Bücherwurm:verme-de-livro, porém no vernáculo seria entendido como “rato de biblioteca”.
deiscência: cisão em dois de algo previamente uno, no sentido de romper-se, fender-se, reabrir-se, uma cicatriz, p.ex. Pode-se dizer que o parto é uma deiscência entre mãe e filho, bem como o desmame sua reiteração simbólica.
1. O OUVIDO COM QUE CONVÉM OUVIR
Eu não acredito que o Victor Hugo nunca tenha ouvido falar de Leclaire!
“é então que tudo se passa como se o psicanalista tivesse pensado em voz alta e o paciente lhe respondesse como homem versado nos rudimentos da teoria e da prática analíticas, como são hoje quase todos os que se submetem a uma análise.”
Laios: eu-lá
MA GRITE!
MATE o pai na transparência
transferência
ferro
ferido
sangue
Irrefutável é o caralho!
2. O DESEJO INCONSCIENTE. COM FREUD, LER FREUD.
“De fato atualmente ninguém pode dizer que esqueceu seu guarda-chuva ou perdeu seu isqueiro – desenhos habituais de enigmas sexuais – sem provocar imediatamente o sorriso entendido do seu interlocutor, hermeneuta de ocasião.”
sexo, drogas e freud ‘n’ roll
De todas as baboseiras referentes à auto-análise de Freud mediante a interpretação de seus sonhos, o que eu depreendo é: tios mais novos que seus próprios sobrinhos têm egos enormes!
“Por outro lado, Freud não diz quase nada do amarelo como cor dos judeus. Apenas alude – analisando o sonho com o Conde Thun – a uma forma botânica do anti-semitismo, a guerra dos cravos, que assolava Viena. Os cravos brancos eram a insígnia dos anti-semitas; os vermelhos, dos sociais-democratas.” Henrique Quanto?
BLÁBLÁBLÁ: “Além disso, o amarelo – como é sabido de todo analista de criança – é a cor chave do erotismo uretral.” Preferia quando o papo era sobre cores para usar na virada de ano…
“Não é nada estranho para um leitor francês ver o pissenlit se inscrever tão profundamente na série botânica.” Mijar na cama mas folha da flor dente-de-leão (Löwenzahn) ao mesmo tempo. Dandelion, Taraxacum officinale, planta de coloração amarela. Tudo indica que é um subgênero de margarida.
Leão não escova os dentes; criança que mija na cama bebe muita água. Bege. Neve.
“Depois de ter lido a narração da expedição de Nansen ao Pólo Norte, sonhou estar aplicando, naquele deserto de gelo, um tratamento elétrico no corajoso explorador para curá-lo de uma dolorosa ciática. Ao analisar esse sonho, descobrirá uma história de sua infância que torna o sonho compreensível. Lá pelos seus 3 ou 4 anos ouviu, um dia, os mais velhos falarem de viagens, de descobertas e perguntou a seu pai se aquela doença era muito perigosa. Sem dúvida, ele confundira viajar (reisen) com dor (Reissen).”
Raizen sun: Yusule
Yu Yu HakuDor
Chinese rice
Raiz de todos os males
“H” is (rá é…)
Fakafka ferimento brancoabsurdo
Viagem
Viadagem
Vajem
Virgem
A última formiga se esconde (late-ant).
3. TOMAR O CORPO AO PÉ DA LETRA OU COMO FALAR DO CORPO?
“Ao tentarmos fugir à ordem lógica das representações que a psicanálise promove, encontramos, como consolo, o modelo biológico em sua opacidade metafórica.”
“moções de desejo (Wunschregungen)” “moções pulsionais (Triebregungen)”
“O equívoco do conceito de representante, o recurso constante à hipóstase biológica são constantes importantes no pensamento de Freud. Elas correspondem, segundo M. Tort, a «um divórcio incontestável entre a elaboração da experiência clínica das neuroses (ou das psicoses) e a teoria ou doutrina das pulsões tratada por Freud de mitologia, cujo caráter necessariamente especulativo ele manteve».”
“Se no momento eu declarar que o fetiche é um substituto do pênis, vou certamente causar uma desilusão. Apresso-me também a acrescentar que não é o substituto de um pênis qualquer, mas de um pênis determinado, totalmente especial e de grande significado nos primeiros anos de infância, que se perderá, porém, mais tarde.” F.
“Tal explicação foi constatada como profundamente verdadeira em todas as análises de pervertidos.”
“em uma história particular, o que dá tal privilégio a uma zona em vez de outra, o que estabelece de algum modo uma hierarquia dos investimentos erógenos e o que singularizaria a primazia genital?”
“a zona erógena pode ser definida como um lugar do corpo onde o acesso à pura diferença (experiência do prazer) que aí se produz fica marcado por um traço distintivo, uma [primeira] letra [a “/” lacaniana], que se pode dizer estar inscrita nesse lugar ou colocada em sua abstração do corpo.”
“Metaforicamente, podemos dizer que um intervalo é fixado no lugar em que se produziu a diferença e o jogo do desejo vai poder se desenrolar em tomo do cerco desse vazio, dentro da regra de seus engodos. É antes de tudo a ilusão retrospectiva de um primeiro objeto perdido em cuja falta se originaria o movimento do desejo” “É verdade que, num segundo tempo, o ciclo das repetições chega à eleição de um objeto determinado, substitutivo e, ao mesmo tempo, estranho à primeira letra.” “Para substituir ao mítico primeiro seio perdido, qualquer coisa que se leve à boca pode servir, até o dia em que a escolha se fixe na orelha do macaco de pelúcia que passa a ser, por um tempo às vezes bem longo, o novo mediador obrigatório de todas as satisfações.”
“Tomar o corpo ao pé da letra é, em suma, aprender a soletrar a ortografia do nome composto pelas zonas erógenas que o constituem; é reconhecer em cada letra a singularidade do prazer (ou da dor) que ela fixa e nota ao mesmo tempo”
4. O CORPO DA LETRA OU O ENREDO DO DESEJO DA LETRA
“Diferente, necessariamente, da diferença que reaviva como prazer de zona, o objeto deve ser concebido como elemento estranho ao corpo que ele excita.”
“O objeto é fundamentalmente o outro corpo cujo encontro atualiza ou torna sensível a dimensão essencial da separação.” “O objeto parece se caracterizar por sua qualidade de estar separado na medida em que o intervalo dessa separação faz surgir a dimensão do espaço ao mesmo tempo que a anulação possível do intervalo que ali se inscreve.” “Desta forma, podemos dizer que o objeto, como parte (pedaço separado) do corpo, representa (no sentido comum da palavra) a dimensão de alteridade essencial implicada na concepção do corpo erógeno.”
“De modo inverso poderíamos dizer que o objeto, por sua opacidade, representa segurança no lugar da falta.”
“Quando viu a jovem empregada de joelhos, esfregando o chão, suas nádegas proeminentes e o dorso em posição horizontal, reviu nela a atitude tomada por sua mãe durante a cena do coito.”
“Para a criança, essa situação privilegiada de ser assim promovido pela mãe à condição de um pequeno deus, constitui também uma situação fechada; isso porque uma tal conjuntura apaga, pela intensidade do gozo atingido, o efeito das insatisfações onde nasce o desejo. O ídolo-criança se vê assim preso numa espécie de relicário precioso cujo invólucro o isola de um verdadeiro acesso à realidade da letra” “Se essa mãe que o tem como objeto querido sente prazer com um outro, o seu mundo desmorona . . . a não ser que ele encontre uma defesa para esse golpe fatal.”
5. O SONHO DO UNICÓRNIO
“Philippe gosta dos seus pés que não lhe parecem feios e se diverte em brincar com eles. Houve uma época de sua infância em que, andando muito com os pés descalços, esforçava-se por calejar a planta dos pés, sonhando deixá-la dura como corno para andar sem perigo sobre os solos mais ásperos e correr pela praia sem medo de estrepes [armadilhas, no chão ou sobre muros] ocultos na areia.” “invólucro de uma pele invulnerável”
“Valor de representação fálica, o unicórnio constitui tema comum das narrações lendárias. O unicórnio, emblema de fidelidade, é evidentemente um animal difícil de ser pego. Diz a lenda que quem o quiser prender deve deixar, na solidão da floresta, uma jovem virgem como oferenda.”
“A cicatriz, como toda a superfície do corpo, é uma recordação dos cuidados atenciosos que lhe dedicou uma mãe impaciente por satisfazer sua paixão ao nível das (sic) necessidades do corpo”
“Philippe foi sem dúvida o preferido de sua mãe, mais que seu irmão, mas também mais que seu pai. Encontramos no horizonte sempre velado de sua história aquela satisfação sexual precoce. Nela Freud reconhece a experiência que marca o destino do obsessivo [que se contrapõe ao do psicótico]. Ser escolhido, mimado e saciado por sua mãe é uma beatitude e um exílio de onde é muito difícil voltar.”
O CORTE DE CABELO 2005
O CORTE DE CABELO APÓS AS FÉRIAS 2003
O CORTE DE CABELO DE VERÃO
ÚLTIMA ESTAÇÃO
AMBÍGUA
D’EROS
“<Unicórnio> (licorne) marca assim em seu traço conciso o gesto de beber e o movimento das duas mãos juntas para formar uma taça – réplica côncava da convexidade do seio”
“Poord’jeli – na própria escansão de sua enunciação secreta, saltando em torno do d’j central e recaindo sobre o júbilo do li – parece ser tanto o modelo como a reprodução do movimento da cambalhota. Há certo interesse em comparar esse nome secreto Poordjelli, que Philippe arranjou para si, com aquele que recebeu de seus pais: Philippe Georges Elhyani (transcrito também com o mínimo de deformações necessárias, tanto para resguardar o segredo da identidade real quanto para preservar todas as possibilidades de transgressão da análise).”
“Com a evocação desse nome secreto, parece que atingimos um termo intransponível: modelo irredutível, desprovido de sentido, aparece verdadeiramente como um desses nós que constituem o inconsciente em sua singularidade.”
“A rosa de Philippe é fonte inesgotável, indo do perfume das rosas à guerra das duas rosas, local mítico, tema místico, coração entre os dois seios no mais profundo de la gorge (peito) (garganta, literalmente).”
RAFAELDEARAUJOAGUIRAFAEL
nós narcisos
nós que atam os futuros-afogados n’orgulho de ser quem s’é
CAMBALHOTA, SALTO MORTAL
PIRUETA
piru
biruta
puta
punheta
chupeta
róta confulsa
pior de todas as rotas
ruas
perua que leva com motor barulhento
aos confins do vale dos fins
derradeiros
radiante
derredor
do nada real
reino do’Eu
6. O INCONSCIENTE OU A ORDEM DA LETRA
“É verdade que a letra é justamente apresentada como esse traço cujo formalismo absoluto suprime toda necessidade de referi-la a outra coisa senão a outras letras, conexões que a definem como letra. Em outras palavras, é o conjunto de suas relações possíveis com outras letras que a caracteriza como tal, excluindo qualquer outra referência. Mas esse cuidado eminentemente louvável de restaurar a própria possibilidade de análise isolando, dentro de uma pretendida <pureza> formal, os termos mínimos de uma lógica não corresponde de fato senão a uma forma extrema de desconhecimento: a que patenteia a recusa sistemática de reconhecer que o conjunto da vida psíquica – e portanto de toda elaboração lógica – é constituído pela realidade do recalque.”
“Já consideramos por que foram, entre outros monemas, Poor, d’j e li que se fixaram, quando analisamos as relações da fórmula (ou nome secreto) com o nome próprio do sujeito. O que não interrogamos, de propósito, foi o processo mesmo dessa fixação em torno do movimento de júbilo.”
“com o esquizofrênico, achamo-nos confrontados com sombras de letras. Cada uma delas conduz ao conjunto das outras sombras indiferentemente ou exclusivamente a uma delas, que parece ter para ele papel de complemento sexual.”
“No mal-estar, beirando o desmaio, da dor provocada por uma topada na quina de uma pedra subsiste apenas – ou se intensifica – o perfume da madressilva que cresce nas moitas ao redor. É como se no choque desta quase-deslocação pela erupção da dor, à beira do desvanecimento, o cheiro da madressilva se desprendesse, como único termo distinto, marcando por isso mesmo – antes que o desvanecimento propriamente dito ou a segunda dor se produzam – o próprio instante em que toda coerência parece se anular, ao mesmo tempo em que ela se mantém em torno desse único perfume.”
“Mais simplesmente ainda, imaginemos, no auge do gozo amoroso, a cabeça caída da amante, cujo olhar perdido fixa em um olho sem fundo a imagem duplamente invertida que as cortinas abertas e presas por frouxos cordões desenham com a luz da janela. Teremos dessa forma evidenciado, em sua contingência, o próprio traço que parece fixar a síncope do prazer.
Assim, em todos esses casos, no instante em que se produz a diferença na extrema sensibilidade do prazer ou da dor, um termo aparece, se mantém ou se desprende, termo que parece impedir o total desfalecimento do momento”
“a própria letra, único termo que continua marcado pelo vazio do prazer.”
game gado save say V say F… safe giver hiver
lava life lie lavarwash is det
“veremos, aliás, que tal possibilidade de formação de termos novos é uma característica necessária da ordem do inconsciente.”
“Deixemos bem claro que é difícil falar com pertinência desta anulação, pois, por definição, o zero assim evocado é, por sua vez, realmente anulado como zero enquanto dele falamos como um termo.”
zero rose salmão cheiro de rosa e de peixe
“o gozo é interdito ao falante como tal” Lacan
“ninguém jamais pode dizer <eu gozo> sem se referir por um abuso intrínseco à linguagem, ao instante do prazer passado ou futuro – instante esse em que precisamente toda possibilidade de dizer se desvanece.”
“Dentro de uma perspectiva dinâmica, o gozo designa a imediatidade do acesso à <pura diferença> que a estrutura inconsciente impede e dirige ao mesmo tempo.”
“Muito sumariamente, podemos indicar aqui que a prevalência de um termo [letra-objeto-sujeito] da estrutura constitui o modelo de uma organização neurótica, ao passo que o enfraquecimento de um deles caracteriza a organização psicótica.”
“Assim como na singularidade do exemplo do Homem dos Lobos a objetalidade maciça de um traseiro de mulher provoca o mais violento desejo, como o apelo de um vazio vertiginoso, assim também todo objeto, numa economia de desejo, parece haurir seu poder de atração do zero que ele mascara, dessa realidade do gozo que ele acalma para manter sua diferença em relação à morte.”
“objetalização da letra, para fazer dela um sinal, assim como literalização do objeto, já descrita na origem do devir do obsessivo.”
A vida como processo do olho que vê “imparcial” seria o relógio de parede, em que, à meia-noite ou ao meio-dia o ponteiro da hora desaparece sob o ponteiro dos minutos (ou fundindo-se a sua cor e indistinguível a certa distância), e tudo se sucede sempre igual, de 12 em 12 horas (doze unidades de si mesmo). A vida daquele que vive (cada ponteiro) é sempre novidade e não se sabe que se está em círculo “esse tempo todo”, com o perdão da expressão tão cirúrgica, ovalada e cronométrica.
“De modo mais aproximativo, poderíamos dizer que a função subjetiva é a contradição nela mesma e que esta particularidade a torna, em geral, difícil de conceber.”
“É certo que a tríade objeto, letra e sujeito se oferece facilmente a uma esquematização simplista demais, na medida em que a trivialidade dos termos, que caracterizam as 3 funções, pode servir de pretexto para dissimular a originalidade radical de seu emprego na descrição do inconsciente.” Mas: “Parece inútil pretender evitar absolutamente o risco de redução simplificadora de uma descrição do inconsciente. Querer <colocar> de maneira radical a objetalidade, a literalidade ou a subjetividade da ordem inconsciente, para melhor distinguir o conceito da acepção comum das palavras em questão, seria encetar um processo <neurótico> (ou perverso) de objetalização da letra, negando com isso a intenção que o subentende no processo.”
“o d’j da fórmula de Philippe seria provido de uma forte valência subjetiva e de uma função literal de valência fraca.” O contrário com li. Poor tem prevalência objetal, para seguir o didatismo do tripé.
“com a diferença sexual, tudo já está escrito.”
“é a relação bem problemática da função subjetiva com o conjunto do sistema literal assim concebido que permite caracterizar a dimensão essencialmente psicanalítica da <transferência>.”
7. O RECALQUE E A FIXAÇÃO OU A ARTICULAÇÃO DO GOZO E DA LETRA
“Sem dúvida, é essa espécie de tendência fundamental do sistema primário [o inconsciente] para o seu próprio aniquilamento que Freud observou e sustentou contra todos como <pulsão de morte>. (…) o conjunto das relações recíprocas que descrevemos tendem a manter em torno do zero radical um jogo que o produz por meio do objeto, o representa pela letra e o oculta pela alternância do sujeito. Pela articulação da letra, que é a palavra, o horizonte do gozo em sua anulação não cessa, como a beatitude na palavra de Deus, prometida e recusada, outorgada somente depois da morte.”
“Após essa lembrança da instabilidade do sistema oscilante que é o inconsciente – aparentemente ameaçado a todo instante de reabsorção – compreenderemos melhor por que ele tende a suscitar a organização paralela de um sistema antinômico ao seu, capaz de assegurar-lhe de algum modo uma organização menos precária.”
“é próprio da ordem do inconsciente suscitar o deslize da letra em direção ao sinal indicador do objeto e gerar uma instância unificante e estável, a que chamaremos de moi. É também da natureza própria da ordem inconsciente manter a função estável do objeto, deixando <esquecer>, por assim dizer, que o objeto tem essa estabilidade devido ao absoluto do zero que ele mascara.”
“Não nos deteremos nessas leis que regem o sistema da consciência. Elas são por demais conhecidas por todos, psicólogos ou não.”
O recalque é a roda que locomove os dois eixos in e cons.
“levantamento do recalque. Esse passo dá acesso à ordem inconsciente como tal numa fórmula literal – Poord’jeli – desprovida de significado mas carregada, em sua permanência, de imperativos libidinosos.”
“Como substituto materno, Lili constitui um objeto incestuoso – por isso mesmo interdito – que a organização consciente se vê obrigada a recalcar para as partes inferiores do inconsciente.”
