificada

PRIMERA PARTE – UN ANÁLISIS PROAIRÉTICO

CAPÍTULO 1. PREFERENCIA, PREVISIÓN Y CAUSALIDAD

belief is nothing but a strong and lively idea derived from a present impression (perception) related to it” HUME, A Treatise of Human Nature, 1739

A maioria das vezes, os lingüistas realizam o estudo dessas modificações [de significante-significado] exclusivamente por zelo científico e erudito, sem ter em conta adequadamente as premissas socioantropológicas que as originam (ou, se se quer, invertendo os termos da proposição no sentido de Whorf, até que se vejam as próprias premissas socioantropológicas determinadas por tais modificações!).”

Quando, p.ex., um termo como o italiano testa (para nos atermos a um dos exemplos oferecidos por Guiraud, La sémantique), originariamente uma metáfora estilística nascida da associação da cabeça (caput) com o vaso de terracota (latim testa), passou a significar cabeça, com o que se semantizou de outro modo, enquanto que – acrescentaria eu – em outras línguas românicas adquiriu um significado mais parcial e setorial: testa em português = <frente> ou, inclusive, permaneceu unido ao lexema antigo (cabeza em espanhol = caput), etc., encontramo-nos perante um exemplo fácil do difícil que resulta <prognosticar> a evolução semântica de um termo – do difícil que resulta a previsão de um significado –, mas ao mesmo tempo da importância que pode ter para os efeitos denotativos e conotativos de uma língua o fato de que se produzam semelhantes transformações.

Outro exemplo: a palavra italiana finestra – em espanhol ventana, em português janela – apresenta, ainda considerando só estes 3 idiomas, conotações completamente diferentes, relacionadas com as condições de <abertura ao exterior> (finestra e também no caso do alemão fenster), de <proteção contra o vento> (ventana e também no caso do inglês window) ou de <porta pequena> (janela, de janua).”

Our ideia of necessity and causation arises entirely from the uniformity observable in the operations of Nature.” Hume

Max Müller, para quem a própria interpretação falsa ou aberrante de algumas normas é a que abre caminho para muitas interpretações míticas destinadas a se consolidar depois com o hábito e a adquirir valor de norma. Müller explica as razões do mito de Deucalião e Pirra, que fazem nascer os homens das pedras, pela analogia entre as expressões laoi e laas; e o mito de Dafne, transformada em planta de laurel, pelo fato de que a palavra dafne tem a mesma raiz sânscrita ahana, que significa aurora, etc.” “Pouco tempo depois Cassirer viria a refutar tal teoria, detalhadamente.”

Segundo Julius Schwabe (em seu riquíssimo volume sobre os signos do zodíaco, Archetyp und Tierkreis. Grundlinien einer kosmischen Symbolik und Mythologie, 1951), a constelação de Gêmeos conotava no passado um elemento masculino em Pólux e outro feminino (ou fracamente masculino) em Cástor. Prova-o o fato de que entre os romanos os homens <juravam a Pólux> e as mulheres a Cástor. Outra prova desta masculinidade duvidosa de um dos gêmeos da constelação seria seu próprio nome, que apresenta um evidente significado castratório, como, além do mais, a própria lenda sobre o animal castor. De acordo com a lenda, esse animal, quando caçado, preferia autocastrar-se antes que ver-se privado de seus testículos pelo caçador: segundo os antigos, nestes órgãos encontrava-se uma substância utilíssima para o preparo de medicamentos contra a histeria, o tifo e outras doenças.”

Segundo a concepção da alternância de grandes ciclos temporais (que alguns chamam de <grande ano platônico>), à medida que avançam as diferentes constelações no céu, entra-se ou sai-se de uma era determinada. Cada grande era <cósmica> pertenceria a uma constelação zodiacal determinada e se veria influenciada por ela. Pois bem: podemos comprovar então que o nascimento de Cristo se produziu ou coincidiu com a passagem do sol da constelação de Áries para a de Peixes (e temos de sobra exemplos e conotações, não só astrológicos, como geofísicos, geográficos e lingüísticos para a sucessão dos <anos platônicos>), o que nos levaria a reconhecer uma razão muito mais profunda e <oculta> para o uso do nome e da imagem do peixe como símbolo de Cristo, além da aparição do nome peixe em grego para se referir algumas vezes a Jesus Cristo no Novo Testamento. A passagem da Era de Áries à Era de Touro, e desta à de Peixes (que coincide precisamente com o cristianismo e, portanto, com nossa era), à qual sucederá a de Aquário, aparece agora ilustrada com muitos dados inéditos a respeito dos já conhecidos à época de Schwabe. A propósito da denominação das <eras cósmicas> a partir dos signos do zodíaco, consultar o referido autor.”

Ist es nötig noch darauf hinzuweisen, dass die Urchristen, als sie das uralte Fischsymbol aufgriffen, sich damit eben als eine Gemeinschaft kennzeichnen wollten, die an Wiedergeburt im Geiste, Auferstehung, und Unsterblichkeit glaubte? Sie knüpften damit an die orphischpythagoreische Vorstellung der delphinischen Menschenseele an.” Schwabe “Is it necessary to point out that when the original Christians picked up the ancient fish symbol, they were trying to identify themselves as a community that believed in rebirth in the spirit, resurrection, and immortality? In doing so, they followed up on the Orphic-Pythagorean concept of the Dolphinic human soul.”

Quanto à relação entre peixe e golfinho, considerado como animal fundamental, veja-se KARL KERÉNYI, Einführung in das Wesen der Mythologie.”

as discussões sobre a importância que esses deslocamentos das constelações no firmamento poderiam ter para a confecção do horóscopo, segundo se tenha ou não em conta a posição astronômica e real do sol com respeito ao zodíaco, foram e seguem sendo numerosíssimas e encarniçadas: alguns astrólogos sustentam que o horóscopo não deveria considerar deslocamentos puramente físicos; outros afirmam que tais modificações contam também para fins astrológicos. Vemos que até o possível aspecto premonitório, presente nas práticas astrológicas, se encontra subordinado a um aspecto puramente semiótico, ou pelo menos se discute a partir dele – algo no mínimo curioso para uma crença esotérica!”

Só a arte está em condições de propor os invólucros vazios de um significado ainda não exposto à luz do dia.”

Por lo demás, estudios recientes sobre el factor tiempo, sobre su base fisiológica, biológica, patológica, han demostrado de sobra la posibilidad de una dilatación o de una restricción de lo <vivido> temporal y la posibilidad de obtener (mediante drogas, medicamentos y ejercicios especiales del tipo del Yoga, como el <training autógeno> de J.H. Schultz) las modificaciones más variadas de la temporalidad.”

CAPÍTULO 2. EL SIMBOLISMO DEL TIEMPO EN EL ARTE DE HOY

Mucho más evidente es el aspecto simbolizador del tiempo en la categoría limítrofe del arte óptico-cinético (op art) en la que nos encontramos con obras inmóviles en realidad, pero que <sugieren> el movimiento (Bridget Riley, Alviani, Soto, Cruz Díez, etc.). En dichas obras – que hace unos 10 años [1962] aproximadamente estuvieron muy en boga – el tiempo existe <potencialmente>”

Por que o ritmo é tão importante para nossa existência e por que uma alteração daquele se reflete num mal-estar profundo?”

No me parece que haya otra forma de explicar la razón por la que muchas creaciones de nuestros días – basadas en tiempos alterados (en sentido psicodélico, en sentido musical-aleatorio, en sentido poético, etc.) – conducen a otras tantas situaciones de malestar físico y psíquico.”

Así, pues, esa sensación de ligereza y de <ausencia de tiempo> que se puede experimentar en un rápido vuelo transoceánico (en el que la única sensación experimentada es, no la de la velocidad, sino la de la lentitud, dado que así se nos aparece el movimiento del avión frente a la vastedad y a la inmovilidad del paisaje de nubes y del océano situado debajo) corresponde a la ausencia de tiempo de muchos ejemplos de música moderna y de algunas situaciones de las artes visuales que hoy utilizan la dimensión temporal para expresarse.”

la obsolescencia de la obra (de arte o producida por la industria) – hoy tan aguda, tan paradigmática – demuestra tangiblemente la invasión y la acción de la <consunción> [destruição lenta mas progressiva], del factor temporal, sobre las obras del hombre y la necesidad de su simbolización por parte de las diferentes artes”

la marcada separación entre mentalidad y comportamiento juvenil y senil encuentra una contrapartida en una diversificación igualmente marcada en la mentalidad y en las actitudes de quienes tienen 16, 25, 30 años. Así, pues, existe una diferenciación destacada entre grados que todavía pueden referirse a una edad juvenil, cosa que no me parece sucediera con igual relieve hace 20 o 40 años.” [!]

En mi opinión, ese hecho significa que se está produciendo una aceleración del tiempo <existencial> con respecto al fisio-patológico. El tiempo – como símbolo de un devenir que no se detiene – ha invadido estructuras todavía ayer sólidas y consistentes.”

la sensación de una <amenaza temporal>, propensa a resquebrajar la seguridad de la existencia, está presente por todas partes y la simbolizan los aspectos artísticos y pseudoartísticos a los que he aludido”

O conceito de tempo “SAE (Standard Average European” de Whorf.

No hay duda de que el fenómeno de la progresiva desaparición o atrofiamiento del pretérito indefinido en lenguas como el italiano (a excepción del toscano) y el francés (y NO en el español), o como la eficacia cada vez menor del futuro (en lenguas que lo presentan, p.ej., en forma compuesta exclusivamente: alemán, griego moderno, croata, esloveno) o <asimilado> al presente (como el ruso y otras lenguas eslavas, cuando utilizan el presente del aspecto perfectivo para indicar el futuro) o recurren a construcciones complejas en lugar de utilizar la forma originaria del futuro (como el francés: je vais faire, el español: voy a hacer, y el propio italiano: conto di fare, sto per fare, mi accingo a fare, por no hablar del futuro japonés, que muchas veces se puede identificar con el presente), demuestra que la actitud del hablante tiende la mayoría de las veces a eludir las situaciones temporales <definitivas> o bien definidas y a adoptar otras más desdibujadas y ambiguas.”

CAPÍTULO 3. ARTE CONCEPTUAL: PREFERENCIA Y TESAURIZACIÓN [“MAL DO ACUMULADOR”]

El abismo que separa a 2 Weltanschauungen – o, mejor, a dos Kunstanschauungen – a sólo pocos años de distancia parece insalvable.”

¿Por qué kitsch? Porque el cielo es demasiado azul, la vegetación demasiado verde, la superficie de la figura demasiado translúcida; y, en consecuencia, el conjunto aparece ya manipulado en gran medida y preparado para que se lo comercialice y se lo ofrezca a los turistas, para uso del <delfín burgués>, que pasará en este lugar vacaciones suficientemente prestigiosas como para que sirvan de status symbol de cara a los amigos y a los conocidos.”

la presentación más o menos exacta, más o menos magnificada, de la realidad, ya sea la fotográfica, ya sea – con mayor razón aún – la impresionista o la enteramente abstracta, resulta estar superada.”

Aquí quisiera limitarme a precisar el porqué de la aparición de una clase de preferencia por el aspecto conceptual en el arte visual, tal como se ha ido revelando en el último decenio, porque me parece uno de los temas en que la separación entre la época actual y la que acaba de transcurrir resulta más marcada, en que resulta más sintomática la afirmación de un tipo de preferencia hasta hace poco inimaginable.”

dadá, el surrealismo, fueron las consecuencias extremas de un persiflage de la presentación naturalista del mundo exterior. El informalismo señaló un regreso inútil a una especie de impresionismo pictórico, sin <contenidos>, pero no sine materia; e incluso la pintura-objeto, que desembocó, por un lado, en el pop-art y, por otro, en el arte programado y cinético (me excuso por la rapidez telegráfica y por la aproximación de estas definiciones), seguía recurriendo, a pesar de todo, a la tangibilidad densa y manipulable de la obra.”

Por lo demás, no es casualidad que un movimiento tan vasto y, en definitiva, tan <incómodo> como el del conceptualismo se haya revelado precisamente en estos últimos años (de 1965 en adelante): años que han visto el surgimiento de las sublevaciones estudiantiles de 66-8 y su decadencia, la extensión y continuación de la guerra en Vietnam y de las guerrillas en tantas partes del mundo, la difusión de la droga, la decadencia de los movimientos de vanguardia en el cine y en el teatro underground, la crisis de la novela y de la música dodecafónica y, después, de la aleatoria”

un nihilismo diferente del dadaísta, porque carece de fermentos irónicos y humorísticos, un nihilismo ya no propio de Duchamp, con frecuencia macabro, a veces irritante, otras masoquista o sádico.”

hace 20 años [1952], la única o más importante tarea del crítico comprometido, del estetólogo, era la de defender la vanguardia, de intentar hacer de mediador entre el universo circunscrito, circunspecto, del artista y el obtuso, cargado de anteojos culturales y morales, del público.”

la temporada de los happenings fue de corta duración, y en muchos casos se vio <comercializada> mediante la reproducción cinematográfica.”

nuestra época ha llegado a un punto en que la escisión entre arte <puro> y arte utilitario es cada vez más clara y cruel. El primer sector se va alejando cada día más de la comprensión y del interés del gran público (incluso de un público relativamente culto), más aún de lo que ocurría con el arte abstracto de los años 30, con el op y el pop de los años 60; el segundo sector se acerca cada vez más al producto del diseño industrial y se une a la gran familia del kitsch.”

El público se alimenta constantemente, de um modo que ya otras veces he definido como absurdo, de <sonidos musicales>, casi siempre carentes de interés artístico alguno, sin propósito renovador alguno, con una función de <relleno sonoro> exclusivamente, ni más ni menos que la del ruido que sube de la calle o del <gorjeo de los pájaros> de los tiempos remotos.” Aqui, muita coisa mudou!

el llamado público de conciertos, los viejos ambientes de los aficionados a la <música clásica>, incluso gran parte de los profesionales (directores de orquestra, profesores de conservatorio, etc.) desarrollan sólo programas a base de música del pasado, sin interés ni comprensión algunos por la música de nuestros días (me refiero a la de Stockhausen, Schnebel, Berio, Cage, Donatoni, etc.). Las obras de los músicos contemporáneos están destinadas a pocos centenares de personas dispersas por el mundo, todavía menos que las que se interesan por el arte conceptual, por el land art, por el arte pobre.”

Algunos de esos conceptos (como los de tesaurización y analidad aplicados al coleccionismo) surgieron en una discusión con el neurofisiólogo y psicoanalista Mauro Mancia.”

CONCEITO DE ANALIDADE POBREMENTE APLICADO AO COLECIONADOR: “Para muitos colecionadores, o fato de entrar em posse do quadro, da estátua, é por si mesmo fonte de gozo, de igual modo que o é o entesouramento [retenção] de suas próprias fezes pela criança.”

Muchas veces, las casas de los coleccionistas tienen pocos muebles y objetos, están mal conservadas, con mobiliario anticuado y desmesuradamente moderno, incluso de gusto dudoso. Las obras están amontonadas en las paredes, una junto a otra, sin ningún respeto por su naturaleza particular, sin ninguna preocupación por ese <espacio vital> que cada una necesitaría ni por su convivencia recíproca.”

En realidad, poetas concretos tradicionales como Ferdinand Kriwet, Rot, De Campos, etc., siguen ateniéndose, como por lo demás, Gominger (quizás el más riguroso y más imaginativo de los concretistas), al aspecto semántico del lenguaje verbal”

En definitiva: muchos artistas conceptuales han tenido que someterse al deseo de los aficionados. Han tenido que encontrar el modo de saciar el apetito voraz de los <objetos>, siempre renovado, de aquéllos; han tenido que renunciar a sus sueños de pureza, de transitoriedade, de pobreza.”

CAPÍTULO 4. LA MODA COMO EXALTACIÓN PROAIRÉTICA

Nenhum outro setor da atividade e da criatividade humana é mais representativo que a moda para uma investigação de caráter proairético [que versa sobre as preferências estéticas do público].” “a moda encarna, quase em estado puro, a preferencialidade, que, ressaltamos, não é a <superioridade> de determinada situação.” Sendo assim, a moda não é uma arte. Ou quem sabe seja o que vem depois do fim da arte.

Quando dizemos hoje: <a lingüística, o estruturalismo, a psicanálise, o marxismo, a fenomenologia, etc., estão na moda>, no fundo reconhecemos que essas doutrinas poderosas, que essas solenes correntes do pensamentos, podem-se reduzir, no final, a simples momentos efêmeros de preferência, e que, portanto, depois de saboreadas o suficiente, destrinchadas e ostentadas, acabarão rápida e afortunadamente sendo substituídas por outras.”

A palavra alemã Genuss, que os dicionários costumam traduzir por: gozo, posse, desfrute, uso, etc., significa na realidade: saboreio unido a gozo de uma substância ou situação determinada, e não me parece que exista uma palavra em nossa língua com a qual se a possa substituir. Fala-se de um Genuss pelo café, pelo álcool, pela droga, etc.”

Estilo X Styling (kitsch)

(passado – séc. XIX X séc. XX)

ex: Estilo Império, estilo Luís XVI, rococó, estilo Rainha Ana…

Havia um sincronismo e validades universais (ditados pela aristocracia).

Bastaria recordar os numerosos trabalhos de Wölfflin, Dvorak, Panofsky, para se dar conta de que muitas de suas análises já não se podem aplicar às formas artísticas de nossos dias. Mas hoje – dado que nossa análise é predominantemente sincrônica – já nem podemos falar de estilo a propósito de certos móveis dinamarqueses, ou eletrodomésticos italianos, senão, sobretudo, de moda e de styling. É um fato – e muitos o afirmaram com razão – que o Art Nouveau, o Jugendstil, constituiu-se como o último estilo autêntico de nossa época.”

A moda do kitsch e o kitsch da moda.

El propio hecho de haber considerado que se pudieran aplicar esquemas estructuralistas a la moda (como ha hecho Barthes en su Système de la mode), pero limitando en realidad su análisis al aspecto <verbal>, de nomenclatura, relacionado con ella, ha hecho que muchos prediquen la necesidad, o la oportunidad, de incluir la moda dentro de un aspecto lingüístico-estructuralista, como tantos otros sectores de la sociedad y de las ciencias humanas en general. Y la cosa no presentaría dificultad, si no se diera en este caso una eventualidad que no me parece se haya considerado: la de una institucionalización a priori, y no a posteriori, de los elementos lingüísticos relativos a dicho supuesto código.”

Con frecuencia se afirma que la moda es un fenómeno vinculado a la sociedad capitalista y desconocido, o poco conocido, en los países socialistas y revolucionarios; no resulta muy difícil demostrar la falsedad de esa hipótesis.”

A redundância: tudo é um invólucro teatral e barroco da propriedade doméstica: a mesa é coberta por uma toalha de mesa, ela mesma protegida por uma outra toalha de plástico. Cortinas e cortinas duplas às janelas. Tapetes, capas, revestimentos, abajures…” Baudrillard

se o fato de trajar mangas de jaqueta excessivamente largas ou calças excessivamente apertadas (nos períodos em que <é moda>) deve ser considerado de mau gosto – kitsch –, podíamos também ampliar este juízo a outros setores para além da moda. Sempre voltará a época da lâmpada com luz oblíqua, talheres escandinavos, louça de aço inox, etc.”

Mesmo no cinema, apenas em casos excepcionais – Potemkin, Greta Garbo, Buster Keaton, O vampiro de Düsseldorf (para citar 4 exemplos bem distintos entre si) – as imensas qualidades artísticas conseguem <vencer> o desgaste estilístico devido a uma questão de moda, que predomina nos longas bons mas não <ótimos>. O modo de se mover dos personagens, as frases pronunciadas, a entonação das vozes, certas atitudes românticas ou passionais hoje completamente defasadas e consideradas ingenuamente românticas, ou ridiculamente licenciosas, acabam contaminando mesmo as cenas que eram (e seriam ainda) de qualidade estética e técnica.”

observar os rostos carrancudos e truculentos ou então inexpressivos, severos e carnavalescos dos diferentes hierarcas nazifascistas é – para todos, hoje – um espetáculo grotesco, ainda mais cômico que propriamente penoso e entristecedor. Como justificar o fato, senão pensando que um grande componente de moda interveio para dar àquela época o trato que ela merece?”

De praxe, consideramos a toilette (a higiene, os hábitos e estilo) de nossos pais mais ridícula e démodé que a de nossos avós ou bisavós.”

Na música, teatro, poesia não se adverte esse envelhecimento estético tão veloz decorrente da passagem da moda, uma vez que conseguimos substituir instintivamente com nosso modo de ser e de nos comportarmos aquilo que está descrito na novela ou indicado na peça. No cinema e na fotografia (meios <realistas>) isso é impossível. (…) Uma possível fonte de retroalimentação, que pode ser causa, ainda que também efeito de um espírito de época, desse estado de coisas efêmero é o fato de que no passado não era possível apresentar aos próprios descendentes, documentalmente, e com absoluta fidelidade, uma dada moda, sendo assim imperceptível, senão menos evidente e estridente, o contraste entre o ontem e o hoje.”

Está ligeiramente out (fora de moda) quem ostenta nas paredes de seu chalé ou casa de verão uma pintura informal (em 1972), como também o está quem usa como música de fundo para receber seus amigos um Respighi¹ ou Pfitzner², embora o mesmo não se possa dizer de quem opta pelo jazz de vanguarda mais recente ou uma marcha de Bach.”

¹ Compositor italiano do XIX-XX, já ele mesmo um nostálgico de períodos ainda mais remotos (sécs. XVI ao XVIII).

² Praticamente o mesmo se pode dizer deste segundo compositor alemão, incluindo o período em que viveu e exerceu sua influência e seu gosto nostálgico, particularmente entusiasta de Palestrina.

…e as coisas estão mudando enquanto escrevo”

na Itália, basta seguir um automóvel para observar um exemplo perfeito dessa veemência gesticulatória do povo (não só abundante como até excessiva), com freqüência a causa de acidentes de trânsito, graves até: a maioria das vezes ambas as mãos do motorista abandonam o volante para que ele possa comunicar a seu companheiro a profundidade de seu pensamento de maneira apropriada (que o <co-piloto> decerto não vê, ocupado em vigiar o tráfego!).” “um baixo contínuo que acompanha a palavra”

o V de vitória com a mão era quase desconhecido, antes de Churchill popularizar o gesto”

A saudação de punho cerrado de tipo comunista está, talvez, em fase de decadência, como muitos gestos indicativos de <ter fome>, <enganar>, <vou dormir>. A saudação fascista, que esteve em voga, desgraçadamente, por muitos anos, seguiu, depois, existindo com um valor de saudação <normal>, desde que fosse executada com menor elevação do braço e com menos vigor (perdendo assim seu ar <romano>).”

O ciao ou adeus italiano na estação de trem, p.ex., antes de uma larga viagem, era vertical ou frontal (oscilações do braço entre a pessoa que saúda e a direção do viajante); com o tempo, passaram a usar o tchau que hoje conhecemos: oscilações laterais, à moda anglo-saxã ou germânica. Mais curioso ainda: em poucos anos, usos gestuais passaram por transformações importantes: antes mexiam-se os dedos das mãos no adeus, e a palma ficava imóvel; depois, os dedos ficavam juntos e sem se mexerem, e a mão adquiriu dinamismo.

a passagem do tabaco da aspiração ao fumo se deveu a um aperfeiçoamento do gosto, ou <mudança de moda>. Não se pode dizer que amanhã não se voltará à moda de aspirar o tabaco ou de fumar o café ou mascar o chá.” Congelamento!

é provável que num futuro próximo (quando, como é verossímil, se tenha liberado a maconha e substâncias semelhantes) o período atual pareça fortemente condicionado: primeiro, pelo proibicionismo; depois, pela liberação; e, finalmente, pela provável decadência do uso de tais substâncias.”

Isso é o que não me parece admissível: buscar refúgio numa abolição ou atenuação da própria atividade consciente mediante fármacos que a embotam (ou a exaltam, mas desfigurando-a, desegotizando-a) é contrário a todos os princípios a que se dirigiu a civilização ocidental; é ainda adverso buscar refúgio ou auxílio em tentativas mecânicas de vidência ou de visões supressensíveis (práticas iogues, p.ex.).”

conhecida é a relação entre sexualidade e iniciação no budismo clássico, como na prática do despertar do Chakra” “métodos ocultos que não são apropriados para nossa época”

Um tal Timothy Leary, psicólogo doidão, prescrevia o cogumelo Teonanacatl, tradicional entre aborígenes mexicanos, a seus pacientes nos anos 70. O Dalai-Lama rebateu este “profissional” em 1971: “O que mais falta aos próprios usuários desses narcóticos é o que poderia ser benéfico em seu uso – a Claridade, a Pureza e a Liberdade.”

CAPÍTULO 5. IDEOLOGÍA COMO PROAIRÉTICA PATOLÓGICA

Joseph Gabel, em seu La conciencia falsa, que segue sendo indubitavelmente o melhor estudo dum aspecto patológico-político ou, se se quer, psicanalítico-marxista da ideologia, analizou bastante bem este <ponto fraco> do fanatismo ideológico.”

Segundo Dévreux, se podemos considerar o período nazi como o estabelecimento de uma forma esquizofrênica, poderíamos, igualmente, considerar a sociedade européia de finais do séc. XIX como tendencialmente <histérica>.”

Talvez não se possa dizer o mesmo da Itália em sua relação com o fascismo o mesmo da Alemanha em sua relação com o nazismo; a <cura> italiana não se produziu com o mesmo vigor.”

Um caso de paranóia política poderia ser o de Israel: o enlace com pontos de partida ético-religiosos, que remontam a milhares de anos; a incrível firmeza na perseguição de um ideal construído sobre um conceito de <nação>, totalmente teórico; o fato de ter ressuscitado uma língua morta há vários séculos…”

É sabido que a ignorância das funções mais elementares relacionados com o sexo era (até há pouco, se bem que segue sendo em parte) enorme, como também é conhecida a razão para isso: religião ou confissão (catolicismo), falso moralismo (vitoriano) ou alegações puritanas de virtude hipócritas (quakers, calvinistas e protestantes no geral).”

O VOCÁBULO “TEMPO” NOS IDIOMAS ESLAVOS (TEMPO METEOROLÓGICO, TEMPO CRONOLÓGICO):

Croata – vrijeme (clima); goda, rok (devir)

Eslovaco – cas (devir)

Esloveno – vreme (clima); ura (devir)

Polaco – cas (devir)

Russo – vremja (raiz ambivalente); pogoda (clima); cas (devir)

Tcheco – cas (devir)

SEGUNDA PARTE – LAS OPCIONES ECOLÓGICO-URBANÍSTICAS

INTRODUCCIÓN

A arte (pintura e escultura, mas inclusive a poesia) deixou-se implicar nessa <glorificação do objeto> (a partir do surrealismo, percorrendo a pop art e a op art) de tal modo que não consegue mais livrar-se dessa objetualização dominante.”

O sutil mal-estar, o sentimento de frustração que experimenta hoje um homem que tenha vivido sua infância no tempo pré-guerras, especialmente nas zonas densamente industrializadas, talvez passem batidos ao jovem nascido no pós-guerras, quando o estrondo das motos, a concentração de fumaça, o estrépito do tráfego, a poluição dos mares eram já uma realidade. E é igualmente possível imaginar que o homem de um futuro próximo esteja já imunizado, ainda mais que o jovem contemporâneo [1972!], contra o barulho e o ar poluído e cinzento onipresentes.”

Numa praia contaminada nos arredores de Roma tive a ocasião de presenciar um filho perguntar ao pai se podia encher seu baldinho de água do mar: estava o menino tão impregnado da noção de contaminação que não podia deixar de considerar a água do mar como uma espécie de veneno, que se deveria evitar ao máximo.”

Expressões como “o céu azul” e “os eternos cumes nevados da montanha” já se tornaram tão kitsch quanto “amor à pátria” ou “lar doce lar” ou “a moral cristã”, “o seio materno”, “o espírito do corpo” e por aí vai…

Seria hoje absurdo seguir falando de construção e urbanismo nos termos caros a um Le Corbusier ou um Lúcio Costa há não mais de 20 anos, ou a um Gropius, por exemplo.”

1. DESFASE [DEFASAGEM] ECOLÓGICO Y RESEMANTIZACIÓN URBANÍSTICA

a indiferença quase total quanto à contribuição e à missão das <artes visuais> em integração com o meio ambiente tem feito com que o que se chama de arquitetura perca quase toda conexão com sua matriz expressiva primária.”

RECADO A LÚCIO COSTA: “A utopia do Bauhaus, que creu poder predicar e pôr em prática a identificação absoluta entre <utilidade> e <beleza> chegou ao fim.”

Em lugar de almejar colonizar montes de pedra sem atmosfera como os da Lua (meta de aventuras recentes, já nada empolgantes, uma vez que nem as crianças assistem mais os programas dedicados aos vôos lunares na TV [1972!]), seria melhor que o homem tentasse não arruinar em definitivo o belíssimo planeta no qual teve a ventura de nascer.”

Em primeiro lugar, é necessário livrar-se de formulações estéticas antiquadas que se obstinam em considerar a arquitetura como uma arte plástica, irmã da pintura e da escultura, como se fôra uma espécie de superdecoração em escala de cidade.”

Se bem que em algumas artes (música e poesia) se possa apontar os equivalentes das partículas elementares da fala (morfemas, lexemas, sintagmas), no caso da arquitetura e urbanismo isso é muito mais problemático.”

De um ponto de vista semiótico-territorial serão mais aceitáveis as tristíssimas favelas brasileiras, ou tugúrios colombianos, que as villas miseria argentinas. Talvez esta afirmação necessite um esclarecimento: significará, então, o que eu disse que não se pode identificar o aspecto semiológico com o sociológico? Se nos dispusermos a aceitar as abomináveis favelas, por se integrarem de modo mais <orgânico> à cidade do Rio, somos por isso insensíveis às conotações sociais que esta preferência supõe? Aí está o núcleo do problema: também na antiguidade romana, babilônica, grega, pré-colombiana, existiram as injustiças sociais mais inacreditáveis, mas não monstruosidades urbanístico-arquitetônicas como nas atuais Milan, Roma e Buenos Aires.”

Os centros das cidades-satélites suecas não são nada senão shopping centers de tipo americano, enquanto que, na contra-mão, o <não-centro> das grandes cidades ianques (Cleveland, Atlanta, Houston) – excluindo-se talvez Manhattan, Boston e São Francisco da conta – já deixaram de existir, degradaram-se até se converter em setor de negócios ou mera sede administrativo-bancário-política, onde ninguém vive, onde a vida cessa quando cessa o expediente. E esse fenômeno começa a prevalecer em algumas cidades alemãs de design <americanizado>.”

2. LOS FACTORES PROAIRÉTICOS EN EL DESIGN AMBIENTAL

Alvin Toffler contaba cómo en 70 de las mayores ciudades americanas el tiempo de residencia media en el mismo lugar era menos de 4 años. El desarraigo con respecto al hábitat propio no sería grave por sí mismo, si condujese a la reconstrucción en otro lugar de otro Heimat; pero eso es precisamente lo que ya no sucede a causa del carácter provisional del empleo, de la familia, que provocan el desinterés afectivo por el suelo urbano o por el natural.”

3. PREFERENCIAS Y PREVENCIONES EN LA ARQUITECTURA INDUSTRIALIZADA Y EN EL DESIGN

a arquitetura industralizada (ou pré-fabricada, como com freqüência se diz, erroneamente) constitui um dos pontos delicados da exposição, que reaparece sempre que se fala de originalidade dos edifícios, de fantasia construtiva, da tão necessária luta contra o descenso do nível inventivo, contra a uniformização e a homogeneização das construções arquitetônicas de nossos dias.”

4. LOS PRECEDENTES DE UNA SEMIÓTICA ARQUITECTÓNICA

Por mi parte, estoy convencido de que antes que nada hay que considerar la lingüística como una de las ramas de la semiótica, y no al revés (…) (como sostienen con frecuencia algunos autores franceses).” “En el caso de la arquitectura es evidente que no se puede hablar de una división en fonemas, sino, si acaso, sólo en <morfemas> (o sea, en partículas morfológicamente significativas, ¡ya que el elemento fonético está ausente!)” Um capítulo que não faz o menor sentido (como quase toda a segunda parte do livro)!

Desgraçado do edifício que se disfarça sob o aspecto de outro, como – desgraçadamente – ocorre com freqüência: igreja com aparência de night club; estádio com a de templo; escola com a de açougue [!!!] (a menos que não seja incomum alguns prédios constituírem uma espécie de curiosidade <agradável>, conquanto isso parece ter sido moda passageira dos 1800)!”

si una partitura de Bussotti puede considerarse con el mismo criterio que una pintura o un diseño moderno, también algunas notaciones arquitectónicas (croquis, proyectos, etc.), modernas y antiguas, tienen ya de por sí un gran valor artístico: basta con pensar en los célebres esbozos de Mendelssohn, en los de Haering o, sobre todo, en los de Scharoun, y, en el pasado, en algunos proyectos, realizados o no, de Ammannati, de Leonardo, de Miguel Angel, de Leon Battista Alberti. El valor artístico de dichos proyectos – prescindiendo de su <colocación semiótica> – es notable, y sería muy difícil decidir hasta qué punto se trata de obras de diseño, de maqueta, o equiparables a las realizaciones arquitectónicas auténticas. Como es sabido, según algunos, el croquis y el proyecto, si se desarrollaran y profundizaran lo suficiente, equivaldrían perfectamente a la obra ya realizada. (Y en cierto sentido lo vimos, cuando, durante la última guerra, se pudieron reconstruir algunas arquitecturas de la antigüedad sobre la base y con la ayuda de diseños de la época conservados y, por tanto, realizables.)”

La lectura de la partitura, aunque informa, incluso de forma muy precisa, sobre determinado fragmento musical, no por ello deja de ser una lectura-no-musical (o, por lo menos, no sonora); según la opinión de algunos músicos (Stockhausen, Castaldi) no es otra cosa que el registro mediante un código muy perfeccionado de un objeto sonoro cuyo auténtico disfrute sólo puede producirse a través del órgano del oído. Stockhausen, p.ej., afirma que el tipo de <goce> que le produce el recorrer rápidamente una partitura (incluso saltando de un ponto a otro de la composición) es totalmente diferente al de la audición del mismo fragmento.” Cf. STOCKHAUSEN, Texte zur elektronischen und instrumentale Musik, 1963.

5. LA OPCIÓN POR LO ASIMÉTRICO Y LA ASIMETRÍA DE LAS OPCIONES

en la Weltanschauung zen y taoísta predomina la tendencia a lo asimétrico, y algunos conceptos como los de wabí y de sabi podrían aproximarse al de asimetría.”

Parece impossível, mas minha criada de quarto não admite que eu coloque minhas coisas na cômoda de forma assimétrica; quando limpa minha casa se apressa em <colocar simetricamente>, de acordo com um esquema fixo seu, todos os objetos que eu havia colocado de propósito fora do lugar.” Léger

Podemos antecipar o começo do fenômeno, se pensamos na marcada tendência nessa direção que se pode advertir a partir dos últimos anos do séc. XIX com o florescimento do simbolismo na França e ainda antes, com o do pré-rafaelismo na Inglaterra: pintores e decoradores como Gustave Moreau, D.G. Rossetti, Burnes Jones, Odilon Redon, Khnopff, Puvis de Chavanne e, à geração seguinte, os austríacos da Secessão: Klimt, Schiele, etc., são todos tendencialmente assimétricos, pois começam a olhar com simpatia para o Extremo Oriente” “a adoração pelo número áureo, derivada dos círculos renascentistas, teria de ceder e ver-se invertida por novos módulos estéticos.”

por que o coração está à esquerda e o fígado à direita? por que é mais comum ser destro? por que a mãe costuma segurar o recém-nascido pelo lado esquerdo?”

O rosto esquerdo revela o lado oculto ou noturno (sinistro) da vida.” Werner Wolff

…ao passo que a metade direita – precisamente por <depender> do hemisfério cerebral esquerdo, sede dos processos de criação de idéias mais racionalizados – parece ser o <espelho> da personalidade humana mais socializada e consciente.”

normalmente o homem entrelaça as mãos de com o polegar direito superposto ao esquerdo, e a mulher ao contrário”

e como pode ser que o laevus latino não se conservou no italiano (enquanto que se conservou no left inglês, no link alemão, no lijevo esloveno e croata e no lievyi russo?)”

derecho droit destro direito

izquierdo gauche sinistro esquerdo

Se consideramos alguns esquemas urbanísticos clássicos – dos hipodâmicos aos estelares (tipo Palmanova), aos de L’Enfant (tipo Washington) ou Haussmann (tipo Paris) ou inclusive à aparente heterodoxia de Lúcio Costa no caso de Brasília –, vemos facilmente que em quase todos predomina um princípio de euritmia e equilíbrio, i.e., de obtenção do máximo de equilíbrio baseando-se numa simetria <dinâmica>, numa pseudo-assimetria, à la Hambidge. Hoje (1972!), até esse tipo de equilíbrio me parece pouco aceitável rumo a uma evolução da ordenação territorial e do <caráter distributivo> de nossos edifícios.”

Na linguagem e no pensamento a assimetria está em todo lugar ou, para ser assimétrico, em quase todo lugar: podemos considerar simétricas as manobras analogizantes ensaiadas – de forma muitas vezes ingênua, mecânica – por um Lévi-Strauss? Sim, sem dúvida; mas isso seria pertencente à exceção: uma tentativa ou mania de assimilar códigos diferentes (sociológicos, alimentares, musicais, etnológicos!) sobretudo dum ponto de vista meramente sintático e sem levar em conta, salvo superficialmente, os autênticos aspectos semânticos e axiológicos que se interrelacionam. Mas, continuando, o fato de considerar como analógicas as metáforas propriamente ditas conduzirá à descoberta dum aspecto assimétrico também nelas, i.e., porque unem dois signifiés diferentes por meio dum signifiant único.”

#SugestõesdeTítulosdeLivros

OXÍMORO OU CARÍBDIS

LEITURAS PROSPECTIVAS

YASUICHI ARAKAWA, Die malerei des Zen-Buddhismus. Pinselstriche des Unendlichen, 1970

JEAN BAUDRILLARD, Le système des objets, 1968

MARIO BUNGE, The Place of the Causal Principle in Modern Science, 1963

GERMANO CELANT, Arte povera

Revista “Noigandres” (São Paulo), sobre a vertente mais séria da dita poesia concreta de origem germano-suíço-brasileira

GILLO DORFLES, Il Kitsch, antologia del cattuvi gusto, 1969 (1972) / El kitsch, antología del mal gusto, 1973

LUDWIG GIESZ, Phänomenologie des Kitsches, 1960 / Fenomenología del kitsh, 1973

HECAEN, La Symétrie en Neuropsychologie, 1970

EUGÈNE MINKOWSKI, Les conséquences psychopatologiques de la guerre et du nazisme, 1948

ALEXANDER MITSCHERLICH, La inhospitalidad de nuestras ciudades, 1969

EDWIN SCHUR, The Family and the Sexual Revolution, 1964

DAISETZ SUZUKI, Zen and Japanese Culture, 1959

VÁRIOS AUTORES, Psicología del vestir, 1975

HERMANN WEYL, Symmetry, 1952

IVOR DE WOLFE, Civilia, Architectural Press, Londres, 1972

THE NAKED THERAPIST – Sheldon Kopp em “kopperação” com outros terapeutas

“This is not the first time my writing has been informed by my dreaming self. By now I am wise enough to trust such experiences even before I can make sense of them.”

Acceptance and praise foster a feeling of well-being in the child. They encourage confidence, spontaneity, hope, and a sense of being worthwhile. Punishment and threat induce guilt feelings, moralistic self-restriction, and pressure to atone. Guilt is the anxiety that accompanies transgressions, carrying with it the feeling of having done bad things and the fear of the parents’ angry retaliation. In the interests of self-protection, the child learns to deal with this anticipated punishment preemptively by turning it into an internalized threat against himself. § Disapproval and contempt make a child feel ashamed of not being a worthwhile person. The implied danger of abandonment may make him shy, avoidant, and ever anxious about making mistakes, appearing foolish, and being open to further ridicule.” “Aceitação e elogios alimentam na criança uma sensação de bem-estar e conforto. Encorajam a confiança, espontaneidade, esperança, um senso de capacidade e de cumprir o seu papel. Punição e ameaças induzem sentimentos de culpa, auto-restrições morais, pressão corretiva. A culpa é a ansiedade que acompanha transgressões, carregando consigo o sentimento de ter feito coisas ruins e o medo da retaliação furiosa dos pais. Com a auto-preservação em vista, a criança aprende a lidar com esse castigo iminente de modo preventivo, internalizando a ameaça contra si mesma. § Desaprovação e desdém fazem a criança se sentir envergonhada por não ser uma pessoa valorosa. O perigo implicado no sentir-se abandonado é o desenvolvimento de uma personalidade tímida, esquiva, evitativa, constantemente ansiosa ou apreensiva quanto ao cometimento de erros, com medo de acabar parecendo um tolo ou de estar vulnerável ao ridículo dos outros.”

A ANTIGA SÍNDROME DE RENAN: Medo de ser expulso de casa. Medo de dar muitas despesas. Medo de ser um mero mortal.

<Look how foolish you are, how clumsy, how stupid! What will other people think of you when they see that you can’t seem to do anything right? You should be ashamed of yourself acting like that. If only you really cared, if only you wanted to act right, if only you would try harder, then you could be the kind of child we want you to be.> Repeated exposure to such abuse calls forth an inner echo of self-contempt. § Eventually the child learns to say of himself, <What an idiot I am, what a fool, what an awful person! I never do anything right. I have no self-control. I just don’t try hard enough. If I did, surely they would be satisfied.>” “<Olha quão tolo você é, desajeitado, estúpido! O que vão pensar de você, se você não consegue fazer nada direito? Você devia sentir vergonha de si mesmo agindo desse jeito. Se apenas você se importasse, se você só quisesse agir adequadamente, se você apenas tentasse mais, aí então você seria o tipo de criança que queríamos que você fosse.> A exposição repetida a tal tipo de discurso leva a uma internalização dum eco de auto-desprezo; uma voz interna passa a repetir as mesmas coisas antes faladas pelos seus superiores. § Eventualmente, chega-se ao ponto em que a própria criança dirá, diante de cada nova decepção: <Que idiota que eu sou, que imbecil, que péssima pessoa! Nunca faço nada certo. Não tenho sequer auto-controle. E eu nunca tento o bastante. Se eu tentasse, com certeza satisfaria a vontade dos outros.>”

“My own mother often told me: <I love you, but I don’t like you.> It was clear that this meant that she loved me because she was a good mother, but that she did not like me because I was an unsatisfactory child.”

“The experience of being seen as momentarily not yet able to cope is a natural part of growth. It is also natural to experience the embarrassment that accompanies making mistakes, stumbling, blundering, or fucking-up.”

“Some parents are too hard on their children because of their own personal problems, others because of harsh cultural standards. Some cultures make excessive demands for precocious maturing of the child. In such settings, shaming inculcates the feeling that other people will not like the child unless he lives up to their expectations. § When shaming arises out of the pathology of neurotic parents, the child may be expected to take care of the parents. Such a child may never learn that the natural order of things is quite the reverse. He is discouraged from ever realizing that it is the parents who are supposed to take care of the child. § Even more insidious is the impact of the parent who unconsciously needs to have an unsatisfactory child. Such a parent will never be satisfied, no matter how hard the child tries, no matter how much he accomplishes. Anything less than perfection is unacceptable. If the child gets a grade of 95 on an examination, he will be asked why he didn’t get 100. If he gets 100, he will be asked what took him so long to get a satisfactory grade. Told that he should have been getting 100 all along, he may become afraid to do well lest perfect grades be demanded of him all the time from then on. If he happens to be a chronic straight-A student, then he may be asked, <If you’re so damn smart, how come you can’t keep your room clean?>” “This can lead to his spending a lifetime vainly seeking the approval of others in the hope that he may someday be validated at last. § My own parents shamed me needlessly and often. They made it clear that it was my clumsiness, my inadequacies, and my failures that made them unhappy. Even my successes and accomplishments were made to reveal how inferior and insufficient I was.”

“<Enough,> she stilled me. <A boy doesn’t interrupt when a father is talking, a father who sweats in the city all week long for him.>”

“Those who have been shamed can some day learn to overcome feeling unworthy. Embarrassment, in contrast, is a natural reaction that is inevitable in certain social situations.”

quavering speech [fala tremida] or breaking of the voice, sweating, blanching [empalidecimento], blinking, tremor of the hand, hesitating or vacillating movement, absent-mindedness” Goffman, Interaction Ritual: Essays on Face-to-Face Behavior, 1967

“The medical term for less-than-normal breathing capacity, for instance, is respiratory embarrassment.”

“Some unexpected physical clumsiness, breach of etiquette, or interpersonal insensitivity may leave a person open to criticism for being more crude or coarse than he claims to be. But this is an issue of manners, not of morals. It may make for a temporary change of social status, but never carries with it the self-threatening sanctions of shame, with its implications of abandonment, loss of love, and ultimate emotional starvation.”

“For a moment all bets are off. Trust of myself and others is in jeopardy. All values are once again in question. First there is the question of trust in myself. Am I an adequate human being or a fool? What can I expect of myself? Do I really know what I am doing?” “It is a time for the exotic flowering of my paranoia. At such times I may mistakenly expect contempt and ridicule from loving friends and neutral strangers. It is just as though they would turn from me in disgust as my parents did when I did not meet their impossible standards.”

Where is my floor?

Please open that door

Shut those windows

Cracked room and mind

of a sweet-salty boy

Sing along and refrain

from hiding.

There seems to be no way for any of us to get through the day without making a careless error, doing something foolish, committing a gaffe or faux pas.” Gof., op. cit.

“After hitting the lamppost I sat on the curb and cried as little as possible. I was really worried. Now it was time to go home and face my mother. Instead of seeing this mishap as an unfortunate accident around which I could feel sorry for myself and expect some sympathy, I knew that I had let my parents down again. I headed home and climbed the stairs to our apartment, skates over my shoulder.”

“Still, echoes of this grotesque situation can be heard at times from out of my unsettled and unworthy depths. I remember just a couple of years ago when I learned that I had to undergo a second bout of neurosurgery.”

“At such times my mother’s explicit instructions were: <Don’t fight, but never, never deny that you are a Jew.> She seemed to want me to be well-behaved, but did little to help me to avoid occasions of sin.”

“One afternoon after school Charlie started beating on me in front of a girl I had a crush on. For the first time in my unhappy marriage to Charlie Hooko, my own fear of being seen as a shamefully brutal, lower-class street fighter was overcome. The fear of being humiliated in the eyes of this girl was even more shameful. And so in the midst of the fight I punched Charlie right in the mouth. He couldn’t believe it. I could hardly believe it myself. § Charlie stopped the play at once. He took me down to the park and we both washed our faces at the fountain. Charlie announced to everyone around that I was a tough guy, that he admired me, and that we would be friends from then on. That ended months of regularly scheduled defeat.”

Punch like a girlish girl

Yea, just feel the flow

“As an early teenager I did eventually graduate to becoming a marginal member of a fighting street gang. I pretended that I was a better and more enthusiastic fighter than I ever really was.”

“As my children grew, being creatures of their age they moved toward the freak culture. Part of this involved their being the first kids in our neighborhood to let their hair grow long. So it was that another macho incident came about. One of our neighbors, strong both of will and of muscle, flew the Confederate flag.”

“What proof did he have, I demanded? His only answer was that my kids had long hair. He believed vandalism occurred only in the ghetto. Ghetto kids had long hair and they broke windows, he insisted. My kids had long hair. And so he concluded that it must have been one of them who had broken his window.”

Ironically, the blunderer often unwittingly reveals the discomfort of his predicament by the very means by which he tries to hide it: <the fixed smile, the nervous hollow laugh, the busy hands, the downward glance that conceals the expression of the eyes.>” “Ironicamente, o atabalhoado freqüente e inadvertidamente expõe seu desconforto situacional pela própria tática utilizada para disfarçá-lo: <o sorriso fixo, a risada nervosa despropositada, as mãos hiper-ativas, a vista caída que esconde a expressão dos olhos.>”

“Essa necessidade social salutar de ocultar-se o embaraço é enfatizada nas pessoas que foram excessivamente submetidas a vexames na infância. Potencialmente, o indivíduo virá a desenvolver um estilo de conduta de tipo neurótico, agindo timidamente a maior parte do tempo e preferindo evitar que outros venham a percebê-lo ou a conhecê-lo.”

“Tendo tantas dificuldades de interação, não é raro que a pessoa acredite que sua abertura para o constrangimento e a vivência de situações ridículas [pois socialmente é impossível fugir de tais ocasiões] é realmente singular. Ela pode desenvolver a crença que outras pessoas não têm a mesma tendência de <se passarem por tolas> de tempos em tempos, como ela tem.”

“Sua própria conscienciosidade de seu problema age como um efeito bola de neve: a apreensão pela sua hiper-sensibilidade eleva seu senso de isolamento, peculiaridade, solidão, enfim. Que trágico que a pessoa deva sempre sentir-se como um desajustado! Basicamente, não diferimos uns dos outros. Ninguém é capaz de lidar o tempo todo com as demandas sociais, sempre excessivas. Mas é que o comportamento tímido-neurótico é sempre desproporcional, alimentando a convicção íntima de que <há algo muito errado consigo>.”

“As maneiras reservadas do introvertido <clássico> (não-mórbido) são parte, provavelmente, de sua orientação psicológica inata; e ele estará sempre mais inclinado ao mundo interior das experiências privadas, que lhe é bem mais confortável. Certo nível de acanhamento da personalidade é mesmo, senão natural, incentivado socialmente. Algumas pessoas (como o próprio que escreve) escondem sua timidez crônica debaixo de um véu de arrogância simulada.”

“When he does try to express himself, he is likely to be hesitant, needlessly soft-spoken, ingratiating, and apologetic. Whenever possible, he simply will try to avoid contact with other people.”

A person who is not neurotically shy understands that it is the external situation that contributes to embarrassment, rather than some defect in his own character. Unlike the shy neurotic, he has come to learn that these anxieties are triggered by his reaction to particular people and situations.” “Uma pessoa que não é neuroticamente tímida compreende que é o contexto exterior que contribui para seu embaraço, em vez de qualquer defeito de seu próprio caráter. Ao contrário do tímido neurótico, aquela pessoa aprendeu a ver que essas angústias são acionadas pela sua reação a pessoas e eventos particulares.”

AUTONOOBSAIBOTADOR

 

The shy neurotic cannot get anywhere in overcoming his excessive shyness without first revealing to himself that what he truly fears most is not rejection but acceptance, not failure but success. He begins to go after what he wants out of life.” “O tímido neurótico não chegará a lugar algum, enquanto tenta superar ou minorar sua timidez, caso não admita para si mesmo que o que ele realmente mais teme NÃO é a rejeição mas a aceitação, NÃO é o fracasso, e sim o próprio sucesso! É aí que ele começa a alcançar seus verdadeiros objetivos de vida.”

we’re all looped, leaked, sinking, seeking and not finding, just overwhelmed by our own hopes’ weights… what if…

a head dive in a pool of danger

“Feeling undeserving of such unfamiliar achievement and acceptance, he has unwittingly learned to discredit these pleasureable experiences. A poignant early expression of this self-defeating attitude occurs during the first phase of psychotherapy.”

Anything that makes him feel worthwhile calls forth the echo of his mother’s voice, demanding that he question his presumption. It is as though he can almost hear her demanding, <Just who do you think you are?> Believing even for a moment that he is satisfactory as a human being evokes the underlying shameful feeling that he has presumed too much.” “Qualquer coisa que o faça sentir-se valorizado evoca o eco da voz de sua mãe, mandando que baixe a bola. É como se realmente pudesse ouvir, <Vem cá, quem você pensa que é?>. Acreditar por um só momento que ele é um ser humano completamente satisfatório é o suficiente para ter sua paz de espírito quebrada por pensamentos de culpa de que ele agiu presunçosamente.”

O supremo oposto do vaidoso dos vaidosos – e o que isso trouxe? Mais ódio dos ‘cristãos’ sobre sua cabecinha…

“So it is that each moment of decision is followed by a moment of revision. A minute later, he has reversed his thrust forward, retiring once more into his customary shyness.”

“His life is not what he meant it to be at all. It’s just not it at all.”

Evitar a confrontação é como comprar à prestação!

Guy de Maupassant’s short story, The Diamond Necklace, is a classic example of the high price of false pride. It is the story of Matilda, a woman tortured and angered by having to live a shamefully ordinary life because she does not possess the luxuries and delicacies which she insists befit her station.”

“It was my parents who started me off down my own painful path of shame and false pride. My parents are no longer responsible for this trip that I sometimes continue to make. Now the enemy is within. It is only my own overblown ego that shames me. It is only I, still sometimes arrogantly insisting on having higher standards for myself than I would impose on others. How much easier to accept the flaws in others than in myself. To the extent that I cling to being special in this way, I remain stuck with the tediously painful life of the perfectionistic striver. I must get everything right, all the time, or suffer shame. It is far too heavy a price to pay for maintaining the illusion that I might be able to rise above human frailty.”

“I give up being satisfied with myself as a pretty decent, usually competent sort of guy who, like everyone else, sometimes makes mistakes, fucks up, and plays the fool. Instead I insist that if only I tried harder, really cared, truly wanted to, I could become that wonderful person who could make my long-dead parents happy. Then they would approve of me. I would be the best. Everyone would love me.”

Guilt and shame originate from different kinds of faulty parenting. Guilt arises out of a certain kind of bad fathering, shame out of bad mothering.¹ Either parent may elicit one or the other depending on the particular parent’s role and attitude rather than on his or her gender alone.

Excessive authoritarian fathering creates guilty anticipation of punishment for transgression against the lawful order of things. Overly demanding mothering breeds shame.”

¹ Kleiniano demais…

“Paradoxically, too much shaming often produces defiance rather than propriety. No longer able to bear the overwhelming burden of shame, a child may develop a secret determination to misbehave. He comes to wear a mask of spite and shamelessness.

“We were studying Shakespeare’s Julius Caesar. At the beginning of one week, the English teacher announced that we were to memorize Marc Antony’s eulogy. I protested loudly. Memorizing materials that needlessly cluttered up my head was both a waste of my time and an intrusive violation of my mind. No arbitrary school system had any right to do that to me.”

<Ma, how come you always talk funny when you come to see a teacher?> This was one of my rare opportunities to shame her”

Straight people were simply not prepared for coping with those of us who shamelessly stepped outside of the system, acted with contempt for the rules, and covertly shamed them for the arbitrariness of their principles.”

“At times my shameless behavior has gotten me into trouble. But so long as it sometimes gets results like that, who am I not to be tempted to continue to be outrageous?”

“More privately, I had developed the false pride of perfectionism to hide my shame and worthlessness from my own eyes. I had to avoid risking further failures and more mistakes. I had to be able to change my image so that I might escape without looking like I was running away or hiding out.”

NOSSAS TORRES DE MARFIM

“No longer would I be the fumbling incompetent who was too timid to go to parties because he never knew how to go about making friends. Instead I became a <heavy> intellectual. With such profoundly developed sensitivity, I could no longer be expected to be bothered devoting my precious energies to the pursuit of the mundane social goals that somehow seemed to excite almost everyone else I knew.

Even armoring as exquisite as this was not enough. Somewhere inside I knew I was just too damn lonely. I still needed to be needed. Acting obsequious, or even <being nice>, was an unthinkable solution. Instead I began to advertise myself as ever ready to rush into the gap whenever a task presented itself that ordinary folk found too unrewarding to mess with.”

“For the first few years of my career as a therapist I worked in impossibly archaic monolithic custodial institutions such as state mental hospitals and prisons. Though allegedly established and maintained as society’s attempt to care for and rehabilitate its social deviates, these institutions turned out to be punitive warehouses for those undesirables about whom the rest of us wished to forget. I cast myself as the champion of the oppressed.¹ Doggedly and unsuccessfully I fought the administrative powers, hoping to attain decent care, effective treatment, and eventual release for the inmates.”

¹ Incrivelmente similar a minha loucura de querer me tornar professor!

“Now I had a new problem. There were no bad parents to fight. How was I to define my role in this more benevolent situation?”

“I do not usually shake hands with a new patient unless the patient gives some indication that this is part of where he starts out in social relationships, in which case I respond.”

“His opening lines were: How long have you been a therapist? Don’t you know that phobic patients can’t stand to be touched? You insist on shaking hands with me knowing that I am too compliant to refuse. It could only make me anxious. The demands you make on me!

“Should he awaken during the night and need to go to the bathroom to urinate, he must simply suffer through the hours until dawn. He was not able to risk disturbing his dog by getting out of bed. His feeling of friendship with the dog was substantiated by his bringing him along to the treatment sessions.”

“There he asked to be deported to Russia for asylum. Surely he would get better treatment under Communism than he had from the barbaric democratic psychiatric services in America’s capital.” “I described my own experience, and I pointed out that the patient was crazy. He had made me crazy. I warned this man that he would make him crazy, too, unless we all understood that just because the patient claimed that something difficult needed to be done did not mean that we had to do it. The patient was all heat and no light. We were vulnerable to his unrealistic outcries because of our own needs to meet every challenge heroically, no matter how nutty it might be. If we thought it over for a minute, we would realize that there wasn’t much in the way of disastrous consequence in this for anyone but the patient himself. That was unfortunate for him, but that was the way it had to be. Happily, the perspective I offered was sufficient to relieve the Congressional Counsel of his own anxiety.”

“The patient was an attractive woman in her early twenties whose birth defects included having no feet and only rudimentary hands. She managed to get about with a combination of prosthetic devices and monumental denial.” “Focusing on her frustrated wishes to become a star in the public eye allowed her to avoid her anxiety and despair about the oppressive difficulties that she encountered in everyday living. My own parallel defensiveness led me to join her, supporting her crazy longings with my own denial of shame-filled helplessness. She made her own contribution by avoiding my tentative therapeutic interventions. There was just no way she could hear my timid suggestions that this whole show business preoccupation was an avoidance of dealing with the day-to-day quality of her life.”

“Unattended snot ran out of her nostrils and down her face (her measure of how much messiness I could tolerate?). I listened and sympathized as if my mere presence would heal her.” “For some reason, which I still do not understand, after about a year of this circus she let me in on her <secret>. All during this time she had been seeing me on Thursday afternoons, and now she confessed that she had also been in therapy on Monday mornings at another clinic with another crazy therapist.”

“This new challenge’s chart described her as a borderline psychotic, a part-time alcoholic, an unhappy, aggressive woman with preoccupying sexual hangups and several previous unsatisfying bouts of psychotherapy. When I went out to the waiting room to invite her in for our first therapy session she struck me as a slight, timid waif of a woman. She looked more like an emaciated 12-year-old than a life-hardened 32-year-old.”

Oh, now I get it, the old color symbolism test. A male therapist with a red shirt, and now I’m supposed to tell you that I’m sometimes gay, and you probably are, too!” “You’re the therapist I’ve been looking for all of my life. I’m never, never going to leave you. I know that you’ll be able to accept whatever I do without ever making me feel bad or throwing me out.” “My relief and sense of well-being was immediately transformed. I got the sinking feeling that I had just made a lifetime contract with an albatross.”

 

“By then I was off balance, but I knew the direction in which I must go. I told her that alcoholic beverages were not permitted in the clinic. If she opened the beer here in my office that would be the end of treatment. As in the first session, she seemed relieved rather than upset by my setting some limits on her acting out.”

“She had gone to visit her dentist to have a tooth extracted. He knew that she had bad reactions to the usual anesthetics that he used. Therefore he had brought a bottle of whiskey and insisted that she have a couple of straight shots to prepare her for the extraction. She described herself as having been rather uncertain. Still she yielded to his encouragement to have one, two, and then another couple of shots. She claimed that soon she was so high that she could not resist his insistence that she perform fellatio.”

* * *

Albert Ellis

 

“While I have the floor, let me also disagree with Shelly’s [Sheldon’s] (and almost all other therapists’) allegation or implication that shame largely stems from early childhood experiences. Shit, no! If anything, early childhood experiences largely arise out of our innate predispositions toward inventing <shameful> conditions and actions and consequently idiotically making ourselves—and I mean making ourselves—unduly embarrassed about our inventions.” “Because Shelly’s feelings of shame in regard to the incident with his parents have a high degree of correlation with his feelings of shame today, he mistakenly assumes that the former caused the latter.” “Shelly’s parents indubitably taught him various standards of ‘right’ and ‘wrong’—including the standard, ‘You act rightly when you stubbornly refuse to imagine yourself letting either of your parents drown and wrongly when you even consider saving only one of them from drowning.’ Given such standards, and having the human tendency to adopt them, Shelly will assuredly believe that he acts ‘rightly’ when he tells his parents that under no conditions would he let either of them drown and ‘wrongly’ when he tells them that he would choose one over the other. Granted.”

A person’s history therefore has relatively little to do with present feelings of shame or self-downing. Shelly may have learned his standards of good and bad behavior from his parents (and others), but he decided to take them seriously and he still decides to do so if he feels ashamed of anything he does today.”

“I had a female client who had serious feelings of inadequacy about herself, especially in her relations with men, and whom I helped considerably to overcome some of these feelings. She had an attractive female friend to whom she talked about me and the way I had helped her, and who got somewhat turned on to me. This friend, in her own manipulative way, managed to meet me at a series of lectures I gave and suggested that we date.

Now I knew that I’d better not do this. Not only have I refused from my first days as a therapist to have social relations with my clients—for although this may have some advantages, I recognize that it tends to lead to more harm than good—but I also have refused to maintain close relations with any of their intimates. (…) A good idea, and I invariably—or almost invariably—stick with it. But not this time! The friend of my client seemed so charming and attractive that I decided to break my self-imposed rule and to date her. I saw her a few times, got intimate with her socially and sexually, and then decided to stop seeing her because I found her much less charming and interesting than I previously had thought. In the course of my fairly brief relations with her, I deliberately mentioned nothing about my client, since I knew that they had a somewhat close relationship, and I didn’t want to give away any confidences.

Nothing happened for several weeks; and then, after I and my client’s female friend no longer saw each other, all hell suddenly broke loose. My client, Josephine, came in one day terribly upset and said that she had discovered that I had seen her friend socially. She found this most distressing for several reasons. She thought that I might have revealed some things about her to her friend. She felt constrained, now, in telling me certain feelings that she had about this woman. She confessed a sexual interest in me and said that she felt jealous that I had shown no inclination to have sex with her while I had obviously had it with Sarah. She hated Sarah for having seduced me and then having boasted about it. Most of all, curiously enough, she felt upset because I had stupidly allowed myself to get taken in by Sarah, who, according to Josephine, had no interest in me other than as a conquest, who had fooled me into thinking she had more intelligence than she actually had, and whose inherent nastiness I had presumably entirely failed to perceive.” “I, like Josephine, at first upset myself more about my mistaken diagnosis of Sarah than about anything else.” “Her interest in me stemmed mainly from her belief that I might help her with her own personal problems and from the ego boost she experienced from telling others that she had a well-known psychotherapist interested in her. Although I had told her very specifically not to mention our association to Josephine, whom I guessed would upset herself about it, she had not only told all to her friend but had also lyingly stated that she had given me up and that I still had a great interest in resuming relations with her.” “I took a chance that my relationship with Sarah would never get back to her. I really had preferred Sarah over her, and perhaps some of this preference had come through in my relationship to Josephine. I had given her an opportunity to see some of my diagnostic weaknesses—and thereby helped remove some of her confidence in me as therapist. When she had shown an overt sexual interest in me, I had quite ethically but perhaps too brusquely repulsed her, partly because at the time I already had established a sexual relationship with Sarah, and Josephine did not seem half so attractive to me. If I had never gone with Sarah, I might well have handled rebuffing Josephine in a more tactful and more therapeutic way.” “She seemed to accept the fact that I had not deliberately done anything to hurt her and had only made some understandable errors.” “Fortuitously, she got involved with a well-known psychiatrist who treated her with a dishonesty similar to Sarah’s treatment of me, and I helped her considerably in accepting herself with her gullibility [naiveness] and in breaking away from him without feeling terribly hurt.”

“I set a few more rigorous rules for myself about socializing with the friends and relatives of my clients, and eventually I mainly forgot about the entire incident.”

“If I down ‘me’, ‘myself’, or my totality for my errors, I essentially take myself out of the human condition and view myself as a subhuman. Falsely! For, as a human, I cannot very well attain superhumanness or subhumanness except by a miracle!”

As far as I can see, you do not really admit the true wrongness of your acts if you don’t make yourself feel very guilty about them. And, even if you do acknowledge their badness, you do not motivate yourself strongly enough to change them and keep yourself from recommitting them in the future. Poppycock [Baboseira]!” “As a person who admits his own irresponsibility but who doesn’t down himself totally for having it, I save myself immense amounts of time and energy that I otherwise would spend dwelling on my poor actions, obsessively showing myself how wrongly I did them, and savagely berating myself for having such fallibility.”

“I try not to make myself guilty about making myself guilty, nor to make myself feel ashamed of making myself ashamed. I don’t find it easy! I keep slipping. My goddamned fallibility clearly remains.”

Gerald Bauman

“I felt the role of therapist to be an artificial one requiring that I adopt a facade that made me feel like the newly clothed emperor. I think I persisted in this unpleasant exercise partly because doing therapy was then the wave of the future for young clinicians, partly because I was assured by colleagues and supervisors that I was reasonably competent and talented, and partly because I tend to become stubborn under duress.”

“The most difficult <incident> of all lasted about two years. In the course of some very significant changes in my life, I was subject to severe anxiety attacks while working with clients (and at other times as well). The awful feeling would gradually well up in a great surge that might last for several minutes and then gradually subside. The experience was particularly frightening because I never felt certain how <high> the surge would go. While working, for example, I felt as though if it went much further, I might fall out of my chair or flee the room (these never happened). Though appearing to occur at random, these <attacks> themselves seemed to become more intense over about two years; then I gradually became able to overcome them and resolve the underlying issues.”

CONTRA-MEDIDAS PARA MOMENTOS DE “NUDEZ TERAPÊUTICA”:

  • “Minimize (or eliminate) pretense in self-presentation. This is especially relevant to, and difficult for, beginning therapists.”;
  • Buscar uma espécie de “acordo tácito” com o paciente sobre o nível de nudez ideal que o terapeuta e o “tratando” desejam para a terapia;
  • Sempre ter em mente flexibilidade nas regras de resolução de problemas meta-terapêuticos – incluindo seguir ou não, conforme o caso, até mesmo ESTA regra!

Howard Fink

 

O INSEGURO ESTEIO MORAL DA NAÇÃO: “He began to wonder if his suspicious attitude toward his wife was some sort of an illusion he had to maintain to give him the upper hand in the relationship, to be the constant moral superior.”

“The subject of his wife and I forming some sort of a conspiratorial love pair against him was never again mentioned without a lot of genuine humor associated with it. In fact, as if to further discount the possibility, he once said that he never thought I could lose enough weight anyway to be called slim or skinny by anybody.”

Arthur Colman

 

“While I have known her, she has worked as a topless and bottomless dancer, a masseuse in a parlor catering to conventioneers, and now nude encounter. She has been only partially successful at these jobs. She turns off as she undresses.”

“When she worked as a masseuse, she did not like to touch men’s genitals and do <a local>. It was formally against the policy of the club, although she admitted that to <jerk a customer off> got you a larger tip.”

“Here she was, earning twenty dollars a half hour (exactly my fee, dollar for minute) by sitting nude talking to men who chose their state of dress. No touching, no closeness, no real intimacy. She didn’t admit to seeing the analogies in our situations, probably because she was frightened of exploring their meaning. Her fear protected me from the full impact of the miming that she portrayed as the naked therapist.”

“Being embarrassed about experiencing a particular feeling is just the beginning of the cycle. Confronting the need to keep the feelings hidden increases its potency. Deciding to risk the uncovering process by telling the patient what has been happening inside of me can momentarily increase the embarrassment until it is released in a rush as the communication is finally made.”

O velho dilema de se apaixonar durante as sessões.

“My wife and I have written a book, Love and Ecstasy, about merger experiences in the solitary, dyadic, and group orientations.”

“I remember one patient that I worked with in the Kopp/Colman office. Yvonne was an exquisite, delicate 18-year-old rebel. Her father was a wealthy member of the State Department, her mother the dependent matron of a colonial mansion. Yvonne worked at shattering all family hypocrisy. She attacked with reckless competence, trying everything, flagrantly, desperately, and always self-destructively. She came to Shelly through some of her friends. He represented a bearded refuge for her, an adult who might understand. He sent her to me.

Her name should have been Jezebel. At that point in my life she represented impulse, license, sensuality, limitless possibilities. (…) Falling in love with her would be a lot simpler solution to my malaise than reclaiming the lost parts of my own spirit.”

“I knew I was clever enough to translate what was happening inside of me into words and actions that would facilitate her therapeutic work with me, but I wasn’t sure that I had the courage to risk such an intimate and painful personal statement, with its unknown repercussions for both of us.”

“It is not unusual now for me to feel love in a variety of forms for men and women with whom I work.” “Fantasies from therapy (in the case of Yvonne) invaded my sexual relationship with my wife and my paternal relationship with my daughter, just as those relationships entered my therapy relationship with her.” “She described her evaluation session with me and noted that she was sure I had had an erection during some of the hour. Triumphantly she proclaimed that she was positive of that fact as I got up to escort her out of the room at the end of the hour. She wondered about my ability to work in such a state and about my designs on her. She also wondered about the quality of my marriage and my sex life.” “I remembered being sexually aroused by Susan. My response had been prompted largely by the provocative role she had assumed during the hour rather than from a personal attraction. She could be very sexy, but most often used it as a weapon and a defense. I knew that precisely because of my reaction to her—arousal without great interest.” “I said I got sexually excited by many of my patients, female and male. I tried to use all my responses to an individual in my work, those of my body (including my penis) in all its states, and of my mind, with all its fantasies. I certainly did not plan to cut off parts of myself in the therapy encounter. Integrating that openness in the special setting of therapy with my family and other personal life was difficult and a challenge.”

QUANDO DOIS JUNGUIANOS SÃO CASADOS: Libby knows me and herself well enough to assume that we could experience other people sexually and still focus our most intimate sexual expressions in each other, that she as Every-woman could become a repository for all my sexual fantasies just as I could for hers.”

Arthur Reisel

 

Verdade e vitória são contraditórias.

Meu analista tem uma voz paciente, e eu ouvidos doutorais!

Arthur, it takes ten years before a therapist begins to know what he’s doing.”

 

“Thinking that a straightforward discussion of the pot experience might ease some of this mother’s extreme fears, I asked the girls what it was like for them to smoke pot. Their replies were cautious and evasive. As I should have anticipated, they hit the ball smartly back into my court, asking me if I had smoked pot and if so, why didn’t I describe how it felt? Being a more skilled player than the girls, I could have used a therapeutic trick shot to put the ball back in their court. Yet something told me that the truth was called for here even if the shocked mother were to decide that a therapist who smoked pot was not for her family. Fortunately, it turned out well. Despite her innocence the mother is an open-minded woman who accepts differences in others.”

“Used with Karen’s permission, excerpts from her letters to me will amplify and enrich my presentation.”

I think you protest too strongly and judge too harshly of a previous generation; but the protesting quite vehemently part interests me the most because I have seen it come out before with Carolyn; it wasn’t what you said as much as the intensity with which it was said. You see, on occasion I am also interested in getting into other people’s lives even though I do not get paid for it. I am interested in what makes them tick, and I try to remain as receptive as I can to subtle, non-verbal clues.”

you are very, very far from being an open book. In other words, there is much about you that I do not know. I don’t really know how it makes you feel. I know at one point in the therapy I felt like I was naked, and you were a rapist, and you called me a beggar, and it hurt, and I thought: I’d rather be a beggar than a rapist. It just seemed that you kept taking and taking”

 

you can’t beat them; you never beat them; all it accomplishes in the long run is letting them beat you. I don’t think either one of us would think that was a life well spent.” deixar-se levar é como ir para o inferno, pois não existe paraíso sem esforço. se isso significa que você “tem de dar valor”? Hoho, chega, descanse os nervos, o inferno não deve ser tão ruim… Me chama que eu vou!

I did not tell you my complete reaction to your giving away one of your pictures. My initial feeling was a tinge of jealousy that you thought enough of one of your other female patients to give her a picture you liked very much. What felt like a little child in me yelled out: What are you doing? Don’t you know? I’m supposed to be the most important one! You’re not supposed to give your favorite picture to someone else! On that same level, I’m still not exactly bouncing off the walls about it; a little of the same feeling came back when you brought it up today. However, I feel it is so ridiculous, and childish, and unrealistic that I don’t even know if I completely allow myself to feel it, much less express it.”

uimpulsaindimpulsa

She wasn’t going to think you had designs on her, was she? You didn’t, did you? Then, what’s to feel uneasy about? It was a very nice thing. People should do it more often. I’m glad you did, a little jealous, but pleased.”

 

I get the very strong impression from you that you like doing things according to schedule, and that you really do not take deviations too gracefully. It is too bad that people’s needs do not run according to schedule also, or maybe most of your patients can program them for their hour or whatever.”

 

Fuck your schedule; it might have fucked our lives. We should have gone elsewhere, but you didn’t have to worry about that because I was already too attached to you for that, and I’m sure you didn’t lose any sleep over it. I have resented it; I didn’t realize I resented it so much.”

“She then sent a brief note to apologize for blaming me for fucking up her and her husband’s lives. Karen knew they were responsible for their own lives, and she felt badly about hitting below the belt over the issue of my schedule.” Below the belt, but not too much…

Quantos anos de serviço contribuídos como “terapendo”?

Jacqulyn S. Clements

 

Alan, in his 5th year of hospitalization, had been recalling the days when he was an airplane mechanic. He concluded with the comment, <That’s why I can’t ever get married; I’m a mechanic.>

You may be noting the symbolism. What I said was, <Well, I don’t know about that. I’ve known a number of mechanics and most of them were married.>

Alan pondered this thoughtfully. Then with a twinkle in his eyes, he leaned close to me and said, <But were they schizophrenic?>

“Telling these stories is vaguely embarrassing, but, as lived, they were really good experiences for me and for the clients. My response in each case was a silent but clear <Touché!>. I don’t recommend dumb comments; but if you’ve got a Bobby or an Alan, you can learn a lot and enjoy each other.

An incident from my practice that illustrates a negative feeling of goofing and embarrassment occurred on the day I handed Mrs. B the A-child’s appointment card. My comments made it obvious that I thought she was married to Mr. A, who was also seated in the waiting room. These weren’t new people; I’d interviewed each with their real spouses. When Mrs. B pointed out my error, I wished I could disappear into a hole in the floor, and my right arm flew up in the air. I used it to touch my hair and said, <Oh, my, where is my head today?> Then, taking the A-child back to the therapy room, I quipped, <I almost got you a new mother today—ha ha.> As far as I know this had no big effect on therapeutic progress, although I certainly wouldn’t call it a confidence builder.”

“Sophisticated clients know what Gestalters and such are like; they probably saw their 6th Fritz Perls film just last week.” Um dos fundadores de um dos ramos da Gestalt (que não é monolítica): Perls, F., Hefferline, R., & Goodman, P., Gestalt Therapy: Excitement and Growth in the Human Personality (1951).

“I went to all those miscellaneous workshops and training institutes like everybody else, but I never did manage to come home a recognizable anything. I tell them I’m a Jackie-therapist, and this means, of course, my confidence rests almost solely on results. Yes, this has bothered me some. I’ve never felt ashamed not to be a walking encyclopedia on psychoanalytic theory, but often when another therapist is visiting the premises, I feel tempted to ask my client to please get down on the floor and scream like he’s having an avant-garde breakthrough.”

“I’ve had a few clients with outstanding embarrassment records. Cindy, age 14, recalled her 1st date: She spilled Coke in the boy’s lap, bowled [derrubou] a 16, and then left his car door open, resulting in $70 worth of damage. In such award-winning-goofers I also plant seeds to the effect that they’ve hit bottom, so what’s left to fear?”

“It’s amazing how many children I’ve seen who won’t run on a dropped ball. Little princesses just pose and posture the whole game—any game. The strikeout freezers can usually stay on the team if their batting average is high enough. But princesses are eventually ridiculed and chosen last.”

NÓ CEGO: “My other chronic childhood embarrassment worry had to do with body functions. In grade school about the worst thing I could imagine was wetting my pants in class. However, I was also too embarrassed to ask to be excused to go to the restroom. Would this qualify as a double bind? I am probably one of the few people in existence who neither asked to go nor went anyway.”

“It wasn’t until this very year that I got blood on my skirt in public. I was seeing a teenage boy for therapy when it happened. I laughed.” Quando crescemos e aprendemos que dar aquela freada ou mijada na rua não é nada de mais. “Now I’ll ruin the story a little bit: The teenage boy had gone before I realized it had happened, and then I laughed.”

“Life’s traumas, goofs, negative embarrassments and such should be stored lightly. If they’re off in the warehouse, they’re hard to get at when you need them and could do something constructive with them. But even sending the empty storage cabinet to the warehouse is ill advised. Then you wouldn’t have anything to put these memories in. They’d be laying around in sight too much. There are times for getting them out, but really nobody wants to see or hear that stuff all the time, even your best friends. And how about your own probable concentration on them? That’s called negative feedback overload. To avoid repression or indiscriminate hang-out, better get those storage cabinets out of storage!” O que está sempre exposto passa a ser ignorado (como certos livros na prateleira, que estão na sua frente mas você não os vê mais).

The hypothesis was born: Be they orthodox or atheists, Jews have one foot stuck on the wailing wall. This was a hunch, not a put-down.” “A hipótese havia nascido: Fossem ortodoxos ou ateus, os judeus têm um pé fincado no Muro das Lamentações. Isso era um palpite, não uma afirmação ou acusação.”

IDENTIFICAÇÃO ESPIRITUAL, NO NEED FOR SHOWING (wallpaper de estrela de Davi e correlatos): “My fantasies went even further. I pondered the possible effects of Jewish Depression on the theory and practice of psychotherapy. Since nearly all the geniuses and heroes in this field really are you-know-whats, there might be an accidental bias that could be labeled the J.D. factor. Non-Jewish therapists would pick it up by identification and introjection. By now, almost everybody probably has J.D. This means things may not be as bad as they look.” Ser antissemita é ser antiocidental como um todo, mas não significa ser pró-oriental. Na verdade o Oriente desconhece o pânico anti-judaico; isso é uma doença exclusiva do homem moderno autocastrador. Ser antissemita seria negar nossas mais vincadas raízes pagãs. Ser antissemita é ser um destruidor dos próprios antepassados, nobres e elevados (recado a Varg & simplórios desta era).

Wailing Wall. To wail is to cry. A wall is a block. A crying block? Crying because of a block?” Trocadilho impossível em Português.

“Note that Adam and Eve had no neurotic human parents and did not live in an uptight culture. They didn’t even have any childhood memories. Archetypal shame may be rather far removed from psychological theories regarding its derivatives. Note also that Adam and Eve were not Jewish; they were everybody. There was a wailing wall long before the one in Jerusalem. The latter is likely a modern intensification, or reenactment.”