“Do ponto de vista consciente, a fórmula parece muito <inocente>. (…) quanto mais um elemento é estruturalmente inconsciente, no sentido em que o definimos, tanto menos poderá ter acesso a uma ordem em que nada o pode acolher, a não ser para se alterar por sua vez.”
“um deslize da função literal para um valor significativo.” Cf. DIMITRI & O BILHETE
lit-lit
cama-cama
coma-coma
nurse nurse
coma — morte
s e x o
reprodução consciente
use condom
nur’s or not nur’s the q?
arse null
“o interdito se apresenta como a barreira de um dito, isto é, como o fato de uma articulação literal, escrita ou falada.” NEM SEQUER PRONUNCIARÁS ISTO AQUI.
Não comerás tua mãe porque não queres que teu filho como tua esposa.
INFÂNCIA INFALADA (redundança): “Aquele que diz, por seu dito, se interdita o gozo ou, correlativamente, aquele que goza faz com que toda letra – e todo dito possível – se desvaneça no absoluto da anulação que ele celebra.” Ponto G de Gozo de Inexprimível.para.o.Homem GIH
life safe GIHver
Gozo = cegueira = bliss = blind…doublebind…morte em vida PERIGO PERIGO PERIGO
“Aquele que diz, por dizer, se interdiz(ta)” Lacan, intraduTZível
Aquele que dita, por ditar, se interdita
gozozero
G O Z O
Z ER O
0 ER 0 (S)
0s
Or?G
the her0
hoe
O infinito são dois zeros sucessivos com intervalo 0 entre eles.
COMO SALVAR FREUD COM UM MÍNIMO (PRÓXIMO DE ZERO) DE ESFORÇO! “o gozo não poderia, por isso mesmo, ser pura e simplesmente confundido com a morte, a não ser que se queira confundir a ordem inconsciente com a ordem biológica.”
“A precariedade da ordem inconsciente, que anteriormente já apontávamos, manifesta-se clinicamente nas organizações psíquicas de tipo psicótico. Em tais casos, parece que o recalque não se teria exercido, ao mesmo tempo, na medida em que os mecanismos próprios da ordem inconsciente se manifestam de maneira mais ou menos patente à luz do dia – fato indicativo de falta de recalque propriamente dito – e na medida em que as próprias estruturas inconscientes se demonstram enfraquecidas ou, pelo menos, precárias, como se as funções que as asseguram estivessem inseguras – fato indicativo de falta de recalque originário.”
ÓLEO DA RODA DO DEVIR (DENTES SE ENTRELAÇANDO ENTRE DOIS ABISMOS INFINITOS – QUE IMAGEM!): “Assim, acham-se correlativamente perturbadas tanto a função estável [“nadal”] quanto a função tética [existencial], a ponto de – como já lembramos – uma não se poder mais distinguir da outra e as letras serem ali manipuladas como objetos ou, reciprocamente, os objetos como letras.”
O zero clama por (se)u(m) Hamlet, sem o qual ele (o nada!) não seria nada!
“Mas persiste aqui uma questão de importância capital: como se realiza o recalque originário? Interrogação legítima e necessária na medida em que, como acabamos de ver, esse tempo parece faltar no caso dos destinos psicóticos.”
AS 3 ETAPAS DE QUEM SE INSCREVEU NO COMPLEXO DE ÉDIPO E PORTANTO FUGIU DA PSICOSE PRIMÁRIA
“De início, é preciso que a carícia ao nível da covinha seja sentida como prazer; que uma diferença entre as duas bordas da encantadora depressão tenha sido sensível, intervalo que vai se marcar e que, por ora, reduziremos à (I) fórmula C1-C2, inscrevendo esse intervalo entre 2 pontos sensíveis, mas ainda não-erógena, da covinha. A seguir, é preciso – para que tal carícia seja tão intensamente sensível, agradável e diferente do contato de um pedaço de lã ou das costas da própria mão da criança – que a epiderme do dedo acariciador seja particularmente distinguida como sendo de outro corpo, intervalo que formularemos em (II) Cu-Do, covinha de um, dedo do outro. Finalmente, é evidente que – para que este último intervalo possa ser realmente distinguido nessa clivagem de alteridade – a condição mais importante e absoluta é que o dedo acariciador esteja constituído como erógeno (na economia do corpo do Outro), (III) intervalo que poderemos formular como D1e-D2e marcando assim a diferença sensível, e já erógena para ela [covinha da criança], da ponta do dedo da mãe.”
(I-II) sensibilidade esquisita
(II) “diferença” proximal 0
(II-III) erogeneidade do Outro
clivagina
tô fala no
Pobre da criança que não sabe o que é um cafuné…
novas zonas coloniais
ALGO TÃO BANAL PORÉM TÃO ESSENCIAL: “Mas como pode então suceder que essa operação não se produza ou se efetue de modo tão precário que pareça estar mal-assegurada, tal como supomos que deveria se produzir na origem dos destinos psicóticos?” “Precisamos, pois, considerar com mais atenção o que designamos como <intervalo erógeno do corpo do outro>, enquanto nos parece que sua dimensão própria é essencial para que seja efetuada a clivagem do recalque originário.”
O CARENTE-PADRÃO: “De um lado, podemos considerar que a perturbação do intervalo erógeno, no quadro da ordem neurótica, resulta do efeito do recalque secundário. Nada mais trivial que a extrema erogeneidade de uma zona íntima velada por uma hiperestesia ou uma anestesia que não exige analistas para despertar sua função erógena.”
ATAVICOSE: “Mas pode ser que o recalque seja mais vigoroso e que o conjunto do revestimento cutâneo caia sob o golpe dos seus efeitos. Imagina-se, então, no quadro de nosso exemplo, o pouco efeito <inscritor> que pode ter a mão de uma mãe afligida por tal recalque.” PSICOSE É LOUCURA DE FAMÍLIA
ANALFABETOS DO CORPO E DO ESPÍRITO, SEGREGAI-VOS!
MARCA DE ZONA ERÓGENA POR TELECONF.
ERAM OS MACACOS PSICOPATAS?
“De um lado o fálus é aquele traço que, isolado em sua ereção em forma de estela ou de obelisco,¹ simboliza universalmente o caráter sagrado e central dessa eminente zona erógena. De outro lado, ele é, sem outra mediação, reduplicação ou representação, em si mesmo, termo diferencial que faz o corpo macho ou fêmea.”
¹ Uh, pedra filosofal da porra toda!
“Afirmar que o fálus é a um só tempo a letra e o estilete que a traça não equivale a afirmar que gerar sexualmente basta para garantir, da parte do genitor, uma realização verdadeira do recalque originário. Isso porque nada impede o exercício de sua função orgânica a despeito de todo gozo digno desse nome. Contudo, a implicação fálica em tudo que se relaciona com o gozo, isto é, em tudo que se refere à afirmação da letra e à sua transgressão, deve-se ao privilégio dessa parte do corpo de ser em si mesma um termo diferencial (da fundamental diferença dos sexos) sem outra mediação, reduplicação ou representação.”
EDIPIADAS TRANSVERSAIS
“O gozo genital, no homem e na mulher, parece guardar dessa determinação erógena mais ou menos antiga, suas características profundamente diferentes que Tirésias por experiência, diz a lenda, teria podido testemunhar em termos aritméticos: <…Um dia Zeus e Hera discutiam para saber quem, o homem ou a mulher, sentiria maior prazer no amor quando lhes ocorreu a idéia de consultar Tirésias, único que fizera a dupla experiência. Tirésias, sem vacilar assegurou que se o gozo do amor se compusesse de 10 partes, a mulher ficaria com 9 e o homem com 1 só>.” E com isso Hera (uma vez) arrancou a luz dos olhos de Tirésias.
Foucault banha-se milhões de vezes no rio, ao contrário de Lévi-Strauss, diria Heráclito.
O LADO ESCURO DA LUA
“A conjunção dessas 3 aberturas em um mesmo eixo, produz o que se pode chamar de o contrário de um eclipse, na medida em que aquilo que é eclipsado, escondido, escamoteado, é justamente o esconderijo ou a ocultação habitual que sutura mais ou menos todo intervalo.” A diferença é que talvez só haja uma oportunidade para esse eclipse astronômico acontecer, ele não é cíclico…
O LÓBULO ESCURO E SURDO AO PÉ DA ORELHA
O músico é o lóbulo do músico.
O sol é líquido por fora e a lua é sulcada de crateras. Isso já o bastante para sermos felizes até o gás hélio acabar!
8. PSICANALISAR. NOTA SOBRE A TRANSFERÊNCIA E A CASTRAÇÃO.
“O convite para falar que é feito ao paciente não se abre sobre algum acontecimento maiêutico ou alívio catártico… assemelha-se mais, em realidade, ao <diga 33, 33> do médico cujo ouvido está atento apenas à ressonância torácica da voz.”
“On démolit
le Cherche-Midi
à quatorze heures
tout sera dit.” Queneau
“O jogo do zero e sua representação – ou a relação do sujeito à falta que ele acentua no conjunto do qual faz <parte> – evocam esta <cena primitiva> em que Freud nos ensinou a situar o espaço do impossível saber sobre <a origem> de <cada um>.”
Quem sou eu?
Filho dos meus pais.
Filho 2 de 2 pais.
Ângulo negro de uma casa de luz fraca.
É preciso contrair uma dívida para comprar a liberdade
E viver escravizado daí em diante num novo espaço.
Confere?
No entanto não deixa de ser
Um novo zero
No bom sentido
Do número
Se é
Que m’entende!
“Não há outro artifício na psicanálise que proporcionar ao paciente a suspensão necessária de nossa <compreensão>, onde o dizer poderá evoluir”
“que vazio faria aparecer seu desaparecimento?”
1. nunca ter nascido
2. morrer hoje
Todo mundo já maquinou este simples exercício. Honestamente? Sabe-se lá! Mas eu já escrevi cerca de 2 necrológios para mim mesmo! Montaignesco!
a PEDRA no meu sapato que me incomoda há tanto tempo;
a TESOURA, pois eu corto com mordacidade o discurso dos Outros;
o PAPEL de mãe e ao mesmo tempo o dinheiro que eu rasgo, e que pode embrulhar a pedra e qualquer estômago de pedra, triangulando uma vitória!
tábula rasa instrumento cortante BAGULHO INÚTIL EM EXCESSO SOBRE A TERRA, sendo aliás a própria terra!
Pode ir na frente, eu vou de patinete!
Preciso manter o peso, perder se possível, não sou motorizado!
Meu combustível?! Autopropalado!
Eu ajudo quem os pais atrapalham Sociedade Anônima e Anômica
Eu sou o verdadeiro Messias da minha própria autocriada época.
Devaluei o $$. Olhos de serpente não vêem nada neste covil empoeirado, embolorado. Fica um dissabor equivalente, equidistante. Notícias boas e ruins vêm e vão em caráter indiferente. Ó, valei-me! Escapei dos braços de muitas Shivas e religiões!
A fúria e o Som (WILSON!!! – voz do solitário), não necessariamente nesta ordem. Significando tudo, retrocedendo quase nada. Epílogo da peça elizabetana. N de não-vingança. Eu adoro o mato, tanto que o verbo eu conjugaria, noutras circunstâncias e, sabe-se, eu tenho bastante mato escapando pelo couro, ah!, cabeludo, eriçado! Ar-tista sem fôlego – mas que espécie de paradoxo é esse?! Viva cada dia como se fosse seu último – IN VINO VERITAS!
Rogai por nós cobradores agora e na hora de nossa dívida, Aquém!
Eu e eles somos ambos (?!) gratos, a nosso modo.
“Em uma fórmula oriunda do ensino de J. Lacan, que muitos analistas presentemente adotaram, a transferência está situada como o efeito de uma não-resposta ao pedido constituído pelo discurso do paciente.”
Seja um pai para mim ou me diga aquilo que eu quero que me digam: talvez nada! Por desencargo de consciência… Para dar uma descarga no FLUXO DE CONSCIÊNCIA, melhor dizendo.
Refletir sobre a i-nelutável disparidade i-ntelectual…
Rafa el Escritor
“Resta o problema, colocado desde o primeiro capítulo, da sujeição do psicanalista ao modelo teórico que determina sua posição e sua função. Vemos à luz do que acabamos de desenvolver, que convém que este suplemento de sujeição seja reduzido ao extremo. Quer isto dizer que o modelo teórico só pode consistir numa fórmula onde apareça como dominante a função radical do zero e onde se manifeste, reduzida à sua <mesmidade>, a função alternante do sujeito.”
TOGASHI ROLUDO (OU FENDIDO): “De modo mais figurado, digamos que a castração é a cavilha ausente que junta os termos para constituir uma seqüência ou um conjunto; ou ao contrário, digamos que ela é o hiato, a clivagem que marca a separação dos elementos entre si.”
“a castração – mesmo se permanece mal[-]pensada ou insuficientemente conceitualizada – entra em cena em todo processo psicanalítico, na medida em que o tratamento visa evidenciar, analisar a articulação singular de cada <um> [I] com o espaço do zero [0] que ele desvenda no conjunto dos outros <uns> [11111110101010101…].”
“Houve um tempo em que a psicanálise cheirava a enxofre e fazia felizmente parte das atividades malditas: sabia-se então o que ela era: uma interrogação sobre o gozo.” “O que é bendito, benedictus, bemdito, é a afirmação redobrada e magnificada do dito que põe barreira à anulação que é o gozo. O maldito, maledictus, maldito, não é precisamente esta interrogação – diabólica – a respeito da própria função do dito?”
Tradução comentada de trechos de “PLATÓN. Obras Completas (trad. espanhola do grego por Patricio de Azcárate, 1875), Ed. Epicureum (digital)”
Além da tradução ao Português, providenciei notas de rodapé, numeradas, onde achei oportuno abordar pontos polêmicos ou obscuros. Quando a nota for de Azcárate (tradutor) ou de Ana Pérez Vega (editora), um (*) antecederá as aspas.
“MÊNON – Poderias dizer-me, Sócrates, se a virtude pode ser ensinada? E, podendo ou não, adquire-se só com a prática ou encontra-se no homem também naturalmente ou sob qualquer outra forma?
SÓCRATES – Até agora os tessálios desfrutaram de grande renome entre os gregos, e foram muitíssimo admirados por sua destreza em montar a cavalo, bem como por suas riquezas; mas hoje em dia sua fama reside, a meu ver, mais em sua sabedoria, principalmente na dos concidadãos de teu amigo Aristipo de Larissa.(*) A razão disso é que Górgias, havendo visitado esta cidade, atraiu a seu círculo, em vista de seu enorme talento, os aristocratas alêuadas, i.e., descendentes do rei Aleuas.¹ Aristipo se encontrava neste número. Apenas os mais distintos dos tessálios freqüentavam a residência de Górgias. Ele vos acostumou a responder com firmeza e imponência às perguntas, assim como os sábios respondem com naturalidade tudo aquilo que são perguntados (…)”
(*) “Que não deverá ser confundido com Aristipo de Cirene, discípulo do próprio Sócrates, que no entanto punha o Prazer no lugar do soberano Bem.” – P.A. (Mau discípulo, por sinal!)
¹ Rei mitológico, já que se diz que fôra neto do próprio Aquiles da Guerra de Tróia. Há discordância entre os escoliastas de língua portuguesa se se o chama Aleuas ou Alevas e, em conseqüência, seus descendentes poderiam tanto se chamar alêuadas como alêvadas. Aqui procedemos à opção de Azcárate.
“Mas aqui em Atenas, meu querido Mênon, as coisas tomaram a contra-mão. Não sei que espécie de aridez se apoderou da ciência; até o ponto em que parece se haver retirado por completo destes lugares, para ir animar apenas vossa Tessália. Imagino que se perambularas nas ruas questionando o que me questionas serias vítima de troça, e não haveria quem não to dissesse: Estrangeiro, estou tão distante de saber se a virtude, dada sua natureza, pode ser ensinada, que ignoro mesmo o que seja essa tal virtude! Mas Mênon, eu disse isso sobre todos os atenienses: eu também não sei a resposta. Prescindo da sabedoria, como meus concidadãos. Sinto muitíssimo não possuir qualquer tipo de ciência sobre a virtude! (…) Parece-te, aliás, possível que alguém que não conhece a pessoa de Mênon afirme que seja formoso, rico e nobre, ou, enfim, destituído destas características? Crês tu?
MÊNON – Não, mas será verdade, Sócrates, que não saibas mesmo o que é a virtude? É concebível que, voltando eu a minha terra, tenha de aviltar tua imagem de sábio, confessando tua ignorância no tema?
SÓCRATES – Não só não o sei, querido Mênon, como não encontrei jamais alma que o soubesse, tanto quanto me concerne.
MÊNON – Como é? Não visitaste Górgias quando ele freqüentou Atenas?
SÓCRATES – Sim.
MÊNON – E me dizes então que ele de nada sabia?
SÓCRATES – Ando meio caduco, Mênon. Não posso dar-te um juízo exato, agora, de como avaliei Górgias então. Bom, talvez ele realmente soubesse o quê é a virtude, e dessa forma tu também, pois que tu és discípulo de Górgias.”
“SÓCRATES – Deixemos Górgias em paz, uma vez que não se encontra para defender-se. Mas tu, Mênon, em nome dos deuses, o que opinas sobre a virtude? Diz-mo. Não me prives deste conhecimento! Se eu saio desta conversa convencido de que tu e Górgias sabeis quê é a virtude, terei de admitir minha derrota: incorrera em falsidade todo este tempo, uma vez que conhecia homens que sabiam o que é a virtude!
MÊNON – A coisa não é assim tão difícil, Sócrates. Queres que te diga, duma vez, em que consiste a virtude do homem? Nada mais simples: consiste em estar em posição de administrar os negócios da sua pátria; e, administrando, fazer o bem a seus amigos e o mal a seus inimigos, procurando, por sua parte, evitar todo o sofrimento. Queres conhecer em que consiste a virtude da mulher? É facílimo defini-la: o dever de uma mulher é governar bem sua casa, vigiar seu interior, ser submissa ao marido. Também há uma virtude própria para os jovens, de um e outro sexo, e para os anciãos; a que convém ao homem livre é outrossim distinta da do escravo; em suma, há uma infinidade de virtudes. Nenhum inconveniente há em responder o que é a virtude, porque cada profissão, cada idade, cada ação, tem sua virtude particular. (…)
SÓCRATES – Imensa é minha fortuna, Mênon! Estava à procura de uma virtude, e me deparo com um verdadeiro enxame delas! Mas, recorrendo a esta imagem, i.e., do enxame, se eu te houvesse questionado da natureza das abelhas, e tu me respondesses que há muitas abelhas e de muitas espécies diferentes; o que me haveria de responder se eu te contestasse: É em virtude de sua qualidade de abelhas que dizes haver grande número? Ou não diferem em nada enquanto abelhas, mas sim em razão de outros conceitos, p.ex., a beleza, a magnitude ou qualquer qualidade assim, separável do que uma abelha é? (…)
MÊNON – Ora, diria que as abelhas, enquanto abelhas, não diferem umas das outras!”