“For many years, as an adult, I had frequent repeats of two rather common dream themes. In one I was to be in some play. It was opening night, and the curtain was soon to rise. I couldn’t remember any of my lines. I couldn’t recall ever having been to rehearsals. I couldn’t even find a script to refresh my memory or to take, hidden, on stage with me. In the other dream it was time to go take some school exam. I hadn’t been going to class. I’d forgotten I’d even enrolled in the course. If I’d ever had the textbook, I didn’t know where it was.

Despite years of individual therapy, group encounters, and hundreds of psychological theory and how-to books, these dreams continued unchanged. Then last year I had breakthrough dreams for both of them and have not had either one since.

In the breakthrough play dream, the curtain actually goes up and I step on stage. I not only have to improvise my lines, but I’m not dressed like the others. Six women glide by in beautiful satin gowns, and I’m standing there in a terrycloth robe with a Kotex [absorvente] sticking out of one pocket. Everybody laughs. In the school dream, I go to the room, take the exam, and presumably flunk.”

All our righteousnesses are as filthy rags (Isaiah 64:6) is a commentary on general goodness, not just what we call self-righteousness. As such, it always sounded like a real bummer to me. Maybe the frequency of righteousness wasn’t high, but what a slam on quality. I once thought: Now there’s a good recipe for neurosis.”

“Of course, the righteousness insight didn’t really pop out of nowhere. I’ve been on a gradually emerging spiritual journey for 3 or 4 years now. Sometime during this period the following dialogue probably took place, although I’m surely still working on the last line of it.”

Donald D. Lathrop

 

<I have never had a failure in psychotherapy!> My out-bragging the braggart was so incredible that it shut him up. What a blessing for me! The rationalizations that would have poured out of my mouth in justification for my clearly unreal claim humiliate me even now as I think of them. Evidently he recognized at that point that I was crazy. He never attended another supervisory session.”

“The type of therapy—the goals, the expectations, the method—defines failure. In psychoanalysis, the best studied of the therapies, failure has two important faces. One is the therapy that never ends, the <interminable analysis>. The other is the therapy that ends without a full completion of one of the technical dimensions of (psychoanalytic) treatment, namely the resolution of the transference neurosis.” “In most psychotherapies, the transference neurosis is left almost totally untouched. Good results are achieved by minimizing its development.”

“We talked about Arlene Mildred and her father. There were parallels. Arlene had been suicidal for months and was perpetually rejected by her parents. Yet if she killed herself, there is no question that her father would be on the phone screaming threats at me.”

“I feel better (as always) when I work, when I do the work that is my calling. It’s hard to concentrate, but there is relief for me in involving myself with the immediate problems of the living. Now there is something new. I am now haunted by the reality that no one in my care, not my patients, not my family, not myself, is safe from death through my unawareness. The only relief for me is talking into my machine, blindly recording for what purpose I do not know.”

“I recalled today that Mildred had had an illegitimate child and that her parents had condemned her for it; they had disinherited her, had left her with the feeling that in no way could she redeem herself. Now that she is gone, they are going to punish me.”

“But maybe not! Sometime in the late afternoon, sometime after the first woman had comforted me, I began to permit myself to think that maybe they would not sue me. Even now this goes back and forth, now one way, now the other. I know that I will just be waiting, waiting for however long it will be before the letter comes, before the papers are served, waiting and scared and at the same time a little defiant. They are not going to destroy me. I am not going to destroy myself.”

“That’s another strange quirk in this. I can no longer take comfort, as I have for so many years, in fantasies of committing suicide myself. Some recent realizations have convinced me that not only is suicide no longer a possibility for me, but comforting myself with fantasies of suicide is no longer acceptable. How strange, how ironic, that at the same time this door is closed to me, I have experienced the first suicide in my professional career.”

“These are all games. Nothing changes the reality. Mildred is dead. The games I now play to keep other men from judging me, from punishing me for my unconsciousness, for my carelessness, for whatever part is my fault, these games do not seem to me to have much to do with Mildred and me.”

“Tonight Mildred’s parents are busy making the plans and carrying out the procedure of burying their daughter. When they are through, they will come to bury me.”

“She told me that she was responsible for all of the evil in the world. I told her she did not frighten me; I told her, as I have told lots of crazy people, that I would expose myself to her and then we would see whether she was indeed the overseer of all evil. Now she is laughing. I just wish she wasn’t angry. Of all the helpers, all the professionals who have been involved with this young woman over 6 years of suicidal behavior, she saved her act of murder for me. I can stand the laughter, but the contempt, the anger, the hurt to my therapist’s arrogance, that really digs in hard.

Strange that this poor woman and I came together. We were brought together by the impersonal forces of the State. She was covered for her psychiatric care by welfare. I was and am obliged to make much of my living by treating these people. Like many such patients, she did not even pick me. I was picked for her by the good-hearted woman who runs the boarding house where Mildred was sent after her release from the state hospital. This totally untrained person gets the horribly sick, broken souls after they are hastily patched up and discharged from the state hospital. She is understandably anxious to find some professional to take care of her boarders. Many of them are as severely disturbed as any patient I have ever seen in the backward of a state hospital.

From the first time she came to my office, Mildred did not want to see me. In fact, for her first appointment, she refused to come in. I was glad. I didn’t need any more patients. I didn’t need to convince this unattractive young woman that I could help her. So I let her go. But the lady with the burden of taking care of her day in and day out was insistent, and a reappointment was made. Second try: I got her into the office. It was at this time she told me that she was the carrier of all evil. I found something to like in her. Her arrogance regarding evil stimulated my own in a competitive sort of way. I’ve known since I was a kid that no one is <badder> than I am. After that beginning, it was a succession of broken appointments, my happily giving up on her because she was stuck in a hospital in another part of the state, getting her back, working within totally unrealistic limitations of time and money imposed by welfare regulations, step by step to the final miserable result.”

“I was aware, as dawn broke this morning during my run on the beach, of Mildred’s blind eyes that do not see this sunrise. My dream last night was that I was working with some other  people, trying to finish a job. Although I was working hard and felt the importance of finishing the job, I was not frantic. Then I was relaxing with some people, perhaps having cocktails, and a young woman asked me whether I would be giving a language course. I replied, Who, me? Parlez-vous ze Deutsch? Everyone laughed, for I had demonstrated that language was my very weakest subject.

I did not understand this seemingly light-hearted and trivial dream in response to Mildred’s death. Then I went to consult my friend, my guide, Max Zeller (our relationship was called Jungian analysis, or psychotherapy, and I was the patient). Max suggested that we consult the I Ching. This was a beautiful idea. It was the very sort of objective statement that I would be willing to accept. I certainly did not want any more comforting.

I asked the I Ching about the nature of my involvement with Mildred, the meaning of this experience. The answer was hexagram 28, <The Preponderance of the Great>. In this ancient Chinese symbolism was revealed a union of solidness, steadfastness, and joy. My light-hearted dream of last night now makes sense to me. As a student, much less a teacher of the language of the unconscious, I am a rank beginner. My life is the task that must be completed. As the dream says, I no longer work frantically at the task, imagining that I will thus impress the gods or get the job done, i.e., reach perfection. The hexagram also comforts me in my experience of inner peace, my lack of grief. I had feared that this was merely denial on my part, the refusal to feel the expected emotions. But the ancient book of Chinese wisdom suggests that grief and breast-beating are simply not part of this experience.”

“Now it is years later. I never heard another word from Mildred’s parents. The boyfriend who had encouraged her to sign herself out of the hospital against my advice called a couple of times. He mainly wanted to share his feeling that all of us had been bound together by a cosmic experience. I could agree—since he made no further demand on me. I was satisfied that he had forgiven himself as I had myself.

My failure, as I now see it, was in not being aware of the purpose of my treatment of Mildred. This young woman had been in agony for years, convinced that she was personally responsible for all of the evil in the world. She had tried repeatedly to solve both her own excruciating pain and the world’s unnecessary suffering by killing herself. However, she had always been too disorganized, too fragmented to succeed. I had treated her with medication and with psychotherapy so that she finally had the necessary ego resources to carry through a definite act of self-annihilation. My job was to cure her so she could kill herself! My failure was in remaining unconscious, in not being willing to be fully responsible for my part of the therapeutic contract.

I had known for years before this incident that the danger of suicide is greatest during the recovery phase. I knew that I could have legally detained her for a while longer. It would have been a lot of trouble, but it could have been done. The fact is, I just didn’t care enough about Mildred. That’s what was lethal.

I don’t want to slip into moralizing. That has no place in a world that is moving slowly but surely away from judgment, away from manipulation through guilt. I am convinced that my own refusal of guilt in Mildred’s death was the key to my not being punished by society. If we permit guilt to take over, we communicate to others their right to take vengeance on us. Meu satânico erro em quase todos os períodos turbulentos da minha vida: ser cristão demais! Jussara, Maria das Graças, veteranos bobiólogos, até mesmo indivíduos estranhos, conhecidos na véspera… sempre se aproveitaram dessa faceta, tantos rostos descarnados disponíveis para umas pancadinhas, impunemente… Felizmente minha língua e meus dedos, embora em efeito retardado, isso lá é verdade, não seguem ordens ou ditames do “corpo típico” (o que me lembra TÍSICO), se é que se me entende. Aloprados e mais sinceros do que idiotas e bons, eles procedem à vendeta; “fora de contexto” não existe na perspectiva dessas duas instâncias, verdadeiras guias desta carne que transpira. Uma vez, em que não importa quanto veneno a serpente inoculasse eu jamais reconheceria qualquer porcentagem de culpa: Isabel the Unimportant Nóia, leprosa que se filia com os tipos mais tortos e mendicantes, desajustados, dessa Brasília imunda (e por isso me conhece!), não tinha nenhuma razão, mas, ainda pior, nenhuma chance de, com razão ou não, me convencer de minha responsabilidade no incidente que precipitou meu divórcio. Isto não é dizer que esse tipo de pessoa sem conhecimento causal algum tem qualquer ciência socrática de que nada sabe: pelo contrário, uma Unimportant Bell é sempre e perigosamente a “personalidade forte” que carrega uma fé cega, uma autoconfiança ilimitada nos próprios métodos, a pura contingência e falta de método, a vida informe e tosca, não-lixada, torpe como madeira matéria-prima. Estas pessoas são tão fanáticas em seu niilismo inócuo quanto qualquer dogmático tentando reinjetar, atavicamente, tabus e ritos milenares já superados na nossa sociedade protestantemente laica (faz parte do jogo de cena a impressão de que os evangélicos nunca foram tão poderosos, mas é uma força de castelo de açúcar, com dilúvios à vista…). Não temos rigidez e teimosia para levar adiante nenhum propósito que não tenha nascido ontem mesmo, enquanto civilização brasileira pós-moderna. Os mais doidos e inconseqüentes que já conheço há anos, mesmo que sem qualquer padrão real, são os únicos que posso descrever com precisão em seu martelar psicológico entediante.

ATENÇÃO, FIÉIS! NOSSOS PLANOS FORAM ANTECIPADOS PARA ONTEM: “All of my life I have failed. All of my life, I have suffered depression as a consequence. But I would far rather take my punishment as depression than project the responsibility for punishing me out onto the world. Others are not likely to be as merciful to me as my own educated inner Judge. I had a revelation once: There is no judgment on Judgment Day.

Vin Rosenthal

 

“Unlike Joseph K. in Kafka’s The Trial, I know what I am guilty of”

“I am so nervous! I take some Thorazine. (Why Thorazine! Especially when I’ve never taken any psychotropic drug—not even marijuana.)”

“(And now I know what my patients are talking about when they tell of their anxiety.)” Weird. Sempre achei que a descoberta antecedia a profissão!

Were you aware that a contract with a ‘schizophrenic’ often has little binding power?”

 

“The Tribunal gets really hot when it suspects sexual misconduct on my part. The judges are terribly suspicious of anything that looks the slightest bit sexual. (This sometimes is a hard one because they don’t always agree among themselves about what is sexual and about the rules of common practice and the behavior of the hypothetical <reasonable therapist.>) The Tribunal casts its confronting eyes over my writings and challenges me about such statements as follows:

She says: If it hadn’t been for your response to me, your holding me, I don’t think I would ever have come to believe anyone could find me sexually desirable; no matter how long we had just talked about it.

 

I’m amazed and overjoyed. I had picked up her message that she genuinely desired to have me-as-a-person act warmly, lovingly, intimately, with her-as-a-person, but I was uncertain whether I should risk it. Now I can see that by limiting my risk I would have seriously limited her possibilities.

 

My judges are especially wary whenever I Hold a patient.” “they often are skeptical and insist on reading between the lines and beyond what I have written.”

If I sense the person is feeling sexual as a child, I let him know he is safe. If I sense the person is sexualizing to avoid, I try to encourage his getting to his child; if he does not, we sit up and work on it. This is also true if I sense that I am sexualizing the situation. I do not continue TO HOLD a patient if I stay with my sexual feelings”

 

“The Age of Aquarius enables me to avoid detection; no one looks that closely, and whoever does is ridiculed for being <uptight>.”

“What would you have me do? What kind of job would you permit me to hold that would enable me to retain my humanity, use my skills and talents and develop my potential? Remember, my peers are no better than me. The few unflawed noble souls are, wisely, going about their business in an unpublic way; they couldn’t care less. I have to live somewhere, someone has to share my company—otherwise that would be too inhuman a punishment to fit my misdemeanors. Reforming seems like such a difficult, even impossible task. Disappearing feels easier, yet, I’d have to take myself along. I suppose I’ll just go along as I have and hope that nothing happens.”

Lora Price

 

why not just a few?

 

“In the social work profession, close, intensive working together with clients toward personality shifts and problem-solving is called <counseling>. This is a term that suggests <telling> someone what to do as a way to be helpful.” “It is the social worker—the woman—whom the public mind most often identifies as the offerer of the <concrete> service. The intangibles, the profundities, are within the male preserve.” “Sigmund Freud and Otto Rank supplied the educational approaches that dominate the field. When I was in graduate school the faculty was overwhelmingly female. The course in psychological theory was the only one not taught by a social worker. Instead, the instructor was a male psychiatrist with a faculty appointment as <consultant>.”

“Even those social work agencies most heavily invested in offering counseling rather than concrete services rely upon regularly scheduled psychiatric consultations to determine and consolidate diagnosis and the direction of treatment. When I was a caseworker in a family service agency, it was a male psychiatrist who was hired to offer his expert opinion on a weekly, one-hour consultant schedule. There were only one or two caseworkers who could <present> within this frame.”

“Mistakes or therapeutic errors (although they were not so designated) were to be kept <in house>. This was a familiar and oft-taught lesson.” “The case supervisor, my supervisor, and I would all sit there chatting amiably, awaiting the arrival of the psychiatrist. He always came late because his schedule was so busy. All four of us would then engage in seeming accord as if there was only one way to work with my clients, one direction for me to follow. Because my submitted materials reflected only that I knew exactly what to do, we could then all bask in the aura of certain knowledge and perfection.”

“Making one’s way is equated with manipulation and control. Although the kernel of this truth first became evident in my work in a social work unit (a family service agency), it was even more glaringly so when I began working in mental health facilities. Ironically, these are considered the apex of clinical social work placements because of the opportunity they offer to do counseling—or therapy—without the impediment of the concrete service traditionally found in social work agencies. I had decided to go this route because of my wish to work with clients more intensively and knowledgeably.”

“When I applied for the job I wanted, I was turned down by the woman who was the Chief Social Worker. She said I was too inexperienced and would make too many mistakes. Besides that, I had been trained as a Rankian and obviously would not fit in with the Freudian approach of that particular clinic. She knew that my being there would <embarrass> the social workers who needed to keep up with (if not be better than) the medical staff. The chief of the service was a male psychiatrist. I saw him next. He was pleased to maintain his position in the ongoing struggle by overruling her and hiring me. In any case, he could not conceive that anything I would do could be that important. He knew that it was the doctors who ran that clinic.”

“the <family> was considered to be my area of expertise. The people I saw were labeled <clients> in deference to their secondary standing in the treatment matrix.”

“In my mind, women were less likely to be accepted into medical school than men, and girls were not as skilled as boys in dealing with prerequisite subjects such as science and mathematics. Also, becoming a social worker consumes less time and less money. Clearly, expending less energy befits a profession which is only of secondary importance.”

“Away from my clients I wept copiously. With them, I insisted on appearing intact and untroubled. I feel embarrassed now by my complicity in perpetuating their assurances that I could be perfect”

Arthur L. Kovacs

 

Presented at the symposium Critical Failure Experiences in Psychotherapy, Division 29 Midwinter Meeting, 1972.”

 

“I now know that this formulation is nonsense. What we do with our patients— whether we do so deviously and cunningly or overtly and brashly—is to affirm our own identities in the struggle with their struggles. We use them, for better or worse, to secure precious nourishments, to preserve our sanity, to make our lives possible, and to reassure ourselves in the face of that ineffable dread that lurks always beyond the margins of our awareness and can be heard as a very quiet electric hum emanating from the depths of our souls when everything is silent.”

“In this way, we can use our training to utter comfortable lies to ourselves and to avoid looking at the processes by which the persons we are either catalyze or defeat those who move in communion with us.”

“…what? Disaster? Chaos? Stalemate? I do not even know the right word to describe the outcome.”

“Part of me needed a persecutor, and Gwen supplied the potential to play the part.” “When I no longer needed to be persecuted, we somehow parted.”

“subjective time is always more important than objective time”

“Gwen came to see me because she had begun to experience severe anxiety attacks in school. Most of these were evoked by encounters with her psychology instructor, a married, middle-aged man. She was convinced, in her own paranoid fashion (to which I was unutterably blind in the beginning), that he was making seductive, obscene, and shaming gestures toward her continually. When he discussed masturbation in his lectures, she believed he was shaming her before the whole class, accusing her and revealing that she was a masturbator. She would blush, feel terrified, and have to leave class. Gwen was frequently aware of his genitals bulging in his trousers. She often believed he dressed in a fashion to accentuate them and positioned himself in such a way as to exhibit his endowments to her. When he talked about sexual matters, she <knew> he was lusting after her. I need to make it clear that, as I do so often, I partly trusted Gwen’s craziness and indeed believed there was something in the instructor that longed for her. She was, I must repeat, deadly cute.”

“When she returned to her next appointment, she was furious with me. She screamed at me that I was a rotten fucker, that I had sent her to her humiliation, that I took sadistic pleasure in teasing her. The force of her violence was incredible; her features contorted into a malevolent hatred that I have seldom seen. For the first time, I sensed the presence of some awesome murderousness in her, and I felt frightened. The pitch of her screaming was louder than I had ever heard. I believe, and still do, that the instructor had manipulated her and given her a dose of clever poison to choke on as he protected himself from her paranoid wisdom. I tried to get her to hear that. Her ears were closed by the noise of her own anguished, vicious screaming. She broke out of my office, fleeing from me and from her rage, almost wrenching the door off its hinges—although she probably does not weigh more than 95 pounds [43kg].”

“My beliefs, inflicted on Gwen and most others who opened themselves to me, were my armor, my sword, and my shield at that time of my life.”

“The next many months Gwen found exquisite ways to torment me, even though I could not get her to come to my office. She began, for example, to call me, usually around 3A.M.. I would stagger out of bed to answer the phone. There would be an ominous silence, then a loud screaming, You goddam piece of shit! I want you to die! or something equally vicious and abusive. Suddenly the phone would be hung up and it would be over until the next time. I believed then that my life was in the grip of some malevolent, overwhelmingly crushing principle, for Gwen’s timing was exquisite. Most of her calls occurred at times when I felt too weary, too battered to stand one more moment of anguish in my life. My struggle to build a new existence was beginning to consume me. Most of those nights I had fallen into fitful sleep after lengthy episodes of bitter acrimony with my former wife or of crying desperate tears at having to cross such a limitless desert alone. Gwen’s calls would cause me to start up from steamy, sweat-rumpled sheets in terror; I did not feel the strength to deal with her.”

“At last, after an absence of 4 months, I finally received a daytime call from Gwen. She asked to make an appointment! When she came in, she told me that she had been thinking about her therapy a lot and that she felt she wanted to enter group therapy. Having others around would, she believed, keep the 2 of us from getting into terrible trouble together. (I often notice patients possess incredible wisdom, if we would only listen!) I also, as did she, wanted and needed to dilute the horrible intensity of what had been transpiring between us. I readily assented, and Gwen started group.”

“In her middle adolescence, Gwen’s stepfather had a psychotic episode, preceded by a period of great violence during which he brandished a pistol repeatedly, screamed at his family members often in desperate viciousness, and engaged in great, raging, hallucinatory battles with his wife—during which he sometimes bloodied her or broke her bones—before he himself finally went to a psychiatric hospital. Gwen trembled violently as she remembered and related these things. During this period of treatment, also, Gwen got herself a job as a secretary, decided to attend college at night, and moved into her own apartment, separating from her family for the first time in her life. And I felt smug, pompous, and marvelously effective as her therapist. What an ass I was!”

“Once I was working with another patient. The other patient was pouting, sullen, withholding. She had come up to the edge of something and now sat stolidly, defiantly, unyieldingly. I became exasperated and started shaking her. The next thing I knew, Gwen threw herself on me, fists flailing, screaming You fucker, you fucker! It took 10 people to pry her off of me. I was very shaken.

Another marathon. Days, months, years—I do not know how much later. I had taken 20 patients into the Sierra Nevada. We were camped out in a snow-surrounded, glacial-scoured, lake-filled paradise. I had asked a woman along to share my sleeping bag at night. As I look back, I now feel ashamed of my choice. My companion was young and very pretty but had nothing more for me than sexual compliance. For this she wished to present me with a large number of emotional demands. At that period of my life I was desperate for any crumb of nourishment, did not appreciate my worth, and would hunger after anyone I believed would have me. We fought a great deal that weekend. Gwen kept watching the two of us balefully. During the 2nd day, she asked the largest man in the group to restrain her physically while she talked to me. He did so, and once again she shifted gears into her screaming viciousness, calling me a piece of shit, a motherfucker—any obscenity she could muster. He held her so she wouldn’t hit me. She struggled hard to get free while she vilified me. The gist of her tirade was, of course, that I was a moral leper, a vile sensualist, and a user of people.

As my first marriage continued to die and as I searched for the goodness I so longed for, Gwen became somehow in my mind the world’s representation of the established moral order. She had been selected to make me suffer for my sinful attempts to make a new life. The night calls and screaming at me over the telephone continued, usually when I could least bear them. Incredible vituperation also spilled out of her in group each week.”

“Weekends are always terrible when marriages are dying.”

I want her dead! I suddenly knew it and began to fantasize the myriad ways I could kill her. I danced exultantly over her broken corpse. Her life must end so that mine could go on! (…) That shitty, stinking little cunt-bitch! I arrived at work trembling in fearful awe over the intensity of my own murderousness. That night in group my patience was exhausted. The 2 of us got into a screaming battle with each other. I told her how I longed for her to die. We traded insults and murderous fantasies. I felt momentarily better.

Another night—weeks later. I am talking to someone else about masturbation. Gwen’s paranoia flares up again. She accuses me of sitting with my legs apart to compel her to stare at my crotch. She insists that I am talking about masturbation to shame her. She yells that I should get it straight once and for all that she does not masturbate. I get furious. I tell her that she is a stupid little bitch. I tell her she is 20 years old and that it is time she started masturbating. I describe to her how to do it and order her to go home and carry out my instructions after group. I add that I never want to hear anything about masturbation from her again. She becomes silent. Finally, I start searching my heart about her accusations. I tell her that they are partly justified, that when I first met her I had indeed tried her on in fantasy as a possible lover. I assented that I had probably teased her provocatively and flirted with her in subtle ways. I admitted to her the crazy desperation that seized most of my life then, the hunger to be at rest in a good woman’s arms. I added that my fantasies about her had died, though, soon after my getting to know her—that she was not my other half, nor what I needed for me. I said that I regretted that fact. I believed that my inability even to imagine her any longer as a partner to me was a sad tragedy. I felt forlorn as I talked to her. I closed the group by expressing my wish that a day might come before either of us were dead when once again she could stir me in such a way as to invoke in me imagery of her being my woman. I knew that that would be a sign that something profound had happened to each of us.

Early the next morning, Gwen called. She asked if she could have an individual appointment with me. I had a cancellation that afternoon and readily assented. At the appointed hour, I opened the waiting room door. Her face was contracted with rage. As she walked by me, she slapped my face. When we entered my office, I asked her what the hell that had been for. She screamed that I had exposed, shamed, and humiliated her in front of her friends in group. Then she went berserk and threw herself on me, trying to claw my face and spitting at me as we tussled. We crashed to the floor, spilling furniture and books everywhere. I finally subdued her, and as she began to feel the assertion of my strength and control she murmured between clenched teeth: Go ahead, you bastard. Fuck me. I told her I wasn’t interested. She began to sob convulsively. I had never seen her like that. She was suddenly very little and helpless, a 3-year-old who had been running around in murderous fury, trying to pretend that she had adult competencies lest the world penetrate her disguise and annihilate her. An image is indelibly burned into my awareness: the two of us sitting there on the floor in the midst of the rubble of my office, Gwen sobbing helplessly in my arms, my rocking her and feeling rubber-kneed and weak from the awe and fearfulness of what we had just experienced.”

“She began describing her stepfather coming into her room one night. Gwen stopped, flushed, went incredibly tense, and would not go on.” “My instructions to her to enter into a dialogue with the half-fantasied, half-remembered shade of that man on that nameless occasion precipitated a kind of trance-like state. Gwen became 14 again. She relived and reproduced what I knew was in store for all of us—her stepfather’s feared, longed-for, luscious, tormenting, lacerating, hungering attempted rape of her that awful night of her memory. Who knows whether the events were real or not? I still do not. But their reality was powerful that evening she described them to us.”

“Her tear-drowned eyes remained closed. I picked her up and rocked her as I would my own daughter. At first she drank me in. Then I felt her stiffen. I knew intuitively what was happening, and I said to Gwen, No, I don’t have an erection. She realized it too, at the same time, and turned to rubber once again in my lap. Yet, at that moment, I sensed our relationship was doomed and hopeless. If I held her at some emotional distance to placate her longing, terrified struggle over being penetrated, she would rail at me for being no help, disinterested or worthless to her. If she captured my attention, and I started to move closer to her, I would become the bearded satyr—too exciting, too forbidden, and too dangerous to deal with. Either way the end result was an outburst of fearful hatred. I talked to her often about this frustrated, impotent dilemma into which she thrust me. It never did any good.

Instead, Gwen began to separate from me. She started to come to group less and less. At first I felt comfortable with this, for the events of her life demonstrated a thrust toward increasing competency and mastery. She received a significant promotion at work. She separated from her boyhood lover and began to explore the possibilities of loving a much more capable man a few years older than she was. (…) One day she called me to ask me for a referral. A friend who did not have much money wanted to enter therapy and asked her, so she said, for the name of a good clinic. I provided this to her, and I added that the friend should ask for Dr. X, if possible, at that agency for I knew he had a good reputation. Three months later I found out, when Gwen began to talk matter-of-factly about it in group, that it was Gwen herself who had gone to see Dr. X and that Dr. X had begun seeing her, not at the clinic, but in his private practice!”

“She finally mustered the courage to tell her new lover that she was falling in love with him and to ask him for more of himself than he had been willing to give her thus far. He smiled, told her that she was a sweet thing, but that all he wanted her for was an occasional night in the sack. He laughed delightedly at her precious gift of her avowing that she wanted him, and he went to the refrigerator to break out a bottle of champagne. Gwen went berserk, tore up the man’s apartment, and forced him to throw her out bodily. She then came to group the next week, started up her screaming machine again, complained that I was an evil monster who ruined people’s lives, and stormed out of the office. I did not see Gwen again for three months. I was relieved. I thought she was gone forever, and I was happy. I had at last left my previous life, was living alone, and felt joyously in love with the woman who is now my wife. Gwen’s seeming departure was a mystical sign to me that my perilous journey was at last over and that I would be able to rest in my wife’s arms, exhausted, ecstatic, and optimistic about what we were beginning to build.

Much to my surprise, Gwen signed up for a weekend marathon [!] I held the next January. My soon-to-be wife accompanied me on that occasion. As I relive those moments, I remember how Gwen stared at the two of us in hateful envy. She detested my happiness. She tried to interfere, with sarcasm and cruel mockery, in any work I attempted to do. I finally stopped everything to contend with her. I was quaking with tension. After Gwen played many screaming broken records over and over again, I asked her what the hell she wanted from me. To my astonishment, she softened and asked to be held. Haltingly, I agreed. She came and sat next to me. I put my arm around her and she leaned against me, but I felt some kind of stiffness and unyieldingness in her manner and bearing. I told her I missed the vulnerable child she had—on a precious very few occasions—allowed herself to be with me. My wife, in her usual marvelously intuitive fashion, saw the look in Gwen’s eyes and began to speak to her of her own struggles with pride and envy. They swapped tales of being children, of longing for good fathers, and of all the turmoil and fear such longings create. My wife urged that Gwen be resolute in searching for what she wanted and that she not allow her fears of other women’s retribution to turn her aside from her quest. Gwen softened and allowed herself at last to surrender to being held. Later in the night one of the women in the group asked Gwen for permission to, and indeed did, feed her from a baby’s bottle. [Ah, kleinianos!]

Gwen then disappeared from my life. Once in a while I would get a phone call from her complaining bitterly about the cold, cruel, and vicious treatment she was receiving at the hands of Dr. X. I urged her each time to discuss her grievances, real or imagined, with him and told her she was always welcome, if she wished, to return to group—that many people missed her and asked about her. Last June, I got a call from her again. She and Dr. X had gotten into a fight, and he had thrown her out of therapy, saying that he was sick of her vicious bitchiness, would not put up with it anymore, and was not going to see her again. Gwen sounded crazy and frightened on the phone. I began to get anxious.

Two weeks later I came into my office and found it at shambles. All my books had been thrown on the floor. The furniture was overturned. Papers had been ripped up. A cover from Time magazine, the one with Jesus Christ Superstar on it, had been ripped off. A knife, thrust through the face of Jesus, impaled it to my couch. I knew immediately who had done it, and I began to fear for my life. Then Gwen called and asked for an individual appointment. I refused, telling her that I was afraid of the violence in her. I urged her to come to group so that we could talk where we would both be safe. She screamed at me and hung up.”

“Three weeks later, a fireman came into my office. Gwen had been gathered in off the roof of my building after having threatened noisily for an hour to jump.” “The physician in charge called me. He said Gwen had confessed to him it was the 3rd attempt she had made on her life in 48 hours.”

“The mother reported that Gwen had assaulted her parents and her father’s psychiatrist during the past week. I begged the mother to have Gwen hospitalized. Instead the mother screamed at me for being <one of the fucking Jew-doctors> that had ruined her daughter’s life. Screaming in fury, she told me she was going to take Gwen home. For the next 3 weeks I walked in dread, not knowing whether Gwen was alive or dead, not knowing if she would come at me out of some other dark night, this time with a weapon.

Late in July, Gwen called again. She asked for an appointment. For some reason known only to my sense of the uncanny¹, I granted her request. I was terrified, but I needed to confront some primitive dread in me. I was sick to death of being a person who always ducked bullies and fled from the possibility of violence. She would be the occasion for me to confront me.”

¹ Referência freudiana

“She related to me that she had made appointments with 8 different therapists in the past 4 weeks and had physically assaulted all 8 of them and fled.”

I guess I’ll live. But I don’t think I’m going to go on with therapy.”

 

“As she disappeared down the hall she smiled bravely and called out over her shoulder, You’re the only one who always lets me come back. I have not seen or heard from her this past 3 years.”

“Gwen served me well as my vicious companion at a time I needed one. The impress of her being will always be with me.”

Hobart F. Thomas

 

“On several occasions I have experienced deep feelings of love and/or sexual attraction for clients. At other times I have felt and expressed feelings of irritation and anger. None of these emotionally charged situations, however, seems to provide the devastating frustration of those in which no truly personal contact occurred. I am recalling the long and seemingly fruitless hours spent with depressed patients in mental institutions, which seem to put one’s faith in a therapeutic process to the ultimate test.”

“Perhaps the toughest experiences of my career were the days of attempting to practice before I myself had undergone personal therapy. I had mastered the knowledge, techniques, and procedures well enough to obtain a clinical Ph.D., but the heart and guts of the process were missing. Bizarre as it may sound, I even recall on more than one occasion actually envying the experiences of some of my clients in therapy.”

“Approximately 4 years after completing a doctorate, I entered personal therapy. Reasons for the long delay are not easy to determine. In spite of episodes such as the above, I seemed to be endowed with sufficient ego strength to keep the show going. Besides, I was not convinced that the Freudian model and many of its practitioners, who represented the bulk of my exposure to clinical practice at the time, were the answer either to my own or to the world’s problems. It was then, and is now, my conviction that one best chooses a therapist out of some deep intuitive place, and one can do no better than to follow one’s feelings when making such a choice.”

Bouts with the perfection monster”

“Being <analyzed>, at least in the circles in which I traveled at the time, also qualified one for membership in a rather exclusive club. A part of me wanted to belong, to be accepted, to be part of the action. Another part, for whatever reasons, refused to join up and pay the membership dues.”

“Ironically, my impression is that, currently, the Jungian school is considered more <in> [fashion] than the Freudian. At the time, such was definitely not the case.”

“What if all of a sudden I can’t function?”

 

“The outer drama in which therapist and client each play their respective roles continues, apparently without interruption, until the end of the hour.”

“The experience of panic occasionally recurs, sometimes in the consulting room, sometimes while teaching a class, or sometimes during seemingly ordinary conversation—usually, in each case, when I feel pretty much in charge and everything appears to be running smoothly. (Another clue here, perhaps?)”

really plays well for his age”

 

“We need not always stand alone.”

Look, Mom, I finally made it!”

 

“My hunch is that the state of panic is a corrective, devised by my wiser Self to help put things back in the proper perspective—a real therapeutic kick in the ass to remind me that I’m not God.” My hunch is that my panic is for me to saying Farewell, father!

“it is essential to know how to let be.”

that’s all: [be] midwife. You can relax.”

“My perfection bogey-man stays with me a good deal of the time, however. Having experienced that paradisaical state of Being, I do keep searching for ways to get there and stay there. Even when I appear to be laying back, I’m trying—trying to do, trying not to do. And, too often, in rushing to reach home I forget to smell the flowers along the way.”

NO, NOT FREUD: “When my own therapists revealed themselves to me as persons, not gods, I soon realized that human imperfection has about it its own particular beauty.”

Joen Fagan (mulher – informação relevante para um dos casos que ela irá contar!)

 

“One of my oracles is the dictionary. Built into the derivation of words and the range of their meanings is a cohesion of human experience. So I asked Webster the meaning of naked, and found my eye pausing over and returning to <defenseless, unarmed, lacking confirmation or support.> As I sat, feeling my way into these meanings, I remembered William.”

“He sat in the front row, nodding at the right times and laughing at my jokes, behaviors much appreciated by a teacher.” “You know so much about this; don’t you think…?” or “Why wouldn’t it be true that…?”

“I was lonely, but people had to press against me to become friends; even though I needed and wanted them, my reserve and hesitancy took some broaching. It was the same with students who had asked me to counsel with them. They had to persist past my uncertainty and self-doubts. So I accepted some intrusiveness and tolerated my discomfort with him without firm limits or comments.”

Did I think he needed to go back into therapy? Did I think he was crazy? His father had said that to him this week. His wife had told him that too. But he thought he was doing well. Would I see him for therapy?

No, William.

Why not?

You’re not finished with Carl. Besides, I won’t see students who are taking courses from me for therapy. (Avoiding saying, of course, that I doubted my ability to handle him or that he was too manipulative.)

Well, will you have lunch with me? Why not?

He was becoming a nuisance. Once, as he got up to go, he suddenly leaned over and tried to kiss me. I was angry then and told him so.”

“Did I think he was crazy? He had been hospitalized before. What did I think? <I think you’re bothered about a number of things and should go back and see Carl.>

“Anyway, in another week summer vacation would start, and 3 months away from the college would solve the whole thing.”

“The next morning an envelope was in the mailbox at my house; it was a somewhat confused but humorous letter from William saying he had decided to spend the summer in a nearby public park and inviting me to join him.”

“The next day there was another letter, more angry and threatening, with some sexual allusions that were immediately denied. You know, of course, that I’m just kidding. I love you and wouldn’t hurt you or do you harm. I began feeling frightened and did not sleep well. The letter the next day was even more threatening. If you won’t see me, you won’t see anybody. I want you and I’ll get you.

“The father called me later that afternoon to say that he had found William and had had him admitted to a psychiatric ward. My relief, though, was short-lived. Letters now started coming through the mail, openly delusional, abusive, threatening, and sexually blatant. Again I waited and did nothing, not knowing anything to do. Should I contact his unit? Or him? Or his father? To do what? Say I was scared? Then his father called again. He thought I might want to know that William had escaped from the ward.

There was a paranoid somewhere in the city and I was the center of his delusions. Several days of extreme anxiety. I put chain locks on my doors and jumped at noises. I remembered a patient at the hospital where I had interned, who, ten years after his last contact with a former female therapist, still maintained a similar life-focusing preoccupation with her. The hospital viewed him as sufficiently dangerous to call and warn her when he escaped”

“I remembered other threats to therapists and attacks by patients, and I frantically found work to do and friends to be with.”

“Shortly after that an FBI agent called to say they had investigated the forgery at the request of the bank but did not recommend pressing charges since William was now in the psychiatric ward at Bellevue. Again, relief.

Once every few months a postcard came, and one time, a box of candy on Valentine’s Day. He might no longer have been paranoid, but I was; thinking there was a chance it was poisoned, I threw it away. The sight of the neat, familiar writing could still evoke anxiety, but the cards came less and less frequently until finally a year or more had passed with nothing to remind me of him.”

Do you know that you saved my life?

No, William, I didn’t know that.

 

He stood up, went to the door, paused, said goodbye, and left. I realized that I had no idea what he had meant.”

“Do you know, William, how much you taught me about the impossibility of running?”

Barbara Jo Brothers (e sim, é só uma pessoa)

“I am caught. There is no way my vanity will let me avoid rising to the challenge, no way I would decline contributing to this book…but knowing this as my personal dilemma: the risk of exposure of a place inside myself—a place I have found virtually unbearable… a place I have virtually given my life to protect.”

“When I met Jerry, I was in the first month of my first clinical job, armed with my degree and with all of the accompanying mixtures of zeal and anxiety. There was Jerry. Transferred to the local state hospital’s adolescent unit because his family’s funds had run out (after 9 months of psychoanalysis and private hospitalization), Jerry was as crazy at that point as he had been 9 months before. I had known his analyst, so I knew a bit of his history.”

“In my youthful mind, if one of the best analysts in town was giving up, I was already expiated from whatever penalties of failure might ensue and from the awesome demands of Knowing-What-I-Am-Doing.

Jerry and I did well. Then one day the hospital decided to discharge him, prematurely in my judgment. I sent him to what I considered to be the best mental health center in town and tried to tell myself something to make the  uneasiness a little easier in my hither-to-relied-on gut.”

“My own therapist comes in, tries to look like a doctor, takes my pulse. <Are you depressed?> he says. I reply, <I’m too sick to be depressed. Come back in a few days and I might have a depression for you.>

“We had lost our connection after my discharge. I had referred him to the best therapist I knew in community out patient mental health clinics. He was re-hospitalized. I vehemently protested when hospital policy dictated that he not be admitted to my unit simply because of having had one more birthday since his discharge [ultrapassou o limite de idade de sua clínica]. I might have conquered death, but I was not going to have an effect on the monolithic mental ill-health system. He went to the adult unit and killed himself while out on pass.”

“Exposure, expression, mistake, all are cyclical. My exposure is beginning to sound like my salvation. That which I fear most seems to serve my best interests most powerfully.”

I dodge and twist and evade.”

Carl Whitaker

 

“Before antibiotics, treatment of gonorrhea in the female usually consisted of months of hospital bed-rest. The Green Girls were locked in a big ward on top of the hospital in the middle of the East River. It was my job to try to keep them from becoming overly excited in order to prevent flaring up of the infection that had gotten them arrested and imprisoned.

It was a strange flip for a religious country boy to end up dealing with Broadway chorus girls. They wanted to have their operation by our own gyn department because we used a special incision below the hairline. That way they could go back on the stage and not be laughed at for exposing their surgical scar.”

I saw this big white polar bear sitting on the bed, and I knew he wasn’t real, but I had to call the nurse because he looked so real.”

 

“As I learned more about the vivid experiences of psychosis, I rapidly lost my interest in the mechanical carpentry work we call surgery.”

“A patient who was mumbling to himself explained that voices were calling him horrible things and saying that he had intercourse with his mother. I said, ‘That must be very upsetting,’ and he waved me off with, ‘Oh, no, they’ve been doing that for years, and I don’t pay attention anymore’.”

“Later I talked with an 85 year-old man who came in for molesting an 8 year-old girl. When I met the girl, who looked like a professional actress fresh out of Hollywood, it made huge gashes in my fantasy of what life and people were all about.”

“This call of the wild, the agony and ecstasy of schizophrenia, of the whole psychotic world, ballooned inside of me.” “The magic of schizophrenia, that Alice-in-Wonderland quality of spending hour after hour, sometimes all night long, with a patient whose preoccupation with delusions and hallucinations made him as fascinating as yourself, was matched by the mystery world of play therapy.”

“My discovery of Melanie Klein and her beliefs about infant sexuality was like a repetition in depth of my earlier discovery of the psychotic world.” Oh no, not this bitch again, defenestrate her, from the fifth flour, please!

“my first introduction to psychotherapy was by way of the Philadelphia social work school’s form of Rank’s process thinking. I became more and more intrigued by what brings about change. There was an 8 year-old boy who hadn’t said anything since he had whooping cough [coqueluche] at age 2. I spent 6 months seeing that boy once a week while the social worker talked to his mother upstairs. He never said anything to me either, but we threw the football out in the yard. He did listen to me talk about him. I finally gave up and admitted I couldn’t help. He and his mother went away disappointed. I thought I’d had it with psychotherapy until we got a call back 3 weeks later saying he’d started talking.”

“It became more and more clear that medical students were divided into those who didn’t know how to be tender and those who didn’t know how to be tough. How difficult it was to teach either one to have access to the other. I didn’t really know I was merely talking about myself for some years, but I did discover the joys of working with delinquents. That power! I always thought of them as Cadillacs with steering gear problems, whereas the neurotics we saw in the medical school clinic were like old Fords that were only hitting on two cylinders. Looking back, I often wonder how many of the delinquents stole cars just so they could come back and tell me about it.”

“As a matter of fact, for the next 3 or 4 years I bottle fed almost every patient I saw—man, woman, or child; neurotic, psychotic, psychopathic, or alcoholic—and with a high degree of usefulness, if not success. It was only some time later that it dawned on me that it wasn’t the patient who required the technique, but the therapist. I was learning to mother, and once that was developed I couldn’t use the technique anymore.”

“I didn’t even know then that co-therapy was a secret system for learning how to talk about emotional experiences. It allowed you to be able to objectify a subjective experience shared with someone else.”

I eventually left to work in Atlanta, where we discovered in those early days that the baby bottle was a valuable way to induce regression in the service of growth but that fighting was equally valuable. Just as the baby bottles spread from one to another in our staff group of 7, so the fighting moved until we were apt to be involved physically with almost every patient in one way or another. The intimacy of physical contact—of slapping games, of wrestling, and of arm-wrestling—became a part of our discovery of our own toughness.”

“By 1946 we had 3 daughters and 1 son. The problem of trying to be an administrator and a clinician had exteriorized a lot of my immaturity. When the stress in the hospital and medical school got high, I began to precipitate myself into psychosomatic attacks with cold sweats, chills, vomiting, diarrhea, and a half day in bed. Cuddling with my wife resolved this, but I went back into psychotherapy to help develop confidence in preventing it. Living with our own children also convinced Muriel and me that the only <unconditional positive regard> in this world comes from little children.”

“It was clear to us that the reason people work with schizophrenics is that they want to find their own psychotic inner-person, which is known more and more as the right brain—that nonanalytic total-gestalt-organized part of our cortex. We struggled over the schizophrenogenic mother and over whether the father himself can create schizophrenia. All this anteceded systems theory, which made it clear that it takes a family system (and more) to originate such a holocaust.” Quanta inocência, diria Deleuze…

“The craziness that had overlain her arteriosclerosis of the brain had long since faded into the background. She just ate and slept and smiled and went to the bathroom. But the family still loved her and still enjoyed being with her. They had not turned away from her because of her failing health.”

“It seems that the initial therapist is contaminated with all of the usual problems of being a mother: He’s all-forgiving, all-accepting, and minimally demanding. In contrast, when the consultant comes in for the second interview, he turns out to be very much like the father: He is reality-oriented, demanding, intellectual, much less tempted to accept the original complaints or the original presentation, and very much freer to think about what’s being presented in a conceptual, total gestalt manner.”

“The Atlanta clinic was our private world, and the sophisticated world of a psychoanalytic organized group left me with uncertainties, awkwardness, and the temptation to be isolated.”

“The initial phase of working with the family demands a coup d’état, in which the therapist proves his power and his control of the therapeutic process, thus enabling the family to have the courage to change their living pattern. Other concepts, such as the importance of the detumescence of the scapegoat [resolução, desinchação – conotação cancerígena] or surfacing other scapegoats in the family, spreading the anxiety around the family, and the necessity of using paradoxical intention to reverse the axis of responsibility so the family would carry the initiative for their own change, all were picked up from the residents when they were working with families as co-therapists.”

“One of the covert changes that I experienced was my increasing conviction that everybody is schizophrenic. Most of us don’t have the courage to be crazy except in the middle of the night when we’re sound asleep, and we try to forget it before we wake up. I became more and more courageous in my advancing years and tenured role, and I began to use the word with greater nonchalance. During the first 6 months to 1 year, it was quite a shock, but after that it became gradually more and more accepted, at least in my own head.”

“There is being driven crazy, which means that one’s malignant isolationism¹ is brought about by being forced out of one’s family. There is going crazy, which, in the case of falling in love, is a delightful experience, although very frightening. Going crazy also takes place in the therapeutic setting, where it’s sometimes called transference psychosis, much in the same way we talk of transference neurosis [still two words that can’t make sense]. And then there is acting crazy—the crazy responsiveness of the individual who has once been insane and who, when under stress, returns to that state of being even though he’s not out of control in the same way. He’s like the child who has just learned to walk. If he gets in a hurry, he’ll get down and crawl on his hands and knees, even though it’s slower.”

¹ O que será que quer dizer? Meu caso? Vivendo com 3 idiotas cada vez mais incapazes de me entender e na verdade cada vez mais decorativos (1988-2017), de repente meu corpo se rebela e diz: CHEGA, VOCÊ JÁ SUPORTOU DEMAIS! ACABOU SUA AUTOIMPOSTA EXPIAÇÃO! Mas quer dizer que quem fritava a batata, no fim, eram eles… Consolador!

“the quasicraziness that happens in social groups”

Alex Redmountain (“Despite his name, he is not an American Indian, but, rather improbably, a Jewish-Slavic refugee of World War II.” – Kopp)

 

The affliction is self-love, narcissism, a narrowness of vision that places everything outside oneself at the periphery. Though it appears open and seeking, it makes learning very difficult. Stop reinventing the wheel, I was told; I finally did, but since no one told me to stop reinventing the compass, and sextant, and steam engine, I kept on doing that for quite a while.”

“Out on the street, the therapist is like a hooker who’s been thrown out by her pimp. There’s no security, no status. You’re surrounded by a dozen other hustlers, each selling some exotic solution to life’s problems: astrology, card reading, Scientology, revolution, a quickie in the back of the Dodge van parked across the street. Psychotherapy looks like just another fast fix, a way to set the pain aside momentarily or to pretend to an inflated self-importance. And often it is.”

“I am a clinical psychologist, traditionally trained, and I was still doing the usual clinical psychologist things: testing, individual and group therapy, supervision, formal consultation. But I was getting restless, found it hard to stay within the confines of the clinic where I saw my patients. Little by little, mostly by self-invitation, I cultivated a street beat through familiar geography: free schools and open universities, gay people and street people, adolescents of infinite variety and the many species of chicken-hawk who prey on them, alternate enterprises of every ideology imaginable, and a total spectrum of lifestyles. It seemed like a great opportunity for checking out the barriers. It was also a great opportunity for, as we used to say in The Bronx, getting my ass handed to me—as in the sentence, When I hand you your ass, boy, your head is gonna fall so low you’ll be looking up at roach shit [cocô de barata].

“Basically, I’m a middle-class grown-up with slightly rebellious inclinations; the one time I was impulsive enough to drop out of school, I joined the U.S. Army and was promptly dispatched to die of boredom in Korea. The setting for my street-shrink activities was a deteriorating, exciting, but not especially dangerous or sinful neighborhood in a large Eastern city. It was exciting because of its variety: its residents encompassed all ages and classes, at least 3 races, and 12 ethnic groups; Maoist food <collectives> operated on the same block with 30 year-old Mom and Pop groceries; soul music blared from one record shop speaker while salsa and bomba rhythms leaped out from another around the corner; store-front churches rose from the ashes of revolutionary Trotskyite print shops—and vice versa.”

“Another source was the illusion of being a savior, a reconciliator loved by all. When I walked around the neighborhood, greeting militants and leftover flower children, precinct captains and self-actualization addicts, I imagined myself a combination of country doctor and masterful statesman, healing rifts both psychic and physical as I passed on through. And in the best Lone Ranger silver bullet tradition, I dreamed of encountering evil, overcoming it, and riding off toward the foothills and the setting sun—all within the 30 minutes normally reserved for the radio serials of my youth.

This kind of delusion wreaks havoc with the long-distance running qualities usually required of the psychotherapist. It also helped me suppress some doubts about my own endurance. With every new patient I took on in my public practice, I wondered: Can I really last the journey? As the complexity of every individual unfolded, I worried: It may be just too hard, too long, too draining. What if I want to run off and fast alongside Cesar Chavez [uma espécie de João Pedro Stédile] in the lettuce fields? What if I decide to go to Harvard Business School so I can destroy capitalism from within?

“I’m there in 20 minutes. Who said that house calls were a thing of the past? Upstairs I can hear crunching and smashing noises. Down in the <parlor> 8 resident runaways and 2 counselors mill about, looking worried, indifferent, scared, sullen—depending on whom you are looking at.” “a monstrous teenage version of an NFL defensive end, 6 foot 6, at least 240 pounds. He is methodically ripping apart the wooden bunks—the bunks that my friend Joe put together over a couple of weeks of unpaid labor, after his unemployment ran out! I am outraged.”

Sally greets me with a strange, playful look in her sensual eyes. (Whoops, it’s hard to keep lust and hubris clearly separate.) For many reasons, Sally is one of my favorite counselors.”

Shrink é uma gíria suburbana para psicólogo ou psiquiatra.

God works in mysterious ways, said Sally, having been raised a brimstone Baptist and never quite given it up. I had to agree. I often had the feeling, when I was doing therapy, that anything I said would work: insight, catharsis, epiphanies would follow some inaudible inanity from my mouth. At other times, when I thought I was being wondrous wise, my words fell as flat as a swatted bug. It all has to do with chemistry, or radiation, or smell. Or something. Before I knew that, I sometimes took the calling of therapy very seriously indeed.”

Because I think it’s just an ego trip. I don’t even call myself a therapist, you

know.”

What do you mean, even you! Who are you, Sigmund Freud?”

No, but at least I’m not trying to be something I’m not!”

Aw, fuck you!” she shouts.

Fuck you!” I yell back.

 

All that doctor done was yell at me, tell me I was a whore and would end up a junkie or dead or in prison, and I’d never have kids, or a man, or anything decent at all.”

 

“As far as I am concerned, the making of a therapist and the making of a centered person are parallel, though not congruent, journeys.”

First Tale of Lust. I had agreed to see Janet for short-term therapy at her home; she had a 1 year-old daughter, a night job as a waitress, and no one to babysit. I knew there were many caveats against this kind of thing, but I was sure I could handle it.”

“I kept trying to remember why therapists shouldn’t become sexually involved with patients. I found myself perusing, at length, articles that argued an opposing view. Even the reputable Association of Humanistic Psychology, I noted, was sponsoring a panel at its annual meeting: Sexual Relations Between Therapists and Clients.”

“She observed that the tension between us was palpable. I agreed. In fact, it was becoming intolerable. Yes, I said. Well, she wanted to know, what were we going to do about it?”

“I read Albert Ellis [logo acima!] and Martin Shepard, wrote an essay entitled Challenging Some Traditional Preconceptions in Psychotherapy—in which I never mentioned sex.”

“On the 13th day, I received a short note from Janet on the back of an old Valentine card: I’ve discovered that there are more fine lovers around than psychotherapists. Will you be my (one and only) therapist?

 

Human, all-too-human: After I daydreamed about choking her with a spiked bulldog collar, boiling her in oil, and throwing her out of a dirigible over the most polluted part of the Hudson River, I met with her—in my office. We dealt with it, as the New Yorker cartoon says, by talking about it. We actually went on to do some excellent work together, 50 minutes at a time, 2 days a week, face to face, and no hugging.”

Second Tale of Lust. Tamara was 16, dark as an Arab princess, radiating ripeness. She was a resident at one of the group foster homes at which I dispensed weekly advice. Whenever she greeted me, she would wrap herself around me like the original seductive serpent, and I would try desperately to keep my cool—without success.

I am seldom drawn to adolescents sexually, or so I like to believe. I like the way they look, I enjoy their narcissism from afar, but I’m not crazy enough to trade a tumble for a prison sentence, not even in fantasy.”

“Tamara, whose house parents I met regularly for case consultation and whose Oedipal problems I knew almost as well as my own”

“I couldn’t take my eyes off her, and I didn’t want to take the rest of me off, either.

Although I danced with many people that night, I found myself dancing with Tamara more than with anyone else: more sensually, more energetically, more proximately. After a few beers, I forgot the age gap between us. After a few more, stalwart drinker [robusto bebedor] that I am, I was carried upstairs by some friends and carefully placed upon an unoccupied mattress [colchonete]. I woke a couple of hours later to find Tamara bending over me, swaying, her hair against my face. I wasn’t very alert, but she seemed completely out of it—drunk and stoned and incoherent.

Without thinking, I pulled her down beside me, touched her, kissed her, felt her responding to me. As I caressed her, she spoke softly at first, and then more insistently. Her mumbling only gradually became comprehensible: Daddy, Daddy, Daddy…

Laying her head against the pillow, I drew away gently. The one short pang inside me yielded to tenderness. I massaged her eyes and brow until she fell asleep.”

Third Tale of Lust. It was spring, and 5 of my street clients, including one gay male, declared their love-lust for me. I knew all about transference, of course, but I was also feeling very sexual in my new, slimmed-down version.

At my therapy seminar that week, another fledgling therapist like myself spoke of how he enjoyed his patients’ sexual fantasies about him. Our teacher-supervisor looked at him wryly. <Just remember,> he said, <that there are a dozen paunchy, balding, 70 year-old therapists in this town whose patients are madly in love with them. Don’t take too much credit.>

I decided not to, either.”

Therapist hubris is based on the mutual illusion of patient and therapist that theirs is not a relationship among equals. Thus, it fires the therapist’s infantile yearnings for magical solutions, omnipotence, oceanic love.”

* * *

DE VOLTA AO KOPP (CONCLUSÃO)

 

Everything is folly in this world, except to play the fool.”

 

“The response of embarrassment is not a personal flaw. On the contrary, it is a socially oriented readjustment pattern that acts to reestablish more orderly, adequate behavior. In showing embarrassment, the flustered person (sometimes unwittingly) reveals his responsiveness to the discrepancy between expected and actual performance. This offers the blunderer a chance to get himself together while remaining in consensual accord with the rest of the group. At the same time, perceiving his reaction, his audience is in a position to help him to reestablish his earlier state of unselfconscious ease.”

“I feel less pained and alone in my embarrassment, standing among these other naked therapists.”

“But for those of us who have not been subjected to excessive shaming, failing at something may be experienced as no more than not yet attaining what we might. For others who have too often been made to feel worthless, each failed attempt may create the feeling of being a total failure.”

“It was Erasmus who gave the West the paradox of the Wise Fool. In the literature of the Middle Ages, the Fool had played a minor role. But beginning with Erasmus’ book, In Praise of Folly, the Renaissance Fool stepped forward as a major figure in the humanist vision of man. Desiderius Erasmus of Rotterdam, the bastard son of an obscure father, emerged as a great humanist who would be courted by princes, popes, and scholars of his age, a man whose Wise Fool would foster men’s self-acceptance for centuries to come.”

“Like Socrates, her only claim to wisdom is that she knows that she knows not.”

“Like all those later Fools, Don Quixote, Huck Finn, Chaplin’s little tramp, and the Marx Brothers, she does not comprehend what is expected of her by society. Like all clowns she is free to walk irreverently through the walls of convention, simply because she does not see that they exist. Often enough, these hollow boundaries collapse before the force of her ignorance.”

“The good judgment of the Wise is sometimes no more than the closed mindedness of those who know better.” I’d say Final Judgement.

“By accepting the Fool in myself, I open my imagination to all the possibilities that I was once too wise to consider.”

“So it is that when I was a young man I hoped to make fewer and fewer mistakes, while in my later life my ambition is to make more. I would sin boldly. Not that I have come to like feeling embarrassed. Not at all! Rather most of the time now it all just seems worth it to me to experience feeling foolish if that is the price of trying new ways of being.”

O palhaço que habita em mim saúda o palhaço que um dia habitará em você.

O homem ocidental se tornou zen para não apertar o botão da bomba; isso pausará sua existência cadavérica nesse mundo além de qualquer previsão legal… Eis o problema. O Último Homem aprendeu com seus erros logo após o penúltimo erro – que infortúnio e que pepino para nós! Se apenas houvesse uma máquina de auto-sepultamento, um suicídio assistido por si mesmo, uma auto-eutanásia no mais redundantemente literal dos zentidos… Ainda estamos impessoais demais diante do nosso instinto vital, não operamos a nossa própria máquina para comandar ações grandiloqüentes deste nível e desse porte! Asia Rise!

“A single individual’s solitary failing is painful, but the shared frailties of all men are ultimately comic. So it is that one stutterer is tragic, but like it or not, three stutterers having an argument is a funny scene.”

Seriousness is an accident of time. It consists in putting too high a value on time. In eternity there is no time. Eternity is a mere moment, just long enough for a joke” Herman Hesse, Steppenwolf

 

“Out of the Middle East comes the tradition of the Sufi, that mystical/intuitive aspect of Islam that ranges from the whirling trance states of the Dervishes to the teaching stories of that Wise Fool, Nasrudin. The Sufi tales offer the sort of folk wisdom that discloses that out of each situation comes its own remedy. Each mishap is an opportunity to learn if only our imagination is open to reappraising the source of our discomfort.”

Enjoy yourself, or try to learn—you will annoy someone. If you do not—you will annoy someone.”

 

Who is it who’s rejecting whom?… if somebody rejects me…who they think they’re rejecting isn’t me anyway.… By them pushing me away I see them caught in their own paranoia…” Baba Ram

Ser um incompreendido do meu tempo implica que eu mesmo não posso me compreender!

You don’t decide to give something up. They fall away, that’s the secret of it.”

 

It’s ok to fail on an impossible mission, right, Tom Cruise?

“Even when I am doing well, or being special, being judged is oppressive, carrying with it as it does the impossible ideal of perfection. How much easier is the freedom to be what I am, ordinary and imperfect as that may be, no more than a natural Fool.”

To witness my Self without blaming myself is like being a child again, only this time in a safe, warm place under the watchful eyes of loving parents. It is during such moments that I can accept whatever I do as no more than what I must do at that time. It is then that I would no more question the adequacy of what I am doing than I would wonder whether or not my cat knows just how to go about being a cat.”

Guru, If You Meet the Buddha on the Road, Kill Him!, by the same author.

GLOSSÁRIO PSICANALÍTICO ou A FANTÁSTICA FÁBRICA DE CASOS ou ainda “NOVELA DAS NOJEIRAS E SUJIDADES DAS BIOGRAFIAS DOS PSICANALISTAS ATÉ AQUI (2001, por falta de dados mais atuais)”

considerações preliminares (Roud. & Plon)

a terminologia analítica dá uma impressão insólita que a língua de Freud não dá, se os recursos da língua do tradutor não (sic) forem sempre explorados; em outros casos é a simplicidade da expressão freudiana que torna imperceptível o seu tecnicismo.” “O método conveniente é antes de mais nada histórico-crítico, como o do Vocabulaire technique et critique de la philosophie, de André Lalande. Eram estas as intenções iniciais quando, por volta de 1937-39, se começou a executar o projeto de um vocabulário da psicanálise. Os dados recolhidos perderam-se”

a oposição entre <pulsão> e <instinto>, necessária para a compreensão da teoria psicanalítica, em nenhum lugar é formulada por Freud: a oposição entre <escolha por apoio> de objeto (ou anaclítica) e <escolha narcísica de objeto>, embora retomada pela maior parte dos autores, nem sempre é relacionada com aquilo que em Freud a esclarece: o <apoio> ou <anáclise> das <pulsões sexuais> sobre as funções de <auto-conservação>; a articulação entre <narcisismo> e <auto-erotismo>, sem a qual não se pode situar estas duas noções, perdeu rapidamente a sua primitiva nitidez, e isto até no próprio Freud.”

Psicanalistas não batem cabeça.

O primeiro dicionário de psicanálise, intitulado Handwörterbuch der Psychoanalyse, foi elaborado por Richard Sterba, entre 1931 e 1938. Foram publicados cinco fascículos, até o momento em que a ocupação da Áustria pelos nazistas pôs fim ao empreendimento. A intenção era compor um léxico geral dos termos freudianos, um vocabulário mais do que um recenseamento dos conceitos: <Não desconheço, escreveu Freud em uma carta a seu discípulo, que o caminho que parte da letra A e passa por todo o alfabeto é muito longo, e que percorrê-lo significaria para você uma enorme carga de trabalho. Assim, não o faça, a menos que se sinta internamente levado a isso. Apenas sob o efeito desse impulso, mas certamente não a partir de uma incitação externa!>” “Em sua famosa análise do caso Dora (Ida Bauer), ele frisava que um dicionário é sempre objeto de um prazer solitário e proibido, no qual a criança descobre, à revelia dos adultos, a verdade das palavras, a história do mundo ou a geografia do sexo.” “Sterba interrompeu a redação do seu Handwörterbuch na letra L, e a impressão do último volume na palavra Grössenwahn: <Não sei, declarou vinte anos depois em uma carta a Daniel Lagache, se esse termo se refere à minha megalomania ou à de Hitler.> De qualquer forma, o Handwörterbuch inacabado serviu de modelo para as obras do gênero, todas publicadas na mesma data (1967-1968), em uma época em que o movimento psicanalítico internacional, envolvido em rupturas e dúvidas, experimentava a necessidade de fazer um balanço e recompor, através de um saber comum, a sua unidade perdida. Diversas denominações foram utilizadas: GLOSSÁRIO, dicionário, enciclopédia, vocabulário.” “o Critical Dictionary of Psychoanalysis (600 verbetes) do psicanalista inglês Charles Rycroft, claro, conciso e racional, tinha a vantagem de não ser uma obra coletiva. (…) Rycroft foi também o primeiro a pensar o freudismo sem com isso deixar de considerar a terminologia pós-freudiana (especialmente a de Melanie Klein e de Donald Woods Winnicott).”

Quanto ao célebre Vocabulário da psicanálise(417 verbetes) de Jean Laplanche e Jean-Bertrand Pontalis, foi o primeiro e único a estabelecer os conceitos da psicanálise encontrando as <palavras> para traduzi-los, segundo uma perspectiva estrutural aplicada à obra de Freud. Composto de verdadeiros artigos (de 20 linhas a 15 páginas), e não de curtas notas técnicas, como os precedentes, inaugurou um novo estilo, optando por analisar <o aparelho nocional da psicanálise>, isto é, os conceitos elaborados por esta para <explicar suas descobertas específicas>. Marcados pelo ensino de Lacan e pela tradição francesa da história das ciências, os autores conseguiram a proeza de realizar uma escrita a duas vozes, impulsionada por um vigor teórico ausente nas outras obras. É a essas qualidades que ela deve seu sucesso.

Os insucessos terapêuticos, a invasão dos jargões e das lendas hagiográficas levaram a uma fragmentação generalizada do movimento freudiano, deixando livre curso à ofensiva fin-de-siècle das técnicas corporais. Relegada entre a magia e o cientificismo, entre o irracionalismo e a farmacologia, a psicanálise logo tomou o aspecto de uma respeitável velha senhora perdida em seus devaneios acadêmicos. O universalismo freudiano teve então o seu crepúsculo, mergulhando seus adeptos na nostalgia das origens heróicas.” Ó! “apareceram monstros polimorfos [Cilas], com entradas anárquicas e profusas, nas quais a lista dos verbetes, artigos e autores estendia-se infinitamente, pretendendo esgotar o saber do mundo, sob o risco de mergulhar as boas contribuições em um terrível caos.” Ver Bouvard e Pécuchet, de Flaubert!

Foram incluídos, enfim, os membros da família de Sigmund Freud, seus mestres diretos, os escritores e artistas com os quais ele manteve correspondência importante ou contato pessoal determinante, [PARTE DA FOFOCA E BASTIDORES] e os 23 livros por ele publicados entre 1891 e 1938, inclusive o segundo, escrito com Josef Breuer (Estudos sobre a histeria), e o último, inacabado e publicado a título póstumo (Esboço de psicanálise). Foi acrescentada uma outra obra póstuma, O presidente Thomas Woodrow Wilson, da qual Freud redigiu apenas o prefácio, mas à qual deu contribuição essencial como co-autor ao lado de William Bullitt.”

ABREVIATURAS BIBLIOGRÁFICAS

ESB Sigmund Freud, Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, 24 vols., Rio de Janeiro, Imago, 1977

GW Sigmund Freud, Gesammelte Werke, 17 vols., Frankfurt, Fischer, 1960-1988

IZPInternationale ärztlische Zeitschrift für Psychoanalyse

IJP International Journal of Psycho-Analysis

OC Sigmund Freud, Oeuvres complètes, 21 vols., Paris, PUF, em preparação desde 1989

SE The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud, org. James Strachey, 24 vols., Londres, Hogarth Press, 1953-1974

INÍCIO DO GLOSSÁRIO PROPRIAMENTE DITO, EM ORDEM ALFABÉTICA (ver BIBLIOGRAFIA-BASE e RECOMENDAÇÕES DE LEITURA ao final)

a posteriori ou ação diferida ou só-depois

O termo nachträglich é de uso repetido e constante em F., que muitas vezes o emprega sublinhado. Encontramos também a forma substantivada Nachträglichkeit

Segundo Jung, o adulto reinterpreta o seu passado nas suas fantasias, que constituem outras tantas expressões simbólicas dos seus problemas atuais. (…) meio de fugir das <exigências da realidade> presente” Vinculação com os estratos de Reich.

F. pergunta: por que o recalque incide preferencialmente sobre a sexualidade? (…) O primeiro acontecimento no tempo é constituído por uma cena sexual (sedução por um adulto), mas que não tem então para a criança significação sexual. O segundo apresenta certas analogias, que podem ser superficiais; mas, pelo fato de que nesse meio tempo surgiu a puberdade, a emoção sexual é possível, emoção que o sujeito ligará conscientemente a este segundo acontecimento, quando na realidade é provocada pela recordação do primeiro. (…) O ego utiliza então o recalque, modo de <defesa patológica>”

A tradução como “ação diferida”, em português e inglês, é hoje considerada anacrônica e indutora de confusão. Hoje: complemento ao verbete ab-reação.

ab-reação

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Tudo menos os anos de zumbi (2009-2011)! Tudo menos o passado e o futuro remotos (o Ceará e a Soneca dos mortos)! Tudo menos o gelo do zero absoluto a que cheguei nestas incríveis zonas temporais que hoje me são estranhas, como se pertencessem a séculos enterrados pela humanidade, cujas vicissitudes ficaram sem registros. Postura que eu classificaria hoje como Anti-Ed***d****. A cura do Vanigracismo. Son of Netherrealm, aiming the Ascension. Thorns and Aborted Trees. You shouldn’t needa drink to kill or exorcize some painful devils… Foda-se a SOMAtória de suas vãs probabilidades…

A persistência do afeto que se liga a uma recordação depende de diversos fatores, e o mais importante deles está ligado ao modo como o sujeito reagiu a um determinado acontecimento. Esta reação pode ser constituída por reflexos voluntários e involuntários, pode ir das lágrimas à vingança. Se tal reação for suficientemente importante, grande parte do afeto ligado ao acontecimento desaparecerá. Se essa reação for reprimida(unterdrückt), o afeto se conservará ligado à recordação.”

A ab-reação é o caminho normal” “a ab-reação pode ser secundária, provocada pela psicoterapia catártica, que permite ao doente rememorar e objetivar pela palavra o acontecimento traumático, e libertar-se assim do quantum de afeto que o tornava patogênico.” TABU É O TEU CU: Verbalizar a morte do próximo. A maior burrice é ser inteligente o tempo todo. Em briga de condomínio de homens das cavernas não se usa terno e gravata nem se apara barba. Às vezes cagar nas calças é, sim, o melhor remédio. Uma ventilada brutal ou cem azias, tu escolhes – que fria! Vaso entupido, contanto que não seja o meu, é merda na cu da pimenta, ehr, quer dizer… Eu não levo desaforo pra casa: deixo debaixo da ponte mesmo…

AB-NEGADO AB-O-TO-‘ADO OR ÍGIDO FREE-GIDON (MICE MARINEER-BIKERS)

CRACK CRACK CRACK! SHRECK!

ranço

abraço

dinasTIA

Jardimdim fancyn’

Socorro!

Carolíngia

do Papado

ad-block

ab-rock

ad odd world Helenistic Hell flows like an

Hell-aclitean pseudorriver

on that party that’s over

DAD

DED

HA-DAD-É O NOVO PRES-

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CADO

PRESIDENTE DO BRASIL

S’Il y a fascists…

we’re gonna smash them

with all your heavy solos

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into the dust

in to d dãs

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us

estou tenso, logo fezes muito tudo ISSO

to be or not to be oh honey

sterile

barking at the moon

As 3 histerias antigas (retenções de reação):

a) limitação psicofisiológica (pavor, estado hipnótico) HISTERIA HIPNÓIDE

b) limitação social atual HISTERIA DE RETENÇÃO (sovina de MERDA)

c) repressão consciente voluntária (conscientemente esquecer!) HISTERIA DE DEFESA (é o pior ataque?! – eu diria, antes, MÁ-FÉ)

OBS: “a” e “b” foram “extintas”.

Abraham, Karl

nome indissociável da história da grande saga freudiana. (…) pioneiro no desenvolvimento da psicanálise em Berlim. (…) Elaborou uma teoria dos estágios inspirado em Klein, que foi sua aluna. Formou muitos analistas, entre os quais Helene Deutsch, Edward Glover, Karen Horney, Sandor Rado, Ernst Simmel.”

Em 1906, casou-se com Hedwig Bürgner. Tiveram dois filhos. Abraham analisou sua filha Hilda (1906-1971), descrevendo o caso em um artigo de 1913, intitulado A pequena Hilda, devaneios e sintomas em uma menina de 7 anos.

Mais clínico do que teórico, Abraham escreveu artigos claros e breves, nos quais domina a observação concreta. Devem-se distinguir três épocas. Entre 1907 e 1910, dedicou-se a uma comparação entre a histeria e a demência precoce (que ainda não era chamada esquizofrenia) e à significação do trauma sexual na infância. Durante os dez anos seguintes, estudou a psicose maníaco-depressiva, o complexo de castração na mulher e as relações do sonho com os mitos. Em 1911, publicou um importante estudo sobre o pintor Giovanni Segantini (1859-1899), atingido por distúrbios melancólicos. Em 1912, redigiu um artigo sobre o culto monoteísta de Aton, do qual Freud se serviria em Moisés e o monoteísmo, esquecendo de citá-lo. Enfim, durante o terceiro período, descreveu os três estágios da libido: anal, oral, genital.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Karl Abraham, Oeuvres complètes, 2 vols. (1965), Paris, Payot, 1989;

Hilda Abraham, Karl Abraham, biographie inachevée, Paris, PUF, 1976.

Adler, Alfred (1870-1937)

Adler, primeiro grande dissidente da história do movimento psicanalítico,¹ nasceu em Rudolfsheim, subúrbio de Viena, em 7 de fevereiro de 1870. Na verdade, nunca aderiu às teses de Sigmund Freud, de quem se afastou em 1911, sem ter sido, como Carl Gustav Jung, seu discípulo privilegiado. (…) Ambos eram judeus e vienenses, ambos provinham de famílias de comerciantes que nunca conheceram realmente o sucesso social. Adler freqüentou o mesmo Gymnasium que Freud e fez estudos de medicina mais ou menos idênticos aos seus. Entretanto, originário de uma comunidade de Burgenland, era húngaro, o que fazia dele cidadão de um país cuja língua não falava. Tornou-se austríaco em 1911 e nunca teve a impressão de pertencer a uma minoria ou de ser vítima do anti-semitismo.

Segundo de 6 filhos, tinha saúde frágil, era raquítico e sujeito a crises de falta de ar. Além disso, tinha ciúme do irmão mais velho, que se chamava Sigmund, e com quem teve uma relação de rivalidade permanente, como a que teria mais tarde com Freud.” Vira-se para o Marxismo.

¹ Uma estátua para o rapaz já!

Em 1897, casou-se com Raissa Epstein, filha de um comerciante judeu originário da Rússia. A jovem pertencia aos círculos da intelligentsia e propalava opiniões de esquerda que a afastavam do modo de vida da burguesia vienense, em que a mulher devia ser antes de tudo mãe e esposa. Através dela, Adler freqüentou Léon Trotski (1879-1940) e depois, em 1908, foi terapeuta de Adolf Abramovitch Ioffe (1883-1927), futuro colaborador deste no jornal Pravda.

Em 1898, publicou sua primeira obra, Manual de higiene para a corporação dos alfaiates. Nela, traçava um quadro sombrio da situação social e econômica desse ofício no fim do século: condições de vida deploráveis, causando escolioses e doenças diversas ligadas ao uso de tinturas, salários miseráveis, etc.”

Em 1902, depois de ficar conhecendo Freud, começou a freqüentar as reuniões da Sociedade Psicológica das Quarta-Feiras, fazendo amizade com Wilhelm Stekel.” “Foi nessa data (1909) que começaram a se manifestar divergências fundamentais entre suas posições e as de Freud e seus partidários. Elas constam das Minutas da Sociedade, transcritas por Otto Rank e editadas por Hermann Nunberg.” “Freud começou então a criticar o conjunto das posições de Adler, acusando-o de se apegar a um ponto de vista biológico, de utilizar a diferença dos sexos em um sentido estritamente social e, enfim, de valorizar excessivamente a noção de inferioridade. Hoje, encontra-se a concepção adleriana da diferença dos sexos entre os teóricos do gênero (gender).” “Adler estava edificando uma psicologia do eu, da relação social, da adaptação, sem inconsciente nem determinação pela sexualidade.” “A noção de órgão inferior já existia na história da medicina, em que muitos clínicos observaram que um órgão de menor resistência sempre podia ser o centro de uma infecção. Adler transpunha essa concepção para a psicologia, fazendo da inferioridade deste ou daquele órgão em um indivíduo a causa de uma neurose transmissível por predisposição hereditária. Segundo ele, era assim que apareciam doenças do ouvido em famílias de músicos ou doenças dos olhos em famílias de pintores, etc.” Doenças do estômago em famílias retirantes?

A ruptura entre Freud e Adler foi de uma violência extrema, como mostram as críticas recíprocas que trocaram 35 anos depois. A um interlocutor americano que o questionava sobre Freud, Adler afirmou, em 1937, que <aquele de quem nunca fôra discípulo era um escroque astuto e intrigante>. Por sua vez, informado da morte de seu compatriota, Freud escreveu estas palavras terríveis em uma célebre carta a Arnold Zweig: <Para um rapaz judeu de um subúrbio vienense, uma morte em Aberdeen é por si só uma carreira pouco comum e uma prova de seu progresso. Realmente, o mundo o recompensou com generosidade pelo serviço que ele lhe prestou ao opor-se à psicanálise.>” “Foi preciso esperar pelos trabalhos da historiografia erudita, principalmente os de Henri F. Ellenberger e os de Paul E. Stepansky, para se formar uma idéia mais exata da realidade dessa dissidência.”

Em 1912, publicou O temperamento nervoso, em que expôs o essencial da sua doutrina, e um ano depois fundou a Associação para uma Psicologia Individual, com ex-membros do círculo freudiano, entre os quais Carl Furtmuller (1880-1951) e David Ernst Oppenheim (1881-1943).”

Em 1930, recebeu o título de cidadão de Viena, mas 4 anos depois, pressentindo que o nazismo dominaria a Europa inteira, pensou em emigrar para os Estados Unidos.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Alfred Adler, La Compensation psychique de l’état d’infériorité des organes (1898), Paris, Payot, 1956;

Manès Sperber, Alfred Adler et la psychologie individuelle (1970), Paris, Gallimard, 1972.

abstinência

É em 1915, ao se interrogar sobre qual deve ser a atitude do psicanalista confrontado com as manifestações da transferência amorosa, que Sigmund Freud fala pela primeira vez da regra de abstinência. Esclarece que não pretende evocar apenas a abstinência física do analista em relação à demanda amorosa da paciente, mas o que deve ser a atitude do analista para que subsistam no analisando as necessidades e desejos insatisfeitos que constituem o motor da análise.

Para ilustrar o caráter de tapeação de que se revestiria uma análise em que o analista atendesse às demandas de seus pacientes, Freud evoca a anedota do padre que vai dar os últimos sacramentos a um corretor de seguros descrente: ao final da conversa no quarto do moribundo, o ateu não parece haver se convertido, mas o padre contratou um seguro.”

o tratamento psicanalítico deve, <tanto quanto possível, efetuar-se num estado de frustração e abstinência>. Mas F. deixa claro que não se trata de proibir tudo ao paciente e que a abstinência deve ser articulada com a dinâmica específica de cada análise. Este último esclarecimento foi progressivamente perdido de vista, assim como se esqueceu a ênfase depositada por Freud no caráter incerto da satisfação a longo prazo. O surgimento de uma concepção pedagógica e ortopédica do tratamento psicanalítico contribuiu para a transformação da regra de abstinência em um conjunto de medidas ativas e repressivas, que visam fornecer uma imagem da posição do analista em termos de autoridade e poder.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Sigmund Freud, “Observações sobre o amor transferencial”, (1915), ESB, XII, pp. 208-21. (artigo)

afaniseou afânise

Termo introduzido por Ernest Jones (Early Development of Female Sexuality, 1927); desaparecimento do desejo sexual. Segundo este autor, a afanise seria, nos 2 sexos, objeto de um temor mais fundamental que o temor da castração.”

afeto

O afeto é a expressão qualitativa da quantidade de energia pulsional e das suas variações.” Mais tarde, ainda em Freud (muito confuso): “O afeto é aí definido como a tradução subjetiva da quantidade de energia pulsional. Freud distingue aqui nitidamente o aspecto subjetivo do afeto e os processos energéticos que o condicionam.”