“SÓCRATES – Saiba então que o mesmo sucede com as virtudes. Ainda que haja muitas e de muitos matizes e variedades, todas compartilham uma essência comum, o que possibilita que sejam chamadas virtudes.”
“Te parece, Mênon, que a saúde de um homem seja distinta da saúde de uma mulher?”
“Mênon, a verdade é que não buscamos mais que uma virtude. O que fizemos foi percorrer caminhos estranhos e achar várias virtudes, máscaras da virtude una.”
“SÓCRATES – Agora vê se concordas: a figura é, dentre todas as coisas que existem, a única que está unida à cor. Estás satisfeito ou desejas reformular tal definição? Eu me daria por satisfeito, caso desses-me uma definição de virtude no mesmo tom.
MÊNON – Mas esta definição é impertinente, Sócrates!
SÓCRATES – Por quê?!
MÊNON – Segundo tu, a figura está sempre unida à cor.
SÓCRATES – Sim, e…?
MÊNON – Se se dissesse que não se sabe quê é a cor, e que neste ponto está-se no mesmo embaraço que quanto à definição de figura, que pensarias a respeito?
SÓCRATES – (…) minha resposta já está dada; se não é justa, a ti toca pedir a palavra e refutá-la. Mas se fossem dois amigos, como tu e eu, que quiséssemos conversar juntos, seria preciso então responder-te, não é mesmo? Desta vez, de maneira mais suave e conforme com as leis da dialética. E o que é mais conforme com as leis da dialética? Não se limitar somente a dar uma resposta verdadeira, mas fazer com que esta resposta consista em palavras que o mesmo sujeito que nos dirigiu a pergunta confesse que entendeu a todas, uma a uma. Desta maneira inicio minha tentativa de responder-te melhor que antes. Pergunto: há uma coisa que chamas de fim, i.e., limite, extremidade? Estas 3 palavras expressam uma mesma idéia. Talvez Pródico não concordasse. Mas enfim, tu não assumes que uma coisa é finita e limitada? Eis meu entendimento.
(…)
E bem, não chamas algumas coisas de superfícies, planos, e outras sólidos? P.ex., o que se chama com estes nomes na geometria.
(…)
Agora sim podes conceber o que entendo eu por figura. Porque digo em geral de toda figura que é: aquilo que limita o sólido. Para resumir esta definição em apenas dois substantivos, chamo de figura o limite do sólido.
MÊNON – Excelente, Sócrates. E qual sua definição de cor?
SÓCRATES – Ah, Mênon! Tua juventude gosta de tripudiar de um velho como eu, não?! Sufoca-me com pergunta atrás de pergunta! Enquanto isso, não queres nem te lembrar nem dizer-me como Górgias entendia a virtude!
MÊNON – To direi, Sócrates—depois de terdes respondido minha pergunta!
SÓCRATES – Ainda que tivera meus olhos vendados, somente ao ouvir-te diria: és belo e tens amantes!
MÊNON – Por que dizes isto?!
SÓCRATES – Porque em teus discursos não fazes mais que mandar; coisa muito comum entre os jovens que, orgulhosos de sua beleza, exercem uma espécie de tirania enquanto se encontram na flor dos anos. Além disso, talvez tenhas descoberto minha fraqueza, amigo, o amor pela beleza! Mas farei tua vontade, respondo-te a seguir.
MÊNON – Sim, por favor, Sócrates!
SÓCRATES – Queres que te responda como responderia Górgias, a fim de que me sigas com mais facilidade?
MÊNON – Ó, é uma ótima idéia!
SÓCRATES – Não dizeis vós, segundo o sistema de Empédocles, que os corpos produzem emanações?
MÊNON – Correto, prossegue.
SÓCRATES – E que têm poros, através dos quais passam tais emanações?
MÊNON – Decerto.
SÓCRATES – E que certas emanações são proporcionais a certos poros; enquanto que outros deles são ou demasiado largos ou demasiado estreitos para que sirvam de condutores?
MÊNON – Não mentes.
SÓCRATES – Reconheces a vista?”
MÊNON – Vejo que sim.
SÓCRATES – Estabelecidas todas estas coisas, atenta agora ao que digo, tal qual o disse outrora Píndaro: <A cor não é outra coisa que uma emanação das figuras, proporcional à vista e sensível>.”¹
¹ O mais impressionante dessa definição é sua atualidade, como se Sócrates já falasse da freqüência da luz e nossa percepção dos tons pela decodificação instantânea dos neurônios que desemboca na retina. Ainda mais curioso diante do fato de que em outros diálogos Platão apresenta definições assaz mequetrefes, para nosso tempo pós-goethiano, em teoria das cores! É só ler seus diálogos mais avançados, incluindo mesmo A República.
“sobre a base desta resposta, ser-te-ia fácil agora explicar o que são a voz, o olfato e as coisas análogas.”
“SÓCRATES – Ela (a resposta sobre a cor) tem não sei quê de trágico, querido Mênon; e por esta razão mais te agradou que a resposta sobre a figura!
(…)
Mas esta segunda definição não é tão boa quanto a primeira, ó filho de Alexidemo. O mesmo opinarias, se acaso não fosses obrigado a voltar a tua terra antes de testemunhares os mistérios, e se pudesses permanecer e ser iniciado.
MÊNON – E com muito gosto permaneceria eu, Sócrates, se consentisses em me comunicar tais coisas.
SÓCRATES – (…) Cessa de multiplicar o que é único, Mênon, pilhéria esta comum aos oradores que querem ridicularizar seu oponente. Tomando então a virtude em si, integral e inviolada, explica-ma agora no que consiste! Te dei dois modelos para servirem-te de guia.
MÊNON – A virtude consiste, Sócrates, como refere o poeta, em comprazer-se com as coisas belas e poder adquiri-las.”
“SÓCRATES – Desejar as coisas belas, é a teu ver desejar as coisas boas?
MÊNON – Ora, sim.”
“SÓCRATES – Mas Mênon, crês que um homem, conhecendo tanto o mal quanto o bem, pode se ver premido a desejar o mal?
MÊNON – É claro.
(…)
Sócrates, parece que tens razão; ninguém deseja o mal.”
“SÓCRATES – E não é certo que a parte desta definição que expressa o querer é comum a todos os homens? E que neste conceito ninguém é melhor do que ninguém?
MÊNON – Convenho.
SÓCRATES – Está patente, portanto, que, se uns são melhores que os outros, não pode ser senão em razão do poder.
MÊNON – Isso sem dúvida.”
“MÊNON – Tinha ouvido dizer, Sócrates, antes de conversar contigo, que tu não sabias outra coisa senão duvidar e encher os outros de dúvidas. Vejo agora que fascinas meu espírito com teus feitiços, tuas maldições e teus encantamentos! De maneira que me encontro repleto de dúvidas… (…) Fazes bem em não saíres de Atenas, nem visitar outros países. Porque se fazes alhures o que aqui fazes, creio que te exterminariam!
SÓCRATES – És muito astuto, Mênon, e tentaste pregar-me uma peça!”
“Sei que todos os homens belos gostam de ser comparados, porque comparações são-lhes sempre vantajosas! (…) Não te devolverei outra comparação por esta! (…) se conduzo ao espírito dos outros a dúvida, não é porque saiba mais que ninguém, mas exatamente ao contrário; sou o ser que mais questiona, só isso! (…) Já com relação à virtude, meu caro, não sei o quê é; e creio que tu o sabias antes de vir ter comigo; mas depois de conversarmos um pouco, creio que agora já não saibas mais!”
“SÓCRATES – Compreendo o que queres dizer, Mênon. Percebe quão pouco fecundo não é o tema que acabas de estabelecer?! Parece que não é possível ao homem indagar aquilo que sabe, nem o que não sabe, afinal se já o sabe não tem necessidade de indagação alguma. Não indagará tampouco o que não sabe, pela simples razão de que não sabe o quê deveria indagar!
MÊNON – Não te parece que falo a verdade, Sócrates?
SÓCRATES – Não.
MÊNON – Quisera dizer-me o motivo!”
“Os poetas dizem¹ que a alma humana é imortal. Que logo que desaparece, ou pelo menos quando acontece o que denominam ‘morrer’, volta a aparecer; perecer, nunca. Por isso, é preciso viver da forma mais santa concebível. Porque Perséfone, após 9 anos, devolve a vida à alma do morto, de acordo com os méritos e as faltas da vida passada. Assim nascem e renascem os reis e os homens mais ilustres e sábios; nos séculos seguintes, eles são considerados pelos mortais como santos e heróis. A alma, partícipe desse ciclo infinito, tendo se deparado com as mesmas coisas tantas vezes, é por isso mesmo a coisa mais sábia que há. Seria coisa de se admirar, portanto, que ela pudesse recobrar aquilo que já abrigava, i.e., a resposta de quê é a virtude?”
¹ Píndaro
“Tudo que se chama buscar e aprender nada mais é do que recordar.”
“SÓCRATES – Chama algum dos muitos escravos que estão a teu serviço, quem quiseres. (…)
MÊNON – Com prazer. Vem tu, jovem.
SÓCRATES – É grego? Ou sabe o grego?
MÊNON – Excepcionalmente. Ele é como que de nossa família, sempre foi de nossa casa.
SÓCRATES – Aguarda e só observa se o escravo recorda ou aprende de mim.
MÊNON – Pois não, sou todo ouvidos.
SÓCRATES – Jovem, diz-me: sabes que isto é um quadrado?
[Sócrates desenha com um graveto na areia para que o jovem visualize.]
ESCRAVO – Sim.
SÓCRATES – O espaço quadrado não é aquele que tem as quatro linhas que vês iguais?
ESCRAVO – Certamente.
SÓCRATES – Não tem também estas outras linhas, que dividem-no ao meio, iguais entre si? [Desenha uma cruz dentro do quadrado.]
¹ Supondo que o segmento BC = 2, tanto BF quanto FC = 1, nas palavras de Sócrates ao escravo logo abaixo. Cada um dos 4 quadrados que nasceram “dentro” do primeiro quadrado desenhado na areia conservam suas propriedades, só que em miniatura. E Sócrates fez tudo isso apenas riscando uma “cruz” na areia – ângulos retos, o que chamaríamos hoje, pós-Descartes, de eixos x (horizontal) e y (vertical), que não passam de lados de novos quadrados, conforme a perspectiva –, observando a proporção das medidas (a cruz, i.e., os segmentos perpendiculares entre si FH e EG, interseccionando-se no ponto zero do plano cartesiano, representado na imagem pela letra “I”).
ESCRAVO – Sim.
SÓCRATES – Não é verossímil que haja um espaço semelhante, embora maior ou menor?¹
ESCRAVO – Sem dúvida.
SÓCRATES – Se este lado fosse de 2 pés e este outro também de 2 pés, quantos pés teria o todo? Considera-o antes desta maneira, aliás: se este lado fosse de 2 pés e este de um pé só, não é certo que o espaço teria 1 vez 2 pés?²
ESCRAVO – Sim, sim, Sócrates.
SÓCRATES – Mas como na verdade este outro lado é também de 2 pés, não terá o espaço 2 vezes 2?
ESCRAVO – Sim.
SÓCRATES – Reiterando: logo, o espaço é 2×2?
ESCRAVO – Sim.
SÓCRATES – Quanto são 2×2? Conta para mim.
ESCRAVO – São 4, Sócrates.
SÓCRATES – E não poder-se-ia formar um espaço que fosse o dobro deste, ainda conservando suas mesmas propriedades, tendo lados iguais?³
ESCRAVO – Sim.
SÓCRATES – Quantos pés teria esse espaço?
ESCRAVO – 8.4
SÓCRATES – Agora diz-me: qual seria o comprimento de cada linha desse novo quadrado maior que concebemos… Veja: este quadrado traçado na areia¹ tem 2 pés de cada lado. Quantos pés teria o lado do <quadrado que é o dobro deste>?
ESCRAVO – É evidente: os lados teriam o dobro de pés!
SÓCRATES – Bem vê, Mênon, que eu não ensino nada ao jovem, tudo o que faço é interrogá-lo. E ele já imagina qual é a linha que deve traçar para formar o espaço trigonométrico de 8 pés, não te parece assim?
MÊNON – Sim, Sócrates.”
² Neste caso, seria como se a figura total fosse, p.ex., a ligação dos pontos BEGC, equivalente a um retângulo.
³ Um quadrado que fosse para o quadrado ABCD o mesmo que o quadrado BFIE é para o quadrado ABCD.
4 O sumo óbvio, que Sócrates tentava demonstrar: o não-iniciado em matemática tomará por operação aritmética (e a operação equivocada) o que era uma operação trigonométrica. Falando em linguagem mais acessível, o jovem não sabia ainda que a obtenção da área do quadrado era obtida por meio de uma MULTIPLICAÇÃO de 2, e não de uma SOMA de 2, uma vez que, no caso do número 2, a multiplicação (o quadrado) e a soma coincidem. (2+2=2×2) Daí o jovem ter dito que o quadrado com o dobro das medidas, i.e., lado = 4, teria 8 pés de área, pois ele fez mentalmente 4 + 4 e não 4².Este raciocínio todo, bem simples, serve para lembrar, também: não é todo matemático que é bom em ensinar matemática. É preciso saber o método para não fazer o aluno “descobrir a natureza” da forma indesejada (pelo ensino oficial, pelos livros, pelo próprio educador, etc.). Mostrar que o jovem se equivocava ao imaginar o quadrado e que se daria conta do erro ao contar os quadrados após desenhar o quadrado na areia favorecia Sócrates na discussão que tinha com Mênon (sobre a teoria da reminiscência).
“SÓCRATES – Teu escravo não sabia a princípio qual era a linha com que se forma o espaço de 8 pés, e na verdade ainda não o sabe, porque não o fiz ir adiante.¹ Mas ele pensava que sabia. E a prova disso é que respondia sem hesitar, muito confiante de si. Ele não se imaginava ignorante em nada. Mas, por fim, quando lhe objetei que incorria em erro, reconheceu seu embaraço, e admitiu que não sabe. Houve um progresso: agora ele sabe que não sabe.
¹ Número irracional, que os gregos não se preocupavam em denotar. Muito embora, neste exemplo Sócrates tenha apresentado apenas um quadrado bidimensional. No caso do CUBO, seria possível encontrar 8 como volume da figura cujo lado é 2 pés (2³).
“MÊNON – O que dizes é a suma verdade, Sócrates.
SÓCRATES – Admites que teu escravo avançou em conhecimentos?
MÊNON – Não posso negá-lo!
SÓCRATES – Pois ensinando-o a duvidar das coisas, e até de si mesmo, e fazendo-o arrefecer sua natureza antes mais arrogante, como se arrefece um tornado, crês que fizemos um bem ou que fizemos um mal a ele?
MÊNON – Um bem sem dúvida.
PLATÃO – O que fizemos foi situá-lo em uma posição privilegiada para enfim caçar a verdade. Porque agora, ainda que não saiba o que é, buscará esta coisa com prazer e ponderação. Antes chegaria a conclusões apressadas e desfiguradoras, não importa se na praça pública, crendo-se senhor da razão, ou apenas diante de si mesmo. Não veria o ridículo de sua resposta, de que o dobro da área aparecia com o dobro da longitude das linhas (acrescentando outro tanto de pés aos lados do quadrado).”
“SÓCRATES – Escravo, volta. Responde, agora: este espaço, não é de 4 pés? [Sócrates volta a apontá-lo a figura 1, desenhada na areia.]
ESCRAVO – Sim.
SÓCRATES – Não se pode acrescentar a este espaço outro idêntico?¹
ESCRAVO – Sim.
SÓCRATES – E ainda outro (um terceiro quadrado)?
ESCRAVO – Sim.
SÓCRATES – E agora o quarto?
ESCRAVO – Sem dúvida.
SÓCRATES – Não temos então quatro espaços iguais entre si?
ESCRAVO – Sim, sim.
SÓCRATES – Mas que é todo este espaço (o quadrado maior) diante do menor?²
ESCRAVO – É o quádruplo.
SÓCRATES – Mas o que queríamos não era achar o dobro?
ESCRAVO – Evidente.
SÓCRATES – Estas duas linhas,(*) inscritas dentro do quadrado grande, não cortam em dois cada um destes espaços (os dois retângulos, que assim se tornam 4 quadrados menores)? [(*)A cruz na areia, cf. legenda da figura]
ESCRAVO – Sim, exato.
SÓCRATES – Não vês aqui, pois, 4 linhas iguais que cortam este espaço? [Decompondo a cruz: duas linhas perpendiculares são também 4 linhas ou segmentos de reta, com referência ao ponto I, o centro.]
ESCRAVO – Vejo.
SÓCRATES – Responde agora, qual a magnitude deste espaço?
ESCRAVO – Como?!
SÓCRATES – A cruz que desenhei na areia não divide este quadrado original em 4 quadrados?
ESCRAVO – Sim.
SÓCRATES – Então me diga: quantos espaços semelhantes há <dentro> desta figura?
ESCRAVO – 4.
SÓCRATES – E naquela? [Sócrates aponta para o polígono CBGE.]
ESCRAVO – 2.
SÓCRATES – Qual a proporção de 4 para 2?
ESCRAVO – 4 é o dobro de 2.
SÓCRATES – Quantos pés tem este espaço? [CBGE]
ESCRAVO – 8 pés. [4×2]
SÓCRATES – Quais as linhas que o formam?
ESCRAVO – Estas. [O escravo assinala o polígono CBGE.]
SÓCRATES – Com esta linha aqui em um dos lados? [Sócrates aponta para o segmento BC.]
ESCRAVO – Isso.
SÓCRATES – Os sofistas chamam esta linha de diâmetro. Assim, supondo que seja este o nome mais adequado, o espaço que chamamos dobro, ó escravo de Mênon, será formado de acordo com o diâmetro. Mas lembra-te que o outro lado [segmento BE] permanece do mesmo tamanho.