LINK COM #Ab-reação: “Somente quando a evocação da recordação provoca a revivescência do afeto que estava ligado a ela na origem é que a rememoração encontra a sua eficácia terapêutica.”

O mundo como afeto & representação (não existe afeto inconsciente)

Sub-espécies de estados do afeto dinâmico:

a) transformação (ansiedade, depressão)

b) deslocamento (obsessão, paranóia)

c) conversão (histeria)

(Classificação tripartite provavelmente tão obsoleta quanto aquela da histeria enumerada no verbete ab-reação.)

afonia

Perda mais ou menos considerável da força e da clareza da voz.”

afonia”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, http://dicionario.priberam.org/afonia [consultado em 05-10-2018].

agressão

a hipótese de uma <pulsão de agressão> autônoma, emitida por Adler logo em 1908, foi durante muito tempo recusada por Freud” Normal.

…o doente no decorrer de outros tratamentos só evoca transferências ternas e amigáveis em favor da sua cura […]. Na psicaná., em contrapartida, todas as moções, incluindo as hostis, devem ser despertadas, utilizadas pela análise ao se tornarem conscientes.” F.

Um-dois abismo(s) entre o dever e o poder e o ser, hehe!

Os 3 tipos de chistes (e lá vamos nós de novo com esse de TRÊS TIPOS DE…):

a) o ingênuo (o chiste pelo chiste)

b) o hostil (agressivo, negro, defensivo)

c) o obsceno (???)

Alemanha

Sem o advento do nazismo, que a esvaziou da quase totalidade de seus intelectuais e eruditos, a Alemanha teria sido o mais poderoso país de implantação da psicanálise. Se fosse necessário comprovar essa afirmação, bastariam os nomes de seus prestigiosos fundadores, que se naturalizaram americanos, quando não morreram antes de poder emigrar: Karl Abraham, Max Eitingon, Otto Fenichel, Ernst Simmel, Otto Gross, Georg Groddeck, Wilhelm Reich, Erich Fromm, Karen Horney.”

Tratada de <psiquiatria de dona de casa> pelos meios da medicina acadêmica, a psicanálise foi mal-aceita pelos grandes nomes do saber psiquiátrico, e principalmente por Emil Kraepelin. Reprovavam o seu estilo literário e a sua metapsicologia, embora Freud tivesse assimilado em seus trabalhos uma parte importante da nosologia kraepeliniana. Entretanto, foi mesmo no campo do saber psiquiátrico que ela acabou por ser reconhecida, graças à ação de alguns pioneiros.”

No nível universitário, a resistência se manifestou de modo mais determinado. Como sublinha Jacques Le Rider, <a psicologia alemã construíra a sua reputação sobre a pesquisa em laboratório, sobre um método científico do qual a física e a química eram o modelo ideal, e cujo espírito positivo pretendia banir qualquer especulação, reconhecendo apenas um saber sintético: a biologia>. A escola alemã de psicologia reagiu contra a Naturphilosophie do século XIX, essa ciência da alma que florescera na esteira do romantismo e de que se nutriam os trabalhos freudianos.Thomas Mann seria um dos poucos a reconhecer o valor científico desse freudismo julgado excessivamente literário pelos psicólogos universitários.

No campo da filosofia, a psicanálise passava por ser aquele <psicologismo> denunciado por Edmund Husserl desde seus primeiros trabalhos. Assim, ela foi criticada em 1913 por Karl Jaspers (1883-1969) em uma obra monumental, Psicopatologia geral, que teve um grande papel na gênese de uma psiquiatria fenomenológica, principalmente na França, em torno de Eugène Minkowski, de Daniel Lagache e do jovem Jacques Lacan. Em 1937, Alexander Mitscherlisch tentou convencer Jaspers a modificar a sua opinião, mas chocou-se com a hostilidade do filósofo, que manteve-se surdo aos seus argumentos.”

Três congressos se realizaram em cidades alemãs: Nuremberg em 1910, onde foi criada a International Psychoanalytical Association (IPA), Weimar em 1911, do qual participaram 116 congressistas, Munique em 1913, quando se consumou a partida de Jung e seus partidários. Um ano depois, Freud pediu a Abraham que sucedesse a Jung na direção da IPA.”

Centro da divulgação clínica, Berlim continuava sendo pioneira de um certo conservadorismo político e doutrinário. E foi Frankfurt que se tornou o lugar da reflexão intelectual, dando origem à corrente da <esquerda freudiana>, sob a influência de Otto Fenichel, e à instituição do Frankfurter Psychoanalytisches Institut.” “Institut für Sozialforschung (…) Núcleo fundador da futura Escola de Frankfurt, esse instituto de pesquisas sociais fundado em 1923 originou a elaboração da teoria crítica, doutrina sociológica e filosófica que se apoiava simultaneamente na psicanálise, na fenomenologia e no marxismo, para refletir sobre as condições de produção da cultura no seio de uma sociedade dominada pela racionalidade tecnológica.”

Muito se disse, como sabemos, que o seu método original correspondia essencialmente à natureza da burguesia muito refinada de Viena, na época em que ele foi concebido. Claro que isso é totalmente falso em geral, mas mesmo que houvesse um grão de verdade isso em nada invalidaria a obra de Freud. Quanto maior for uma obra, mais estará enraizada em uma situação histórica concreta.”Horkheimer

Em 1930, graças à intervenção do escritor Alfons Paquet (1881-1944), a cidade concedeu a Freud o prêmio Goethe. Em seu discurso, lido por sua filha Anna, Freud prestou homenagem à Naturphilosophie, símbolo do laço espiritual que unia a Alemanha à Áustria, e à beleza da obra de Goethe, segundo ele próxima do eros platônico encerrado no âmago da psicanálise.

Depois da ascensão de Hitler ao poder, Matthias Göring, primo do marechal, decidido a depurar a doutrina freudiana de seu <espírito judaico>, pôs em prática o programa de <arianização da psicanálise>, que previa a exclusão dos judeus e a transformação do vocabulário. Rapidamente, conquistou as boas graças de alguns freudianos, dispostos a se lançarem nessa aventura, como Felix Boehm e Carl Müller-Braunschweig, aos quais se reuniram depois Harald Schultz-Hencke e Werner Kemper. Nenhum deles estava engajado na causa do nazismo. Membros da DPG e do BPI, um freudiano ortodoxo, o segundo adleriano e o terceiro neutro, simplesmente tinham ciúme de seus colegas judeus. Assim, o advento do nacional-socialismo foi para eles uma boa oportunidade de fazer carreira.

ambivalência

Ver também OBJETO (“BOM” E “MAU”).

#OFFTOPICFILOSOFAL É Além do Bem e do Mal a superação do princípio da não-contradição ou apenas uma solução guiada por este princípio? Pegadinha do Mallandgenstein.

anáclise ou apoio

[Devido a divergências de traduções ou simplesmente à incompetência da teoria,] o conceito de Anlehnungnão foi nitidamente apreendido pelos leitores de Freud.” “em francês o substantivo anaclise (anáclise), que traduziria Anlehnung, não é admitido. (…) os autores deste Vocabulário propuseram como equivalente étayage (apoio)”

Trata-se do momento de escolha do primeiro objeto de amor (paixão). A famosa necessidade do supérfluo(encobridor).

Parece que, até hoje, a noção de apoio não foi plenamente apreendida na obra de Freud; quando vemos intervir esta noção, é quase sempre na concepção de escolha de objeto, que longe de defini-la por inteiro, supõe que ela esteja no centro de uma teoria das pulsões.

O seu sentido principal é estabelecer uma [diferença entre as pulsões de autoconservação e o nascimento das pulsões sexuais e auxiliar na compreensão entre a separação entre desenvolvimento da heteronomia e autoerotismo ou narcisimo].” Apoio Exterior

anaclítica, depressão (Klein)

É um tipo de depressão passível de desenvolvimento já em bebês. Poder-se-ia chamar de “desmame traumático” que não foi satisfatoriamente reposto. É estruturalmente oposta à depressão adulta. = HOSPITALIZAÇÃO de ROUDINESCO. O verbete vem de René Spitz (The Psycho-Analytic Study of the Child; La première année de la vie de l’enfant).

análise didática

O ensino formal da psicanálise para a formação do profissional clínico, que inclui a análise propriamente dita do inconsciente do paciente-aprendiz.

Sobre o mito da autoanálise (a 1ª análise didática feita dentro da psicanálise, necessariamente, pelo Pai da disciplina): só Freud? Ou o mesmo afirmara, num congresso, que seria pré-requisito para o exercício da profissão? Respostas mais adiante, nos IMPERDÍVEIS CAPÍTULOS VERBORRÁGICOS DESTA SAGA, amigos!

F. presta homenagem à escola de Zurique por ter <…apresentado a exigência segundo a qual quem quiser praticar análises sobre outros deve 1º submeter-se a uma análise realizada por alguém com experiência>.” Experiência é relativa, diria seu mentor na Filosofia…

Foi em 1922, no Congresso da Associação Psicanalítica Internacional, 2 anos após a fundação do Instituto de Psicanálise de Berlim, que se apresentou a exigência da análise didática para todo e qualquer candidato a analista.”

Para resistir firmemente a essa investida geral do paciente, é preciso que o analista também tenha sido plena e completamente analisado. (…) muitas vezes se julga suficiente que um candidato passe um ano familiarizando-se com os principais mecanismos naquilo a que se chama a sua análise didática. Quanto ao seu progresso ulterior, confia-se no que virá a aprender no decorrer da própria experiência. (…) enquanto nem todos os empreendimentos com fins terapêuticos precisam ser levados até a profundidade quando falamos de uma terminação consumada da análise, o próprio analista deve conhecer e controlar mesmo as fraquezas mais secretas do seu caráter, e isto é impossível sem uma análise plenamente acabada.” Ferenczi

Hmmm… Que torre de Babel não temos aqui!

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Balint, Sobre o sistema de formação psicanalítica

análise direta

Espécie de “análise intensiva” para casos de psicose. Inimiga, portanto, do princípio freudiano de abstinência.

o paciente sente-se compreendido por um terapeuta ao qual atribui a compreensão todo-poderosa de uma mãe ideal; tranqüiliza-se com palavras que visam o conteúdo infantil das suas angústias mostrando a inanidade delas.” Tem-se por base que na terapia para o neurótico a postura do psicanalista tem de ser muito mais neutra. A teoria de base que sustenta essa metodologia é a de que o psicótico é necessariamente aquela criança que sofreu a influências de uma mãe perversa.

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Rosen, Direct Analysis

análise existencial (Daseinanalyse)

Entre os adeptos franceses da análise existencial encontramos Eugène Minkowski, o Jean-Paul Sartre de O ser e o nada [Hm… muito mais na persona literária…] e o jovem Michel Foucault (até 1954). (…) Na Grã-Bretanha, é essencialmente em Ronald Laing que encontramos a temática existencial.” how LAING will this treatment take?

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Viktor Frankl, La Psychothérapie et son image de l’homme, Paris, Resma, 1970.

Andersson, Ola

Pioneiro da historiografia erudita, Ola Andersson teve um destino curioso no movimento freudiano. O único livro que escreveu, publicado em 1962 com o título anglófono de Studies in the Pre-history of Psychoanalysis. The Etiology of Psychoneuroses (1886-1896) [ver versão francesa nas indicações de leitura], foi completamente ignorado na Suécia nos meios psicanalíticos, embora seu autor ocupasse funções acadêmicas importantes e fosse responsável pela tradução sueca das obras de Sigmund Freud. [!]”

No seu próprio trabalho, Andersson empreendeu então a primeira grande revisão de um caso princeps dos Estudos sobre a histeria: o caso Emmy von N.. Descobriu seu nome verdadeiro, Fanny Moser, expôs a sua história no congresso da IPA de Amsterdam em 1965, e esperou 14 anos para publicar um artigo sobre esse tema na The Scandinavian Psychoanalytic Review.” “Entretanto, ao contrário de Ellenberger, continuou apegado, como membro da IPA, à ortodoxia oriunda de Ernest Jones, cujo trabalho biográfico admirava, o que o impediu de empenhar-se mais na história erudita. Sofreu muito com seu isolamento no seio da Sociedade Psicanalítica Sueca, a ponto de pedir a Ellenberger, em 1976, que o ajudasse a emigrar para os Estados Unidos.”

Seu sobrenome Andersson, psicanalista ao mesmo tempo integrado e marginal, foi realmente apagado da história intelectual de seu país, a ponto de não figurar na Enciclopédia nacional sueca, ele que havia escrito tantos artigos em diversas enciclopédias suecas.”

Andreas-Salomé, Lou, née Lelia (Louise) von Salomé (1861-1937)

Mais por sua vida do que por suas obras, Lou Andreas-Salomé teve um destino excepcional na história do século XX. Figura emblemática da feminilidade narcísica,¹ concebia o amor sexual como uma paixão física que se esgotava logo que o desejo fosse saciado. Só o amor intelectual, fundado na mais absoluta fidelidade, era capaz, dizia ela, de resistir ao tempo.”

¹ O que seria isso?

Ironizava as invectivas, os boatos e os escândalos, decidida a não se dobrar às imposições sociais. Depois de Nietzsche (1844-1900) e de Rilke (1875-1926), Freud ficou deslumbrado por essa mulher, a quem amou ternamente e que revolucionou a sua existência.

Nascida em São Petersburgo, em uma família da aristocracia alemã, Lou Salomé era filha de um general do exército dos Romanov. Com a idade de 17 anos, recusando-se a ser confirmada pelo pastor da Igreja evangélica reformada, à qual pertencia sua família, colocou-se sob a direção de outro pastor, Hendrik Gillot, dândi brilhante e culto, que se apaixonou por ela logo que a iniciou na leitura dos grandes filósofos.”

Graças a Malwida von Meysenburg (1816-1903), grande dama do feminismo alemão, ficou conhecendo o escritor Paul Rée (1849-1901), que lhe apresentou Nietzsche. Persuadido de que encontrara a única mulher capaz de compreendê-lo, este lhe fez um pedido solene de casamento. Lou recusou-se. A esses dois homens, profundamente apaixonados por ela, propôs então constituírem uma espécie de trindade intelectual, e em maio de 1882 [38 x 33 x 21 anos], para selar o pacto, fizeram-se fotografar juntos, diante de um cenário de papelão: Nietzsche e Rée atrelados a uma charrete, Lou segurando as rédeas.” “Foi a adesão ao narcisismo nietzschiano, e de modo mais geral o culto do ego, característico da Lebensphilosophie (filosofia da vida)¹ fin de siècle, que preparou o encontro de Lou com a psicanálise.” Blá, blá, blá…

¹ Por que afinal via de regra é a filosofia-da-morte, certo?

PICÂNCIA EDÍPICA CHULA

Em junho de 1887, Lou casou-se com o orientalista alemão Friedrich-Carl Andreas, que ensinava na Universidade de Göttingen. O casamento não foi consumado, e Georg Ledebourg, fundador do Partido Social-Democrata alemão tornou-se seu primeiro amante, algum tempo antes de Friedrich Pineles, médico vienense. Essa segunda ligação terminou com um aborto e uma trágica renúncia à maternidade. Lou instalou-se então em Munique, onde ficou conhecendo o jovem poeta Rainer Maria Rilke: <Fui tua mulher durante anos, escreveria ela em Minha vida, porque foste a primeira realidade, em que o homem e o corpo são indiscerníveis um do outro, fato incontestável da própria vida […]. Éramos irmão e irmã, mas como naquele passado longínquo, antes que o casamento entre irmão e irmã se tornasse um sacrilégio.>” “como diria Freud em 1937, <ela foi ao mesmo tempo a musa e a mãe zelosa do grande poeta […] que era tão infeliz diante da vida.>” Mal consigo contar os clichês deste verbete…

Em seu artigo de 1914 sobre o narcisismo, era nela que pensava quando descreveu os traços tão particulares dessas mulheres, que se assemelham a grandes animais solitários mergulhados na contemplação de si mesmos.”“Logo ela abraçou exclusivamente a causa do freudismo. Foi então que se apaixonou porViktor Tausk, o homem mais belo e mais melancólico do círculo freudiano.”“Introduzida no círculo da Berggasse, tornou-se familiar da casa e apegou-se particularmente a Anna Freud. Depois das reuniões das quartas-feiras, Freud a conduzia a seu hotel; depois de cada jantar, a cumulava de flores.”

Fiquei sabendo com temor — e pela melhor fonte — que todos os dias você dedica até dez horas à psicanálise. Naturalmente, considero isso uma tentativa de suicídio mal-dissimulada, o que muito me surpreende, pois, que eu saiba, você tem muito poucos sentimentos de culpa neurótica. Portanto, insisto que pare e de preferência aumente o preço de suas consultas em um quarto ou na metade, segundo as flutuações da queda do marco. Parece que a arte de contar foi esquecida pela multidão de fadas que se reuniram em torno do seu berço quando você nasceu. Por favor, não jogue pela janela este meu aviso.”

Empobrecida pela inflação que assolava a Alemanha e obrigada a manter os membros de sua família arruinados pela Revolução de Outubro, Lou não conseguia suprir suas necessidades. Embora nunca pedisse nada, Freud lhe enviava somas generosas e dividia com ela, como dizia, a sua <fortuna recentemente adquirida>.

OEDIPUS GONNA ANTIOEDIPALIZE YOU: “Lou tornou-se confidente da filha de Freud e até sua segunda analista, quando isso se tornou necessário.”

Para comemorar o seu 75º aniversário, Lou decidiu dedicar a Freud um livro, para expressar sua gratidão e alguns desacordos. Criticava principalmente os erros cometidos pela psicanálise a respeito da criação estética, reduzida abusivamente, dizia ela, a um caso de recalque. Freud aceitou sem reservas a argumentação, mas tentou conseguir que ela mudasse o título da obra (Minha gratidão a Freud).”

A partir de 1933, Lou assistiu com horror à instauração do regime nazista. Conhecia o ódio que lhe consagrava Elisabeth Forster (1846-1935), irmã de Nietzsche, que se tornara adepta fervorosa do hitlerismo. Conhecia os desvios que esta impusera à filosofia do homem de quem fôra tão próxima e que tanto admirava. Não ignorava que os burgueses de Göttingen a chamavam A Feiticeira. Mas decidiu não fugir da Alemanha. Alguns dias depois de sua morte, um funcionário da Gestapo foi à sua casa para confiscar a biblioteca, que seria jogada nos porões da prefeitura:Apresentou-se como razão para esse confisco, escreveu Peters, que Lou fôra psicanalista e praticara aquilo que os nazistas chamavam de ciência judaica, que ela fôra colaboradora e amiga íntima de Sigmund Freud e que a sua biblioteca estava apinhada de autores judeus.

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Lou Andreas-Salomé, Fenitschka (Stuttgart, 1898), Paris, Des Femmes, 1985;

______. Érotisme (Frankfurt, 1910, Munique, 1979), in: Eros, Paris, Minuit, 1984; (art.)

______. Rainer Maria Rilke (Leipzig, 1928), Paris, Marendell, 1989;

______. Ma gratitude envers Freud (Viena, 1931, Paris, 1983), Seuil, col. “Points”, 1987, traduzido com o título Lettre ouverte à Freud;

______. Ma vie (Zurique, 1951, Frankfurt 1977), Paris, PUF, 1977;

______. L’Amour du narcissisme, Paris, Gallimard, 1980;

______. Carnets intimes des dernières années (Frankfurt, 1982), Paris, Hachette, 1983;

______. En Russie avec Rilke, 1900. Journal inédit, Paris, Seuil, 1992;

Freud & Lou Andréas-Salomé, correspondência completa (Frankfurt, 1966), Rio de Janeiro, Imago, 1975;

Nietzsche, Rée & Salomé, Correspondance (Frankfurt, 1970), Paris, PUF, 1979;

H.F. Peters, My sister, my spouse (N. York, 1962), Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1986;

Rudolph Binion, Frau Lou, Nietzsche’s Wayward Disciple, Princeton, Princeton University Press, 1968;

Angela Livingstone, Lou Andreas-Salomé: Her Life and Work (Londres, 1984), Paris, PUF, 1990.

antipsiquiatria

Sob certos aspectos, a antipsiquiatria foi a seqüência lógica e o desfecho da psicoterapia institucional. Se esta havia tentado reformar os manicômios e transformar as relações entre os que prestavam e os que recebiam cuidados, no sentido de uma ampla abertura para o mundo da loucura, a antipsiquiatria visou a extinguir os manicômios e eliminar a própria idéia de doença mental.” “foi justamente por ter sido uma revolta que a antipsiquiatria teve, ao mesmo tempo, uma duração efêmera e um impacto considerável no mundo inteiro. Ela foi uma espécie de utopia: a da possível transformação da loucura num estilo de vida, numa viagem, num modo de ser diferente e de estar do outro lado da razão, como a haviam definido Arthur Rimbaud (1854-1891) e, depois dele, o movimento surrealista.”

Assim como o movimento psicanalítico havia fabricado sua lenda das origens através da história de Anna O. (Bertha Pappenheim), a antipsiquiatria também reivindicou a aventura de uma mulher: Mary Barnes. Essa ex-enfermeira, reconhecida como esquizofrênica e incurável, tinha cerca de 40 anos ao ingressar no Hospital de Kingsley Hall, onde Joseph Berke a deixou regredir durante 5 anos. Através dessa descida aos infernos e de uma espécie de morte simbólica, ela pôde renascer para a vida, tornar-se pintora e, mais tarde, redigir sua <viagem>.”

GUERRA FRIA LACAN X SEU MESTRE: “Na França, não houve nenhuma verdadeira corrente antipsiquiátrica, de um lado porque a esquerda lacaniana ocupou parcialmente o terreno da revolta contra a ordem psiquiátrica, através da corrente da psicoterapia institucional, e de outro, em função de Foucault e Gilles Deleuze (1925-1995) [Batman & Robin], cujos trabalhos cristalizaram a contestação <antipsiquiátrica> a uma dupla ortodoxia, freudiana e lacaniana.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

David Cooper, Psiquiatria e antipsiquiatria (Londres, 1967);

Mary Barnes & Joseph Berke. Un voyage à travers la folie (Londres, 1971), Paris, Seuil, 1973;

Thomas Szasz, Le Mythe de la maladie mentale (N. York, 1974), Paris, Payot, 1975.

antropologia

O debate entre os antropólogos e os psicanalistas começou após a publicação, em 1912-1913, do livro Totem e tabu e deu origem a uma nova disciplina, a etnopsicanálise, cujos dois grandes representantes foram Geza Roheim e Georges Devereux. Seu principal contexto geográfico inicial foi a Melanésia, isto é, a Austrália, onde ainda viviam aborígines que, no final do século, eram considerados o povo mais <primitivo> do planeta, e as ilhas situadas a sudoeste do oceano Pacífico (Trobriand e Normanby), habitadas pelos melanésios propriamente ditos e pelos polinésios. Posteriormente, o campo de eleição foi o dos índios da América do Norte.”

Derivada do grego (ethnos: povo, e logos: pensamento), a palavra etnologia só veio a surgir no século XIX. Todavia, o estudo comparativo dos povos remonta a Heródoto. Se, de acordo com os antigos, o mundo estava estaticamente dividido entre a civilização e a barbárie (externa à cidade), a questão colocou-se de outra maneira na era cristã. Os missionários e conquistadores se indagaram, com efeito, se os indígenas tinham alma ou não.”

Daí nasceu a tese de que o primitivo se assemelha à criança, que se assemelha ao neurótico. Foi nesse darwinismo que Freud se inspirou, através dos trabalhos de James George Frazer (1854-1941) sobre o totemismo e de William Robertson Smith (1846-1894) sobre o tabu.”

Na França, a palavra ethnologie, etnologia, surgiu em 1838, para designar o estudo comparativo dos chamados costumes e instituições <primitivos>. Dezessete anos depois, foi suplantada pelo termo antropologia, ao qual o médico Paul Broca (1824-1881) associou seu nome, ao fazer dela uma disciplina física e anatômica que logo desembocou, no contexto da teoria da hereditariedade-degenerescência, no estudo das <raças> e das <etnias>, concebidas como espécies zoológicas.

No mundo anglófono, ao contrário (na Grã-Bretanha e, depois, nos Estados Unidos), a palavra ethnology cobriu o campo da antropologia física (no sentido francês), enquanto se cunhou, em 1908, o termo social anthropology, para designar a cátedra de antropologia de Frazer na Universidade de Liverpool.”

Observe-se que Charles Seligman (1873-1940) e William Rivers (1864-1922), dois antropólogos de formação médica, foram os primeiros a tornar conhecidos no meio acadêmico da antropologia inglesa os trabalhos freudianos sobre o sonho, a hipnose e a histeria. Mais tarde, esse trabalho teve seguimento através da escola culturalista norte-americana, desde Margaret Mead até Ruth Benedict (1887-1948), passando por Abram Kardiner e pelo neofreudismo.”

Quanto à antiga escola de antropologia, ela evoluiria para o racismo, o anti-semitismo e o colaboracionismo, em especial sob a influência de Georges Montandon, ex-médico e adepto das teses do padre Wilhelm Schmidt (1868-1954). Fundador da Escola Etnológica de Viena e diretor, em 1927, do museu etnográfico pontifical de Roma, Schmidt acusaria Freud de querer destruir a família ocidental. Quanto a Montandon, ele participaria do extermínio dos judeus durante o regime de Vichy e seria amigo do psicanalista e demógrafo Georges Mauco.

Foi preciso esperar pela segunda metade do século XX para que fosse introduzida na França, através de Claude Lévi-Strauss, a terminologia anglófona. Em 1954, ele livrou o termo <antropologia> de todas as antigas imagens da hereditariedade-degenerescência, a fim de definir uma nova disciplina que abarcasse, ao mesmo tempo, a etnografia, como primeira etapa de um trabalho de campo, e a etnologia, designada como segunda etapa e primeira reflexão sintética.

Se Marcel Mauss, sobrinho de Émile Durkheim, havia desvinculado a etnologia da sociologia durkheimiana, embora se inspirasse em seus modelos, Claude Lévi-Strauss passou da etnologia para a antropologia, unificando os dois campos (anglófono e francófono) em torno de três grandes eixos: o parentesco (em vez da família e do patriarcado), o universalismo relativista (em vez do culturalismo) e o incesto. Situou-se prontamente como contemporâneo da obra freudiana, à qual se referiu, como ao Curso de lingüística geral de Ferdinand de Saussure (1857-1913), sublinhando, em Tristes trópicos, o que ela lhe havia trazido: <…(essa obra) me revelou que […] são as condutas aparentemente mais afetivas, as operações menos racionais e as manifestações declaradas pré-lógicas que são, ao mesmo tempo, as mais significativas.>“Lévi-Strauss foi, sem sombra de dúvida, o primeiro etnólogo a teorizar a viagem etnológica segundo o modelo de uma estrutura melancólica: todo etnólogo redige uma autobiografia ou escreve confissões, diria ele, em essência, porque tem que passar pelo eu para se desligar do eu.”

PREFIGURAÇÃO DE BAUDRILLARD: “Foi dentro dessa orientação que ele estabeleceu uma analogia entre a técnica de cura xamanista e o tratamento psicanalítico. Na primeira, dizia, o feiticeiro fala e provoca a ab-reação, isto é, a liberação dos afetos do enfermo, ao passo que, na segunda, esse papel cabe ao médico que escuta, no bojo de uma relação na qual é o doente quem fala. Além dessa comparação, Lévi-Strauss mostrou que, nas sociedades ocidentais, tendia a constituir-se uma <mitologia psicanalítica> que fizesse as vezes de sistema de interpretação coletivo: <Assim, vemos despontar um perigo considerável: o de que o tratamento, longe de levar à resolução de um distúrbio preciso, sempre respeitando o contexto, reduza-se à reorganização do universo do paciente em função das interpretações psicanalíticas.> Se a cura, portanto, sobrevém através da adesão a um mito, agindo este como uma organização estrutural, isso significa que esse sistema é dominado por uma eficácia simbólica. Daí a idéia, proposta já em 1947 na Introdução à obra de Marcel Mauss, de que o chamado inconsciente não seria outra coisa senão um lugar vazio onde se consumaria uma autonomia da função simbólica.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

(a eterna busca pelo ramo de ouro) Pierre Bonte & Michel Izard, Dictionnaire de l’ethnologie et de l’anthropologie, Paris, PUF, 1992;

R. Lowie, Histoire de l’ethnologie classique (N. York, 1937), Paris, Payot, 1971.

anulação

o isolamento, uma forma de defesa característica da neurose obsessiva, processo mágico em Freud (1926)

Anzieu, Marguerite (Aimée), paciente de Lacan

Foi Élisabeth Roudinesco quem revelou pela primeira vez, em 1986, a verdadeira identidade dessa mulher, e depois reconstruiu, em 1993, a quase totalidade de sua biografia, a partir do testemunho de Didier Anzieu e dos membros de sua família.”

Marguerite Pantaine provinha de uma família católica e interiorana do centro da França. Criada por uma mãe que sofria de sintomas persecutórios, sonhou desde muito cedo, à maneira de Emma Bovary, sair de sua situação e se tornar uma intelectual. Em 1910, ingressou na administração dos correios e, sete anos depois, casou-se com René Anzieu, também funcionário público. Em 1921, quando grávida de seu filho Didier, começou a ter um comportamento estranho: mania de perseguição, estados depressivos. Após o nascimento do filho, instalou-se numa vida dupla: de um lado, o universo cotidiano das atividades de funcionária dos correios, de outro, uma vida imaginária, feita de delírios. Em 1930, redigiu de enfiada dois romances que quis mandar publicar, e logo se convenceu de estar sendo vítima de uma tentativa de perseguição por parte de Hughette Duflos, uma célebre atriz do teatro parisiense dos anos 30. Em abril de 1931, tentou matá-la com uma facada, mas a atriz se esquivou do golpe e Marguerite foi internada no Hospital Sainte-Anne, onde foi confiada a Jacques Lacan, que fez dela um caso de erotomania e de paranóia de autopunição.

A continuação da história de Marguerite Anzieu é um verdadeiro romance. Em 1949, seu filho Didier, havendo concluído seus estudos de filosofia, resolveu tornar-se analista. Fez sua formação didática no divã de Lacan, enquanto preparava uma tese sobre a auto-análise de Freud sob a orientação de Daniel Lagache, sem saber que sua mãe tinha sido o famoso caso Aimée. Lacan não reconheceu nesse homem o filho de sua ex-paciente, e Anzieu soube da verdade pela boca da mãe, quando esta, por um acaso extraordinário, empregou-se como governanta na casa de Alfred Lacan (1873-1960), pai de Jacques” [!!]

Argentina

Independente desde 1816, depois de ter-se submetido à colonização espanhola, a Argentina viveu sob o reino dos caudilhos durante todo o século XIX. A partir de 1860, a cidade de Buenos Aires, sob a influência da sua classe dominante, os portenhos, esteve na liderança da revolução industrial e da construção de um Estado moderno. Em 1880, realizou-se a unidade entre as diferentes províncias e a cidade portuária se tornou a capital federal do país. Em 50 anos (1880-1930), a Argentina acolheu 6 milhões de imigrantes, italianos ou espanhóis na maioria; três vezes o volume de sua população inicial. Fugindo dos pogroms, os judeus da Europa central e oriental se misturaram a esse movimento migratório e se instalaram em Buenos Aires, fazendo da capital o centro de um cosmopolitismo aberto a todas as idéias novas.” “Fundador do asilo argentino, Lucio Melendez repetiu no seu país o gesto de Philippe Pinel, criando uma organização de saúde mental dotada de uma rede de hospitais psiquiátricos e edificando uma nosografia inspirada em Esquirol. Domingo Cabred, seu sucessor, prosseguiu a obra, adaptando a clínica da loucura aos princípios da hereditariedade-degenerescência. Na mesma época, começaram a afirmar-se as pesquisas em criminologia e em sexologia, enquanto o ensino da psicologia, em todas as suas tendências, tomava uma extensão considerável, com a criação, em 1896, de uma primeira cátedra universitária em Buenos Aires.”

Em 1904, José Ingenieros, psiquiatra e criminologista, publicou o primeiro artigo que mencionava o nome de Freud. Depois, durante os anos 1920, vários autores apresentaram a psicanálise ora como uma moda ou uma epidemia (Anibal Ponce), ora como uma etapa da história da psicologia (Enrique Mouchet). Em 1930, Jorge Thénon afirmou que ela era excessivamente metapsicológica, sem com isso negar o seu interesse. Curiosamente, enquanto uma notável tradução espanhola das obras de Freud estava em preparação em Madri, sob a direção de José Ortega y Gasset, os autores argentinos se referiam a versões francesas. Do mesmo modo, importavam as polêmicas parisienses, às quais acrescentavam — imposição da latinidade — as críticas italianas. Assim, os argumentos de Enrico Morselli (1852-1929) tiveram uma repercussão favorável, enquanto o temível Charles Blondel tinha um franco sucesso ao declarar, por ocasião da sua viagem de conferências em 1927, que Henri Bergson (1859-1941) era o verdadeiro descobridor do inconsciente

e Freud uma espécie de Balzac fracassado [haha!].”

A escola argentina nunca se limitaria a uma única doutrina. Acolheria todas com um espírito de ecletismo, inscrevendo-as quase sempre em um quadro social e político: marxista, socialista ou reformista. Ao longo dos anos e através de suas diversas filiações, ela conservaria o aspecto de uma grande família e saberia organizar suas rupturas sem criar clivagens irreversíveis entre os membros de suas múltiplas instituições.” “Tendo adquirido uma tradição clínica e uma verdadeira identidade freudiana, os argentinos formaram então, pela análise didática, seja em Buenos Aires, seja em seus próprios países, a maioria dos terapeutas dos países de língua espanhola que, por sua vez, se integrariam à IPA, constituindo grupos ou sociedades: Uruguai, Colômbia, Venezuela.” “Em 1977, a América Latina estava a ponto de tornar-se o continente freudiano mais poderoso do mundo, sob a égide da COPAL (futura FEPAL) e em ligação com os grupos brasileiros, capaz de rivalizar com a American Psychoanalytic Association (APsaA) e a Federação Européia de Psicanálise (FEP).” “As duas cisões se produziram no momento em que a Argentina saía de um regime militar clássico, fundado no populismo e herdado do velho caudilhismo, para um sistema de terror estatal. Ora, se o primeiro feria as liberdades políticas, não limitava a liberdade profissional e associativa, da qual dependia o funcionamento das instituições psicanalíticas. O segundo, ao contrário, visava erradicar todas as formas de liberdade individual e coletiva. Por conseguinte, poderia destruir a psicanálise, como fizera outrora o nazismo. § Em 1973, quando Perón voltou ao poder, nomeou Isabelita, sua nova esposa, para o posto de vice-presidente e fez de seu secretário José Lopez Rega o ministro dos assuntos sociais do país. Este apressou-se a criar a Tríplice A (Aliança Argentina Anticomunista), conhecida por seus esquadrões da morte, que serviram de força suplementar para o exército, em suas operações de controle da sociedade civil.Um ano depois, Perón morreu e Isabelita assumiu a sua sucessão, sendo substituída em março de 1976 pelo general Jorge Videla, que instaurou durante 9 anos um dos regimes mais sangrentos do continente latino-americano, com o do general Pinochet no Chile: 30 mil pessoas foram assassinadas e torturadas, sob o rótulo de desaparecidos.” “E foi em nome da defesa de um <ocidente cristão> e da segurança nacional que as forças armadas decidiram erradicar o freudismo e o marxismo, julgados responsáveis pela <degeneração> da humanidade. Ao contrário dos nazistas, não erigiram um instituto como o de Matthias Heinrich Göring e não aboliram a liberdade de associação. A perseguição foi silenciosa, anônima, penetrando no coração da subjetividade.” “Marxista e veterana das Brigadas Internacionais, Marie Langer encontrou-se, desde o seu exílio no México, na vanguarda dos combates, arrastando consigo todos os psicanalistas politizados do país. Foi nessa época que os argentinos, como outrora os judeus europeus, emigraram em grande número para os quatro cantos do mundo, a fim de formar novos grupos freudianos ou integrar-se aos que já existiam na Suécia, na Austrália, na Espanha, nos Estados Unidos, na França.” “Durante todo o período de terror estatal (1976-1985), o interesse pelo pensamento de Lacan progrediu na Argentina de maneira curiosa. Recebido como uma contracultura subversiva e de aspecto esotérico, a doutrina do mestre permitia aos que a faziam frutificar mergulhar em debates sofisticados sobre o passe, o matema e a lógica, e esquecer, ou mesmo ignorar, a sangrenta ditadura instaurada pelo regime. Como seus colegas politizados da IPA, os lacanianos marxistas e militantes se exilaram ou resistiram ao terror.” “Em 1991, Horacio Etchegoyen foi eleito presidente. Técnico do tratamento de tendência kleiniana, analisado por Heinrich Racker e membro da ABdeBA, foi o primeiro presidente de língua espanhola do movimento freudiano.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Jacques Derrida, Geopsychanalyse and the rest of the world, 1981.

associação verbal, teste de

Técnica experimental usada por Carl Gustav Jung, a partir de 1906, para detectar os complexos e isolar as síndromes específicas de cada doença mental. Consiste em pronunciar diante do sujeito uma série de palavras, cuidadosamente escolhidas, pedindo-lhe que responda com a primeira palavra que lhe vier à cabeça e medindo seu tempo de reação.”

Historicamente, essa técnica está ligada à noção de associação de idéias, já utilizada por Aristóteles, que definira seus 3 grandes princípios: a contigüidade, a semelhança e o contraste. No século XIX, a psicologia introspectiva e a filosofia empirista conferiram-lhe tamanha importância que o associacionismo transformou-se numa verdadeira doutrina, na qual se inspirariam todas as correntes da psicologia e, em especial, Freud”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Freud/Jung: correspondência completa (Paris, 1975).

atenção (uniformemente) flutuante

É o “espelho” da associação livre: faz parte do método de conduta do analista frente ao paciente (busca de neutralidade).

Tal como o paciente deve contar tudo o que lhe passa pelo espírito, eliminando todas as objeções lógicas e afetivas que pudessem levá-lo a fazer uma escolha, assim o médico deve estar apto a interpretar tudo o que ouve a fim de que possa descobrir aí tudo o que o insconsciente dissimula”F., 1912

Graças a ela, o analista pode conservar na memória uma multidão de elementos aparentemente insignificantes cujas correlações só aparecerão posteriormente.”

ouvir com o terceiro ouvido”Reik

empatia infraverbal”

Se o isso são imagens, como escutá-las? Porque mesmo que emitissem sons, o isso também não tem ouvidos, ainda que tivesse bocas

ato falho

Os editores da Standard Edition observam que para designá-lo foi preciso criar em inglês um termo, parapraxis. Em francês, o tradutor de Psicopatologia da vida cotidiana utilizou a expressão acte manqué, que adquiriu fôro de cidadania, mas parece que na prática psicanalítica corrente na França ela designa principalmente uma parte do campo coberto pelo termo Fehlleistung, quer dizer, as falhas da ação stricto sensu [enquanto que, para Freud, o ato falho pode ser compreendido como um ato bem-sucedido do inconsciente, vd. verbete do livro citado].”

auto-análise

Doctor Dream

mantenho a opinião de que esta espécie de análise [dos sonhos] pode ser suficiente para quem é um bom sonhador e não muito anormal.”O inconveniente é que esse tipo de pessoa teria de ser avisado disso (2ª característica)!

Num instante 2, em carta: “Uma verdadeira auto-análise é impossível; se não fosse isso não haveria doença.”

LOOK WHO SAYS… “Considera-se geralmente a auto-análise uma forma particular de resistência à psicanálise que embala o narcisismo e elimina a mola mestra do tratamento, que é a transferência.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Anzieu, Freud’s Self-Analysis (1986) (filho da paciente Marguerite Anzieu de Lacan!)

deb(u)t of the doubt

Nada mais risível e não-enriquecedor do que testemunhar os mútuos ataques dos psicanalistas entre si.

autismo

A PSICANÁLISE CLÁSSICA PRECISA SER SUPEREGOTIZADA APÓS SEU PAPAI: “Termo criado em 1907 por Eugen Bleuler e derivado do grego autos (o si mesmo), para designar o ensimesmamento psicótico do sujeito em seu mundo interno e a ausência de qualquer contato com o exterior, que pode chegar inclusive ao mutismo.” “É numa carta de Carl Gustav Jung a Sigmund Freud, datada de 13 de maio de 1907, que descobrimos como Bleuler cunhou o termo autismo. Ele se recusava a empregar a palavra auto-erotismo, introduzida por Havelock Ellis e retomada por Freud, por considerar seu conteúdo por demais sexual. Por isso, fazendo uma contração de auto com erotismo, adotou a palavra autismo, depois de ter pensado em ipsismo, derivada do latim. Posteriormente, Freud conservou o termo auto-erotismo para designar esse mesmo fenômeno, enquanto Jung adotou o termo introversão.” “Em 1911, em seu principal livro, Dementia praecox ou grupo das esquizofrenias, Bleuler designou por esse termo um distúrbio típico da esquizofrenia e característico dos adultos.”

Cinco grandes sinais clínicos permitiriam, segundo Kanner, reconhecer a psicose autística: o surgimento precoce dos distúrbios (logo nos dois primeiros anos de vida), o extremo isolamento, a necessidade de imobilidade, as estereotipias gestuais e, por fim, os distúrbios da linguagem (ou a criança não fala nunca, ou emite um jargão desprovido de significação, incapaz de distinguir qualquer alteridade).”

Além de Bettelheim, foram a corrente annafreudiana, por um lado, com os trabalhos de Margaret Mahler sobre a psicose simbiótica, e a corrente kleiniana, por outro, que melhor estudaram e trataram o autismo, amiúde com sucesso, com a ajuda dos instrumentos fornecidos pela psicanálise. Nesse contexto, Frances Tustin trouxe uma nova visão sobre essa questão na década de 1970, ao propor uma classificação do autismo em três grupos: o autismo primário anormal, resultante de uma carência afetiva primordial e caracterizado por uma indiferenciação entre o corpo da criança e o da mãe; o autismo secundário, de carapaça, que corresponde em linhas gerais à definição de Kanner; e o autismo secundário regressivo, que seria uma forma de esquizofrenia sustentada por uma identificação projetiva.”

apesar da evolução da psiquiatria genética, nenhum trabalho de pesquisa conseguiu comprovar (como de resto não o fez em relação à esquizofrenia e à psicose maníaco-depressiva) que o autismo verdadeiro (quando não existe nenhuma lesão neurológica anterior) seja de origem puramente orgânica.”

Balint, Michael

Como muitos judeus húngaros cujos antepassados adotaram nomes alemães, decidiu, no fim da guerra, <magiarizar-se> para afirmar assim que pertencia à nação húngara. Tomou então o sobrenome de Balint. Na universidade, ficou conhecendo Alice Szekely-Kovacs, estudante de etnologia, que despertou seu interesse pela psicanálise.”

Foi obrigado, como todos os imigrantes, a refazer os estudos de medicina e teve que enfrentar, além do exílio, a dor de perder de uma só vez quase todos os membros da família. Alice Balint (1898-1939) (a Kovacs acima), sua mulher, e Wilma Kovacs [psicanalista e outrora paciente tratada por Groddeck!], sua sogra, a quem era muito apegado, morreram com um ano de intervalo. Depois da guerra, ficou sabendo que seus pais tinham se suicidado para escapar à deportação.”

A LINHA TÊNUE ENTRE SER WORKHALOIC E “PSICAEROTÔMANO”: “Foi lá também que ficou conhecendo Enid Albu-Eichholtz, sua terceira mulher. Analisada por Donald Woods Winnicott, Enid Balint (1904-1994) iniciou Michael em uma nova técnica, o case work. Tratava-se de comentar e trocar relatos de casos no interior de grupos compostos de médicos e de psicanalistas. Essa experiência deu origem ao que se chama de grupos Balint. Apesar de sua separação em 1953, Michael e Enid continuaram a trabalhar juntos.”

A sobrinha da falecida primeira mulher de Balint se tornou sua tradutora ao Francês!

Grande técnico do tratamento, Balint soube aliar o espírito inovador de seu mestre Ferenczi à tradição clínica da escola inglesa. Nesse aspecto, foi realmente o <húngaro selvagem> da British Psychoanalytical Society (BPS), cujos rituais e cuja esclerose ele criticou com muito humor, prestando homenagem, na primeira ocasião, aos costumes mais liberais da antiga sociedade de Budapeste”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Balint, A falha básica (Londres, 1968), P. Alegre, Artes Médicas, 1993.

Bateson, Gregory (1904-1980)

Marido de Margaret Mead.

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

B. (ed.), Perceval le fou. Autobiographie d’un schizophrène (Londres, 1962), Paris, Payot, 1975.

Bauer, Ida, sobrenome de casada Adler (1882-1945), caso Dora

Primeiro grande tratamento psicanalítico realizado por Freud, anterior aos do Homem dos Ratos (Ernst Lanzer)e do Homem dos Lobos (Serguei Constantinovitch Pankejeff), a história de Dora, redigida em dezembro de 1900 e janeiro de 1901 e publicada quatro anos depois, desenrolou-se entre a redação de A interpretação dos sonhos e a dos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade.

GUINESS: “trata-se do documento clínico que mais se comentou, desde sua publicação. (…) o caso dessa jovem tornou-se o objeto privilegiado dos estudos feministas.”

Para a publicação desse 1o tratamento exclusivamente psicanalítico, conduzido com uma mocinha virgem de 18 anos de idade, Freud tomou precauções inauditas. Na época, de fato, a cruzada que se travava contra o freudismo consistia em fazer com que a psicanálise passasse por uma doutrina pansexualista, que tinha por objetivo fazer os pacientes (sobretudo as mulheres) confessarem, por meio da sugestão, <sujeiras> sexuais inventadas pelos próprios psicanalistas. Na Grã-Bretanha e no Canadá, por exemplo, Ernest Jones suportaria o peso de acusações dessa ordem. [Veja em ESCANDINÁVIA que E.J. não era nenhum ‘santinho’.]”

A melhor maneira de falar dessas coisas é sendo seco e direto; e ela é, ao mesmo tempo, a que mais se afasta da lascívia com que esses assuntos são tratados na ‘sociedade’, lascívia esta com que as moças e mulheres estão plenamente habituadas.”

um marido fraco e hipócrita engana sua mulher, uma dona de casa ignorante, com a esposa de um de seus amigos, conhecida numa temporada de férias em Merano. A princípio enciumado, depois indiferente, o marido enganado tenta, de início, seduzir a governanta de seus filhos. Depois, apaixona-se pela filha de seu rival e a corteja durante uma temporada em sua casa de campo, situada às margens do lago de Garda. Horrorizada, esta o rejeita, pespega-lhe uma bofetada e conta a cena a sua mãe, para que ela fale do assunto com seu pai. Este interroga o marido da amante, que nega categoricamente os fatos pelos quais é recriminado. Preocupado em proteger seu romance extraconjugal, o pai culpado faz com que a filha passe por mentirosa e a encaminha para tratamento com um médico que, alguns anos antes, prescrevera-lhe um excelente tratamento contra a sífilis.

A entrada de Freud em cena transforma essa história de família numa verdadeira tragédia do sexo, do amor e da doença. Sob esse aspecto, sua narrativa do caso Dora assemelha-se a um romance moderno: hesitamos entre Arthur Schnitzler, Marcel Proust (1871-1922) e Henrik Ibsen (1828-1906).” “Grande industrial, ele desfrutava de uma bela situação financeira e era admirado pela filha [Dora]. Em 1888, contraiu tuberculose, o que o obrigou a se instalar com toda a família longe da cidade. Assim, optou por residir em Merano, no Tirol, onde travou conhecimento com Hans Zellenka (Sr. K.), um negociante menos abastado que ele, casado com uma bela italiana, Giuseppina ou Peppina (Sra. K.), que sofria de distúrbios histéricos e era uma assídua freqüentadora de sanatórios. Peppina tornou-se amante de Phillip [Bauer] e cuidou dele em 1892, quando ele sofreu um descolamento da retina.”

Katharina, a mãe de Ida, provinha, como o marido, de uma família judia originária da Boêmia. Pouco instruída e bastante simplória, sofria de dores abdominais permanentes, que seriam herdadas pela filha. Nunca se interessara pelos filhos e, desde a doença do marido e da desunião que se seguira a ela, exibia todos os sinais de uma <psicose doméstica>: <Sem mostrar nenhuma compreensão pelas aspirações dos filhos, ela se ocupava o dia inteiro, escreveu F., em limpar e arrumar a casa, os móveis e os utensílios domésticos, a tal ponto que usá-los e usufruir deles tinha-se tornado quase impossível […]. Fazia anos que as relações entre mãe e filha eram pouco afetuosas. A filha não dava a menor atenção à mãe, fazia-lhe duras críticas e escapara por completo de sua influência.> E era uma governanta quem cuidava de Ida. Mulher moderna e <liberada>, esta lia livros sobre a vida sexual e dava informações sobre eles à sua aluna, em segredo. Abriu-lhe os olhos para o romance do pai com Peppina. Entretanto, depois de tê-la amado e de lhe ter dado ouvidos, Dora se desentendera com ela.”

Aos 9 anos de idade [o irmão mais velho de Dora, Otto] se tornara um menino prodígio, a ponto de escrever um drama em cinco atos sobre o fim de Napoleão. Depois, rebelara-se contra as opiniões políticas do pai, cujo adultério aprovava, por outro lado. (…) Secretário do Partido Social-Democrata de 1907 a 1914 e, depois, assessor de Viktor Adler no ministério de Assuntos Exteriores em 1918, viria a ser uma das grandes figuras da intelectualidade austríaca no entre-guerras. No entanto, apesar de seu talento excepcional, nunca se refez do desmoronamento do Império Austro-Húngaro e despendeu mais energia atacando Lenin do que combatendo Hitler (…) Bauer insistiu, até 1934, em fazer cruzadas típicas do pré-guerra contra a Igreja e a aristocracia, num momento em que, justamente, deveria ter-se associado a seus inimigos de outrora para repelir o fascismo. Poucas cegueiras tiveram conseqüências tão pesadas.”

foi em outubro de 1901 que Ida Bauer visitou Freud para dar início a esse tratamento, que duraria exatamente 11 semanas.”

Minha Ida já está garantida.

Dora fôra acusada por Hans[o amigo tarado do pai, quem curiosamente lhe havia metido chifres, i.e., furado seu olho; aqui cabe a citação da coincidência: o pai de Dora era cego de um olho] e por seu pai de ter inventado a cena de sedução. Pior ainda, fôra reprovada por Peppina Zellenka (Sra. K. [a chifradora – e quase chifruda]), que suspeitava que ela lesse livros pornográficos, em particular A fisiologia do amor, de Paolo Mantegazza (1831-1901), publicado em 1872 e traduzido para o alemão 5 anos depois. O autor era um sexólogo darwinista [?], profusamente citado por Richard von Krafft-Ebing e especializado na descrição <etnológica> das grandes práticas sexuais humanas: lesbianismo, onanismo, masturbação, inversão, felação, etc. Ao encaminhar sua filha a Freud, Philipp Bauer esperava que este lhe desse razão e que tratasse de pôr fim às fantasias sexuais da filha.” “O primeiro sonho revelou que Dora era dada à masturbação e que, na realidade, estava enamorada de Hans Zellenka.” “Dora não encontrara em Freud a sedução que esperava dele: ele não fôra compassivo e não soubera empregar com ela uma relação transferencial positiva. Nessa época, com efeito, ele ainda não sabia manejar a transferência na análise.”

fôra a própria Sra. K. que fizera a moça ler o livro proibido, para depois acusá-la. E fôra também ela quem lhe havia falado de coisas sexuais.” Que beleza…

Esse tema da homossexualidade inerente à histeria feminina seria longamente comentado por Jacques Lacan em 1951, enquanto outros autores fariam questão de demonstrar ora que Freud nada entendia de sexualidade feminina,¹ ora que Dora era inanalisável.”

¹ A única coisa certa nesse imbróglio todo!

Ida Bauer nunca se curou de seu horror aos homens.Mas seus sintomas se aplacaram. Após sua curta análise, ela pôde vingar-se da humilhação sofrida, fazendo a Sra. K. confessar o romance com seu pai e levando o Sr. K. a confessar a cena do lago.” “Em 1903, casou-se com Ernst Adler [Adler é o quê afinal, uma espécie de ‘Silva’?], um compositor que trabalhava na fábrica de seu pai.” “Em 1923, sujeita a novos distúrbios — vertigens, zumbidos no ouvido, insônia, enxaquecas —, por acaso chamou à sua cabeceira Felix Deutsch. Contou-lhe toda a sua história, falou do egoísmo dos homens, de suas frustrações e de sua frigidez. Ouvindo suas queixas, Deutsch reconheceu o famoso caso Dora: <Desse momento em diante, ela esqueceu a doença e manifestou um imenso orgulho por ter sido objeto de um texto tão célebre na literatura psiquiátrica.> Então, discutiu as interpretações de seus dois sonhos feitas por Freud. Quando Deutsch tornou a vê-la, os ataques tinham passado.”

Dora tinha voltado contra o próprio corpo a obsessão de sua mãe: <Sua constipação, vivida como uma impossibilidade de ‘limpar os intestinos’, causou-lhe problemas até o fim da vida.>

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Freud, Fragmento da análise de um caso de histeria (1905);

Felix Deutsch, Apostille au “Fragment d’une analyse d’hystérie (Dora)” (1957), Revue Française de Psychanalyse, n. 37, janeiro-abril de 1973, 407-14;

Lacan. O Seminário, livro 17, O avesso da psicanálise (1969-1970) (Paris, 1991), Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1992.

benefício primário e secundário da doença

Defesa secundária e benefício secundário surgem como duas modalidades de resposta do ego a esse <corpo estranho> que o sintoma antes de mais nada é”

O que R***** e Maria D’Stress nunca entenderão: os benefícios de ser sedentário são muito maiores que os de ser um “saudável”!

Bernays, Anna, née Freud (1859-1955), irmã de Sigmund Freud

Em suas lembranças, manifestou o mesmo ciúme que seu irmão sentira em relação a ela, quando era criança. Contou até que pontoAmalia Freudprivilegiava o filho mais velho: ele tinha direito a um quarto só para ele, enquanto as irmãs se apertavam no resto do apartamento. Quando Amalia quis dar aulas de piano a Anna Freud (futura Bernays), Sigmund se opôs e ameaçou deixar a casa. Quando ela tinha 16 anos, ele a impediu de ler as obras de Honoré de Balzac e deAlexandre Dumas (1802-1870). Essa atitude tirânica estava ligada ao fato de que Freud fora muito ciumento de seu irmão Julius Freud, nascido depois dele, e posteriormente se sentira culpado de sua morte.” E o kiko?

Em outubro de 1883, Anna Freud casou-se comEli Bernays, irmão deMartha Bernays, futura mulher de Freud, com o qual este não tardou a se indispor por causa de uma banal história de dinheiro.Novamente manifestou seu ciúme querendo que Martha, sua noiva, tomasse partido por ele, o que ela não fez. Por isso, não assistiu ao casamento da irmã. Tempos depois, deu fim à briga e ajudou os Bernays a emigrar para os Estados Unidos, onde Eli se tornou um homem de negócios muito rico.”

Bettelheim, Bruno (1903-1990)

Não se pode evocar a vida e a obra de Bruno Bettelheim sem levar em conta o escândalo que estourou nos Estados Unidos algumas semanas depois de sua morte. Em conseqüência da publicação, em alguns grandes jornais, de cartas de ex-alunos da Escola Ortogênica de Chicago, que ele dirigira durante cerca de 30 anos e que acolhia crianças classificadas como autistas, a imagem do bom <Dr. B.>, como era chamado, se apagava por trás da figura de um tirano brutal, que fazia reinar o terror em sua escola.”

Os termos de impostor, de falsificador e de plagiário se somaram ao de charlatão. Esse tumulto teve pouca repercussão na França, onde ele gozara, em razão do sucesso de seu livro A fortaleza vaziae do programa dedicado à Escola Ortogênica, realizado por Daniel Karline Tony Lainépara a televisão francesa e difundido em outubro de 1974, de um imenso prestígio que só foi prejudicado pelo declínio geral das idéias filosóficas e psicanalíticas dos anos 1970.”

Nascido em Viena a 28 de agosto de 1903, em uma família da pequena burguesia judaica assimilada, de uma feiúra constatada sem delicadeza pela mãe, que nunca lhe dedicou grande afeição, Bruno Bettelheim manifestou cedo suas tendências à depressão.”

Preso pela Gestapo, chegou a Dachau a 3 de junho de 1938, depois de ter sido violentamente espancado. Transferido depois para o campo de concentração de Buchenwald a 23 de setembro de 1938, encontrou ali Ernst Federn, filho de Paul Federn, companheiro de Freud. Naquele universo de medo, angústia e humilhação permanentes, começou a fazer um trabalho consigo mesmo, para resistir à ação mortífera dos SS. Foi a experiência desses campos a origem do conceito de <situação extrema>, pelo qual ele designava as condições de vida diante das quais o homem pode seja abdicar, identificando-se com a força destruidora, constituída tanto pelo carrasco ou pelo ambiente quanto pela conjuntura, seja resistir, praticando a estratégia da sobrevivência — Sobreviver seria o título de um de seus livros — que consiste em construir para si, a exemplo do que Bettelheim supunha ser a origem do autismo, um mundo interior cujas fortificações o protegeriam das agressões externas. Libertado a 14 de abril de 1939, graças a intervenções que seriam para ele uma nova ocasião de fabular, emigrou para os Estados Unidos, despojado de todos os seus bens.”

Assim, Bruno Bettelheim tornou-se especialista em campos de concentração, qualidade que se revelaria sobrecarregada de muitos mal-entendidos, desta vez com o conjunto da comunidade judaica. Com efeito, os testemunhos dos raros sobreviventes dos campos de morte fariam aparecer a insondável distância que separava o universo concentracionário da empreitada de extermínio sistemático, cujo símbolo será, para sempre, Auschwitz. Bruno Bettelheim levaria anos para admitir essa diferença, recusando-se a ver nela o limite trágico de sua virulenta crítica daquilo que ele apresentava como a passividade dos judeus diante de seus torturadores.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

B., Psychanalyse des contes de fées;

Nina Sutton, Bruno Bettelheim, une vie, Paris, Stock, 1995.

Biblioteca do Congresso (Washington), a tragédia “alexandrina” (para não dizer que tudo se resume a Édipo) da família Freud!

Foi ali, no departamento de manuscritos, que foram depositados os arquivos de Freud (cartas, manuscritos, etc.) e os de inúmeros outros psicanalistas de diferentes países. Essa iniciativa foi tomada por Siegfried Bernfeld. Depois dele, Kurt Eissler, psicanalista também de origem vienense e autor de vários livros sobre Freud, foi, depois da II Guerra Mundial, o principal responsável por esse grande depósito de saber e memória, que assumiu o nome de Sigmund Freud Archives (SFA) ou Arquivos Freud. Ele colecionou documentos apaixonantes, tanto interrogando todos os sobreviventes da saga freudiana quanto preservando a gravação de suas entrevistas em fitas magnéticas. De comum acordo com Anna Freud, Eissler editou normas de conservação draconianas, as quais, respeitando a vontade dos doadores, proibiram à maioria dos pesquisadores externos à IPA o acesso a esse reservatório. Foi sob a direção dele, sumamente ortodoxa, que, a partir de 1979, numa reação ao espírito de censura, produziu-se uma virada revisionista na historiografia freudiana, em especial a propósito da edição das cartas de Freud a Wilhelm Fliess, confiada pelo próprio Eissler a um pesquisador pouco escrupuloso: Jeffrey Moussaieff Masson. A censura e a desconfiança, assim, levaram ao favorecimento de uma iniciativa historiográfica violentamente antifreudiana.” O que eu chamo de ENANTIODROMIA.

A coleção Sigmund Freud, dividida em séries (A, B, E, F e Z), e cujos direitos de publicação dependem da Sigmund Freud Copyrights (que representa os interesses financeiros das pessoas legalmente habilitadas), está agora acessível a todos os pesquisadores. Seu regulamento prevê algumas restrições, ora justificadas e conformes às leis em vigor, ora contestáveis. Quanto à série Z, sujeita a uma suspensão progressiva da imposição de sigilo que se estende até 2100, ela encerra, supostamente, documentos concernentes à vida privada de pessoas (pacientes, psicanalistas, etc.), as quais é preciso proteger.

Na realidade, essa série Z contém alguns textos que nada têm de confidencial, outros que não comportam nenhuma revelação bombástica, ainda que digam respeito a segredos de família ou do divã, e outros, por fim, cuja presença nessa classe nada tem de evidente: p.ex., contratos de Freud com seus editores, cartas trocadas com uma organização esportiva judaica, ou documentos sobre Josef Freud que já são conhecidos dos historiadores. Patrick Mahony e o historiador Yosef Hayim Yerushalmi denunciaram o regulamento que rege a organização dessa série numa conferência notável, realizada em 1994. Este último sublinhou que esconder segredos de polichinelo conduz, antes, a alimentar boatos inúteis, e que a única maneira de evitá-los seria abrir os chamados arquivos secretos.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Yosef Hayim Yerushalmi, “Série Z” (1994), “Une fantaisie archiviste”, Le Débat, 92, novembro-dezembro de 1996, 141-52(artigo);

Jacques Derrida, Mal d’archive, Paris, Galilée, 1995.

Binswanger, Ludwig (1881-1966)

O tio de Ludwig Binswanger, Otto Binswanger (1852-1929), que tratou de Friedrich Nietzsche (1844-1900) e conheceu Freud em 1894, por ocasião de um congresso em Viena, publicou trabalhos sobre a histeria e a paralisia geral. Nomeado professor em Iena, acolheu o sobrinho entre 1907 e 1908 no seu serviço da clínica psiquiátrica desta cidade, onde o jovem Ludwig ficaria conhecendo sua futura mulher, Hertha Buchenberger.”

Sua atração crescente pela filosofia, sua curiosidade e o contato assíduo com intelectuais e artistas de seu tempo, entre os quais Martin Buber (1878-1965), Ernst Cassirer (1874-1945), Martin Heidegger (1889-1976), Edmund Husserl (1859-1938), Karl Jaspers (1883-1969), Edwin Fischer, Wilhelm Furtwängler, Kurt Goldstein (1878-1965), Eugène Minkowski, o levaram a desenvolver uma concepção diferente da via freudiana. Mas esse afastamento não o faria renunciar à teoria. Seu respeito, sua admiração e amizade por Freud ficariam intactos ao longo dos anos, como mostram a sua intervenção do dia 7 de maio de 1936, por ocasião do octogésimo aniversário de Freud, e também o seu texto de 1956, destinado à comemoração do centenário de nascimento do inventor da psicanálise, intitulado Meu caminho para Freud.”

publicou em 1930 Sonho e existência, em que misturava a concepção freudiana da existência humana com as de Husserl e de Heidegger. Foucault redigiria para essa obra, que ele traduziria com Jacqueline Verdeaux, um longo prefácio. Em 1983, na versão inglesa (inédita em francês) da apresentação do seu livro O uso dos prazeres, Foucault evocaria a sua dívida em relação a Binswanger e as razões pelas quais se afastou dele.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Joseph Roth, La Marche de Radetzky (1932), Paris, Seuil, 1982.

Bion, Wilfred Ruprecht

Bion foi o aluno mais turbulento de Melanie Klein, cujo dogmatismo rejeitou para construir uma teoria sofisticada do self e da personalidade, fundada em um modelo matemático e repleta de noções originais — pequenos grupos, função alfa, continente/conteúdo, objetos bizarros, pressupostos de base, grade, etc. — que, em certos aspectos, se assemelhavam às de Jacques Lacan, seu contemporâneo. Como este, tentou dar um conteúdo formal à transmissão do saber psicanalítico, apoiando-se em fórmulas e na álgebra, e, também como ele, apaixonou-se pela linguagem, pela filosofia e pela lógica, mas com uma perspectiva nitidamente cognitivista.”

Nascido em Muttra, no Pendjab, de mãe indiana e pai inglês, engenheiro especialista em irrigação, foi educado por uma ama-de-leite e passou a infância na Índia, no fim da era vitoriana e no apogeu do período colonial. Não sem humor, diria que todos os membros de sua família eram <completamente malucos>. Em sua autobiografia, apresentou sua mãe como uma mulher fria e aterrorizante, que lhe lembrava as correntes de ar geladas das capelas inglesas.”

Só gostava das atividades esportivas e permaneceu virgem até seu casamento, aos 40 anos. Em janeiro de 1916, foi incorporado a um batalhão de blindados e logo estava no campo de batalha de Cambrai, no meio dos obuses e do fogo da guerra. Saiu em 1918 com a patente de capitão, uma sólida experiência da fraternidade humana e dos artifícios da hierarquia militar, de que se serviria anos depois.”

Em 1932, contratado como médico assistente na Tavistock Clinic de Londres, dirigiu tratamentos de adolescentes delinqüentes ou atingidos por distúrbios da personalidade, e ocupou-se durante cerca de dois anos do tratamento de Samuel Beckett.”

Amigo e admirador de James Joyce (1882-1941) desde 1928, Beckett se indispusera com ele dois anos depois, após ter repelido as pretensões amorosas de sua filha, Lucia Joyce, doente de esquizofrenia e tratada por Jung. Atormentado por uma mãe conformista e abusiva, que desconhecia seu talento e desaprovava sua conduta, sofria em 1932 de graves distúrbios respiratórios, de dores de cabeça e de diversos problemas crônicos ligados ao alcoolismo e a uma tendência para a vadiagem. Assim, decidira fazer uma psicoterapia, a conselho de seu amigo, o doutor Geoffrey Thomson. O tratamento com Bion foi conflituoso e difícil. A cada vez que Beckett voltava para a casa de sua mãe em Dublin, sofria de terrors noturnos, torpor e furúnculos no pescoço e no ânus. Por isso, Bion acabou recomendando-lhe que se afastasse dela. Beckett não conseguiu e interrompeu a análise, depois de ter assistido, a conselho de Bion, a uma conferência de Jung na Tavistock Clinic, na qual este afirmava que os personagens de uma ficção são sempre a imagem mental do escritor que os criou.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Didier Anzieu, “Beckett et Bion”, Revue Française de Psychanalyse, Paris, Mentha, 1992. (artigo)

bissexualidade

Assim como todos os trabalhos modernos sobre o transexualismo tomaram por mitos fundadores a lenda de Hermafroditos e os amores da deusa Cibele, as reflexões sobre a bissexualidade sempre tiveram por origem o célebre relato dos infortúnios de Andrógino, feito por Aristófanes no Banquete de Platão”

Foi com a publicação, em 1871, de A descendência do homem, de Charles Darwin (1809-1882), que começou a se efetuar a passagem do mito platônico da androginia para a nova definição da bissexualidade, segundo as perspectivas da ciência biológica. Tratava-se, na época, de dotar o estudo da sexualidade humana de uma terminologia adequada em matéria de <raça>, constituição, espécie, organicidade, etc. A contribuição da embriologia foi decisiva, na medida em que ela pôde mostrar, graças à utilização do microscópio, que o embrião humano era dotado de duas potencialidades, uma masculina e outra feminina. Daí a idéia de que a bissexualidade já não era apenas um mito, porém uma realidade da natureza. Através dos ensinamentos de Carl Claus e, mais tarde, em contato com seu amigo Wilhelm Fliess, Freud adotou, por volta de 1890, a tese da bissexualidade.”

Em seu livro de 1896 sobre as relações entre o nariz e os órgãos genitais, Fliess expôs sua concepção dupla da bissexualidade e da periodicidade, estabelecendo um vínculo entre as dores da menstruação e as do parto, todas remetidas a <localizações genitais> situadas no nariz. Daí decorria a tese da periodicidade, segundo a qual as neuroses nasais, os acessos de enxaqueca e outros sintomas do ciclo feminino obedeciam a um ritmo de 28 dias, como a menstruação.”

Em seguida, após seu rompimento com Fliess, Freud apagaria os vestígios desse empréstimo [teoria da bissexualidade psíquica], sobretudo por causa da delirante história de plágio em que seria implicado por intermédio de Hermann Swoboda.”Pense 2x: com Freud nada é delirante!

Weininger assimilava o judeu à mulher, sublinhando, além disso, que esta era pior do que aquele, uma vez que o judeu, como encarnação de uma dialética negativa, podia ter acesso à emancipação. Assim, a noção de bissexualidade serviu para reinstaurar sob nova forma os velhos preconceitos da época clássica.”

Depois de fazer da bissexualidade o núcleo central de sua doutrina da homossexualidade e da sexualidade feminina, Freud considerou que essa noção era de completa obscuridade, na medida em que não podia articular-se com a de pulsão. Em 1937, porém, deu meia-volta e, em Análise terminável e interminável, mencionou o nome de Fliess e voltou à idéia de 1919 de que ambos os sexos recalcavam o que dizia respeito ao sexo oposto: a inveja do pênis, na mulher, e, no homem, a revolta contra sua própria feminilidade e sua homossexualidade latente: Já mencionei em outros textos que, na época, esse ponto de vista foi-me exposto por Wilhelm Fliess, que se inclinava a ver na oposição entre os sexos a verdadeira causa e o motivo originário do recalque. Só faço reiterar minha discordância de outrora ao me recusar a sexualizar o recalque dessa maneira, e portanto, a lhe dar um fundamento biológico, e não apenas psicológico.

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Freud, Bate-se numa criança (1919);

Wilhelm Fliess, Les Relations entre le nez et les organes génitaux féminins présentés selon leurs significations biologiques (Viena, 1897), Paris, Seuil, 1977;

Otto Weininger, Sexe et caractère (Viena, 1903), Lausanne, L’Âge d’Homme, 1975;

Jacques Le Rider, Le Cas Otto Weininger. Racines de l’antiféminisme et de l’antisémitisme, Paris, PUF, 1982.

Bleuler, Eugen (1857-1939)

Inventor dos termos esquizofrenia e autismo, diretor, depois de August Forel, da prestigiosa clínica do Hospital do Burghölzli, por onde passaram todos os pioneiros do freudismo, Eugen Bleuler foi o grande pioneiro da nova psiquiatria do século XX e um reformador do tratamento da loucura comparável ao que tinha sido, um século antes, Philippe Pinel (1745-1825).”“fundou uma verdadeira escola de pensamento, o bleulerismo, que marcou o conjunto do saber psiquiátrico até aproximadamente 1970, data a partir da qual generalizou-se em todos os países do mundo um novo organicismo, nascido da farmacologia.”

Descendentes diretos de uma certa tradição francesa, de Charcot, por um lado, e por outro de Hippolyte Bernheim, os principais especialistas em doenças mentais e nervosas procuravam elaborar uma nova clínica da loucura, fundada não na abstração classificadora, mas na escuta do paciente: queriam ouvir o sofrimento dos doentes, decifrar sua linguagem, compreender a significação de seu delírio e instaurar com eles uma relação dinâmica e transferencial.” “do mesmo modo que Freud transformara a histeria em um paradigma moderno da doença nervosa, Bleuler inventava a esquizofrenia para fazer dela o modelo estrutural da loucura no

século XX.” “Através desse deslocamento, Bleuler renovava o gesto do alienismo do Século das Luzes, segundo o qual a loucura era curável, pois todo indivíduo insano conservava em si umresto de razão, acessível por um tratamento apropriado: o tratamento moral. Ora, no fim do século XIX, as diversas teorias da hereditariedade-degenerescência tinham abolido essa idéia de curabilidade, em proveito de um constitucionalismo da doença mental, tendo como corolário o confinamento perpétuo.”

Se Bleuler queria adaptar a psicanálise ao asilo, Freud sonhava conquistar, desde Viena, via Zurique, a terra prometida da psiquiatria de língua alemã que, nessa época, dominava o mundo. E contava com a fidelidade de Jung, assistente de Bleuler no Burghölzli, para ajudá-lo nesse empreendimento. Contra Bleuler, ele conservou a noção de auto-erotismo e preferiu pensar o domínio da psicose em geral sob a categoria da paranóia, ao invés da esquizofrenia. Opôs assim o sistema de Kraepelin à inovação bleuleriana, mas tranformou-o de cima a baixo, a fim de estabelecer uma distinção estrutural entre neurose, psicose e perversão.

Quanto a Jung, separou-se primeiro de Bleuler, seu mestre em psiquiatria, e depois de Freud, que fizera dele o seu sucessor. Decidiu utilizar a expressão demência precoce, e não a de esquizofrenia, e inventou em 1910 a palavra introversão, que preferiu a autismo, para designar a retirada da libido para o mundo interior do sujeito.”

Depois de ser contestada pela antipsiquiatria, a clínica freudo-bleuleriana foi marginalizada, a partir de 1970, pela elaboração de um Manual diagnóstico e estatístico dos distúrbios mentais (DSM III, IV etc.), de inspiração comportamentalista e farmacológica.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Jean Garrabé, Histoire de la schizophrénie, Paris, Seghers, 1992.

Manfred Bleuler (filho deste Bleuler), La Pensée bleulérienne dans la psychiatrie suisse, Nervure, VIII, novembro de 1995, 23-4.

Bonaparte, Marie

Filha de Roland Bonaparte (1858-1924), neto de Lucien, irmão do imperador, Marie Bonaparte, nascida em Saint-Cloud, era portanto sobrinha-bisneta de Napoleão Bonaparte (1769-1821). Sua mãe morreu por ocasião de seu nascimento e a menina teve uma infância e uma adolescência trágicas. Educada pelo pai, que só se interessava por suas atividades de geógrafo e antropólogo, e por sua avó paterna, verdadeira tirana doméstica, ávida de sucesso e de notoriedade, Marie tinha tudo de uma personagem romanesca.

Seu casamento arranjado com o príncipe Jorge da Grécia (1869-1957), homossexual depravado, alcoólatra e conformista, fez dela uma alteza real coberta de honras e de celebridade, mas sempre obcecada pela procura de uma causa nobre e principalmente preocupada com sua frigidez. Quando encontrou Freud em Viena em 1925, a conselho de René Laforgue, estava à beira do suicídio e acabava de publicar, sob o pseudônimo de Narjani, um artigo no qual louvava o mérito de uma intervenção cirúrgica, em voga na época, que consistia em aproximar o clitóris da vagina, a fim de transferir o orgasmo clitoridiano para a zona vaginal. Acreditava assim que poderia curar sua frigidez e não hesitou em experimentar a operação em si própria, mas sem nunca obter o menor resultado.

Graças ao minucioso trabalho de Célia Bertin, única a ter acesso aos arquivos da família, conhecemos a vida dessa princesa, estimada por Freud, que reinou como soberana sobre a Sociedade Psicanalítica de Paris, da qual foi um dos 12 fundadores, ao lado de René Laforgue, Adrien Borel, Rudolph Loewenstein, Édouard Pichon, Raymond de Saussure, René Allendy, etc. Tradutora incansável da obra freudiana, organizadora do movimento francês, que financiou em parte com seu dinheiro, Marie Bonaparte consagrou a vida à psicanálise, com um entusiasmo e uma coragem invejáveis. Lutou em favor da análise leiga e, diante do nazismo, adotou uma atitude exemplar, negando-se a qualquer concessão. Pagou um resgate considerável para arrancar Freud das garras da Gestapo, salvou seus manuscritos e instalou-o em Londres com toda a família. Foi sua atividade eficaz a serviço da causa que lhe valeu ocupar um lugar central na França e tornar-se uma das personalidades mais respeitadas do movimento freudiano.

Depois da Segunda Guerra Mundial, tornou-se uma espécie de monstro sagrado, incapaz de perceber as ambições, os sonhos e os talentos das duas novas gerações francesas (a segunda e a terceira).

Durante a primeira cisão (1953) e às vésperas da segunda (1963), opôs-se fanaticamente a Jacques Lacan, a quem detestava e que a tratava de <cadáver de Ionesco>. Na verdade, ele lhe tirava o papel de chefe de escola, ao arrastar consigo a juventude psicanalítica francesa.

Apesar de sua extensão, a obra escrita de Marie Bonaparte é bastante medíocre,à exceção de alguns belos textos, entre os quais uma obra monumental sobre Edgar Allan Poe (1809-1849), ilustração dos princípios freudianos da psicobiografia, um artigo de 1927 sobre Marie-Félicité Lefebvre (um caso de loucura criminosa) e os seus famosos <cadernos>: os Cinco cadernos de uma menina, nos quais comentou sua análise e suas lembranças da infância, e os Cadernos negros, diário íntimo em que relatou todos os detalhes de sua vida e as confidências que Freud lhe fez sobre vários assuntos.

Ao contrário do tratamento dos outros discípulos, o da princesa foi interminável. Fez-se em alemão e em inglês, por etapas sucessivas, de 1925 a 1938: cinco a seis meses nos primeiros anos, um a dois meses nos anos seguintes. Desde o início, Marie recebeu uma forte interpretação. Depois de um sonho, em que ela se via em seu berço assistindo a cenas de coito, Freud afirmou peremptoriamente que ela não tinha apenas ouvido essas cenas, como a maioria das crianças que dormem no quarto dos pais, mas que ela as vira em pleno dia. Assustada e sempre preocupada em obter provas materiais, recusou essa afirmação e protestou que não tinha tido mãe. Freud manteve o que afirmara e lembrou a presença de sua ama. Finalmente, Marie decidiu interrogar o meio-irmão de seu pai, que tratava dos cavalos na casa em que passou a infância. Constrangido, o velho contou como tivera relações sexuais em pleno dia, diante do berço de Marie. Ela tinha pois visto cenas de coito, de felação e de cunilíngua.” Um bebê nem sabe separar as partes do corpo!

Durante a análise, ele evitou que ela tivesse uma relação incestuosa com o filho, e impôs certos limites às suas experiências cirúrgicas, sem conseguir, entretanto, impedi-la de passar ao ato. Deve-se dizer que a sua situação contratransferencial era difícil: ao longo de toda a duração dessa análise, Freud sofreu temíveis operações da mandíbula, a fim de combater a progressão do câncer. Como poderia ele, em tais condições, interpretar o gozo sentido por Marie ao manejar o bisturi?”

Deduziu uma psicologia da mulher da qual o inconsciente era esvaziado. Afastando-se simultaneamente da escola vienense e da escola inglesa, distinguiu três categorias de mulheres: as que reivindicam e procuram apropriar-se do pênis do homem; as que aceitam e se adaptam à realidade de suas funções biológicas ou de seu papel social; as que renunciam e se afastam da sexualidade.Essas teses não teriam eco na França, onde o debate sobre esse tema seria conduzido por Simone de Beauvoir (1908-1986) e depois pelos alunos de Lacan (François Perrier e Wladimir Granoff) e Françoise Dolto.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Celia Bertin, La Dernière Bonaparte, Paris, Perrin, 1982.

Borderline (caso-limite)

A noção do borderline faz parte do vocabulário clínico norte-americano e anglo-saxão próprio da corrente da Self-Psychology e, sob certos aspectos, do pós-kleinismo da década de 1960. Perpassa igualmente o neofreudismo e o culturalismo e acabou se integrando à terminologia psicanalítica francesa, sob o nome de états-limites (no plural).”