ESCRAVO – Perfeitamente, Sócrates!
SÓCRATES – E agora, Mênon? Crês que teu jovem escravo deu alguma resposta que lhe fôra ordenada, ou que ele chegou à resposta por seu próprio mérito?
MÊNON – Vejo o que querias demonstrar, Sócrates: ele chegou à descoberta por conta própria, sem a ajuda de ninguém.”
¹ Como vimos, aí teríamos um retângulo, pois para DOBRAR O QUADRADO seria necessário não multiplicar por 2, mas por 4 (aumentar o quadrado 4x).
² Basta visualizar sempre a figura 1 para entender o problema. Comparar o menor quadrado com o maior quadrado, não importando as dimensões numéricas do caso particular (o número de pés do quadrado, o que foi deixado de fora da imagem que inseri acima justamente para facilitar a abstração).
“Daí concluímos que aquele que não sabe ou ignora tem, apesar disso, em si mesmo, faltando apenas recordar, opiniões verdadeiras relativas àquele assunto que, por enquanto, pensa ignorar totalmente.”
“SÓCRATES – Não concordas que a ciência que tem hoje teu escravo, não seria preciso que ele a tivesse recebido noutro tempo, imemorável, ou que sempre a tivera consigo, embora adormecida?
MÊNON – Sou obrigado a concordar.
SÓCRATES – Mas ora: se fosse a segunda hipótese, teu escravo teria sido um sábio desde sempre! E se a recebeu, ao contrário, noutro tempo, não foi, decerto, nessa vida presente! A não ser que alguém o tenha secretamente introduzido na arte da geometria, vês? Sabes se alguém o ensinou?
MÊNON – Sócrates, este é um servo doméstico. Asseguro-te que nunca foi educado em semelhantes coisas.
(…)
SÓCRATES – Se não o foi, é claro que recebeu este ensinamento antes, e que em algum momento aprendeu o que sabe, posto que não se pode aprender aquilo de que a alma não é capaz desde sempre!
MÊNON – Mataste a charada.
SÓCRATES – Será então quando ainda não era homem: foi neste momento em que foram-lhe impressos na alma estes conhecimentos que ora manifestou.
MÊNON – Creio que sim, Sócrates.
SÓCRATES – Mênon, não é correto afirmar que embora em seu corpo atual teu escravo nada soubesse de trigonometria até o momento em sua alma ele sempre fôra um sábio?
MÊNON – Sem dúvida alguma, Sócrates.
SÓCRATES – Logo, se a verdade dos objetos está sempre em nossa alma, ela é imortal. Por isso nunca devemos depreciar este método: perguntar com confiança e persistência, indagar nossas próprias almas sobre os objetos, tentar trazer à memória aquilo de que já não mais lembrávamos!
MÊNON – Não sei exatamente como fazer o que dizes, mas concordo que falas a verdade.
SÓCRATES – E tua crítica me é tão familiar que acho que a encontro dentro de mim mesmo, Mênon. Às vezes procedemos a um método que nem bem entendemos. Porém, creio ser minha missão nesta vida defender este método com palavras e com os fatos que puder encontrar. Estou persuadido apenas disso: que é preciso indagarmo-nos a respeito daquilo que não sabemos, pois isto no mínimo nos fará melhores, ou pelo menos não nos corromperá se nada advir disso!Pois ficaremos mais resolutos, menos preguiçosos – de que adiantaria repousarmos crendo ser impossível descobrir aquilo que ignoramos agora e que seria vão empreender qualquer coisa?
MÊNON – Mas isto está excepcionalmente bem-dito, Sócrates!”
“permita-me indagar, como que por hipótese, se a virtude pode ser ensinada, ou se se a adquire por qualquer outro meio. Quando digo <como que por hipótese>, entendo por hipótese o método ordinário dos geômetras.”
“Se a virtude for uma ciência, é óbvio que se pode ensiná-la.” “Mas se apresenta agora outra questão igualmente problemática: será a virtude uma ciência ou não?”
“SÓCRATES – Se há alguma espécie de bem que seja distinta da ciência, pode então suceder que a virtude não seja uma ciência. Mas se não há nenhum gênero de bem que a ciência não abranja, teremos razões para conjeturar que a virtude é uma modalidade de conhecimento.
MÊNON – Perfeitamente.”
“SÓCRATES – (…) Ora, se uma coisa qualquer, e não precisa ser a virtude, é por natureza suscetível de ser ensinada, não é sumamente necessário que nela e dela haja mestres e discípulos?
MÊNON – Creio que sim, Sócrates.
SÓCRATES – E podemos concluir que quando alguma coisa prescinde por completo de mestres é sinal de que ela não pode ser objeto de ensino?
MÊNON – Nada mais exato.”
“Justamente, Mênon! Temos a felicidade de contar neste recinto, em hora muito apropriada, com Anito,¹ que estava desde o começo de nossa conversação tão perto de nós! (…) Anito é filho de um pai rico e sábio, Antemião, que não deve sua fortuna ao mero acaso, nem à liberalidade alheia, como seria o caso de Ismênias o Tebano, que não faz muito recebeu em herança todos os bens de Polícrates. Pelo contrário: tudo o que tem decorre de sabedoria e indústria. E Antemião, em que pese sua posição econômica, nada tem de arrogante, faustoso, nem desdenha os outros cidadãos; é modesto e prudente em sociedade. Um homem assim não deixaria de haver educado muitíssimo bem seu filho, pelo menos de acordo com a grande maioria dos atenienses. Tanto que ele quase sempre é eleito para os cargos mais importantes!”
SÓCRATES – Tu sabes, como eu, sem dúvida, Anito, que são os que se chamam de sofistas.
ANITO – Por Hércules! Não mo digas, Sócrates. Eu não desejaria que nenhum parente meu, nem aliado, nem amigo íntimo, concidadão ou estrangeiro sequer, fôra tão insensato a ponto de pagar para perder-se com tais gentes. São os sofistas, manifestamente, uma peste e um encosto para todos os que com eles tratam.
SÓCRATES – Como, Anito?! Entre aqueles que se arrogam o ser úteis aos homens, só os sofistas logram diferenciar-se dos demais. Queres dizer que não só eles não melhoram seus alunos como até os pioram?!? E se atrevem a exigir dinheiro por esta obra? Mal sei no que acreditar, Anito, pois estaria tudo a desmoronar se desse plena fé a teu discurso! Eu conheci um homem, chamadoProtágoras, que acumulara com a profissão de sofista mais dinheiro que Fídias, quem possui reputação tão ilibada! Não deixa de ser fenômeno singular: se aquele que remenda trajes e calçados devolve-os piores ainda a seus donos, ao cabo de 30 dias estará sem clientela e na sarjeta! Mas então este Protágoras, que corrompera desta forma os cidadãos, não é suspeito de nada vil em toda a Grécia! E não digo que pese-lhe alguma suspeita desde ontem, e que ela pode demorar a se alastrar e se verificar: faz 40 anos que este homem é célebre! Que era, melhor dizendo, pois, morto aos 70, dizem que exerceu a Sofística desde pelo menos os 30 anos de idade… Em todo este tempo jamais foi injuriado, nem caluniado. Mas Protágoras não foi o primeiro de sua classe, nem será o último. Supondo que digas a verdade, que há de se pensar dos sofistas que estão em exercício?! Que enganam a juventude de pleno conhecimento, dolosamente, ou que não conhecem o dano que provocam? Consideraremos estes homens insensatos a tal ponto – homens, repito, tidos como sábios personagens de nossa polis?
ANITO – Bem longe se encontram de ser uns insensatos, ó Sócrates! Os insensatos de fato são os jovens que lhes dão ouvidos e dinheiro! Mais insensatos ainda os pais destes mesmos jovens, que confiam a eles a educação de seus rebentos. Mas mais insensatas de todos são as cidades que permitem a entrada destes homens nefandos, em vez de fechar os portões a estrangeiros tão mal-intencionados como eles!
SÓCRATES – Algum sofista corrompeu-te, Anito? Que razão tens para pensar tão mal deles?
ANITO – Por Zeus! Jamais cultivei o trato com semelhantes figuras… E não consentiria que nenhum conhecido se aproximasse destes sofistas!
SÓCRATES – Então conheces estes homens só pelo ouvir falar?
ANITO – E oxalá nunca por experiência própria!
SÓCRATES – E, sem contato direto com as coisas, meu querido, como podes saber se são boas ou más?
ANITO – Muito bem, Sócrates, me pegaste em teu discurso. Em todo caso, tendo eu as experimentado ou não, conheço os sofistas como a palma de minha mão, e sei o que são.”
“SÓCRATES – Os homens virtuosos, fizeram-se por si mesmos, sem receber lições? Outra questão: podem eles ensinar aos demais aquilo que nem eles mesmos não aprenderam com ninguém?
ANITO – Creio que receberam sua instrução dos que os precederam, homens igualmente virtuosos. Crês que esta cidade não produziu grande número de cidadãos estimáveis por sua virtude?
SÓCRATES – Eu creio, Anito, que nesta cidade há grandes nomes de Estado, e que sempre houve alguns, a cada geração. Mas foram eles os professores de sua própria virtude, ou da de seus sucedâneos? Porque isto é o que desejamos saber, e não se há ou não homens virtuosos, nem se sempre houve ou sempre haverá! A questão é se os grandes homens de agora e de outrora dispõem e dispuseram do talento para comunicar aos outros sua virtude, em que tanto sobressaíam; senão, teríamos de admitir que a virtude é intransmissível, impassível de ensino, de um homem a outro.”
“SÓCRATES – (…) Convéns em que Temístocles era um homem de bem?
ANITO – Sim.
(…)
SÓCRATES – (…) Não ouviste dizer que Temístocles ensinou seu filho Cleofanto a cavalgar? Cavalgava tão bem seu filho que podia se equilibrar de pé sobre o cavalo enquanto disparava dardos, sem falar doutros movimentos e posturas maravilhosos. O pai sabia tudo isso e comunicou cada coisa ao filho, que as aprendeu. Em todas estas coisas técnicas Cleofanto aprendeu com seu pai e os melhores mestres, naquilo em que porventura Temístocles não excelia. Os antigos referiam essa estória, te recordas?
ANITO – Sim, dizes verdade.
SÓCRATES – Deve ser correto dizer que seu filho contava com predisposições naturais…
ANITO – Provavelmente.
SÓCRATES – Mas já ouviste falar de cidadão, velho ou novo, que Cleofanto fosse homem de bem tal qual seu pai (virtuoso)?
ANITO – Neste particular, estou no escuro.
SÓCRATES – Pode ser que isto se devesse a um capricho paterno? Considerando que a virtude pudera ser ensinada, não seria a mais importante de todas as ciências a legar à própria prole?
ANITO – Por Zeus, Sócrates, todo pai desejaria o melhor para seu filho!
SÓCRATES – Vês então como Temístocles, homem de bem, fôra um péssimo professor. Mas cacemos mais exemplos: e Lisímaco, filho de Aristides? Aristides acaso foi homem virtuoso?
ANITO – Sim, e muito.
SÓCRATES – Aristides com certeza deu a seu filho Lisímaco a melhor educação com que poderíamos sonhar nós próprios. E crês que isto surtiu efeito? Conheces muito bem Lisímaco e seus dotes.(*) Por fim, analisemos, se queres, ainda, Péricles, homem de méritos extraordinários. Dizem que educou pessoalmente seus filhos Paralos e Xantipo.
ANITO – Sim, sei-o.
SÓCRATES – Não deves ignorar que estes se tornaram dois dos melhores cavaleiros vistos em Atenas; além disso, eram versados na música, em ginástica e em tudo que envolve esta arte. Mas não quis Péricles torná-los virtuosos? Seria o mesmo caso de Tucídides com Melesias e Estefanos: infelizmente os filhos destes hábeis cidadãos e políticos não tiveram vidas destacadas quanto ao mérito de governar seus conterrâneos!
(*) Para esses pormenores (Lisímaco e Melésias filho de Tucídides, citado logo a seguir), ver o diálogo Laques. Este de que se fala não é Tucídides o Historiador. – P.A.”
“ANITO – Pelo que ouço, Sócrates, falas mal dos homens com demasiada liberdade! Se me queres ouvir, te aconselharia a ser um bocado mais reservado. Se é fácil noutras cidades fazer o mal a qualquer um que se queira e sair incólume, em Atenas, Sócrates, é mais fácil ainda! Creio que saibas a que me refiro…
SÓCRATES – Mênon, vem cá! Parece que Anito está muito incomodado, o que não me assusta! É um mal-entendido, Anito. Crês que desprezo estes grandes homens; e como te imaginas neste número, pegas a ofensa para ti! Mas se um dia aprendes o que é verdadeiramente <falar mal>, deixar-te-á de enfadares com bagatelas… No momento, Mênon, Anito não sabe o que diz! Mas diz-me tu, Mênon: não tendes entre vós de Larissa homens de virtude?
MÊNON – Com certeza.
SÓCRATES – E quem são os professores dessa gente?
MÊNON – Ó, Sócrates! Não conheço professores desta matéria, pelo menos não sei dizer se são realmente o que dizem ser… O fato é que os cidadãos se dividem como que por igual entre os que dizem que a virtude pode ser ensinada e os que dizem que a virtude não pode ser ensinada.
SÓCRATES – Dizes então, se a divisão está meio a meio, que entre os professores de virtude há desses que ainda não estão certos de que a virtude possa ser ensinada?!
MÊNON – Ora, mas isso não faria sentido!
SÓCRATES – Mas me diz quê pensas dos sofistas, então.
MÊNON – Sócrates, o que muito me agrada em Górgias é que nunca ouvirás dele uma promessa de tamanho quilate. Ele não afiança nem dá garantias. Ao contrário, já o vi troçando seus colegas que se jactavam de ensinar a virtude. Ele se gaba apenas daquilo que é inegável em si: de sua alta capacidade para formar belos oradores.
SÓCRATES – Não disseste, ao fim: crês que os sofistas são professores de virtude?
MÊNON – Não sei, sinceramente, caro Sócrates! Há dias em que me parece que são e dias em que não o creio minimamente.
SÓCRATES – Sabes que não sois os únicos? Muitos políticos compartilham vossa opinião, e até o poeta Teógnis!
MÊNON – Referes-me os versos a que te referes.
SÓCRATES – Em suas elegias, diz: Bebe e come com aqueles que gozam de grande crédito; mantém-te sempre próximo deles e faz o possível para agradá-los. Aprenderás coisas boas, ao conviver com os bons; mas se trava contato com os maus, até a razão que já possuis escoará ladeira abaixo!(*) Estás de acordo que subentende-se nesta passagem que a virtude pode ser ensinada?
MÊNON – Claro.
SÓCRATES – Mas eis outros fragmentos um pouco distintos: Se se pudesse dar ao homem a inteligência, indubitavelmente estes talentosos educadores se veriam ricos da noite para o dia. Nunca o filho de um pai virtuoso seria mau, só de ouvir sábios conselhos. Mas tudo isso é quimera, ser bom ou mau independe de lições! Agora não nos parece que se contradiz em absoluto?
MÊNON – Ó Sócrates, nada mais certo!
(*) Teógnis, Sentenças, 5:33:432. – P.A.”
“SÓCRATES – Mas se não há mestres, tampouco haverá discípulos.
MÊNON – Penso o mesmo que tu.
SÓCRATES – E estamos conformes em que aquilo para o que não há nem mestre nem discípulo não se pode ensinar!
MÊNON – Correto, Sócrates.”
“MÊNON – A meu ver, a nosso ver… não há nem sequer indícios de homens peritos e qualificados para ensinar a virtude. Porém, isso não é dizer que eu não enxergue homens virtuosos. Havendo-os realmente, não posso atinar com quê se fizeram virtuosos!
SÓCRATES – Mênon, creio que isso seja um indício de que tu e eu somos pouco habilidosos! Creio que nenhum de nós foi bem instruído; tu por Górgias, e eu por Pródico. Portanto, é preciso que nos consagremos com todo esmero a nós mesmos antes de tudo, a fim de buscarmos alguém que nos faça melhores do que somos, qualquer que seja o meio! É até ridículo não havermos notado até aqui que a ciência não é único método disponível para dotar os homens de conhecimento e torná-los hábeis a conduzir seus negócios! Ou, talvez, ainda fazendo esta concessão, havendo outro método, poderia ser que ainda assim a forma como alguém se torna virtuoso continuasse obscura para nós!
MÊNON – Que queres dizer agora, Sócrates?!”
“SÓCRATES – (…) Escuta: se alguém que soubesse o caminho até Larissa estivesse no meio da estrada e servisse de guia a outros, não te parece que conduziria muito bem essas pessoas?!?
MÊNON – Não tenho dúvida.
SÓCRATES – E se um outro conjeturasse com precisão qual seria o caminho, ainda que nunca o houvesse percorrido, nem tivesse ouvido falar ou lido ou aprendido de outrem sobre isso; não daria no mesmo, i.e., não ensinaria adequadamente quem lho perguntasse?
MÊNON – Sim, Sócrates.
SÓCRATES – Tendo, um, uma mera opinião e, o outro, um conhecimento completo do objeto, não será pior condutor aquele que este? Ainda que, por puro azar, soubesse a resposta, não concordas que o guia experimentado o superaria no papel de educador?
MÊNON – Tens razão.
SÓCRATES – Então, eis outro método de ensinar as coisas: a opinião que se mostra verdadeira. A ciência é o método clássico e seguro. Parece que ignoramos essa dupla faceta durante toda nossa discussão acerca da natureza da virtude. Havíamos concluído que só a ciência ensina a bem agir, ao passo que, agora vemos, a conjetura acertada produz o mesmo efeito!
MÊNON – Dou-te razão.
SÓCRATES – Portanto, a opinião verdadeira não é menos útil do que a ciência.
MÊNON – Mas Sócrates… O possuidor do conhecimento saberá sempre alcançar seu objetivo. Já o conjeturador se extraviará um bom número de vezes!
SÓCRATES – Que dizes? Mas se alguém se aferra a uma opinião correta e ensina-a, não é correto que ensina-a corretamente?
MÊNON – Esta conclusão eu não contesto, Sócrates. Mas se fosse um dilema tão simplório, me surpreenderia que não se falasse mais sobre a arte de bem opinar do que acerca de obter o conhecimento. Mais ainda me surpreende que tratemos estas coisas como duas completamente diferentes uma da outra, se é que tens razão!
SÓCRATES – Sabes donde procede esse teu assombro? Queres que to diga?
MÊNON – Ora, já estás perdendo tempo ao não pronunciá-lo logo de uma vez!
SÓCRATES – Nunca admiraste as estátuas consagradas a Dédalo? Há dessas em tua cidade?
MÊNON – Não entendo…
SÓCRATES – Estas esculturas, ó Mênon, quando seguras por molas, são facilmente detidas e fixadas; mas sem este artifício, escapam e fogem.
MÊNON – E…?
SÓCRATES – …E daí que não significa muito ter uma dessas estátuas que escapam fácil. Mas uma estátua fixa é de muito valor. Estas sim são consideradas obras-primas! Mas que tem isso a ver?, perguntarás… É que esta imagem vem a calhar para falar sobre opiniões e conjeturas… As opiniões acertadas são como estátuas com molas, e trazem toda uma sorte de benesses… Mas vê tu que a alma do homem não as capta por muito tempo… Tampouco são caras estas obras… Só mesmo a obra derivada de um conhecimento superior, erigido pela razão, possui um preço mais elevado. Isso, essa ciência, é o que chamo de reminiscência. Uma opinião coligada com outra, logo forma reminiscências, porque cadeias de opiniões nos evocam antigos conhecimentos adormecidos… O que no começo é frouxo e resvaladiço adquire fixidez e estabilidade com o tempo. Daí vem a superioridade da ciência sobre a opinião, Mênon.
MÊNON – Por Zeus, Sócrates! Não capto todos os detalhes de teu discurso, mas do que pude compreender vejo que faz todo o sentido!…
SÓCRATES – (…) E quando afirmo que a opinião verdadeira difere em qualidade da ciência, não creio, positivamente, estar emitindo uma opinião. De quase nada sei, mas se hei de exaltar algum conhecimento meu, ei-lo: o que sei, eu sei.
MÊNON – Tens toda razão!”
“SÓCRATES – A ciência não pode servir de guia nos negócios políticos.
MÊNON – Tudo indica que não.
SÓCRATES – Então não foi devido a sua sabedoria que homens como Temístocles e os demais que citei quando conversava com Anito bem governaram o Estado. Porém, devido a essa característica, eles não puderam comunicar adiante esse dom.
MÊNON – Sim, sim, continua!
SÓCRATES – Não sendo uma ciência, só a opinião verdadeira pode conduzir os políticos na boa administração das coisas públicas; quanto à sabedoria, os políticos não são em nada diferentes dos profetas e dos adivinhos em transe. Estes últimos anunciam muitas coisas verdadeiras, mas não sabem do que falam.
MÊNON – Com bastante probabilidade…
SÓCRATES – Mas que tem que o adivinho não seja dotado de inteligência? Se ao final ele adivinha mesmo assim?
MÊNON – Não há mal algum, efetivamente.
SÓCRATES – Temos razões de sobra, portanto, para chamar os profetas de homens divinos; nada diferente no que se refere aos poetas. E, como vimos, nada mais óbvio e evidente que atribuir o mesmo epíteto aos bons políticos, homens realmente entusiasmados, inspirados e animados pela divindade ao triunfarem sobre grandes empresas, sem ter nenhuma ciência exata daquilo que fazem!
MÊNON – Ó, certo!
SÓCRATES – As mulheres, com razão, chamam os homens virtuosos de divinos. Os espartanos, quando querem elogiar o homem de bem, dizem a mesma coisa.
MÊNON – Não vejo como contestá-lo, Sócrates, mas creio que Anito não ficará satisfeito!
SÓCRATES – Isso não me importa! Conversarei com ele em outra ocasião. Mas no que toca a ti e a mim, Mênon, concluíramos que a virtude não é natural ao homem, nem passível de aprender-se; ela como que aterrissa por influência divina entre os eleitos. A menos que nos apareça algum político que seja capaz de ensinar sua arte, não mudaremos de opinião! Se aparece tal figura, diremos que é, entre os vivos, o que Tirésias é entre os mortos, se havemos de dar crédito a Homero, que versa: O único sábio dos ínferos, onde todos os demais nada mais são que sombras que erram ao acaso.(*)Analogamente, um homem assim seria, comparado com os outros, em matéria de virtude, feito de carne e osso, ou a própria luz, ao passo que nós não passaríamos de sombras e de escuridão.
MÊNON – Sócrates, teu discurso foi perfeito!
SÓCRATES – Nada mais resta a dizer, Mênon: a virtude é um presente dos deuses!
(*) Odisséia X”
Para todos e para ninguém cabe a tarefa de evadir a caverna. E ninguém que a evada pode sequer convencer os outros ou forçá-los a evadi-la também, dadas as circunstâncias…
* * *
PREFÁCIO DAS OBRAS COMPLETAS DE PLATÃO POR VIRGINIA WOOLF – Trechos da tradução espanhola do inglês, reconvertidos para a Língua Portuguesa
(*) “Não conheço uma definição mais eloqüente e simultaneamente lacônica da obra platônica que a de Virginia Woolf. Assim, pois, com ela a palavra.” – A.P.V., 2012.
SOBRE NÃO SABER O GREGO
(*) “Esta tradução foi feita por mim; ela foi posteriormente polida e melhorada por Daniel Nisa em O leitor comum.” A.P.V.
“É um processo extenuante. Concentrar-se arduamente no significado exato das palavras; julgar o que implica cada admissão; seguir concentrada porém criticamente as oscilações dos discursos e as mudanças de opinião à medida que se endurece e se intensifica o diálogo rumo à verdade. São o mesmo o prazer e o bom? A virtude pode acaso ser ensinada? É a virtude uma espécie de ciência? Uma mente cansada ou distraída pode facilmente equivocar-se nesses meandros, enquanto tenta avançar, impiedosamente, por tais interrogatórios abrasivos e intermináveis. Mas ninguém, por mais despreparado para os ensinamentos de Platão, pode deixar de começar a amar, ainda que saia <sem nada aprender de concreto>, ou a amar cada vez mais, o próprio processo do conhecimento, como exposto por ele. À medida que o argumento ascende às nuvens, de grão em grão, de degrau em degrau, Protágoras (e Protágoras pode ser qualquer outro) vai cedendo um pouco, logo um pouco mais, Sócrates avança no mesmo ritmo, devagar mas firme. E o importante não é tanto o desfecho, mas a maneira como vai-se abrindo esse desfecho.”
“É uma noite de inverno; as mesas estão prontas e bem-servidas na ampla sala de Agaton. Uma escrava toca a flauta. Sócrates fez as abluções e veste sandálias. Pára à entrada. Recusa dar mais um passo, ainda quando mandam expressamente alguém vir recepcioná-lo. . . . Agora Sócrates acabou seu discurso. Escolheu Alcibíades para ser vítima de sua ironianeste epílogo de banquete. Alcibíades não pode responder com palavras, pois só consegue admirar este homem fora de série…”
“Descartaremos agora as diversões, ternuras, frivolidades da amizade, só porque aprendemos a amar a busca pela Verdade? A Verdade será encontrada mais depressa pelo fato de taparmos os ouvidos à bela música, de fecharmos a boca ao vinho, pelo fato de escolhermos dormir ao invés de virar a noite conversando? Não é o estudante enclausurado, o asceta, que se mortifica na solidão, que tem a palavra final. Então quem? A natureza ensolarada, o homem que pratica o auto-aperfeiçoamento cotidianamente, sem se deixar atrofiar pela repetição da vida, que saiba que algumas coisas possuem, de forma permanente, em meio a tudo, mais valor que outras.”
“Um povo que julgava tanto, como o ateniense, através dos sentidos básicos, como a audição, acostumados ao teatro de arena, ao ar livre, ou ao escutar discussões na praça e no mercado, era muito menos hábil do que nós para fatiar frases e apreciá-las fora do contexto original em que foram produzidas. Para eles não existiam as Belas Frases de Hardy e de Meredith, nem as Sentenças de George Eliot. Somos muito mais delicados e sutis, bon-vivants, dissecadores. O escritor antigo (e a platéia antiga) se atinha muito mais ao conjunto e muito menos ao detalhe.”
“ao citarmos e destacarmos passagens, trechos, distorcemos muito mais os gregos do que os ingleses. Há um aspecto de natural, de nudez, nesta literatura tão crua e límpida que pode ter um gosto azedo ou amargo para paladares contemporâneos, paladares refinados e seletos demais, acostumados a avaliar cada vírgula de obras impressas, reprovando sabores, regurgitando e detectando matizes. É-nos benquisto um esforço inaudito de alargar e distender a mente, a fim de captar esse conjunto onde não há parnasianismo nem nada de inútil, sem a ênfase moderna prestada à eloqüência. Olhamos sem pestanejar figuras em close, absorvemos palavras soltas, hipervalorizando-as, ou meditando demais sobre um nada. O grego tinha uma visão panorâmica, não se punha a caçar pulgas e lêndeas. Poderia soar até mesmo grosseiro. De fato parece que nosso olhar e nosso coração são estreitos demais para apreciar de um trago só emoções tão densas, capazes de cegar o espírito se contempladas e experimentadas diretamente, à grega.”
“Os gregos podiam dizer, acerca de seus antepassados conhecidos, como que pela primeira vez na História, que ainda que mortos, não morreram. E podiam complementar: Se morrer de forma nobre é parte indispensável da excelência, a Fortuna decidiu nossa sorte; a Grécia foi coroada pelos deuses, e aqui há liberdade, fez-se o Homem, de forma que, não importa quantas gerações transcorram, não envelheceremos.(*)”
(*) Simônides
“Ao lermos estas frases sucintas registradas em lápides, estrofes de um coro trágico, o final ou o começo dum diálogo de Platão, um fragmento de Safo, talvez, quando passamos o dia a remoer uma metáfora grandiloqüente do Agamêmnonde Ésquilo, ao invés de <cheirar todo o jardim>, como talvez fizessemos com uma obra dita <completa> como Rei Lear, não estaríamos lendo erroneamente, estrabicamente, num nevoeiro de associações absurdas, inserindo nos versos gregos coisas que não faziam falta aos próprios gregos, mas somente a nós? Detrás de cada linha já não se é auto-suficiente naquele mundo, já não se lê a Grécia em cada estrofe de Ésquilo ou de Sófocles?”
“Cada palavra tem o vigor da oliveira e do templo consagrado a algum deus e dos corpos dos jovens.”
“Não, paremos de tentar esgotar a sentença grega como o fazemos com o Inglês! Não há esse polimorfismo semântico paradoxalmente tão acessível porque vizinho nosso, nossa cultura mesma encarnada, digo, letrada. A linguagem é aquilo que mais escraviza, quando o assunto são os antigos. O desejo de desvendar o que está irremediavelmente perdido nos deixa eternamente hipnotizados pelas sereias e petrificados pela medusa.”
“Digo que Shelley necessita de 20 palavras em seu vernáculo para expressar 13 palavras do grego.”
“…toda pessoa, inclusive se antes houvera sido totalmente alheia às humanidades ensinadas na escola, se torna um poeta tão logo seja tocada pelo amor.” O Banquete
“Tudo isso para dizer que as traduções são mera equivalência um pouco vaga. Não é culpa dos tradutores. Fazemos ecos e associações demais, involuntariamente. […] Nem o erudito mais competente pode conservar a sutileza do acento, o vôo, a ascensão e a queda <icárea> das palavras:
…A ti, que eternamente choras em tua tumba de pedra.” Electra
Tradução de trechos de “PLATÓN. Obras Completas (trad. espanhola do grego por Patricio de Azcárate, 1875), Ed. Epicureum (digital)”.
Além da tradução ao Português, providenciei notas de rodapé, numeradas, onde achei que devia tentar esclarecer alguns pontos polêmicos ou obscuros demais quando se tratar de leitor não-familiarizado com a obra platônica. Quando a nota for de Azcárate, haverá um (*) antecedendo as aspas.
“O primeiro tipo de governo, e também o mais elogiado, é aquele em vigor em Creta e em Esparta. O segundo tipo, que ocupa outrossim o segundo posto em fama e reputação, é a oligarquia, governo exposto a um grande número de vícios. O terceiro tipo, oposto por inteiro ao segundo, é a democracia. Em seguida vem a <gloriosa> tirania, que se sobressai sobre todos os outros três tipos no quesito <enfermidades que podem contaminar um Estado>.”
“Procuremos, desta feita, explicar como podem surgir a aristocracia e a timocracia.¹ Não é certo que, em geral, as trocas de todo governo político se originam no próprio partido que governa, assim que nele se suscita alguma cisão, e que, por pequeno que se suponha este partido, enquanto mantenha em seu seio a harmonia, é impossível que inovações possam tomar conta do Estado?”
¹ Timocracia ou timarquia: Trata-se da forma de governo deixada sem nome atribuída logo acima a Creta e Esparta, os melhores tipos “mundanos” de governo (enquanto não se puder atingir a República ideal). Este nome caiu em desuso a despeito da obra platônica, e no dicionário português hoje é considerado depreciativo (governo viciado em honrarias). É difícil diferenciá-lo, ademais, do conceito de aristocracia, se não se recorrer à própria exposição platônica. Atrelar esse tipo de Estado unicamente à disciplina bélica seria um estereótipo inaceitável, quase equiparar esta forma de governo ao que consideramos (muito influenciados pelos helenos, aliás) os governos dos “povos bárbaros”. Como se perdeu a noção de valor não-corrompida pela própria degradação da noção de valor, realmente seria uma contradição caso essa nomenclatura fosse intuitiva e apreendida de forma imediata.
“O natural do Estado estabilizado não é o movimento; porém, como tudo o que nasce está destinado a perecer, este, como qualquer outro sistema de governo, não pode durar indefinidamente. Não só a planta que nasce do seio da terra, mas também a alma e o corpo dos animais que vivem sobre essa mesma superfície, sofrem mudanças do estado fértil ao infértil e vice-versa. Cada espécie está submetida a um ciclo ou revolução periódica, terminando e recomeçando sem cessar sua trajetória de vida. O que diferencia uma espécie da outra é tão-somente a duração desse ciclo.(*)”
(*) “Nesta passagem platônica, denominada pelos comentadores como <o discurso das Musas>, ou <discurso do número nupcial>, faz-se referência a um número para o qual parece impossível encontrar qualquer sentido racional, e cuja obscuridade tornou-se até proverbial. Alguns autores calculam-no como sendo 12.960.000, o que corresponderia ao número de dias do <grande ano> astronômico (36 mil anos de 360 dias).
“Mesclando-se o ferro com a prata e o bronze com o ouro, resultam a inconveniência, a irregularidade e a desarmonia, defeitos que, onde quer que apareçam, engendram sempre a inimizade e a guerra.”
“Uma vez produzida a dissensão, as raças de ferro e de bronze tratavam de enriquecer materialmente e adquirir cada vez mais terras, edificações, ouro e prata, ao passo que as raças de ouro e prata, ricas de natureza, jamais estando desprovidas, buscavam conduzir a alma à virtude e fazer perdurar a constituição primitiva. Depois de muitas lutas e violência recíproca, convieram em dividir as terras e as casas, destinando como escravos ao cuidado de suas terras e casas o restante dos cidadãos, a quem consideravam mais como homens livres, propriamente, espécies de amigos e provedores de seu sustento, continuando eles mesmos a guerra e provendo a segurança comum.”
“Do regime anterior, herdarão o respeito aos magistrados, a aversão típica dos guerreiros à agricultura, ofícios manuais e profissões lucrativas, bem como conservarão o costume dos banquetes públicos e o cuidado da prática de exercícios ginásticos e militares.
Aquilo que essa nova configuração teria de próprio não seria, então, o temor de elevar os sábios às primeiras dignidades, porque já não se formarão em seu seio os caracteres de uma virtude simples e pura, senão apenas elementos compósitos? Daí deriva que elegerão para os postos de comando espíritos mais fogosos e simplórios, nascidos sobretudo para a guerra, não para a paz; supervalorizarão as táticas e ardis de combate; andarão sempre armados.”
“Entregues em segredo a todos os prazeres, ocultar-se-ão da lei, como um filho pródigo sói ocultar-se do pai; e tudo isto graças a uma educação fundada não na persuasão, mas na força, que despreza a verdadeira Musa, a que preside à dialética e à filosofia, e por haver-se preferido a ginástica à música.”
“Terá às vezes por pai um homem de bem, cidadão de um Estado mal-governado, cidadão este que foge das honras, dignidades e magistraturas e de todas as moléstias que os cargos carregam consigo. Enfim, este cidadão prefere perder direitos a sofrer tais males.”
“Não devíamos explicar, agora, como a timocracia se converte em oligarquia?”
“A cota (o rendimento patrimonial) que se requer a fim de se participar da casta que comanda é mais ou menos elevada, conforme o grau do princípio oligárquico em voga (se muito acentuado ou não), e está proibido àqueles cuja renda não alcance o patamar assinalado aspirar aos cargos públicos.”
“Nos Estados oligárquicos a desordem é estimulada, porque uns possuem riquezas imensuráveis enquanto outros se vêem reduzidos à miséria definitiva.”
“SÓCRATES – Mas acaso não há a seguinte distinção, meu querido Adimanto: que Deus quisera que os zangões alados houvessem nascido sem ferrão, enquanto que entre os zangões de dois pés alguns o têm, e aliás pungente além do normal?”
“Nada é mais veloz e violento no jovem que a transição da ambição à avareza.”
“O avaro é aquele que põe as riquezas acima de tudo em questão de acumulação, mas não valoriza proporcionalmente seu dispêndio. Já viste que o avaro usa o mínimo possível de recursos naturais que tem à mão? Priva-se do que é humanamente possível e por intermédio da ganância ilimitada acaba por dominar seus próprios desejos, reputando-os insensatos.”
“– Sabes para onde deves dirigir teus olhos a fim de enxergar os desejos maléficos dos homens?
– Onde?
– Para esses conselhos tutelares de órfãos ou qualquer outro lugar ou associação de pessoas onde é-se livre para agir de forma má.
– Tens razão, Sócrates,
– Não é evidente que, se em outros negócios gozam de boa reputação pela aparência de homens justos, os maus sempre contêm seus desejos insidiosos e sua imprudência violenta o quanto a necessidade lhes permite, em caráter temporário, passando a manifestá-los somente onde ninguém pode zelar pela virtude nem pela conduta mais racional nem puni-los com a perda dos bens de que desfrutam em vida?