Otto Fenichel foi um dos primeiros, em 1945, a sublinhar a existência desse tipo de patologia: Existem personalidades neuróticas que, sem desenvolver uma psicose completa, possuem inclinações psicóticas, ou manifestam uma propensão a se servir de mecanismos esquizofrênicos em caso de frustração. Essa noção foi consideravelmente desenvolvida, mais tarde, nos trabalhos de Heinz Kohut e Otto Kernberg, que propôs o termo <organização fronteiriça> para demonstrar com clareza que o estado borderline era estável e duradouro.

Foi o psicanalista norte-americano Harold Searles, especialista em esquizofrenia, quem produziu, nesse mesmo período, os trabalhos mais pertinentes a respeito dessa questão, a partir de uma longa prática na Chesnut Lodge Clinic, uma das mecas do tratamento psicanalítico das psicoses, onde trabalhou Frieda Fromm-Reichmann depois de sua emigração da Alemanha. Marcado pelo ensino de Harry Stack Sullivan, Searles desarticulou a definição clássica da loucura à maneira dos artífices da antipsiquiatria, mostrando que, nos pacientes borderline, o eu funciona de maneira autística. Em seu célebre livro de 1965, O esforço de enlouquecer o outro, Searles criticou a ortodoxia, freudiana sublinhando como a prática ortodoxa da transferência pode desembocar numa estratégia de terror, que consiste em tornar o paciente dependente do analista. Contrastou com isso uma prática da análise inspirada no tratamento dos estados borderline e fundamentada na idéia de reconhecimento mútuo entre o terapeuta e o paciente.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Otto Kernberg, com Michael A. Selzer, Harold W. Koenisgsberg, Arthur C. Carr e Ann H. Appelbaum, La Thérapie psychodinamique des personnalitiés-limites (N. York, 1989), Paris, PUF, 1995.

Bowlby, John

A partir de 1948, dirigiu uma pesquisa sobre as crianças abandonadas ou privadas de lar, cujos resultados tiveram repercussão mundial sobre o tratamento psicanalítico do hospitalismo, da depressão anaclítica e das carências maternas, assim como sobre a prevenção das psicoses. Em 1950, tornou-se assessor da ONU, onde suas teses tiveram papel considerável na adoção de uma carta mundial dos direitos da infância. Um ano depois, publicou o seu relatório Maternal Care and Mental Health, no qual mostrou que a relação afetiva constante com a mãe é um dado fundamental para a saúde psíquica da criança. No fim da vida, sempre apaixonado por biologia e etologia, redigiu a biografia de Charles Darwin (1809-1882). Estudou minuciosamente a primeira infância do sábio, suas doenças psicossomáticas, suas dúvidas e depressões, pintando um vigoroso quadro da época vitoriana e das reações que a revolução darwiniana suscitou na Inglaterra.”

Brasil

Em 1890, o antigo Hospício Pedro II foi transformado em hospital de alienados, na mais pura tradição do gesto de Philippe Pinel (1745-1826). A força da nosologia francesa foi tal, durante cerca de uma década, que a expressão <estar Pinel> passou, na linguagem corrente, a significar <estar louco>.

Foi nesse terreno da primeira reforma asilar que Juliano Moreira, baiano e negro, introduziu a nosografia alemã. Amigo de Emil Kraepelin e excelente conhecedor da Europa, foi nomeado professor na Universidade da Bahia com a idade de 23 anos, e tomou em 1903 a direção do Hospital Nacional de Alienados do Rio de Janeiro. Nove anos depois, graças à sua ação, a psiquiatria se tornou uma especialidade autônoma no currículo dos estudos médicos. Fundador da psiquiatria brasileira moderna, Juliano Moreira foi também o primeiro no país a adotar e divulgar a doutrina freudiana.

a atração dos filhos de família pelas mulheres de cor provinha das relações íntimas da criança branca com a sua ama negra: uma sexualidade carnal e sensual.”

Assim como sob a monogamia surgia sempre a prática mal encoberta da poligamia, sob o monoteísmo perfilavam-se todas as variantes de um politeísmo selvagem. Assim, quando foi instaurado, por um homem negro, um saber psiquiátrico que visava arrancar a loucura das práticas mágicas, a clivagem se repetiu. A nova ordem não conseguiu pôr termo às antigas tradições terapêuticas do transe e das possessões (o candomblé).”

Reservada inicialmente, no período entre as duas guerras, à grande burguesia paulista e a médicos preocupados em seguir as regras ortodoxas da IPA, a psicanálise se tornou, na segunda metade do século, ao desenvolver-se no Rio e em outras cidades, a nova psicologia das classes médias brancas, formadas na universidade. Tomou o lugar da antiga sociologia comteana.”

Nessa época, a análise didática era obrigatória, e Marcondes, que não fizera análise, não podia formar alunos. Aliás, em 1931, teve que enfrentar um charlatão chamado Maximilien Langsner, que obteve grande sucesso em São Paulo. Esse homem usava um nome vienense e praticava a telepatia, proclamando-se o melhor discípulo de Freud. Temendo que esse espetáculo desacreditasse a psicanálise nos meios médicos, Marcondes pediu a Freud que desmascarasse o impostor, o que ele logo fez.”

Dissolvida em 1944, a SBP se reconstituiu em um grupo puramente paulista, a Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP), reconhecida pela IPA no Congresso de Amsterdam de 1951. A partir desse momento, houve intercâmbios entre Londres e São Paulo. Apaixonados pelas teorias de Melanie Klein e seus discípulos, analistas paulistas atravessaram o Atlântico para receber uma formação na British Psychoanalytical Society (BPS). Foi o caso de Virgínia Bicudo. Depois de cinco anos em Londres, ela trouxe as suas experiências clínicas da Tavistock Clinic e as ensinou. Por sua vez, Frank Philips, voltando de Londres, realizou no seio do grupo paulista seminários técnicos e teóricos de inspiração kleiniana. À influência compósita argentina acrescentou-se então a do kleinismo, nitidamente mais implantado em São Paulo do que no Rio. Posteriormente, Wilfred Ruprecht Bion, convidado por Philips, se tornaria um dos mestres do grupo paulista.”

Essa expansão da psicanálise nas duas grandes cidades rivais, São Paulo e Rio, assim como na região sul do país, permitiu ao freudismo brasileiro recuperar progressivamente o seu atraso em relação ao movimento argentino, sem com isso fazer emergir em suas fileiras chefes de escola de estatura comparável à dos argentinos. Deve-se dizer que, desde a origem, a situação no Brasil era diferente. Efetivamente, a escola brasileira, na ausência de um sólido movimento migratório durante o período entre as duas guerras, não tivera <fundador> que fosse ao mesmo tempo didata e teórico. E ela só encontrou a sua identidade, de uma cidade à outra, ao filiar-se ora à escola inglesa ou a algumas correntes norte-americanas, ora à escola argentina. Entretanto, desenvolveu uma grande atividade clínica em diversas instituições (hospitais e centros de saúde). A partir de 1960, com a criação da COPAL (futura FEPAL) e depois da Associação Brasileira de Psicanálise (ABP, 1967), ela se tornou, ao lado da escola argentina, a segunda grande potência do freudismo latino-americano.”

Em 31 de março de 1964, depois de dez anos de governo social-democrata, durante os quais o presidente Kubitschek inaugurou a cidade de Brasília, o marechal Castello Branco, apoiado pelos Estados Unidos e pelas classes médias, derrubou o presidente João Goulart e instaurou uma ditadura que duraria vinte anos. (…) Orgulhosos de construírem um Brasil novo, os tecnocratas, os conservadores e os anticomunistas afirmaram sua vontade de governar sem o sufrágio das massas. Os partidos foram dissolvidos, as forças armadas reorganizadas.”

Helena Besserman Vianna, psicanalista de extrema esquerda e membro da outra sociedade (SBPRJ), tomou conhecimento desse artigo. Suas opiniões radicais eram conhecidas, pois ela se expressara publicamente na SBPRJ, por ocasião de um debate com Bion, perguntando-lhe se ele aceitaria analisar um torturador. A assembléia respondera que essa pergunta era <provocadora, nem científica nem construtiva>. Helena enviou a Marie Langer o artigo da Voz Operária, acompanhado do nome e do endereço de Leão Cabernite [psicanalista carioca ligado aos militares, que dentre seus pacientes contava com um torturador, denunciado pelo jornal proletário acima] escritos à mão, para que ela o publicasse em sua revista Cuestionamos e pedisse à direção da IPA a abertura de um inquérito. Marie Langer mandou imediatamente o artigo a Serge Lebovici, presidente da IPA, e a diversos responsáveis do movimento psicanalítico. Depois, publicou-a em sua revista. Marie Langer tinha um peso considerável na IPA, em razão de sua notoriedade e de seu engajamento contra todas as ditaduras latino-americanas.

Preocupado com as conseqüências desse caso para a imagem da psicanálise no mundo, Lebovici preveniu Cabernite e David Zimmermann [sobrenome de fascista], membro da SPPA (Porto Alegre) e presidente da COPAL, que lhe respondeu logo que essa publicação era <um jornaleco que não merecia respeito>.” “Não só os autores negavam qualquer participação de Amílcar Lobo nesse gênero de atividade, como também acusavam o denunciante de fomentar um complô para desestabilizar a psicanálise brasileira, no momento em que ia se realizar o IV Congresso da ABP.” O Amílcar é o Lobo do homem.

Identificada por uma perícia grafológica, Helena Besserman Vianna pagou caro a denúncia do torturador. Sua sociedade recusou-se, durante dois anos, a lhe conferir o título de membro titular, ao passo que ela tinha teoricamente direito a ele, considerando-se o seu currículo. Pior ainda, o conselho de administração da SBPRJ se transformou em tribunal interno para acusá-la de delação, envolvendo a pessoa de um inocente (Amílcar Lobo), de plágio dos textos de seus colegas e enfim de falta de respeito para com Bion: uma verdadeira degradação pública. Posteriormente, Helena foi vítima de uma tentativa de atentado fracassada, por parte da polícia brasileira, prevenida por Amílcar Lobo. Ela só foi definitivamente reabilitada em 1980, quando um ex-prisioneiro revelou publicamente as atrocidades de Amílcar Lobo. Entretanto, nem Cabernite, nem Zimmermann, nem Lebovici prestaram contas de seu erro durante esse período, o que provocou uma verdadeira tempestade nas fileiras das duas sociedades do Rio.”

o lacanismo se implantou maciçamente na universidade, em particular nos departamentos de psicologia, trazendo assim uma cultura e uma identidade para a profissão de psicoterapeuta, abandonada pela ABP, que tendia, apesar de algumas exceções, como Inês Besouchet (1924-1991) por exemplo, a favorecer os médicos. Daí a eclosão paralela de múltiplos grupos, com diversas orientações: 26 no Rio, 27 em São Paulo, 7 no Rio Grande do Sul, 9 em Minas Gerais, ao todo 70 associações, reunindo cerca de 1500 psicoterapeutas. Essa cifra elevava o efetivo total dos psicanalistas freudianos a mais de 3000.”

as extravagâncias xamanísticas do célebre lacaniano brasileiro dos anos 1970, Magno Machado Dias, mais conhecido sob o nome de MDMagno.” “Analisado por Lacan em alguns meses, esse esteta carioca culto e sedutor, professor de semiologia na universidade, fundou em 1975, com Betty Milan, outra analisada de Lacan, o Colégio Freudiano do Rio de Janeiro (CFRJ). Tornou-se o terapeuta dos membros de seu grupo, que freqüentavam seu divã e seus seminários. MDMagno deu ao lacanismo carioca uma furiosa expansão, e o seu Colégio foi o núcleo inicial de todos os grupos formados depois no Rio, por cisões sucessivas. Evoluindo para um culturalismo radical, Magno se apresentava como fundador da psicanálise <abrasileirada>. Segundo a nova genealogia, Freud era o bisavô, Lacan o avô, MDMagno o pai.”

Na Bahia, Emilio Rodrigué, grande figura da escola argentina, realizou uma experiência única em seu gênero. Dissidente da APA, próximo de Marie Langer e do grupo Plataforma, recebera sua formação didática em Londres, com Paula Heimann e Melanie Klein. Instalando-se em 1974 no coração da civilização brasileira, entre a negritude e a colonização, casado com uma sacerdotisa da aristocracia do candomblé, apaixonado por historiografia, conseguiu reunir em torno de si um grupo composto de todas as tendências do freudismo. Assim, foi um dos raros psicanalistas, talvez o único, a estabelecer uma ponte entre todas as culturas do continente latino-americano, sem ceder nem ao universalismo abstrato, nem ao culturalismo desenfreado. Daí o seu lugar de mestre socrático, único na psicanálise neste fim do século XX.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Jurandir Freire Costa, História da psiquiatria no Brasil, Rio de Janeiro, 1976; (documentário)

Marialzira Perestrello, História da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro. Suas origens e fundação, Rio de Janeiro, Imago, 1987.

Breuer, Josef (1842-1925)

A imagem desse brilhante clínico vienense que tratou de Franz Brentano, Johannes Brahms (1833-1897), Marie von Ebner-Eschenbach e seus colegas médicos, o ginecologista Rudolf Chrobak (1843-1910), Theodor Billroth e o próprio

Freud, foi deformada por Ernest Jones. Em sua biografia de Freud, este o apresentou como um terapeuta tímido e estúpido, incapaz de compreender a questão da sexualidade. Foi necessário esperar pelo trabalho deAlbrecht Hirschmüller, historiador da medicina de língua alemã, para que fosse escrita a história das relações entre Freud e Breuer, longe das lendas da historiografia oficial.” “Josef Breuer não era crente nem praticante. Como Freud, permaneceu ligado à sua judeidade, sem proclamar nenhuma fé e defendendo os princípios da assimilação. Em 1859, orientou-se para a medicina, tornando-se aluno de Karl Rokitansky (1804-1878), de Josef Skoda, de Ernst von Brücke e, enfim, do assistente deste, Johann von Oppolzer(1808-1871), notável clínico geral, do qual foi por sua vez assistente. Foi no laboratório de fisiologia de Ewald Hering, rival de Brücke, que começou a trabalhar no problema da respiração. Essa formação fez dele o herdeiro de uma tradição positivista, originária da escola de Hermann von Helmholtz, pela qual se realizava a união de uma medicina de laboratório de estilo alemão e da medicina hospitalar vienense. Tornando-se célebre em 1868 por um estudo sobre o papel do nervo pneumogástrico na regulação da respiração, estudou depois os canais semicirculares do ouvido interno.”

Breuer e Freud tinham em sua clientela doentes mentais, principalmente mulheres histéricas da boa burguesia vienense. Assim, começaram a tornar-se, cada um a seu modo, especialistas em distúrbios psíquicos, o que os levou a assinarem juntos, em 1895, os famosos Estudos sobre a histeria.” “Sua amizade terminou na primavera de 1896. Entretanto, o conflito não foi nem violento nem definitivo, como aconteceu com Fliess e depois com Carl Gustav Jung. Constrangido por ter que pagar sua dívida financeira, Freud comportou-se com Breuer como um filho intransigente e revoltado. Suspeitou que ele quisesse tutelá-lo e acusou-o de ser oportunista e não ter a coragem de defender idéias novas. Na realidade, Breuer não tinha as mesmas ambições que Freud. Não procurando fazer nome na história das ciências nem tornar-se profeta de uma doutrina que iria abalar o mundo, mostrou-se sempre favorável à psicanálise.”

Brücke, Ernst Wilhelm von (1819-1892)

Brücke merece ser considerado o fundador da fisiologia na Áustria.”

Brücke ficara sabendo que eu cheguei várias vezes atrasado ao laboratório. Um dia, ele veio na hora em que eu deveria chegar e me esperou. […] O essencial estava em seus terríveis olhos azuis, cujo olhar me aniquilou. Aqueles que se lembram dos olhos maravilhosos que o mestre conservou até a velhice e que o viram encolerizado podem imaginar facilmente o que senti então.”Interpretação dos Sonhos

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Siegfried Bernfeld, Freud’s earliest theories and the school of Helmholtz, Psychoanalytic Quarterly, XIII, 1944, 341-62;

______. Freud’s scientific beginnings, American Imago, vol. 6, 1949, 163-96;

______. Sigmund Freud M.D., IJP, vol. 32, 1951, 204-17.

Caruso, Igor

em 1947, Caruso se separou sem traumas da WPV, cuja orientação lhe parecia excessivamente médica, excessivamente materialista, ou seja, excessivamente <americana>, para criar o primeiro círculo de trabalho vienense sobre a psicologia das profundezas. Mesmo continuando a ser freudiano, não aceitava os padrões de formação da IPA e, como Lacan, queria dar à psicanálise uma orientação intelectual, espiritual e filosófica. Assim, considerava-a, à luz da fenomenologia, como um método de edificação da personalidade humana (ou personalismo), destinado não a adaptar o sujeito ao princípio de realidade, mas a levá-lo a resolver as tensões resultantes da sua relação conflituosa com o mundo.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Igor Caruso, Psychanalyse et synthèse personnelle (Viena, 1952), Paris, Desclée de Brouwer, 1959.

castração

Em A interpretação dos sonhos todas as passagens relativas à castração, se excetuarmos uma alusão, aliás errada, a Zeus castrando Cronos, são acrescentadas em 1911 ou nas edições posteriores.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Stärcke, The Castration Complex

Charcot (1825-1893)

O nome de Jean Martin Charcot é inseparável da história da histeria, da hipnose e das origens da psicanálise, e também daquelas mulheres loucas, expostas, tratadas e fotografadas no Hospital da Salpêtrière, em suas atitudes passionais: Augustine, Blanche Wittmann, Rosalie Dubois, Justine Etchevery. Essas mulheres, sem as quais Charcot não teria conhecido a glória, eram todas oriundas do povo. Suas convulsões, crises, ataques, suas paralisias eram sem dúvida alguma de natureza psíquica, mas também eram conseqüência de traumas de infância, estupros, abusos sexuais. Em suma, da miséria da alma e do corpo, tão bem-descrita pelo mestre nas suas Lições da terça-feira.”

Graças ao método anátomo-clínico, descreveu a doença que levaria o seu nome: esclerose lateral amiotrófica.”

Foi em 1870 que se interessou pela histeria, por ocasião de uma reorganização dos setores do hospital. De fato, a administração tomou a decisão de separar os alienados dos epiléticos (não-alienados) e das histéricas. Como essas duas últimas categorias de doentes apresentavam sinais convulsivos idênticos, decidiu-se reuni-los em uma seção especial: a seção dos epiléticos simples.” “Charcot inaugurou assim um modo de classificação que distinguia a crise histérica da crise epilética e permitia à doente histérica escapar da acusação de simulação. Assim, abandonou a definição antiga de histeria, para substituí-la pelo conceito mais moderno de neurose.”

recorreu à hipnose: adormecendo as mulheres na Salpêtrière, fabricava sintomas histéricos experimentalmente, fazendo-os desaparecer imediatamente, provando assim o caráter neurótico da doença. Foi nesse ponto que seria atacado por Bernheim.” “em 1887, publicou Os demoníacos na arte, em colaboração com seu aluno Paul Richer (1849-1933). Para ele, tratava-se de encontrar nas crises de possessão e nos êxtases os sintomas de uma doença que ainda não recebera a sua definição científica.” “a fase epileptóide, quando a doente se contraía em uma bola e dava uma volta completa em torno de si mesma, a fase de clownismo, com seu movimento em arco de círculo, a fase passional, com seus êxtases, e enfim o período terminal, com suas crises de contraturas generalizadas. A isso Charcot acrescentava uma variedade <demoníaca> da histeria: aquela em que a Inquisição via os sinais da presença do diabo no útero das mulheres.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Désiré-Magloire Bourneville & Paul Regnard (org.), Iconografia fotográfica da Salpêtrière, “verdadeiro laboratório das representações visuais da histeria” (livro fotográfico).

Mon cher docteur Freud: Charcot’s unpublished correspondance to Freud, 1888-1893, anotações, tradução e comentários de Toby Gelfand, in: Bulletin of the History of Medecine, 62, 1888, 563-88.

Chistes e sua relação com o inconsciente, Os

Freud tinha paixão por aforismos, trocadilhos e anedotas judaicas, e não parou de colecioná-los ao longo de toda a sua vida. Como inúmeros intelectuais vienenses — Karl Kraus, p.ex. —, era dotado de um senso de humor corrosivo e adorava as histórias das Schadhen (casamenteiras judias) ou dos Schnorrer (pedintes), através das quais se exprimiam, por meio do riso, os principais problemas da comunidade judaica da Europa Central, confrontada com o anti-semitismo. Sob esse aspecto, como sublinha Henri F. Ellenberger, seu livro sobre o chiste é um pequeno monumento à memória da vida vienense: ali ele conta histórias de dinheiro e sonhos de glória, e piadas referentes ao sexo, à família, ao casamento, etc.”

QUE INFANTIL… “De Mark Twain (1835-1910) a Dom Quixote, distingue o humor, o cômico e o chiste propriamente dito. Todos os três, afirma, remetem o homem ao estado infantil, pois <a euforia que almejamos atingir por esses caminhos não é outra coisa senão o humor […] de nossa infância, idade em que desconhecíamos o cômico, éramos incapazes de espirituosidade e não precisávamos do humor para nos sentirmos felizes na vida>.”

Em 1916, Abraham Arden Brill redigiu a primeira versão do livro em inglês e escolheu a palavra wit como equivalente de Witz, com o risco de restringir a significação do chiste à espirituosidade intelectual, no sentido como dizemos que alguém <tem espírito>, ou <é uma pessoa espirituosa>, ou <faz tiradas oportunas>. Opondo-se a essa redução, James Strachey preferiu, em 1960, o vocábulo joke, que ampliou a significação do termo, estendendo-o até a blague, a brincadeira ou a farsa, com o risco de dissolver o dito espirituoso, ou seja, o aspecto intelectual do Witz freudiano, no campo mais vasto das diferentes formas de expressão do cômico. Na verdade, por trás dessa querela perfilava-se uma luta ideológica entre os ingleses e os norte-americanos [os anglo-saxões e os judeus?] pela apropriação da obra freudiana. É que Brill havia procurado, em sua tradução, <adaptar> o pensamento freudiano ao espírito de além-Atlântico, transformando certas blagues judaicas em piadas norte-americanas. Strachey, ao contrário, opondo-se a Brill, reivindicava uma fidelidade maior tanto ao texto freudiano quanto à língua inglesa (e não norte-americana) e à história vienense.” “Na França, foi Lacan, contrariando Marie Bonaparte, quem procurou traduzir Witz por trait d’esprit, assim dissociando o trait (rasgo, traço), como significante, do esprit (intelecto, engenho, espírito). A partir daí, os lacanianos, fascinados pelos trocadilhos do mestre, privilegiaram o termo Witz, preferencialmente a chiste, como se o emprego do termo alemão permitisse remeter o Witz freudiano a uma função simbólica da linguagem, a um traço significante não-redutível à diversidade das línguas. Em 1988, quando do lançamento da excelente tradução de Denis Messier, Jean-Bertrand Pontalis redigiu uma nota em que se recusou a traduzir Witz por trait d’esprit. Mesmo levando em conta o caráter positivo da contribuição teórica de Lacan, sublinhou, com justa razão, que o Witz tinha, no sentido freudiano, uma significação muito mais ampla e menos conceitual do que a leitura que dele propusera Lacan. Daí a opção de traduzir o livro como Le Mot d’esprit et sa relation à l’inconscient.”

Ver verbete agressão.

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Theodor Lipps, Komik und Humor. Eine psychologisch-ästhetische Untersuchung, Hamburgo, L. Voss, 1898;

Joël Dor, Introdução à leitura de Lacan, t. 1 (Paris, 1985), P. Alegre, Artes Médicas, 1992;

André Bourguignon, Pierre Cotet, Jean Laplanche & François Robert, Traduzir Freud (Paris, 1989), S. Paulo, Martins Fontes, 1992.

Cinco lições de psicanálise (Sobre a Psicanálise), 1910

Livro de Sigmund Freud, publicado pela primeira vez em inglês, no American Journal of Psychology, sob o título The Origin and Development of Psychoanalysis, numa tradução de H.W. Chase, e depois retraduzido por James Strachey em 1957, sob o título Five Lectures on Psycho-analysis. Publicado em alemão em 1910, sob o título Über Psychoanalyse. Traduzido para o francês em 1920 por Yves Le Lay, sob o título Origine et développement de la psychanalyse, e mais tarde, em 1923, sob o título Cinq Leçons sur la psychanalyse. Retraduzido por Cornélius Heim em 1991, sob o título Sur la psychanalyse. Cinq conférences, e depois, em 1993, por René Lainé & Johanna Stute-Cadiot, sob o título De la psychanalyse.”

Para Freud, esse momento marcou o fim de seu isolamento. No entanto, em 1914, em seu ensaio sobre A história do movimento psicanalítico, falou com certa leviandade das Cinco conferências, afirmando havê-las improvisado. Na verdade — e sua correspondência com Ferenczi o atesta —, redigiu-as durante todo o verão de 1909.”

O COMEÇO DO FIM: “Na época, eu contava apenas 53 anos, sentia-me jovem e saudável, e essa breve temporada no Novo Mundo foi, de maneira geral, benéfica para meu amor-próprio; na Europa, eu me sentia meio proscrito, enquanto ali me vi acolhido pelos melhores como um de seus pares. Foi como que a realização de um devaneio improvável subir ao púlpito de Worcester, para ali proferir as Cinco lições de psicanálise. A psicanálise, portanto, já não era uma formação delirante, havendo-se transformado numa parte preciosa da realidade.”

Inicialmente publicadas em inglês, essas cinco lições nada trazem de novo para quem conhece a essência da obra freudiana. No entanto, por sua clareza exemplar, têm uma função didática e constituem uma iniciação particularmente simples aos princípios gerais da psicanálise.” (veja instruções sobre a ordem da leitura de Freud ao final do post)

ESBOÇO DA OBRA:

A primeira conferência versa sobre a especificidade da abordagem psicanalítica da

neurose. A propósito disso, Freud evoca a história de Anna O. (Bertha Pappenheim) e a lembrança de Josef Breuer.

Na segunda conferência, explica de que modo o abandono da hipnose lhe permitiu captar a manifestação das resistências, do recalque e do sintoma, assim como seu funcionamento em relação ao surgimento de <moções> do desejo por ele qualificadas de <perturbadoras> para o eu.”

¹ Vocabulário intragável!

A conferência de Freud na quarta-feira à tarde, com efeito, foi perturbada pela intromissão de Emma Goldmann, a célebre anarquista norte-americana, acompanhada, nesse dia, por Ben Reitman, o <rei dos vagabundos>.

Em seu prefácio à tradução francesa de 1991, Jean-Bertrand Pontalis sublinhou a engenhosidade de que Freud deu mostras ao usar essa imagem do perturbador. Contudo, sublinhou também que a tática que consiste em desarmar o adversário em potencial comporta o risco de gerar, por força da moderação, um número excessivo de mal-entendidos. Assim, para não chocar o público norte-americano, Freud havia recuado, nesse momento, em relação às posições adotadas em 1905, em seus Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Essa concessão, entretanto, não evitaria que sua doutrina fosse assemelhada a um pansexualismo, tanto nos Estados Unidos quanto em todos os outros lugares.

Esse exemplo de deslizamento epistemológico, responsável por uma certa edulcoração da teoria, também responde pelo interesse desse livro. Nele, com efeito, podemos apreender como foi difícil o combate travado por Freud em prol do uso e da manutenção do termo sexualidade. Como sublinhou Jean Laplanche a esse respeito, <Ceder quanto à palavra já é ceder em ¾ quanto ao próprio conteúdo da idéia.>

cisão

Dá-se o nome de cisão a um tipo de ruptura institucional ocorrida no interior da IPAa partir do fim da década de 1920. O cisionismo é um processo ligado ao desenvolvimento maciço da psicanálise durante o entre-guerras e, mais tarde, durante a segunda metade do século XX. Atesta uma crise da instituição psicanalítica e a transformação desta num aparelho burocrático, destinado a administrar os interesses profissionais da corporação (análise didática e supervisão, análise leiga ou análise feita por médicos) a partir de regras técnicas (duração das sessões e dos tratamentos, currículo, hierarquias) que se tornaram contestáveis aos olhos de alguns de seus membros, a ponto de conduzi-los a rejeitá-las radicalmente e, depois, a promover uma secessão.”

O cisionismo, portanto, é o sintoma da impossibilidade de a psicanálise e o freudismo da segunda metade do século XX serem representados em sua totalidade unicamente pela IPA, ainda que ela seja a associação mais poderosa e mais legítima do mundo. Quanto mais importante é o movimento freudiano num país, mais freqüentes são as cisões. Por isso é que o cisionismo é realmente um fenômeno ligado ao desenvolvimento das instituições psicanalíticas.”

Somente a Grã-Bretanha conseguiu evitar as cisões, através de um arranjo interno da British Psychoanalytical Society (BPS) após as Grandes Controvérsias: em vez de levar a uma verdadeira cisão, os conflitos conduziram a uma divisão tripartite da própria BPS (kleinismo, annafreudismo e o Grupo dos Independentes).”

O termo difere, portanto, de cisma, muitas vezes empregado na terminologia inglesa e que, embora designe a contestação de uma autoridade legítima, tem uma conotação religiosa que não convém à inscrição da psicanálise no século. [hehe]”

A dissidência é um fenômeno historicamente anterior ao das cisões, contemporâneas da expansão maciça da psicanálise no mundo, e do advento da terceira geração psicanalítica mundial (Jacques Lacan, Heinz Kohut, Marie Langer, Wilfred Ruprecht Bion, Igor Caruso, Donald Woods Winnicott).” “De modo geral, emprega-se o termo dissidência para qualificar as duas grandes rupturas que marcaram os primórdios do movimento psicanalítico: com Alfred Adler, em 1911, e com Carl Gustav Jung, em 1913. Essas duas rupturas conduziram seus protagonistas a abandonar o freudismo e fundar, ao mesmo tempo, uma nova doutrina e um novo movimento político e institucional: a psicologia individual, no caso do primeiro, e a psicologia analítica, no que tange ao segundo.” “As dissidências de Wilhelm Stekel e Otto Rank, sob esse aspecto, são diferentes da adleriana e da junguiana, porquanto dizem respeito a certos aspectos da doutrina e não à sua totalidade. Trata-se, pois, de dissidências internas à história da teoria freudiana, da qual conservam quer o essencial, quer uma parte. A dissidência de Wilhelm Reich é da mesma ordem, tendo sido acompanhada, como a de Rank, de uma expulsão da IPA.”

Note-se que Lacan foi o único a utilizar a palavra excomunhão para designar a maneira como foi obrigado a deixar a IPA em 1963. Com isso, inscreveu sua ruptura com a legitimidade freudiana na linha direta do herem de Baruch Spinoza (1632-1677), que era um castigo de caráter leigo, e não religioso. (…) Censurando a instituição freudiana por já não ser freudiana, ele se viu coagido a fundar um novo lugar de legitimidade para o exercício da psicanálise — a École Freudienne de Paris (EFP) —, assim fazendo nascer um movimento que, apesar de se pretender freudiano, seria chamado de lacaniano. Essa é a contradição traduzida pela palavra excomunhão: também o jovem Spinoza foi coagido por seu herem a fundar uma filosofia spinozista.”

Claus, Carl (1835-1899) [não confundir com Karl Kraus]

Em 1874, Freud seguiu seus cursos, no momento em que Claus se dedicava a uma vasta polêmica com outro discípulo alemão de Charles Darwin, Ernst Haeckel. No ano seguinte, obteve por duas vezes uma bolsa para Trieste, onde efetuou pesquisas sobre as gônadas da enguia. Em 1990, Lucille Ritvo foi a primeira a estudar a importância do ensino de Carl Claus na gênese da adesão de Freud ao darwinismo, especialmente à tese da hereditariedade dos caracteres adquiridos.”

complexo

Nenhum outro termo instituído pela psicanálise para as suas necessidades adquiriu tanta popularidade nem foi mais mal-aplicado em detrimento da construção de conceitos mais exatos” F., História da psicanálise

Podemos encontrar diversos motivos para esta reserva de Freud. Repugnava-lhe uma certa tipificação psicológica (por exemplo, o complexo de fracasso), que implica o risco de dissimular a singularidade dos casos e, ao mesmo tempo, apresentar como explicação aquilo que constitui o problema.” “surge, com efeito, a tentação de criar tantos complexos quantos forem os tipos psicológicos que se imaginem” “Note-se que a aparente diversidade dos termos <paterno>, <materno>, etc., remete em cada caso para dimensões da estrutura edipiana, quer essa dimensão seja particularmente dominante em determinado sujeito, quer Freud pretenda dar um relevo especial a determinado momento da sua análise. E assim que, sob o nome de complexo paterno, ele acentua a relação ambivalente com o pai. O complexo de castração, embora o seu tema possa ser relativamente isolado, inscreve-se inteiramente na dialética do complexo de Édipo.” Hm.

No Dictionnaire de psychanalyse et psychotechnique publicado sob a direção de Maryse Choisy na revista Psyche, são descritos cerca de 50 complexos. Escreve um dos autores: <Tentamos dar uma nomenclatura tão completa quanto possível dos complexos conhecidos até agora. Mas todos os dias se descobrem mais.>” HAHAHA

complexo de Electra

Expressão utilizada por Jung como sinônimo do complexo de Édipo feminino, para marcar a existência nos dois sexos, mutatis mutandis, de uma simetria da atitude para com os pais.” Nem mesmo Simone de Beauvoir sabia disso.

compulsão à repetição (Wiederholungszwang)

Ver vocábulos das neuroses

Em psicopatologia concreta, processo incoercível e de origem inconsciente, pelo qual o sujeito se coloca ativamente em situações penosas, repetindo assim experiências antigas sem se recordar doprotótipo e tendo, pelo contrário, a impressão muito viva de que se trata de algo plenamente motivado na atualidade.”

Ela participa de tal modo da investigação especulativa de Freud nesse momento decisivo, com suas hesitações, impasses e mesmo contradições, que é difícil delimitar a sua acepção restrita como também a sua problemática própria.”

De um modo geral, o recalcado procura <retornar> ao presente, sob a forma de sonhos, de sintomas, de atuação

…o que permaneceu incompreendido retorna; como uma alma penada, não tem repouso até que seja encontrada solução e alívio” Quem diria que não foi escrito por um espírita! Mas um surdo pressentimento – ou grande ignorância – me faz pensar que um bisavô meu me deu esse presente e que desde criança esse é meu fado… Tudo se inverte quando percebemos que criamos isso, imploraríamos por isso se não existisse (única realidade possível) e vivemos nossa vida como a MALDIÇÃO DO ESCRITOR, espontaneamente, por paradoxal que pareça.

Lacan distingue duas ordens de repetição, as quais analisa numa perspectiva aristotélica: por um lado, a tyche, encontro dominado pelo acaso — de certo modo, ela é o contrário do kairos, o encontro que ocorre no <momento oportuno> — e que podemos assimilar ao trauma, ao choque imprevisível e incontrolável.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

F., Recordar, repetir, perlaborar

comunismo

instaurou-se entre o marxismo e o freudismo um vínculo que deu origem a uma corrente intelectual designada pelo nome de freudo-marxismo, cujos principais representantes foram os filósofos da Escola de Frankfurt e os psicanalistas da <esquerda freudiana>: desde Otto Fenichel a Wilhelm Reich, passando por Erich Fromm e Herbert Marcuse.”

Freud sempre manifestou uma hostilidade, se não ao marxismo, pelo menos ao comunismo e, acima de tudo, aos freudo-marxistas. Foi contra Reich que se mostrou mais violento, sobretudo em 1933, no momento em que os freudianos de todas as tendências deveriam ter se mobilizado contra o nazismo, e não contra os dissidentes marxistas de seu próprio movimento.(Freud, entretanto, jamais confundiu comunismo com nazismo, como mostra uma carta publicada por Jones, dirigida a Marie Bonaparte em 10 de junho de 1933: <O mundo está se transformando numa enorme prisão. A Alemanha é a pior de suas celas. O que acontecerá na cela austríaca é absolutamente incerto. Prevejo uma surpresa paradoxal na Alemanha. Eles começaram tendo o bolchevismo como seu inimigo mortal e terminarão com algo que não se distinguirá dele — exceto pelo fato de que o bolchevismo, afinal, adotou ideais revolucionários, ao passo que os do hitlerismo são puramente medievais e reacionários.>)

Em todos os países que se tornaram comunistas e onde a psicanálise estava implantada no começo do século, ela foi proibida e seus representantes foram perseguidos, caçados ou obrigados a se exilar. Naqueles em que ainda não existia antes do advento do regime comunista, ela também foi proibida. Num primeiro momento, de 1920 a 1949, e à medida que se deu a stalinização do movimento comunista e a transformação do regime soviético (e de seus satélites) num sistema totalitário, a supressão de todas as liberdades associativas e políticas acarretou a extinção pura e simples da prática psicanalítica e de suas instituições. (…) O pavlovismo tornou-se o padrão generalizado de uma psicologia chamada materialista, que foi contrastada com a ciência burguesa freudiana, dita espiritualista ou reacionária.” “Somente após a queda do comunismo, em 1989, é que o freudismo pôde implantar-se novamente na Rússia e na Romênia, ou encontrar uma nova via de introdução na Polônia, na Bulgária e na República Tcheca.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

André Jdanov, Sur la littérature, l’art et la musique (1948), Paris, Éd. de la Nouvelle Critique, 1950.

Conferências introdutórias sobre psicanálise

Livro inicialmente publicado por Sigmund Freud em 3 partes distintas, entre 1916 e 1917, e depois num único volume, em 1917, sob o título Vorlesungen zur Einführung in die Psychoanalyse. Traduzido para o francês pela primeira vez em 1921, por Samuel Jankélévitch, sob o título Introduction à la psychanalyse. Traduzido para o inglês pela primeira vez em 1920, sem indicação do tradutor mas sob a direção e com um prefácio de Stanley Granville Hall, sob o título A General Introduction to Psychoanalysis. Mais tarde, traduzido em 1922 por Joan Riviere sob o título Introductory Lectures on Psycho-Analysis, com um prefácio de Ernest Jones. A tradução de Joan Riviere foi posteriormente reeditada em 1935 sob o título A General Introduction to Psychoanalysis, incluindo os dois prefácios. Traduzido em 1964 por James Strachey sob o título Introductory Lectures on Psycho-Analysis.”

As Conferências introdutórias sobre psicanálise compreendem 3 grupos de aulas: as quatro primeiras aulas dizem respeito aos atos falhos; as 11 seguintes são dedicadas ao sonho, e as outras 13, que em si constituem a verdadeira segunda parte do livro, são agrupadas sob o título de Teoria geral das neuroses.”

Mas, nova dificuldade, é impossível assistir a uma sessão de psicanálise, embora seja corriqueiro observar apresentações de doentes no âmbito dos serviços de psiquiatria. Com efeito, a psicanálise pressupõe a fala espontânea e não controlada por parte do paciente; assim, ela versa sobre o que há de mais íntimo e mais pessoal, que não pode ser dito na presença de terceiros.”