– Isso é absolutamente certo.
– Mas quando a questão é dissipar os bens de outrem, aí, por Zeus!, nestes homens serás capaz de enxergar distintamente desejos que mais parecem pertencer a zangões.
– Estou convencido a este respeito.
– Um homem assim estará sujeito a fortes rebeliões dentro de si mesmo; como que haverá dentro de si dois homens diferentes, cujos desejos lutarão para prevalecer. De praxe, a parte melhor subjugará a outra.
– Temo que sim.
– E é por isso que vês que, em aparência, estes vilões terão aspecto de moderados e donos de si próprios, mais até que em comparação a muitos homens bons que não conseguem ocultar seus (menores) defeitos. Mas sabe tu que a verdadeira virtude, capaz de produzir a harmonia e a unidade, ainda seguirá longe de habitar na alma destes homens dissimulados.
– De fato.”
“Este homem, portanto, aparece no dia-a-dia à maneira oligárquica, isto é, menos poderoso do que pode ser; assim, ele sairá derrotado muitas vezes diante dos olhos do público, mas, como o que nele predomina é a avareza, seguirá sendo rico, e eis o que lhe importa.”
“Tudo isto faz com que haja no Estado indivíduos dotados de ferrões, uns oprimidos pela dúvida, outros despojados de seus direitos e alguns padecendo de ambos ao mesmo tempo; mas o que é certo é que todos esses sujeitos-zangões estão em perpétua hostilidade contra aqueles que ficaram ricos pondo a mão em suas fortunas, sem escrúpulos de consciência; em hostilidade também para com o cidadão comum, que é bem diferente dele; o que o zangão quererá, no fim, será promover uma revolução.
– Disseste-o bem.
– E enquanto isso lá se vão os negociantes na rua, de cabeça baixa, pensando só em si mesmos e no próprio lucro; os comerciantes são outros zangões, que ferem com o aguilhão do dinheiro todos que estiverem indefesos a seu alcance; e quanto mais prevalecem os interesses mercantis no Estado, mais se vêem zangões e pobres.”
“– Que espécie de lei poderia tentar remediar o mal nesse Estado?
– Na falta de remédio melhor, uma que caberia seria aquela que forçasse o cidadão a preocupar-se com sua virtude. Vê: se os contratos voluntários se celebrassem por conta e risco exclusivos do prestamista,¹ a usura se exerceria com menos descaro e este mal da avareza não proliferaria tanto.”
¹ Platão quer dizer: o Estado nada terá que ver com esta dívida; não usará sua força de polícia, mandando prender, castigar ou executar devedores. A possibilidade do calote será inerente ao ato de empréstimo. O particular que emprestou dinheiro que resolva o problema sozinho, e quem busca fazer justiça com suas mãos deverá se preparar para a legítima defesa de seus alvos.
“os ricos, sendo assim, nenhum motivo têm para desprezar os pobres. Pelo contrário: um pobre, adelgaçado e amorenado de tanto se expor ao sol, quando cotejado com o rico, educado, pálido e gordo, em meio à guerra, no momento em que ambos defendem sua polis, parece mais ser digno de inveja do que lastimado, exibindo uma espécie de alegria secreta estimulada pelo sofrimento e pesar, ao passo que o rico ao menor esforço já se encontra exausto!”
“O governo se faz democrático quando os pobres, obtendo a vantagem sobre os ricos, degolam alguns deles, desterram outros, repartem com os que foram poupados os cargos da administração; quinhão que, aliás, nestes governos, costuma-se determinar por sorteio.”
“– Não serão, antes, homens livres num Estado repleto de liberdade e franqueza, e não terá cada um a liberdade de fazer o que lhe der na veneta?
– Se tu dizes…
– Mas onde quer que impere essa licença, é claro que cada cidadão dispõe de si mesmo e escolhe a seu bel prazer o gênero de vida que mais lhe agrada!
– É evidente.
– Portanto, será este o regime com mais diferenciações de classes.
– Como não?
– E eis que, em verdade, esta forma de governo tem a aparência de ser a mais bela de todas, e não deixa de desencadear um efeito admirável essa diversidade prodigiosa de caracteres, exatamente como as flores bordadas que fazem ressaltar a beleza de uma pintura. Bom, pelo menos será a forma mais bela de governo para aqueles que julgam as coisas como as mulheres e as crianças quando se admiram com as mais tresloucadas misturas de objetos.”
“Se quisera alguém formar um plano de Estado, como fizemos até aqui, nada mais teria de fazer senão trasladar-se a qualquer Estado democrático, pois aí se encontra um mercado em que se vendem características de todos os regimes existentes.”
“E, julgando à primeira vista, não é bastante cômodo e agradável não ser-se obrigado a desempenhar um cargo público, ainda que se possua os méritos requeridos? Não estar submetido a nenhuma autoridade, em caso de não querer; escolher se vai ou não à guerra; e estar em guerra e discórdia, ainda que os outros estejam em paz, bastando para isso desejá-lo; poder ser juiz e magistrado, por mais que a lei proíba o exercício dessas funções, caso a isso se ambicione?”
“– Ah, com que magnífica indiferença se pisoteiam todas essas máximas – sem mesmo se dar ao trabalho de examinar qual foi a educação dos que gerem a coisa pública! E que empenho, na contramão, em acolher e honrar os políticos que lisonjeiam a plebe e se declaram amigos do povo!
– Um nobre regime, sem dúvida, tsc!
– Tais são, e não só!, as características da democracia: um governo extremamente cômodo, sem mando algum”
“O desejo por toda sorte de comidas e quitutes e temperos, desejo reprimível, mediante uma boa educação desde a mocidade, desejo daninho ao corpo e à alma, à razão e à temperança, não deve ser compreendido com razão entre os desejos supérfluos?”
“Algumas vezes sucede da facção democrática ceder ante a oligárquica, e então certos desejos são em parte destruídos e em parte arrancados d’alma, em decorrência de um pudor que é despertado no jovem, que através desse acidente reentra nas sendas no saber.
E no entanto, devido à má educação que recebeu de seu pai, novos desejos, mais fortes e numerosos, sucedem aos que haviam sido exilados.”
“Eis aí quando voltam a se juntar aos comedores de lótus,(*) sem nem ao menos se envergonharem por isso!”
(*) “Ver o episódio dos <lotófagos> na Odisséia: o fruto que faz perder a memória.”
“encobre-se a fealdade com os nomes mais preciosos: a insolência vira <boa educação>; anarquia vira <liberdade>; devassidão vira <magnificência>; desfaçatez vira <valor>.”
“– Carpe diem! O primeiro desejo a aparecer é o primeiro a ser cumprido. Hoje tem desejo de se embriagar ouvindo canções báquicas? Fá-lo. E amanhã lhe ocorre de jejuar e nada beber senão água. Uma hora gasta as energias na ginástica; na outra põe-se ocioso, despreocupado de tudo. Ora é filósofo, ora <homem de Estado>, sobe à tribuna, fala e age sem saber o que fala e o que faz. Num dia inveja a condição dos guerreiros e alista-se soldado; noutro, vira comerciante, porque tinha desenvolvido inveja dos comerciantes. Em suma, sua conduta é totalmente frouxa e inconsistente; e chama a tudo isso de <vida livre e prazenteira, vida feliz>!
– Ó, Sócrates, parece que pintaste com palavras a vida de um amante da igualdade!”
“– Vejamos, meu querido, agora, como se forma o governo tirânico; tudo indica que se origina das democracias.
– Decerto.
– A passagem da democracia à tirania não se assemelha um tanto à passagem da oligarquia à democracia?
– Não entendo.
– O que na oligarquia se considera o maior bem, e o que, pode-se dizer, é a origem desta forma de governo, é a riqueza; concordas?
– Sim.
– O que causa sua ruína, porém, não é o próprio desejo de enriquecer tornado insaciável, o que causa uma indiferença letal a todas as outras coisas?
– Tens razão.
– Do mesmo modo, a causa da ruína de uma democracia é o desejo insaciável do que ela vê como seu maior bem.
– E que bem é esse?
– A liberdade. Num Estado democrático ouve-se por todos os cantos que a liberdade é o mais precioso dos bens e, por isso, o homem que nasceu livre sempre escolherá ali fixar sua residência.
– De fato, Sócrates, isso se ouve muito nas ruas.
– Mas não é justamente esse amor desenfreado à liberdade, acompanhado invariavelmente da mais extremada indiferença a tudo o mais, o que leva à decadência inelutável deste regime, despertando, por assim dizer, a tirania?
– Explica esta etapa melhor, Sócrates.
– Quando um Estado democrático, devorado por uma sede ardente de liberdade, é governado por maus escanceadores,¹ que derramam a bebida chamada liberdade pura, enchendo as taças e fazendo todos os convivas beberem copiosamente até a embriaguez. Daí em diante, o bêbado que pede mais e mais, caso não creia que o governante é liberal o suficiente com seu quinhão de liberdade, acusa e castiga qualquer <inimigo da liberdade> que não queira fazê-la jorrar; estes são considerados os maiores traidores da pátria e são tachados de reacionários, que desejam voltar aos tempos de oligarquia e restabelecer privilégios exclusivos.
– Não posso tirar nem pôr de nada do que disseste.
– E com igual desprezo tratam aqueles que ainda mostram algum respeito e submissão aos magistrados, atirando-lhes na cara que os magistrados para nada servem; que, em si, todo servidor público não passa de um escravo voluntário. Neste ponto, o homem típico exalta, seja na vida pública ou na vida privada, a igualdade suprema, quando magistrados não podem estar num patamar superior ao do cidadão comum. Num Estado tal, não deveria ser uma regra a extensão da liberdade total a todo e qualquer um?
– Ora, Sócrates, absolutamente!
– Não penetrará a anarquia no seio das famílias; não se alastrará mesmo até o reino animal?
– Não entendo o que acabaste de dizer!”
¹ Termo em desuso: quem serve vinho; mal e mal poderíamos adaptar para “garçom” ou quiçá “mordomo” nesta frase.
“os professores temem e bajulam seus alunos; estes ridicularizam seus mentores e responsáveis. (…) Os velhos, por sua vez, condescendentes com os jovens, tornam-se jocosos e piadistas, a fim de imitar suas maneiras, temendo passar por caracteres demasiado altaneiros e despóticos.
Mas sem dúvida o abuso mais intolerável que a liberdade introduz na democracia é os escravos de ambos os sexos não serem menos livres que aqueles que os compraram. Ah, quase me esquecia de descrever o grau de liberdade e igualdade que alcançam as relações entre o homem e a mulher!”
“são os animais domésticos mais livres neste governo que em nenhum outro. As cadelas, como diz o provérbio, ficam parecidas com as donas; e os cavalos e asnos, acostumados a caminhar de cabeça erguida e sem reverência, não seriam os primeiros a dar licença, num caminho estreito.”
“não se pode incorrer num excesso sem se arriscar a cair no excesso contrário.”
“– É evidente, pois, que é dessa estirpe de protetores (populistas) que nasce o tirano, dela e somente dela.
– Nada mais indiscutível.
– Mas por que o <protetor do povo> começa a se fazer tirano? Não seria porque começa a fazer parecido com o que dizem que se passava na Arcádia, no templo de Zeus Liceu?
– E o que é que dizem que ali se passava?
– Dizem¹ que quem ali comia entranhas humanas, mescladas com os restos de outros sacrifícios animais, se convertia logo em lobo. Nunca ouviste falar disso?
– Já, sim.
– De forma afim, quando o protetor do povo vê que este se encontra completamente submisso a suas vontades, empapa suas mãos no sangue dos seus próprios concidadãos. Utiliza-se de acusações caluniosas para se livrar de seus oponentes nos tribunais corrompidos, fazendo-os ser condenados sem fundamento, banhando sua língua de déspota e sua boca imunda com o sangue de seus irmãos, valendo-se da lei do exílio e das forjas e correntes. Propõe a abolição das dívidas e uma reforma agrária. Não seria uma necessidade, neste caso, para um tal caráter, perecer nas mãos dos inimigos ou, se quiser sobreviver, tornar-se tirano do Estado, convertendo-se no lobo do homem?”
¹ Não é somente uma lenda de Platão ou mera crença popular tirada do vazio, ou pelo menos são dados compartilhados por outros autores, como Pausânias, livro 7.
“O exilado de hoje é o tirano de amanhã.”
“Se nem mesmo a classe no poder inteira consegue banir ou incapacitar seu adversário, muito menos condená-lo à morte, acusando-o como <inimigo do povo>, é natural pensar que atentarão contra sua vida nas sombras.
O homem ambicioso que já houver chegado a tal extremo aproveitará a ocasião para fazer ao povo uma petição. Pedir-lhe-á uma guarda pessoal, destinada, afinal, a proteger o protetor do povo!”
“Quando as coisas já chegaram a esse ponto, todo homem que possui grandes riquezas – e que por essa razão passa por inimigo do povo – toma para si o oráculo dirigido a Creso: foge seguindo o rio Hermos, de leito pedregoso, e não teme o rótulo de covarde.(*)”
(*) “Ver Heródoto para mais detalhes.”
“o protetor do povo destrói à esquerda e à direita todos aqueles de quem desconfia, para depois se declarar tirano abertamente.”
“E não sorri graciosamente a todos que encontra, logo nos primeiros dias de sua dominação? E não diz que, nem de longe, sonha em ser tirano? Não faz as mais pomposas promessas em público e em particular, perdoando todas as dívidas, repartindo a terra entre o povo e os seus favoritos, e tratando todo mundo com benevolência e mansidão?”
“– …e tem o cuidado de conservar sempre algumas sementes de guerra para que o povo sinta a necessidade de um chefe.
– É natural.
– Principalmente para que os cidadãos – empobrecidos pelos impostos de guerra – só pensem nas suas necessidades diárias, sem tempo para conspirar contra ele.
– Obviamente.
– E também faz isso, creio eu, para ter um meio seguro de desfazer-se dos de coração demasiado altivo para que se submetam a sua vontade, expondo-os aos ataques do inimigo.”
“– O problema é que semelhante conduta só pode torná-lo mais e mais odioso ao cidadão.
– E não me estranha!
– E alguns daqueles que ajudaram em sua ascensão, os dotados de mais autoridade depois dele mesmo, não se dirigirão a ele e não falarão entre si com demasiada liberdade sobre o que se passa, tratando inclusive de censurá-lo? Isto é, penso eu que ao menos os mais atrevidos o farão.
– Imagino que sim.
– E então é preciso que o tirano se livre deles caso queira reinar tranqüilo; sem distinguir amigo de inimigo, ele faz com que desapareçam todos os homens possuidores de algum mérito.
– Isso é evidente.”
“Faz justamente o contrário dos médicos, que purgam o corpo excretando o mal para conservar o bem.”
“Vês que ele vive premido sem trégua pela necessidade de perecer ou então viver ao lado da canalha, e é inevitável que a canalha o aporrinhe bastante!”
“– Ao formar sua guarda pessoal, um expediente que sói usar é recrutar escravos, a quem assegura que serão livres assim que o ajudarem a matar seus senhores.
– E faz muito bem, já que tais escravos lhe seriam inteiramente fiéis.
– Vês como é feliz a condição do tirano, que se vê obrigado a destruir cidadãos e a estabelecer a amizade com escravos, daqui em diante seus fiéis servidores!”
“É com razão que se exalta a tragédia como uma escola de sabedoria, particularmente as de Eurípides, não achas? Porque Eurípides cunhou esta profunda máxima: os tiranos se fazem sábios mediante o trato com os sábios. Com isso ele quis dizer que os que compõem sua sociedade são muito espertos!
– Reconheço que Eurípides e os outros poetas qualificam a tirania como <divina> em muitas passagens de suas obras.
– Mas como os poetas trágicos são, eles também, sábios, não perdoarão que em nosso Estado, e em todos aqueles governados segundo os nossos princípios, recuse-se admiti-los no governo, uma vez que não passam de bajuladores!”
“– Chamas ao tirano <parricida> e <perverso inimigo da velhice>? Mas eis que essas palavras resumem a tirania! O povo, querendo evitar a servidão dos homens livres, acaba sucumbindo ao despotismo dos próprios escravos. Vê-se, então, que a subserviência mais dura e mais amarga é a conseqüência lógica e natural de uma liberdade excessiva e desordenada: a escravidão sob um bando de escravos.”
Tradução de trechos de “PLATÓN. Obras Completas (trad. espanhola do grego por Patricio de Azcárate, 1875), Ed. Epicureum (digital)”.
Além da tradução ao Português, providenciei notas de rodapé, numeradas, onde achei que devia tentar esclarecer alguns pontos polêmicos ou obscuros demais quando se tratar de leitor não-familiarizado com a obra platônica. Quando a nota for de Azcárate, haverá um (*) antecedendo as aspas.
“Quanto às mulheres, declaramos que seria preciso pôr suas naturezas em harmonia com a dos homens, da qual não diferem, e dar a todas as mesmas ocupações que a eles se dá, inclusive as da guerra, e não só num caso ou noutro, mas em todas as circunstâncias da vida.”
“CRÍTIAS – Escuta, Sócrates, uma história bastante singular, mas inteiramente verdadeira, que no passado contava aquele que era o mais sábio dentre os Sete Sábios, Sólon em pessoa.”
(*) “Para informações biográficas de Sólon, Dropides e dos dois Crítias, cfr. as notas do diálogo Cármides. [a ser publicado no Seclusão]”
“CRÍTIAS – (…) disse Elanciano Crítias [Crítias o velho]: <Aminandro, se Sólon, em lugar de compor versos por passatempo, se consagrara a sério à poesia, como muitos de seu tempo; se levara a cabo a obra que começara a escrever no Egito; se não tivera precisão de dedicar-se a combater as facções e os males de toda classe, que não cessavam de aparecer em torno seu; em minha opinião, nem Hesíodo nem Homero nem ninguém teriam tido chance de superá-lo enquanto poeta.> A conversa continuou:
– [Animandro] Que obra era essa que Sólon começara a compor no Egito?
– [Crítias velho] Tratava-se da história do acontecimento mais grandioso e de maior renome que se sucedera nesta cidade, cuja recordação, dado o transcurso do tempo e a morte de seus atores originais, não nos foi comunicado a nós.
– [Animandro] Ora, quero ouvir bem do começo tudo que Sólon relataria, do que se tratava esse grande evento, e quem o contou com aparência verídica pela primeira vez.
– [Crítias velho] Há no delta do Nilo, em cujo extremo este rio divide suas águas, um território chamado Saiticos, distrito cuja principal cidade é Saís, pátria do rei Amósis [ou Amásis]. Os habitantes honravam uma divindade como a fundadora desta cidade, chamada por eles de Neith, ninguém menos que nossa Atena, se havemos de crer em tal relato.(*)”
(*) “Sobre a identidade de Neith de Saís com Atena ou Minerva, ver Heródoto, II, 28, 59, 170 e 176; Pausânias, II, 36; Cícero, Da natureza [ou genealogia] dos deuses, III, 23; e Plutarco, Sobre Ísis e Osíris, 9, 32 e 62.”
(*) “Níobe, filha de Foroneu,¹,² que deu a luz a um filho de Zeus, Argos, em honra do qual seria fundada a cidade homônima.³ [Fonte: Pseudo-Apolodoro]”
¹ Reza o mito que Níobe teria sido a(o) primeira(o) felizarda(o) mortal escolhida(o) por um deus olímpico para procriar.
² Foroneu é, por sua vez, neto de Oceano (titã) com Tétis.
³ Como se a mitografia já não fosse confusa o bastante, noutras fontes Argos (o rei) é ainda o quarto monarca da dinastia que fundou e governou Argos ou Argus (a cidade)!
“CRÍTIAS VELHO – [Sacerdote egípcio] <Sólon, Sólon! vós gregos sereis sempre umas crianças… na Grécia não há anciãos!>
– [Sólon] Que queres com isso dizer?
– [Sacerdote] Sois crianças na alma. Não possuís tradições remotas nem conhecimentos veneráveis por sua antiguidade. Eis o motivo. Mil vezes e de mil maneiras os homens se extinguiram, e ainda se extinguirão, o mais das vezes perecendo pelo fogo e pela água, mas outras tantas também por uma infinidade doutras causas.”
“SACERDOTE – (…) no espaço que rodeia a terra e no céu realizam-se grandes revoluções. Os objetos que cobrem o globo desaparecem a cada grande intervalo de tempo num vasto incêndio. (…) O Nilo, nosso constante salvador, ao transbordar, salvara-nos de tal calamidade. E quando os deuses, purificando a terra por meio das águas, a submergem totalmente, os pastores no alto das montanhas e seus rebanhos se vêem salvos; mas os habitantes de vossas cidades litorâneas são arrastados ao mar pela corrente dos rios. Acontece que, no Egito, as águas nunca se precipitam do alto rumo às campinas; pelo contrário, manam das próprias entranhas da terra. É por isso que, diz-se, entre nós conservaram-se as mais antigas tradições, porque nós moramos num sítio privilegiado, em que um determinado número de homens sempre sobreviveu aos cíclicos desastres naturais. Decorre daí que, segundo nossa sabedoria muito mais longeva que a vossa, nada há que seja belo, grande e notável em qualquer matéria neste mundo que não tenha sido registrado por escrito por nossa civilização. No que se refere a vós gregos e tantos outros povos, apenas aprendestes a utilizar o alfabeto escrito e as coisas necessárias para o Estado, terríveis chuvas prorromperam sobre vós como raios, deixando remanescer somente alguns iletrados e gente estranha às Musas; desta feita, começais sempre de novo, sois verdadeiras crianças ignorantes dos sucessos antigos tanto deste país, o Egito, quanto do vosso próprio. Decerto essas genealogias, que acabas de expor, Sólon, parecem-se muito com contos de fadas; além de mencionares um só dilúvio, coisa inverossímil, posto que precedido por muitos outros, ignoras que a melhor e mais perfeita raça de homens existira em teu país, e que de um só germe desta raça que escapara à aniquilação total descende tua cidade. (…) uma mesma deusa protegera, instruíra e engrandecera a tua cidade e a nossa; a tua mil anos antes, formando-a de uma semente tomada da terra e de Hefesto. Nota que, segundo nossos livros sagrados, passaram-se 8 mil anos desde a fundação de nossa cidade. Vou dar-te, portanto, uma noção das instituições que tinham teus concidadãos de 9 mil anos atrás, sem olvidar de relatar-te os mais gloriosos de seus feitos.”
“Amiga da guerra e do conhecimento, a deusa devia escolher, para fundar um Estado, o país mais capaz de produzir homens que se parecessem com ela.”
“Nossos livros contam como Atenas destruiu um poderoso exército, que, partindo do Oceano Atlântico, invadira insolentemente a Europa e a Ásia. Naquela época era possível atravessar este oceano. Havia em suas águas uma ilha, situada em frente ao estreito, que em vossa língua chamais de <as colunas de Hércules>.¹ Esta ilha era maior que a Líbia e a Ásia juntas; os navegadores cruzavam dali às demais pequenas ilhas, e destas ao continente banhado pelo oceano digno de seu nome.²”
¹ O limite ocidental da Europa.
² “Atlântico” de Átlas, o Titã que suporta o globo celeste nas costas.
“este vasto poder, reunindo todas as suas forças, tentara um dia subjugar de uma só vez o teu e o nosso país, bem como todos os povos situados deste lado oriental do estreito.”
“Nos tempos que se sucederam a estes, grandes tremores de terra provocaram inundações; e em um só dia, digo, em uma só e fatal noite, a terra tragou todos os vossos guerreiros, e a ilha de Atlântida desapareceu entre as águas. Como resultado, não é possível, desde então, explorar este oceano, muito em decorrência do grande lodo deixado por esta imensa ilha no momento em que soçobrava até os confins das profundezas, que hoje serve de obstáculo insuperável para os navios.”
“esta imagem eterna, conquanto divisível, que chamamos de tempo. (…) o futuro e o passado são formas que em nossa ignorância aplicamos indevidamente ao Ser eterno. Dele nós dizemos: foi, é, será; quando só se pode dizer, verdadeiramente: ele é.”
“a unidade perfeita do tempo, o ano perfeito, realiza-se quando as 8 revoluções de velocidades diferentes voltaram a seu ponto de partida”¹
¹ Segundo M. Martin, refere-se Platão ao “mínimo múltiplo comum” dos anos da Lua, de Mercúrio e dos outros planetas conhecidos então em seu percurso de translação ao redor do Sol, o que resultaria no ano perfeito ou grande ano para o observador terrestre, quando finalmente acontece de estarem todos os corpos celestes alinhados e tudo se reinicia do zero na grande corrida circular periódica e eterna da existência.
“…que o que fizer bom uso do tempo que lhe fôra dado para viver voltará ao astro que lhe é próprio, ali permanecerá e ali atravessará uma vida feliz; que o que delinqüir será transformado em mulher num segundo nascimento, e se ainda assim não cessar de ser mau encarnará outra vez no formato de seus vícios, como aquele animal a cujos costumes mais se tiver assemelhado na vida anterior; e, por fim, nem suas metamorfoses nem seus tormentos concluirão enquanto não se fizer digno de recobrar sua primeira e excelente condição, o que alcançará deixando-se governar pela revolução do mesmo e do semelhante e domando mediante a razão esta massa irracional, refrega tumultuosa das partes de fogo, água, ar e terra que vão se acrescentando ao longo do tempo a sua natureza.
Promulgadas estas leis, e com o objetivo de não responder, para o sucessivo, pela maldade destas almas,¹ Deus as semeou, estas na Terra, aquelas na Lua, e outras nos demais órgãos do tempo [planetas].”
¹ Este motivo reaparece no Fédon, quando Zeus resolve delegar o poder de julgar os mortos, no Submundo, a seus filhos. Aparentemente, a divindade se cansa de cuidar diretamente do problema de “avaliar o comportamento das almas pecadoras” em seus erros sem conta…
“O Ser, feito presa das águas por todos os lados, caminhava adiante, para trás, para a direita, para a esquerda, para cima, para baixo. A onda, que avançando e retrocedendo dava ao corpo seu alimento, estava já bastante agitada.”
“Os deuses encerraram os dois círculos divinos da alma num corpo esférico, que construíram à imagem da forma redonda do universo, que é aquilo que nós chamamos de cabeça, a parte mais divina de nosso corpo e a que manda em todas as demais.”
“A observação do dia e da noite, as revoluções dos meses e dos anos, nos ensinaram o número, o tempo e o desejo de conhecer a natureza e o mundo. (…) Quanto aos demais benefícios, infinitamente menores, para quê celebrá-los? Só quem não é filósofo ou o cego de espírito que não sente aqueles primeiros benefícios poderiam se queixar, mas se queixariam em vão.”
“A harmonia, cujos movimentos são semelhantes aos de nossa alma, o tino dos que com inteligência cultivam o comércio das Musas — harmonia esta reduzida agora a servir, quão trágico!, a prazeres frívolos.”
MOIRA VENCIDA: “Superior à necessidade, a inteligência convencera a primeira de que devia dirigir a maior parte das coisas criadas ao bem; e, por haver-se deixado persuadir pelos conselhos da sabedoria, a necessidade deu azo a que se formara, no começo de tudo, o universo.”
“quanto ao fogo, p.ex., deixemos de dizer: isto é fogo; e da água não digamos: aquilo é água; mas sim: parece água. Procedamos da mesma forma com todas as coisas variáveis, às quais atribuímos erroneamente estabilidade sempre que, diante de seu aparecimento, as designamos por <isto> e <aquilo>.”
“Existe um número infinito de mundos ou somente um número limitado? Quem refletir atentamente compreenderá que não se pode sustentar a existência de um número infinito sem que isto denuncie o desconhecimento de coisas que pessoa alguma pode ignorar. Mas não há mais do que um mundo, ou é preciso admitir que haja cinco? É esta uma questão dificílima. A nós nos parece que a preferência por um mundo único é a mais correta; mas outros, encarando a questão sob outro ponto de vista, poderiam muito bem se opor.”
“Puesto que las relaciones en el interior de las familias de palavras desempeñan un importante papel en el texto de Heidegger y pueden quedar ocultas por la traducción, el glosario está ordenado de acuerdo con ellas. [Mas preferi indexar prioritariamente em ordem alfabética, aqui, na medida do possível, o trabalhoso léxico alemão.]”
Anblick: visão i’m-age’m
Einblick: compreensão
andenken: pensar-em
an-denken: lembrar
an-drängen: in-vestir
überdrangen: sobrepujar
Anfang: início
An-fang: in-ício
incipio (latim): in+capio: eu pego (I seize)
An-wesen: “natureza-do-Ser”
anwesen: presenciar
Anwesenheit: presença
“Dada la opción tomada, que prima la correlación esencia-presencia, la expresión participial das Anwesende queda en una cierta ambigüedad, que constituye por otra parte uno de los centros de lo que está en discusión: «lo que presencia», «lo presenciante», o simplemente «lo presente», en el cual, al igual que antes con «esencia», queda de cierto modo oculto el movimiento de llegar a la presencia, el desocultamiento.”
apremiante (espanhol): urgente, obrigatório
[!]
aufbleiben: manter-se receptivo, resistir
ausbleiben: falhar / não se dar / não ter lugar
Aufgang: surgimento
Aufgang Amadeus Mozart! Surja, Klassische Musik!
Auseinandersetzung: confrontação
de-fim-a-diante-com próximoutro?
einander: um ao outro, cada um
Ersetzung:compensação, reembolso
setzen: set, pôr sunset
o olhar perspectivístico de Nietzsche
austragen: levar às últimas conseqüências (de-encerrado)
quitar
resolver, chegar à síntese do problema
dirimir
Beginn: começo que não é um início
bergen: cobijar (cuidado com o falso cognato – salvar, resgatar, albergar, COBRIR, OCULTAR, MENTIR)
salvaguardar = verwahren, preservar = einmachen
entbergen: desocultar, de certa forma CONDENAR, MATAR EXPOSTO AO SOL DA VERDADE
“Beständsicherung: aseguramiento de la existencia consistente”
Bewusst-sein: ser-consciente
blicken: olhar, contemplar
consunção: definhamento
dichten: poetizar; inventar.
obrar = wirken
erwirken: levar a efeito
wirkend: eficiente
Wirklichkeit: realidade efetiva
Wirksamkeit: eficácia
ob-rar o-brar
eigentlich: em-si
EntZWEIung: des-união
ereignen: acontecer = geschehen (historiar)
Ereignis: acontecimento
ereignung: apropriação
Erinnerung: recordação, lembrança
festhalten: assegurar = sichern; deter.
festmachen: fixar, tornar consistente
festsetzen/feststellen: determinar = bestimmen
Fort-gang: pro-gresso pró-gesso
Gesetz: lei (ou seja, o [im]posto – setzen no passivo)
Gesichtskreis: círculo visual, campo-de-visão
Ge-stell: dis-positivo dis-pôr isto não está disposto como diria o preguiçoso Ed-som que é um des-afino para meus ou-vidos.
“das Gewesene:«lo ya sido» [jazido], lo que no quiere decir lo simplemente pasado, por lo que es importante seguir teniendo presente el wesen que está en el participio; cfr. II 12, 28. Die Gewesenheit: «lo esencialmente sido»; cfr. II 12. Das Ge-wesen: «lo esenciado»; con la separación del «ge-», Heideg«ge-»r [hehe-gege] quiere señalar su carácter de recogimiento de lo múltiple (como en el término Ge-birge, montañas, cadena montañosa, respecto de Berg, montaña singular); cfr. II 315. Das Gewesende: «lo ya sido esenciante»; cfr. II 397.”
Gleich: O Mesmo
Eingleichung: assimilação = Einverleibung
Grundfrage: pergunta fundamental
Ab-grund: ab-ismo
herstellen: produzir
Hipóstase/hipostasiar (português): ser ou existência e não “invenção”? Polissemia medicinal-teológica.
Leib: corpo com-vida (mas não aceitei)
lichten: despejar (não é alumiar ou iluminar)
liegen: sein/be, ou pelo menos a parte do “estar”
Machenschaft: maquinação
machten: exercer-poder
Bemächtingung: a/em-poderamento, o substantivo favorito das feminazis.
mentar (espanhol): mencionar
Mit-teilen: com-partir
Not-Wendigkeit: agilidade da necessidade! [k]Nót górdio da vida cal-do-que-nó!
Sache: coisa no sentido abstrato (contraparte de Ding, material)
Satz: princípio
Setzung: posição
Voraus-setzung: pressu-posição
selbständig: independente, aquele que se mantém de pé por si mesmo, autossustém-se.
Stimme: voz
Stimmung: temperamento, ânimo
Trieb: pulsão carpe-dia-trieb nehmen-the-day!
übersinnlich: suprassensível
überwinden: superar
ungut: engraçado (e não mau ou não-bom!)
Unheimische: desamparo
Unheimlische: inquietante
Untergang: ocaso
Unterkunft: albergue, guarida
“Unwesen: «inesencia»; la palabra, que es claramente una negación de Wesen (esencia), existe en el lenguaje corriente y tiene una connotación peyorativa, de abuso, confusión. Sobre su relación con la esencia, cfr. esp. II 294.”
Unwillen: fúria (e não passivo ou não-vontade!) – mesma raiz de in-dignação, mal-dizer, não-aceitar.
Verfestigung: consolidação
verlassen: abandonar, esquecer
unterlassen: omitir
veranlassen: ocasionar– ocaso-nar, derivar… brotar, nascer, partir é perder-se. É ser autêntico.
verrechnen: computar
Versuch: tentativa
Versuchender: tentador
vollENDung: acabamento
vollziehen: levar a cabo
wahren: conservar; durar.
anwähren: perdurar
Weile: morada; intervalo, instante, lapso (justamente com sua correlação espácio-temporal: espaço de abrigo, tempo de abrigo do Ser)
jeweilig: o particular
Wert: valor setzen des Werte (= Wertsetzung)
Umwert: não-valor, desvalor
Umwertung: transvaloração (desvalorização de todos os valores!)
Wesen: essência (et al.) (daí a correspondência pós-nietzschiana entre essenciar e presenciar)
“La forma wesen deriva de una raíz indogermánica que comparte con otras el sentido de <ser> y que es posteriormente sustituida por ésta. En alemán queda en el participio pasado de ser (gewesen) y en las expresiones anwesen (presente) y abwesen (ausente). Wesen en sentido verbal es empleado por Heidegger para decir «ser», sin que por ello se tenga que pensar que aquello de lo que se dice sea algo «ente», reservando entonces la palabra «ser» para los entes (cfr., p.ej., II, 177). Acuñamos entonces para «wesen» (en sentido verbal) el verbo «esenciar». En el Wesen entendido como «esencia», quididad, «qué-es», queda oculto ese carácter verbal, lo que implica también que en ocasiones debe dejarse traslucir y entenderse como <el esencial>. «Das wesende» será «lo que esencía» o «lo esenciante».”
Ziel: meta
Zweck: fim
(relativamente intercambiáveis)
Züchtung: adestramento
zustellen: remeter-a, proporcionar
* * *
“La primera edición de la La voluntad de poder abarcaba 483 fragmentos numerados. Pronto se vió que esta edición había resultado muy incompleta en relación con el material manuscrito existente [vide esclarecimentos em azul bem adiante neste trabalho]. En 1906 apareció una nueva edición, sustancialmente aumentada, manteniendo el mismo plan anterior. Abarcaba 1067 fragmentos, es decir, más del doble de los que tenía la primera. Esta edición apareció en 1911 formando los tomos XV y XVI de la llamada «edición en gran octavo» de las obras de Nietzsche. Sin embago, tampoco ella contiene todo el material; lo que no fue incluido en el plan apareció en los dos tomos de la citada edición dedicados a la obra postuma (XIII y XIV).” “La gran cantidad de cartas de que se dispone, que sigue aumentando contínuamente gracias a nuevos e importantes descubrimientos, también habrá de publicarse en orden cronológico.”
“Para el uso diario durante este curso es recomendable la edición de La voluntad de poder preparada por A. Baeumler para la colección de bolsillo de la editorial Kröner. Es una reproducción fiel de los tomos XV y XVI de las Obras Completas y contiene un sensato epílogo y un resumen breve y bien hecho de la vida de Nietzsche. Además, Baeumler ha editado en la misma colección un volumen titulado Nietzsche in seinen Briefen und Berichten der Zeitgenossen [Nietzsche en sus cartas y en relatos de sus contemporáneos]. El libro resulta útil para una primera toma de contacto. Para el conocimiento de su vida sigue conservando su importancia la exposición hecha por su hermana [!!], Elisabeth Förster-Nietzsche: Das Leben Friedrich Nietzsches [La vida de Friedrich Nietzsche], 1895-1904.