As quatro primeiras conferências retomam de forma sintética o tema da Psicopatologia da vida cotidiana.” “Esse corpus de símbolos tende a constituir uma espécie de reservatório de traduções permanentes a que a análise deve recorrer quando o conteúdo manifesto não suscita nenhuma associação, o que, esclarece Freud, não pode ser atribuído a um fenômeno de resistência, mas à especificidade do material. Ele reconhece que esse conjunto de símbolos não deixa de evocar <o ideal da antiga e popular interpretação dos sonhos, um ideal do qual nossa técnica nos afastou consideravelmente>. Nesse ponto e em termos ainda mais claros, renova a advertência acrescentada em 1909 ao texto de A interpretação dos sonhos: <Não se deixem, contudo, seduzir por essa facilidade. Nossa tarefa não consiste em realizar façanhas. A técnica que repousa no conhecimento dos símbolos não substitui a que repousa na associação e não pode comparar-se com ela. Apenas a complementa e lhe fornece dados utilizáveis.>Dito isso, a freqüência das analogias simbólicas no sonho permite a Freud sublinhar o caráter universalista da psicanálise, bem diferente, nesse como em outros aspectos, da psicologia e da psiquiatria.”

as Conferências introdutórias sobre psicanálise não são apenas um manual didático, mas constituem, assim como a maioria das publicações de Freud, uma etapa no desenvolvimento de sua elaboração teórica. Isso se aplica, em particular, ao capítulo sobre a angústia, onde é retomado um certo número de observações clínicas, previamente desenvolvidas no âmbito dos históricos de casos, mas onde são igualmente introduzidas novas concepções, que anunciam as elaborações que Freud iria teorizar em Inibições, sintomas e angústia (1926).”

Em algumas linhas, esclarece sua reticência em fornecer, nesse como noutros pontos, um <guia prático para o exercício da psicanálise>, e demonstra através de exemplos como a transmissão dessa prática passa por vias que não podem ser as do ensino abstrato.” Seria um perigo para os não-hunters aprenderem sobre o Nen.

denegação, negação, for(a)clusão (Lacan, psicose)

Etimologia: do francês forclusion ou prescrição legal (decadência de prazo no Direito).

a denegação é um meio de todo ser humano tomar conhecimento daquilo que recalca em seu inconsciente. Através desse meio, portanto, o pensamento se liberta, por uma lógica da negatividade, das limitações que lhe são impostas pelo recalque.”

* * *

O termo foraclusão foi introduzido pela primeira vez por Lacan, em 4 de julho de1956, na última sessão de seu seminário dedicado às psicoses e à leitura do comentário de Sigmund Freud sobre a paranóia do jurista Daniel Paul Schreber.”

Para compreender a gênese desse conceito, há que relacioná-lo com a utilização que Hippolyte Bernheim fez, em 1895, da noção de alucinação negativa: esta designa a ausência de percepção de um objeto presente no campo do sujeito após a hipnose. Freud retomou o termo, porém não mais o empregou a partir de 1917, na medida em que, em 1914, propôs uma nova classificação das neuroses, psicoses e perversões no âmbito de sua teoria da castração. Deu então o nome de Verneinung ao mecanismo verbal pelo qual o recalcado é reconhecido de maneira negativa pelo sujeito, sem no entanto ser aceito: <Não é meu pai.> Em 1934, o termo foi traduzido em francês por négation.”

Laforgue propunha traduzir por escotomização tanto a renegação (Verleugnung) quanto um outro mecanismo, próprio da psicose e, em especial, da esquizofrenia. Freud recusou-se a acompanhá-lo e distinguiu, de um lado, a Verleugnung, e de outro, a Verdrängung (recalque). A situação descrita por Laforgue despertava a idéia de uma anulação da percepção, ao passo que a exposta por Freud mantinha a percepção, no contexto de uma negatividade: atualização de uma percepção que consiste numa renegação.”

Lacan inspirou-se no trabalho de Maurice Merleau-Ponty (1908-1961), Phénoménologie de la perception, e sobretudo nas páginas desse livro dedicadas à alucinação como <fenômeno de desintegração do real>, componente da intencionalidade do sujeito.”

O ULTRA-ROMÂNTICO VS. O PÓS-MOD. RESSEQUIDO

Normalmente, o alucinado vê coisas a mais, que não existem. Mas e se se tratasse de um alucinado lacaniano? É aquele que não vê o que existe. É como o niilista nietzschiano: cético, não acredita em nada para-além do empírico; mas, o que é pior, sequer dá fé ao empírico e imediato. Dá valor de nada ao que efetivamente está-aí. Não dá presença ao que é imaginário, como o niilista ingênuo clássico. Devaloração de todos os valores.

* * *

um recalque é algo diferente de uma rejeição F.

RECALQUE: Eu não quero lembrar como meu pai é ruim (neurose)

FORACLUSÃO: Não existe um pai que seja ruim. (psicose)

O conceito de foraclusão assumiu, em seguida, uma extensão considerável na literatura lacaniana, a ponto de os discípulos do mestre francês acabarem vendo (senão alucinando) sua existência no corpus freudiano.” He-he.

* * *

A forclusão distinguir-se-ia do recalque em dois sentidos: 1) Os significantes forcluídos não são integrados no inconsciente do sujeito; 2) Não retornam <do interior>, mas no seio do real, especialmente no fenômeno alucinatório.”

Em conclusão, podemos verificar, limitando-nos ao ponto de vista terminológico, que nem sempre o uso do termo Verwerfung abrange a idéia expressa por forclusão e que, inversamente, outras formas freudianas designam o que Lacan procura evidenciar.”

Ulteriormente, quando Freud tender a reinterpretar a projeção como um simples momento secundário do recalque neurótico, ver-se-á obrigado a admitir que a projeção — tomada neste sentido — já não é o fator propulsor essencial da psicose: <Não era exato dizer que a sensação reprimida (ünterdrückt) no interior era projetada para o exterior; reconhecemos antes que o que foi abolido (das Aufgehobene) no interiorvolta do exterior.>

O ego arranca-se à representação insuportável, mas esta está indissoluvelmente ligada a um fragmento da realidade e, realizando esta ação, o ego desligou-se também total ou parcialmente da realidade.” F., 1894

INFELIZMENTE A ÚNICA VÍTIMA DE UM COMPLEXO DE CASTRAÇÃO AQUI ERA O PRÓPRIO SEGISMUNDO: “Nos diversos textos de Freud existe uma ambigüidade indubitável quanto ao que é rejeitado (verworfen) ou recusado (verleugnet) quando a criança não aceita a castração. Será a própria castração? Neste caso, seria uma verdadeira teoria interpretativa dos fatos que seria rejeitada e não uma simples percepção. Tratar-se-á da <falta de pênis> na mulher? Mas então é difícil falar de uma <percepção> que seria recusada, porque uma ausência só é um fato perceptivo na medida em que é relacionada com uma presença possível.”

[Para Lacan,] a forclusão consiste então em não simbolizar o que deveria sê-lo (a castração): é uma <abolição simbólica>.” De acordo com a enantiodromia ou necessidade do retorno do recalcado (forcluído, neste caso) e homeostase das pulsões, o forcluído tem de re-advir no real em forma de ALUCINAÇÃO (ex: quando o Pequeno Hans vê seu dedo ser decepado).

Esse assunto é uma bosta de árido e confuso. Consultar bibliografia complementar!

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Jacques Damourette & Édouard Pichon, “Sur la signification psychologique de la négation en français” (1928), Le Bloc-notes de la Psychanalyse, 5, 1985, 111-32.

Deutsch, Helene

Aos 14 anos, a despeito de sua inteligência e sua beleza, Helene era deprimida, marcada pela hostilidade da mãe em relação a ela e pela tentativa de estupro de que tinha sido vítima por parte do irmão. Para grande escândalo da família, tornou-se então amante de um homem casado e conhecido em toda a cidade: Herman Lieberman. Esse eminente dirigente socialista, que seria ministro do governo polonês no exílio em Londres em 1940, lhe apresentou Rosa Luxemburgo, figura histórica, de quem ela falaria ainda com entusiasmo e admiração no fim da vida, aos 85 anos.”

encontrou Felix Deutsch, jovem médico atraído pelas idéias freudianas, com quem se casou no ano seguinte.”

Seduzido pela inteligência e pelos conhecimentos da jovem, Freud quis fazer dela sua principal discípula e acelerou o curso das coisas.”

seu livro mais importante, Psicologia da mulher, que seria, em 1949, a referência psicanalítica maior de Simone de Beauvoir (1908-1986) em O segundo sexo.”

As longas décadas que se seguiram — ela viveu até os 98 anos — foram ritmadas pelas tensões e conflitos de uma vida conjugal insatisfatória e pela nostalgia da paixão amorosa que marcou sua juventude. Sem dúvida, era essa uma das razões de seu apego à Polônia natal. Manifestava esse sentimento por um forte sotaque, o que fazia com que seus amigos dissessem que <ela falava cinco línguas, todas em polonês>. A grande dama [selvagem] de um freudismo sem concessões, criticando tão severamente a Ego Psychology quanto a standardização, à moda americana, da análise didática, desprovida segundo ela daquele espírito militante ao qual aderira apaixonadamente durante a sua juventude, foi então reconhecida e celebrada no continente americano.”

diferença sexual (A QUESTÃO FREUDO-FEMINISTA)

Razão da cisão kleiniana, que reconhece uma libido masculina e outra feminina.

Quando Simone de Beauvoir (1908-1986) publicou O segundo sexo, em junho de 1949, anunciou desde logo que a reivindicação feminista já estava ultrapassada. Para abordar esse tema a sério, após uma guerra que, na França, permitira às mulheres obterem o direito de voto, era preciso, doravante, tomar uma certa distância. Beauvoir não sabia que seu livro estaria na origem, após um longo desvio pelo continente norte-americano, de uma transformação simultânea dos ideais do feminismo e dos do freudismo.” “Beauvoir estudou a sexualidade à maneira de um historiador e tomou o partido da escola inglesa [kleinismo].” “A seu ver, a questão feminina não era assunto das mulheres, mas da sociedade dos homens, a única responsável, em sua opinião, pela submissão a ideais masculinos.”

O FALO HERMAFRODITA OU BINOMIAL DE LACAN: “o falo é assimilado a um significante puro da potência vital, dividindo igualmente os dois sexos e exercendo, portanto, uma função simbólica. Se o falo não é um órgão de ninguém, nenhuma libido masculina domina a condição feminina.”

Na França, essa leitura lacaniana do falocentrismo abriu caminho, entre 1968 e 1974, para teses diferencialistas encontradas sob a pena de autores — em geral mulheres e psicanalistas — preocupados em definir as características de uma identidade feminina liberta de qualquer substrato biológico ou anatômico. Assistiu-se então, em seguida à reformulação lacaniana, ao surgimento de um feminismo psicanalítico francês que, embora apoiando-se no livro fundador de Simone de Beauvoir, procurou ora contestá-lo radicalmente, ora corrigir seu aspecto naturalista e existencialista através de uma nova referência a Freud.” “Daí esse feminismo radical que renunciou, ao mesmo tempo, ao universalismo iluminista e à concepção freudiana da sexualidade.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Luce Irigaray, Speculum de l’autre femme, 1974;

Juliet Mitchell, Psychanalyse et féminisme, 1974;

Michèle Montrelay, L’Ombre et le nom, Paris, Minuit, 1977.

Dolto, Françoise

Em 1949, Françoise Dolto expôs à Sociedade Psicanalítica de Paris (SPP) o caso de duas meninas psicóticas, Bernadette e Nicole. A primeira gritava, sem conseguir fazer-se ouvir. Humanizava os vegetais e coisificava os seres humanos. A segunda permanecia muda, embora não fosse surda. Dolto teve a idéia de pedir à mãe de Bernadette que fabricasse um objeto que teria, para a criança, o papel de um bode expiatório. Deu-lhe o nome de <boneca-flor>: uma haste coberta de tecido verde no lugar do corpo e dos membros, uma margarida artificial para representar o rosto. Bernadette projetou no objeto as suas pulsões mortíferas e começou a falar, enquanto Nicole saía de seu mutismo. Com essa <boneca-flor>, Dolto integrava à sua prática a técnica dos jogos e, embora não tivesse conhecimento, na época, dos trabalhos de Melanie Klein, referia-se implicitamente a uma clínica das relações de objeto, desprovida, entretanto, da temática kleiniana do ódio, da inveja e de qualquer forma de perseguição ligada à idéia de objeto mau. Dessa <boneca-flor>, sairia a representação particular que Dolto faria da imagem do corpo, mais próxima da concepção lacaniana do estágio do espelho do que da definição de Paul Schilder.”

Em janeiro de 1979, Françoise Dolto criou em Paris a primeira Casa Verde, para acolher crianças até a idade de 3 anos, acompanhadas dos pais. <Segundo Dolto, tratava-se de evitar os traumas que marcam a entrada na pré-escola e de manter a segurança que a criança adquiriu no nascimento.>, declarou Jean-François de Sauverzac. Essa experiência teve sucesso e muitas casas verdes foram abertas no Canadá, na Rússia, na Bélgica, etc.”

Tornou-se a figura mais popular da França freudiana, mas foi criticada pelos meios psicanalíticos, que a acusavam de pôr o divã na rua.<Cientista, ela se comportava à maneira dos jornalistas, escreveu Madeleine Chapsal, dizendo o que tinha a dizer a cada dia, com urgência e com desprezo pelo escândalo, pelo choque que poderia causar. Evidentemente, sofreu o contragolpe de sua deliberada imprudência. Foi atacada, afastada, desprezada. Nada disso a deteve.>

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Françoise Dolto, Psicanálise e pediatria (Paris, 1939), Rio de Janeiro, Zahar, 1980; O caso Dominique (Paris, 1971), Rio de Janeiro, Zahar, 1981; Seminário de psicanálise de crianças (Paris, 1982, 1988), Rio de Janeiro, Zahar, 1985.

Doolittle, Hilda, dita H.D. (1886-1961)

Publicou várias antologias importantes e um romance autobiográfico, que relata os conflitos da bissexualidade em uma mulher apaixonada por um homem e por outra mulher. Analisada por Sigmund Freud em 1933-1934, publicou em 1956 um depoimento sobre o seu tratamento, composto de duas partes: O advento, conjunto de notas tomadas diariamente durante a análise e Escrito na parede. Reminiscências de uma análise com Freud, relato redigido 10 anos depois.”

duplo vínculo, double bind

Dilema do esquizofrênico, referente à incapacidade de decodificação da mensagem exterior.

egooueu

é corrente em psicanálise admitir que a noção de ego só se teria revestido de um sentido estritamente psicanalítico, técnico, após aquilo a que se chamou a virada de 1920. Esta mudança profunda da teoria, aliás, pode ter correspondido, na prática, a uma nova orientação, voltada para a análise do ego e dos seus mecanismos de defesa, mais do que para a elucidação dos conteúdos inconscientes. É claro que ninguém ignora que Freud falava de ego (Ich) desde os seus primeiros escritos, mas afirma-se que isso acontecia, geralmente, de forma pouco especificada, pois o termo designava então a personalidade no seu conjunto. Considera-se que as concepções mais específicas que atribuem ao ego funções bem determinadas no seio do aparelho psíquico (no Projeto para uma psicologia científica [Entwurt einer Psychologie, 1895], por exemplo) são prefigurações isoladas das noções da segunda tópica.”

o ego do amor-próprio segundo La Rochefoucauld

Freud não só encontra e utiliza acepções clássicas, opondo, por exemplo, o organismo ao meio, o sujeito ao objeto, o interior ao exterior, como emprega o próprio termo Ich nestes diferentes níveis, chegando até a jogar com a ambigüidade da utilização desta palavra; isso mostra que não exclui do seu campo qualquer das significações atribuídas aos termos ego (moi) ou eu (je).”

O ego só põe em funcionamento o processo primário quando não está em condições de fazer funcionar as suas defesas normais (atenção e evitação, por exemplo). No caso da lembrança de um traumatismo sexual (ver: a posteriori) o ego é surpreendido por um ataque interno e só pode <deixar agir um processo primário>. A situação da <defesa patológica> em relação à palavra [associação de complexos] não é pois determinada de maneira unívoca; em certo sentido, o ego é na verdade o agente da defesa, mas, na medida em que só pode se defender separando-se daquilo que o ameaça, abandona a representação inconciliável a um tipo de processo sobre o qual não tem domínio [primário].” Deixa os resquícios para os sonhos encobertos – mas isso só enquanto o trauma não adquire o status de ferida aberta (mórbido). Do contrário, a vida do sujeito em seus processos secundários estará avariada.

para que a alucinação seja evitada e para que a descarga não se produza quer na ausência quer na presença do objeto real, é necessário que seja inibido o processo primário que consiste numa livre propagação da excitação até a imagem.” HOMEOSTASE: “É a permanência nele de um nível de investimento que permite ao ego inibir os processos primários, não só aqueles que levam à alucinação, mas também os que seriam suscetíveis de provocar desprazer (= defesa primária).”

Processos psíquicos primários X Processos psíquicos secundários

Medidas drásticas e daninhas (representações alucinatórias, angústia, pânico) ou que no mínimo se exaurem rapidamente X Amadurecimento do Consciente por interferência paulatina do Supereu (pulsões refreadas, noção de dosagem da energia responsiva)

Ex: sonho X introjeção moral

Esta ambigüidade constitutiva do ego reaparece na dificuldade em dar um sentido unívoco à noção de interior, de excitação interna.Só sei que não sei nem o eu.

O mais engraçado é que, se Freud estivesse correto, a vontade que o eu moral tem de dormir (esgotamento energético) para repor o equilíbrio das representações,ciclicamente perturbado, significaria que a instância auto-cultivada de nosso Ser é impotente e escrava justamente dos instintos mais selvagens (os processos primários salvam os secundários, os secundários em nada são uma evolução ou aperfeiçoamento daqueles). Precisa o Ser esgotar-se a todo momento a fim de estar novamente compensado (energizado) e não sucumbir. Ou seja, a homeostase do sistema (acima) é a liberação dos processos primários, não sua inibição. A leitura de ponta-cabeça do cânone freudiano faria infinitamente mais sentido. Ler Schopenhauer e entendê-lo corretamente (às avessas do que entendeu F.) faria infinitamente mais sentido e nos faria economizar tempo do nosso intelectual, ajudando-nos a compreender melhor nós mesmos e nossa Vontade…

1ª TÓPICA, 2ª TÓPICA, 3ª TÓPICA, TÓPICA ANNAFREUDIANA & “TÓPICA INGLESA” OU HETERODOXA (só para citar as MAIS TRADICIONAIS), uma salada irreconciliável: “É claro que não se pensaria em contrapor a esta orientação da Ego psychology uma exposição do que seria a <verdadeira> teoria freudiana do ego: antes nos impressiona a dificuldade em situar numa única linha de pensamento o conjunto das contribuições psicanalíticas para a noção de ego.” “Mas, se a única energia de que dispõe o aparelho psíquico é a energia interna proveniente das pulsões, aquela de que o ego poderia dispor não pode deixar de ser secundária, derivada do id. Esta solução, que é a mais geralmente admitida por Freud, não podia deixar de conduzir à hipótese de uma <dessexualização> da libido, hipótese da qual se pode pensar que apenas localiza numa noção, por sua vez também problemática, uma dificuldade da doutrina.” “A idéia de uma gênese do ego é cheia de ambigüidades, que aliás foram mantidas por Freud ao longo de toda a sua obra e que só se agravaram com o modelo proposto em Além do princípio do prazer

ego ideal ou eu ideal

Derivado do estágio narcísico, representa o supra-sumo da concepção de um eu perfeito. Sensação de onipotência. Psicose.

O ego ideal é ainda revelado por admirações apaixonadas por grandes personagens da história ou da vida contemporânea, caracterizados pela independência, orgulho, autoridade. Quando o tratamento progride, o ego ideal se delineia, emerge como uma formação irredutível ao supereu.” Lagache, La psychanalyse et la structure de la personnalité

ego, ideal do ou superego

Instância da moral.

Ego Psychology (Psicologia do eu)

foi a Ego Psychology que serviu de grande referência doutrinal, na segunda metade do século, para análises intermináveis e cronometradas, imobilizadas no silêncio, reservadas à burguesia urbana rica e praticadas por médicos preocupados com o prestígio social e a rentabilidade financeira. Essa técnica psicanalítica, aliás, seria violentamente criticada, no interior da própria IPA.”

PAÍS DE RETARDADOS: “As diferentes correntes desse freudismo norte-americano, quaisquer que sejam suas (numerosas) variações são quase sempre perpassadas por uma religião da felicidade e da saúde, contrária tanto à concepção vienense do mal-estar da Kultur quanto ao recentramento kleiniano do sujeito numa pura realidade psíquica, ou à visão lacaniana do freudismo como uma peste subversiva. Aliás, é em razão dessa contradição radical entre as interpretações européias e norte-americanas da psicanálise que o kleinismo, o lacanismo e o freudismo <original> (vienense e alemão) não puderam implantar-se como tais nos Estados Unidos. Quanto aos partidários da <esquerda freudiana> (em torno de Otto Fenichel), foram obrigados a renunciar a suas atividades porque elas eram julgadas <subversivas> no solo norte-americano. Depois de sofrerem os ataques do macarthismo, eles tiveram de se medicalizar, recalcar seu passado europeu e se transformar em técnicos da adaptação. Daí a ortodoxia burocrática que acabaria por desacreditar a imagem do psicanalista e deixar o campo livre à supremacia dos laboratórios farmacêuticos, fornecedores de <pílulas da felicidade>, ou às diversas terapias da New Age — tratamentos xamanísticos e experiências de espiritismo, vidência ou telepatia.”

Hartmann introduziu uma distinção entre o eu (ego), como instância psíquica, e o si mesmo (self), tomado no sentido da personalidade ou da própria pessoa. Esse termo seria retomado por Winnicott, que lhe acrescentaria uma referência fenomenológica, e por Kohut, que o transformaria numa instância específica, a única apta a explicar os distúrbios narcísicos.” “o terapeuta do ego deve ocupar o lugar do eu <forte> com o qual o paciente quer se parecer a fim de conquistar a autonomia do eu.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Heinz Hartmann, La Psychologie du moi et le problème de l’adaptation

Eitingon

Lixo humano! Ver verbete ESCANDINÁVIA.

Ellenberger, Henri F. (1905-1993)

Em meados do século, tinha adquirido um grande conhecimento da história da psiquiatria e da psicanálise na Europa. Falava e escrevia muito bem em francês, alemão e inglês, e interessava-se pela evolução de todas as formas de tratamento psíquico. Só lhe faltava iniciar-se na história da emigração freudiana de leste para oeste.”

Depois de trabalhar durante 20 anos com arquivos, redigiu em inglês sua obra fundamental: The Discovery of the Unconscious. The History and Evolution of Dynamic Psychiatry, que foi publicada nos Estados Unidos em 1970, o que lhe valeu o reconhecimento da maior parte dos países do mundo, à exceção da França, onde, quando de sua primeira tradução em 1974, interessou apenas aos meios psiquiátricos. Ellenberger fazia uma revolução que lembrava a dos Annales. Opondo-se sobretudo à história oficial segundo Ernest Jones e seus herdeiros, seu método associava o tratamento positivo das fontes, à maneira de Alphonse Aulard, à sondagem imaginária, tal como a concebia Lucien Febvre.

Segundo ele, existia uma dicotomia entre a história da teorização da noção de inconsciente e a da sua utilização terapêutica. A primeira começara com as intuições dos filósofos da Antiguidade, depois prosseguira com as dos grandes místicos. No século XIX, a noção de inconsciente se consolidou com Arthur Schopenhauer (1788-1860), Friedrich Nietzsche e os trabalhos da psicologia experimental: Johann Friedrich Herbart, Hermann Helmholtz, Gustav Fechner. Quanto à segunda história, esta remontava à arte do feiticeiro e do xamã, e passava pela confissão cristã. Dois métodos terapêuticos foram praticados. Um consistia em provocar no doente a emergência de forças inconscientes, sob forma de <crises>: possessões ou sonhos. O outro gerava o mesmo processo no médico. Do tratamento centrado no paciente derivava a neurose de transferência no sentido freudiano; do tratamento centrado no médico derivava a análise didática. Efetivamente, esta herdava a <doença iniciática> que conferia ao xamã o seu poder de cura, e a <neurose criadora> tal como a tinham vivido no fim do século XIX os pioneiros da descoberta do inconsciente: Pierre Janet, Freud, Jung, Adler.

Nessa perspectiva, a primeira grande tentativa de integrar a investigação do inconsciente à sua utilização terapêutica começava com as experiências de Franz Anton Mesmer, iniciador da primeira psiquiatria dinâmica.”

e foi então que nasceu, sobre as ruínas de um magnetismo que se tornara hipnotismo, a segunda psiquiatria dinâmica, dividida em quatro grandes correntes: a análise psicológica de Pierre Janet, centrada na exploração do subconsciente, a psicanálise de Freud, fundada na teoria do inconsciente, a psicologia individual de Adler, a psicologia analítica de Jung. Ellenberger observou que o paradoxo dessa segunda psiquiatria dinâmica, cuja história se detinha em 1940, era que, ao cindir-se em escolas opostas, ela rompia o pacto fundador que a ligava ao ideal de uma ciência universal nascida do Iluminismo, para voltar ao antigo modelo das seitas greco-romanas.”

Ellis, Henry Havelock (1859-1939)

Homossexual revoltado contra os códigos morais da Inglaterra vitoriana, decidiu, aos 16 anos, dedicar a vida à análise da sexualidade humana sob todas as suas formas. Foi com essa intenção que estudou medicina: <Queria poupar à juventude das gerações futuras as preocupações e perplexidades que a ignorância do sexo me infligiu.> De 1884 a 1889, tornou-se amigo íntimo de uma romancista feminista, Olive Schreiner, que conhecera através da filha de Karl Marx (1818-1883). [!] Depois do casamento de Olive, desposou Edith Lees, uma intelectual que mergulhou progressivamente na loucura.”

Em 1890, começou a redação de sua grande obra: Estudos de psicologia sexual. Publicado em Londres um ano depois do processo de Oscar Wilde (1856-1900), o primeiro volume era consagrado à inversão sexual. O livro causou escândalo, e o livreiro que vendeu a obra foi processado na justiça. Posteriormente, Ellis seria obrigado a publicar os outros volumes nos Estados Unidos:<A envergadura da documentação de Ellis nesses Estudos, escreveu Frank Sulloway, era realmente impressionante. Ele estava completamente a par de toda a literatura médica do seu tempo e citava mais de dois mil autores, pertencentes a 12 áreas lingüísticas diferentes. Cada volume era uma suma enciclopédica do saber contemporâneo sobre cada uma das questões tratadas.>

Esboço de Psicanálise

Iniciado em 22 de julho de 1938, esse último livro de Freud permaneceu inacabado e comporta apenas 3 partes. Fazia muito tempo que Freud tinha o projeto de escrever um opúsculo destinado a apresentar ao grande público uma síntese de sua doutrina. Iniciou esse trabalho em Viena, às vésperas de seu exílio, queixando-se de ter que escrever coisas que já tinha dito e às quais nada tinha a acrescentar. No entanto, redigiu o texto em ritmo animado e ao sabor da pena, apelando para abreviaturas. De fato, o livro é certamente bem melhor do que o julgava Freud. Trata-se de uma excelente síntese dos eixos fundamentais do pensamento freudiano no tocante ao aparelho psíquico, à teoria das pulsões, à sexualidade, ao inconsciente, à interpretação dos sonhos e à técnica psicanalítica. Em algumas passagens, Freud se interroga sobre novas direções de investigação, em especial a propósito do eu, e prenuncia, acima de tudo, a descoberta de substâncias químicas capazes de agir diretamente sobre o psiquismo e tornar obsoleto o método psicanalítico, do qual, no entanto, assume vigorosamente a defesa:<Por ora, no entanto, dispomos apenas da técnica psicanalítica, e é por isso que, a despeito de todas as suas limitações, convém não desprezá-la.>

Escandinávia

PRÓLOGO: UM POUCO DE LINGÜÍSTICA E GEOGRAFIA

Sob essa designação genérica estão agrupados 5 países da Europa: Dinamarca, Noruega, Suécia, Finlândia e Islândia. No plano político, existem apenas 3 Estados ditos escandinavos: Suécia, Noruega e Dinamarca. Geograficamente, chama-se Escandinávia a parte norte da Europa que reúne a Suécia, a Noruega, a Dinamarca e a Finlândia, ou seja, 4 países no total, e dá-se o nome de Península Escandinava ao conjunto constituído pela Suécia e pela Noruega. São 4 as línguas escandinavas ligadas ao grupo das línguas germânicas: dinamarquês, sueco, norueguês e islandês, enquanto o finlandês pertence à família das línguas ditas fino-úgricas.”

Foi na Suécia que o freudismo obteve mais sucesso, ao passo que, por razões políticas, ligadas ao forte desenvolvimento dos partidos trabalhistas, a Dinamarca e a Noruega foram principalmente receptivas às teses de Wilhelm Reich, ou seja, ao materialismo biológico e à síntese entre o freudismo e o marxismo.”

Obcecados pelo exílio, preocupados com a loucura ou com a estranheza do homem em relação a si mesmo, todos procuravam captar em suas obras a angústia existencial de uma época dominada pelo ceticismo, pelo irracionalismo e pela recusa da idéia de progresso linear. Foi nesse terreno crítico, e em um contexto em que o puritanismo luterano era ao mesmo tempo religião do Estado e uma atitude mental e espiritual, que surgiram as primeiras interrogações sobre a doutrina freudiana.”

A CONTIGO DA PSICANÁLISE:

A EXECRAÇÃO REACIONÁRIA DO LEGADO REICHIANO

Na Dinamarca, ao invés de adotar uma posição flexível, os dirigentes da IPA, especialmente Max Eitingon e Anna Freud, apoiados por Ernest Jones e Freud, não autorizaram Reich a praticar análises didáticas, ao passo que ele era membro da International através de sua filiação à Deutsche Psychoanalytische Gesellschaft (DPG). Ora, apesar de suas divergências técnicas e políticas com os freudianos ortodoxos, ele era na época o único psicanalista capaz de formar clínicos em Copenhague, como mostra uma carta dirigida a Freud, em 10 de novembro de 1933, por Erik Carstens, publicada em 1967 em Reich fala de Freud[Carl Lesche].

Evocando o papel desastroso desempenhado por Naesgaard, que recusava o princípio da formação didática, Carstens enfatizava que a atividade de Reich fôra positiva nessa área. E, principalmente, queixava-se de que o comitê de formação da DPG, sob a responsabilidade de Eitingon, concedera a Jenö Harnik, psicanalista húngaro exilado, e não a Reich, o estatuto de didata. Todos sabiam que Harnik sofria de paranóia com crises de delírio: de qualquer forma, muito mais patológico que Reich e, sobretudo, sem a menor competência psicanalítica. Em 1912, Sandor Ferenczi tentara tratá-lo de impotência sexual, dissuadindo-o de se tornar psicanalista. Posteriormente, quando Harnik quis aderir à Wiener Psychoanalytische Vereinigung, Ferenczi, a pedido de Freud e com sua inteira aprovação, apresentou um motivo de oposição categórica: <Ciumento, psiquicamente impotente, patologicamente vaidoso, inepto. Deveria tomar outro caminho.> Apesar dessa opinião desfavorável, Harnik conseguiu integrar-se ao Berliner Psychoanalytisches Institut (BPI) e ser enviado por Eitingon, como didata, para desenvolver a psicanálise na Dinamarca.”

Considerei como virtualmente estabelecido o fato de que os teólogos eram enviados para Oskar Pfister, os filósofos morais para Carl Müller-Braunschweig e os socialistas recuperados para Siegfried Bernfeld.” Reich

Acusado de ser ele próprio simultaneamente paranóico, bolchevista e antifreudiano, Reich foi instado por Anna Freud [outra cobrinha criada], em julho de 1934, a aceitar que seu nome fosse riscado da lista dos membros da DPG: <O problema todo tem apenas um valor teórico, acrescentou ela, já que o reconhecimento pelo congresso do grupo escandinavo acarretaria automaticamente a inserção de seu nome na lista dos membros desse novo grupo.> A manobra era simples: Eitingon conseguira secretamente que Reich fosse expulso da DPG, e conseqüentemente da IPA. Para evitar qualquer reintegração no grupo escandinavo, ele fizera com que a filiação da Sociedade Dano-Norueguesa à IPA, que devia ocorrer em Lucerna em agosto de 1934, dependesse de uma promessa de não-integração de Reich. Mas os noruegueses se recusaram a submeter-se a essa imposição, e essa determinação impressionou o comitê executivo da IPA, que foi obrigado a admitir a entrada dos noruegueses sem impor qualquer condição. Assim, Reich foi riscado da IPA em Lucerna, através da sua exclusão da DPG. Dois meses depois, instalou-se em Oslo [fialiado apenas à Sociedade Dano-Norueguesa, mesmo que esta fosse reconhecida pela IPA!]. Em 1935, Eitingon negou qualquer participação nesse episódio, que entretanto ele havia habilmente arquitetado.

Com essa política, a direção da IPA contribuiu para desvalorizar a imagem do freudismo no seio da comunidade psicanalítica escandinava, já atravessada por fenômenos de dissidência e ainda muito frágil para se submeter aos padrões impostos nessa época pela ortodoxia freudiana. Em 1937-1938, Reich foi vítima de uma obstinada campanha de imprensa na Noruega. Depois de ser tratado muitas vezes de <charlatão> e de <pornógrafo judeu>, emigrou para os Estados Unidos, deixando por sua vez uma marca desastrosa na comunidade psicanalítica nórdica.Efetivamente, não sendo mais membro da IPA, não foi defendido contra os ataques (exceto por Schjelderup) e evoluiu rapidamente para um biologismo exacerbado, para o qual arrastou Ola Raknes. Seus conflitos com Fenichel, exilado em Oslo entre 1933 e 1935, também contribuíram para a deterioração da situação do freudismo na Noruega.Quatro anos depois, em plena guerra, a Sociedade Dano-Norueguesa de Psicanálise foi banida da IPA. Ernest Jones [outro picareta desonesto], novo presidente da Associação, estava fazendo com que Schjelderup, Raknes, Nic Waal (née Hoel, 1905-1960) <pagassem> por sua desobediência à imposição de 1934. Assim, sem dizer claramente, acusou-se o grupo de ter sido demasiado sensível às teses reichianas. Estas, aliás, continuaram a ganhar terreno, graças a Raknes e a Nic Waal. Essa psicanalista norueguesa, analisada primeiramente por Schjelderup, e depois por Fenichel e Reich, passara pela clínica de Karl Menninger em Topeka, no Kansas, antes de fundar em Oslo, em 1953, uma instituição para crianças.” só em 1957 reconstituiu-se oficialmente um grupo psicanalítico dinamarquês, filiado à IPA, a Dansk Psykoanalytisk Selskab (DPS). Aliás, só em 1975 foi criada uma nova sociedade norueguesa, a Norsk Psykoanalitisk Forening (NPF). Nessa data, os pioneiros e imigrantes haviam desaparecido, e os dois grupos, compostos de terapeutas anônimos, se regularizaram sem obstáculos, às custas de uma progressiva esclerose.”

AS DURAS MARCAS DO NAZISMO

Em 1943, com a morte de Kulovesi, a Sociedade Fino-Sueca foi dissolvida, sendo substituída por uma associação exclusivamente sueca, a Svenska Psykoanalytiska Föreningen (SPF), que durante muitos anos contou apenas com 8 membros.”

Durante a Segunda Guerra Mundial, apenas a Suécia [dentre os escandinavos da Psicanálise, lembrando que a Islândia não possuía Psicanálise], declarou sua neutralidade. Mas nem por isso serviu de refúgio para os vários freudianos da Europa, que preferiram emigrar para a Grã-Bretanha, para os Estados Unidos ou para a América Latina. Enquanto o corajoso Harald Schjelderup decidiu engajar-se na luta antinazista, depois de recusar a proposta de Matthias Heinrich Göring [o epítome da psicanálise nazi, ver ALEMANHA] para criar em Oslo um instituto <arianizado> a partir do modelo do instituto de Berlim, Poul Bjerre [judeu] adotou, ao contrário, uma atitude ambígua, mantendo com Göring, desde 1933, excelentes relações em nome de um diferencialismo que assimilava o freudismo a um semitismo tão fanático quanto o hitlerismo. Por sua vez, o psicanalista Tore Ekman (1887-1971), formado no BPI, ficou na Alemanha até 1943 e trabalhou no Instituto Göring. Ao voltar à Suécia, foi acusado pelos colegas de colaboração com o nazismo. Posteriormente, conseguiu abafar o caso e reintegrar-se à SPF, mascarando o seu passado.”

nenhum dos grandes componentes do freudismo moderno (kleinismo, lacanismo, Ego Psychology, etc.) implantou-se verdadeiramente nos países nórdicos nem nessa <noite sueca>, em que Foucault foi duramente criticado pelo professor Sten Lindroth (1914-1980), depois de encontrar, em 1959, na BibliotecaCarolina Rediviva todos os arquivos necessários à redação de seu grande livro História da loucura na idade clássica.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Bror Gadelius, Tro och helbrägdagörelse jämte en kritisk studie av psykoanalysen [Crença e cura pela fé com um estudo crítico sobre a psicanálise], Estocolmo, Hugo Gebers Förlag, 1934; [!]

Nigel Moore, “Psychoanalysis in Scandinavia”, 1ª parte: “Sweden and Finland”, The Scandinavian Psychoanalytic Review, 1, 1978, 9-64;

Reimer Jensen & Henning Paikin, “On psychoanalysis in Denmark”, ibid., 2, vol. 3, 1980, 103-16;

Randolf Alnaes, “The development of psychoanalysis in Norway. An historical overview”, ibid., 2, vol. 3, 1980, 55-101.

Espanha

Enquanto na França essa primeira fase de introdução desembocou em 1926 na criação da Sociedade Psicanalítica de Paris (SPP), na Espanha não houve nada disso. Na verdade, longe de se orientar para a prática da psicanálise, criando um grupo freudiano, os pioneiros espanhóis incorporaram os dados do freudismo ao saber psiquiátrico, deixando lugar não para a constituição de uma corrente crítica ou de uma escola ligada à ortodoxia, como ocorreu por toda a parte, mas apenas para um movimento antifreudiano, amplamente orquestrado pela Igreja católica.

Do lado literário, Ortega y Gasset não deixou herança. Quando voltou à Espanha depois de ter emigrado, já não se interessava mais pela psicanálise: <Não se pode citar nenhum romancista espanhol da segunda metade do século, escreveu Christian Delacampagne, para quem a psicanálise tenha constituído fonte de inspiração ou de criação. Quanto aos raros artistas para os quais ela parece ter tido esse papel — o cineasta Buñuel, os pintores Dalí ou Clavé —, estes pertencem a uma geração já antiga, a geração surrealista, que, além disso, realizou grande parte de sua obra fora da Espanha.>Compreende-se então por que, já em 1936, Lopez Ibor, representante de uma concepção repressora e reacionária da psiquiatria, conseguiu ocupar tal lugar, publicando um livro de anátemas contra Freud, Vida e morte da psicanálise, que escamoteava todos os trabalhos dos pioneiros espanhóis. Depois da Segunda Guerra Mundial, a psicanálise foi banida da Espanha durante 30 anos, enquanto o saber psiquiátrico, violentamente antifreudiano, tomava uma orientação ultraorganicista, e até policial, generalizando a utilização da lobotomia, do eletrochoque e da insulinoterapia.Através das campanhas feitas pela Opus Dei, a psicanálise foi então denunciada como um <complô judeu-maçônico> e Freud tratado de <gênio satânico>. (…) Em 1951, Lopez reeditou seu livro sob um novo título (Agonia da psicanálise) e, em 1975, renovou o seu anátema com outra obra: Freud e seus deuses ocultos.” “Como o regime franquista não tinha nem eliminado a liberdade de associação, nem impedido os intercâmbios culturais, nem proibido a prática das diversas psicoterapias, foi possível fundar uma associação psicanalítica reunindo os círculos de Madri e de Barcelona.”

Depois da morte de Lacan e da reorganização empreendida por Jacques-Alain Miller, a maioria dos grupos se fundiu com a criação em Barcelona, em setembro de 1990, da Escola Européia de Psicanálise