“Efectivamente, el desierto a mi alrededor es inmenso; en realidad sólo soporto a quienes son totalmente extraños y casuales o a quienes están vinculados a mi desde hace mucho o desde la infancia. Todo lo demás se ha desmoronado o ha sido directamente rechazado (ha habido en esto mucha violencia y mucho dolor).”
“Con su doctrina del eterno retorno Nietzsche no hace más que pensar a su modo el pensamiento que, de modo oculto, pero constituyendo su auténtico motor, domina toda la filosofía occidental. Nietzsche piensa este pensamiento de manera tal que con su metafísica vuelve al inicio de la filosofía occidental; o, expresado con mayor claridad: al inicio tal como la filosofía occidental se ha acostumbrado a verlo en el curso de su historia, a lo cual también Nietzsche ha contribuido, a pesar de tener, por otra parte, una comprensión originaria de la filosofía presocrática.”
“La eternidad, no como un ahora detenido, ni como una serie de ahoras desarrollándose al infinito, sino como el ahora que repercute sobre sí mismo: ¿qué otra cosa es esto sino la oculta esencia del tiempo? Pensar el ser, la voluntad de poder, como eterno retorno, pensar el pensamiento más grave de la filosofía, quiere decir pensar el ser como tiempo. Nietzsche pensó este pensamiento, pero no lo pensó aún como la pregunta por ser y tiempo. También Platón y Aristóteles, al comprender el ser como ουσία (presencia), pensaron este pensamiento, pero al igual que Nietzsche, tampoco lo pensaron como pregunta.”
“Baeumler presenta lo que Nietzsche denomina el pensamiento más grave y la cima de la consideración como una convicción «religiosa» totalmente personal, y agrega: «Sólo una de las dos puede tener validez: o bien la doctrina del eterno retorno o bien la de la voluntad de poder» (p. 80). «El fundador de religiones Nietzsche es también el que lleva a cabo una egiptización del mundo heraclíteo». De acuerdo con ello, la doctrina del eterno retorno significa una detención del devenir. En este dictamen, Baeumler supone que Heráclito enseña el eterno flujo de las cosas en el sentido de un continuar indefinido.Hace ya algún tiempo que sabemos que esa comprensión de la doctrina heraclitea no es griega. Pero tan cuestionable como esa [primeira] interpretación de Heráclito es que pueda tomarse sin más la voluntad de poder de Nietzsche como devenir en el sentido de un continuo fluir. la doctrina del eterno retorno, en la que él teme un egipticismo, va en contra de su concepción de la voluntad de poder, a la cual, a pesar de hablar de metafísica, no concibe de modo metafísico sino que interpreta de modo político.”
“La segunda interpretación de la doctrina nietzscheana del eterno retorno es la de Karl Jaspers. Por una parte, Jaspers se ocupa de ella de modo más detenido y ve que constituye un pensamiento decisivo de Nietzsche. Sin embargo, y a pesar de hablar de ser, Jaspers no lleva este pensamiento al ámbito de la pregunta fundamental de la filosofía occidental y por lo tanto tampoco lo pone en verdadera conexión con la doctrina de la voluntad de poder.”
A MÁSCARA DO ESQUERDOPATA METALEIRO: «Pero nosotros, nuevos filósofos, no sólo comenzamos con la exposición de la jerarquía y la diferencia de valor fáctica entre los hombres, sino que además queremos precisamente lo contrario de una equiparación, de una igualación: enseñamos el extrañamiento en todo sentido, abrimos abismos como nunca los ha habido, queremos que el hombre sea más malo de lo que nunca lo fue. Entretanto vivimos aún ocultos y extraños unos de otros.Por muchos motivos nos será necesario ser ermitaños e incluso emplear máscaras, por lo que difícilmente serviremos para buscar a nuestros semejantes. Viviremos solos y conoceremos probablemente los martirios de cada una de las siete soledades. Y si por casualidad nos cruzamos en el mismo camino, puede apostarse a que no nos reconoceremos o nos engañaremos mutuamente» (La voluntad de poder, n. 988)
“¡Gracias a la mera eliminación habría de surgir por sí mismo algo nuevo!”
“Una proposición en cuanto proposición no puede ser nunca un principio.”
“La interpretación del libro no la comenzaremos, sin embargo, con su primer capítulo, «La voluntad de poder como conocimiento», sino con el cuarto y último: «La voluntad de poder como arte».”
PARA UMA HISTORIOGRAFIA DA FILOSOFIA? “La obra capital de Schopenhauer apareció en el año 1818. Es profundamente deudora de las obras capitales de Schelling y Hegel, por entonces ya publicadas. La mejor prueba de ello son los insultos desmedidos y faltos de gusto que Schopenhauer propinó a Hegel y Schelling durante toda su vida.Schopenhauer llama a Schelling «cabeza hueca» y a Hegel, «burdo charlatán». Estos insultos a la filosofía, frecuentemente imitados en la época posterior a Schopenhauer, ni siquiera tienen el dudoso privilegio de ser especialmente «nuevos».
En una de sus obras más profundas, el tratado Sobre la esencia de la libertad humana, aparecido en 1809, Schelling expresó: «En última y suprema instancia no hay más ser que el querer. Querer es el ser originario» (I, VII, 350). Y Hegel, en su Fenomenología del espíritu (1807), concibió a la esencia del ser como saber, pero al saber como esencialmente igual al querer.
Schelling y Hegel tenían la certeza de que con la interpretación del ser como voluntad no hacían más que pensar el pensamiento essencial de otro gran pensador alemán, el concepto de ser de Leibniz, quien determinó la esencia del ser como la unidad originaria de perceptio y appetitus, como representación y voluntad. No es casual que el propio Nietzsche nombre a Leibniz dos veces en La voluntad de poder en passajes decisivos: «La filosofía alemana como un todo —Leibniz, Kant, Hegel, Schopenhauer, para nombrar a los grandes— es el tipo más profundo de romanticismo y nostalgia que haya habido hasta ahora: el anhelo de lo mejor que jamás haya existido» (n. 419) .Y: «Händel, Leibniz, Goethe, Bismarck: característicos del tipo alemán fuerte» (n. 884).”
“«Dependencia» no es un concepto que pueda expresar la relación de los grandes entre sí.”
“Todas las ciencias, en cambio, piensan sólo un ente entre otros, un determinado ámbito del ente. Sólo están vinculadas inmediatamente por él, pero nunca de modo absoluto. Puesto que en el pensamiento filosófico reina el mayor vínculo posible, todos los grandes pensadores piensan lo mismo. Pero este «mismo» es tan esencial y tan rico que ninguno puede agotarlo, sino que cada uno no hace más que vincular a cada uno de los otros de modo más riguroso.”
“«El querer me parece sobre todo algo complejo, algo que sólo como palabra tiene una unidad—y precisamente en una palabra está encerrado el prejuicio popular que se ha adueñado de la precaución siempre escasa de los filósofos» (Más allá del bien γ del mal; VII, 28)—. Nietzsche se dirige aquí sobre todo contra Schopenhauer, que opinaba que la voluntad era la cosa más simple y conocida del mundo.” “Pero este planteamiento es un error. Según la convicción de Nietzsche, el error básico de Schopenhauer está en pensar que hay algo así como un querer puro, que sería más puro cuanto más completamente indeterminado se deje lo querido y más decididamente se excluya al que quiere. Por el contrario, en la esencia del querer radica que lo querido y el que quiere sean integrados en el querer”
O ENSIMESMADO ESTÁ FORA DE SI: “La ira no podemos proponérnosla ni decidirla, sino que nos asalta, nos ataca, nos «afecta». Este asalto es repentino e impetuoso; nuestro ser se agita en el modo de la excitación; nos sobreexcita, es decir, nos lleva más allá de nosotros mismos, pero de manera tal que en la excitación ya no somos dueños de nosotros mismos. Se dice: actuó presa de sus afectos. El lenguaje popular muestra una visión aguda cuando respecto de alguien presa de excitación dice que «no se contiene». En el asalto de la excitación el contenerse desaparece y se transforma en explosión. Decimos: está fuera de sí de alegría.”
UM HOMEM E/OU UM RATO
O HOMEM REVOLTADO, O HOMEM INDISPOSTO
O HOMEM SOBREPOSTO, O HOMEM QUE PAGUIMPOSTO
O HOMEM SUPOSTO APENAS SUPOSTO HOMEM
O RATO ROEDOR-O HOMEM HONRADO
O HUMANÓIDE ROÍDO, O IMPÉRIO RUÍDO
O RATO RASGADO, O RATO HORRÍVEL
O HOMEM-RATO FUDIDO
O TATO EM FALTA O TETO PREENCHIDO
QUEM MEXEU NO MEU RATO
QUEM ESFAQUEOU O MEU HOMEM
QUEM ESCAPOU
PELO BURACO DA RATOEIRA
SEM DEIXAR VESTÍGIO
EIS A Q.: PEDIDO DE SOCORRO? “El odio no se esfuma después de una explosión, sino que crece y se endurece, carcome y consume nuestro ser.” “El irascible pierde la capacidad de meditar. El que odia potencia la meditación y la reflexión hasta el extremo de la astuta malevolencia.” Sou astuto ou me deixo levar como um balão mal-cuidado?
HOJE, EU TE JURO, ESTOU SUPERIOR A VOCÊ: “El amor no es ciego, sino clarividente; sólo el enamoramiento es ciego, fugaz y sorpresivo, un afecto, no una pasión. (…) gran pasión — el derroche y la invención, no sólo el poder dar sino el tener que dar y, al mismo tiempo, esa despreocupación por lo que ocurra con lo que se derrocha, esa superioridad que descansa en sí misma que caracteriza a la gran voluntad.” “la interna ligereza de lo superior”
“Nietzsche se queda en camino y le es siempre más urgente la caracterización inmediata de lo que quiere. Con tal actitud, adopta inmediatamente el lenguaje de su tiempo y de la «ciencia» contemporánea. Al hacerlo, no se arredra ante exageraciones conscientes e interpretaciones unilaterales, creyendo que de este modo puede destacar de la manera más clara posible lo que diferencia sus concepciones y sus preguntas de las corrientes. Al seguir este proceder mantiene, sin embargo, una visión del conjunto, y, por así decirlo, puede permitirse esas unilateralidades. El proceder se vuelve fatal, en cambio, cuando otros, sus lectores, recogen desde fuera esas proposiciones y, dependiendo de lo que se quiera que ofrezca Nietzsche en la ocasión, o bien las exponen como su opinión única, o bien lo refutan gratuitamente basándose en tales expresiones aisladas.” O tipo Ceariba da minha contemporaneidade (os atrasados).
“O ser consiste no consentimento.”
Aristóteles – Da Alma: “Su contenido no es una psicología, ni tampoco una biología. Es una metafísica de lo viviente, de lo cual también forma parte el hombre.”
Para Heidegger, Aristóteles, Leibniz e Kant não são idealistas, em que pese o que afirma: “Tomados en conjunto, los grandes pensadores no han otorgado nunca el primer rango a la representación en sus concepciones de la voluntad.” [!!!]
AGORA FALOU A MINHA LÍNGUA: “Da igual que se la llame idealista o no idealista, emocional o biológica, racional o irracional, en cualquier caso será una falsificación.”
“sólo en la continua elevación lo elevado puede seguir siendo elevado y seguir estando en lo alto.”
GRANDE FALA DE HEGEL: “La belleza sin fuerza odia al entendimiento, porque éste le exige aquello de lo que no es capaz. Pero la vida del espíritu no es la vida que retrocede ante la muerte y se mantiene pura frente a la desolación, sino la que la soporta y se conserva en ella. El espíritu sólo conquista su verdad encontrándose a sí mismo en el desgarramiento absoluto. Es ese poder no como lo positivo que prescinde de lo negativo, como cuando decimos de algo que no es nada o es falso, y habiéndolo liquidado nos alejamos de él para pasar a otra cosa; sino que es ese poder en la medida en que mira a la cara a lo negativo, en que se detiene en él.”
“Schopenhauer aparece, al contrario [da dissimulação e da hipocrisia do status quo, do Estado], como el testarudo [obstinado] moralista que en última instancia, para seguir teniendo razón con su apreciación moral, se convierte en negador del mundo. Finalmente en <místico>.” VdP
Die Briefe des Freiherrn Carl von Gersdorff an Friedrich Nietzsche, ed. por K. Schlechta.
“Schopenhauer interpretó el hecho de ser ávidamente leído por el público culto como un triunfo filosófico sobre el idealismo alemán. Pero la razón de que Schopenhauer ocupara el primer lugar en la filosofía de esa época no radicaba en que su filosofía hubiera triunfado sobre el idealismo alemán sino en que los alemanes habían sucumbido ante el idealismo alemán, en que ya no sabían estar a su altura. Esta decadencia hizo de Schopenhauer un gran hombre, lo que tuvo como consecuencia que la filosofía del idealismo alemán, vista desde los lugares comunes schopenhauerianos, se convirtiera en algo extraño y extravagante y cayera en el olvido. Sólo con rodeos y extravíos volvemos a encontrar el camino que conduce hacia esta época del espíritu alemán. Estamos, sin embargo, muy alejados de una relación verdaderamente histórica con nuestra historia. Nietzsche sintió que aquí operaba una «grandiosa iniciativa» del pensamiento metafísico. Se quedó, no obstante, en este presentimiento, y así tenía que ser, pues la década de trabajo dedicada a la obra capital no le dejó la serenidad necesaria para demorarse en las espaciosas construcciones de la obra de Hegel y Schelling.”
“El poder es la voluntad en cuanto querer-ir-más-allá-de-sí, pero precisamente por ello es volver-a-sí, encontrarse y afirmarse en la conclusa sencillez de la esencia”
“Lo que se encuentra en Aristóteles como saber es aún filosofía, es decir, el libro citado de la Metafísica [o IX] es el más digno de cuestión de toda la filosofía aristotélica. (…) Pero la propia doctrina aristotélica es sólo una salida en una determinada dirección, el llegar-a-un-primer-final del primer inicio de la filosofía occidental en Anaximandro, Heráclito y Parménides”
“Ser artista es un poder-producir. Pero producir quiere decir: llevar a ser algo que aún no es. En la producción asistimos, por así decirlo, al devenir del ente y nos es posible observar con limpidez su esencia.”
“En qué medida el artista sólo es un estadio previo. El mundo como una obra de arte que se da a luz a sí misma…” VdP
“Arte no mienta [nomeia] aquí el estrecho concepto actual, con el significado de «bellas artes» como producción de lo bello en la obra. Este antiguo uso de la palabra arte en un sentido más amplio, según el cual las bellas artes son sólo un tipo de arte entre otros, es interpretado por Nietzsche en el sentido de comprender toda producción como una correspondencia con las bellas artes y el artista respectivo. «El artista es sólo un estadio previo» se refiere al artista en sentido estrecho, al que produce obras de arte.”
“ya en su primer escrito (El nacimiento de la tragedia a partir del espíritu de la música), ve Nietzsche al arte como carácter fundamental del ente. Así podemos comprender que en la época en que trabaja en La voluntad de poder vuelva a la posición sobre el arte que había formulado en El nacimiento de la tragédia”
“esa profesión de fe, ese evangelio del artista” VdP
A arte é a conexão entre o real e o fantástico de cada era, perfeitamente circulares, reversíveis, retroalimentares. Paifilhopai A conexão entre dois abismos centrípetos Eu não sou o fim, eu sou a conexão. Eu sou o Messias, mas o Messias traz a Mensagem.
“El concepto de filosofía no debe determinarse más siguiendo la figura del moralista, de aquel que a este mundo, que no valdría nada, le opone otro más elevado. Por el contrario, en contra de estos filósofos morales nihilistas (cuyo ejemplo más reciente ve Nietzsche en Schopenhauer), hay que poner al antifilósofo, al filósofo que surge del contramovimiento, al «filósofo artista».”
Morreu um tipo de homem.
Antropomorfizou-se um tipo de morte.
“(Ejercicios previos: 1) el que se configura a sí mismo, el ermitaño; 2) el artista, tal como ha sido hasta ahora, como pequeño ejecutor, en una materia [meu limite (infra-da20ano)])” VdP
“Toda elevación creadora y todo el orgullo de la vida que descansa sobre sí misma constituyen, por el contrario, rebelión, ceguera y pecado.”
“Felizmente los griegos no tenían vivencias, pero sí, en cambio, un saber tan claro y originariamente desarrollado y una tal pasión por el saber que en esa claridad del saber no precisaban «estética» alguna.”
“El gran arte no es sólo grande ni se vuelve grande por la superior calidad de lo creado, sino porque es una «necesidad absoluta». Su rango es superior porque es esta necesidad, y mientras lo siga siendo; pues sólo en razón de la grandeza de su esencialidad crea a su vez un ámbito de grandeza para lo producido. Paralelamente al desarrollo del dominio de la estética y de la relación estética con el arte se produce en la época moderna la decadencia del gran arte en el sentido señalado. Esta decadencia no consiste en que la «calidad» sea inferior y el estilo descienda, sino en que se pierde la relación inmediata a la tarea fundamental de exponer lo absoluto, es decir, de ponerlo en cuanto tal como determinante dentro del ámbito del hombre histórico.” “En el instante histórico en el que el desarrollo de la estética alcanza el punto más alto, abarcador y estricto posible, el gran arte ya ha llegado a su fin. El acabamiento de la estética tiene su grandeza por reconocer y expresar este final del gran arte como tal. La última y mayor estética de occidente es la de Hegel. Está formulada en sus Lecciones de estética, impartidas por última vez en 1928-1929 en la Universidad de Berlín.” «Los bellos días del arte griego ya se han ido, como la edad de oro de la baja Edad Media.» H.
“Frente al hecho de que el arte ha abandonado su esencia, el siglo XIX acomete una vez más el intento de una «obra de arte total». Este esfuerzo está ligado al nombre de Richard Wagner. No es nada casual que no se limite a la creación de obras que sirvieran a ese fin, sino que esté acompañado y apoyado por reflexiones de principio, con sus correspondientes escritos. Citemos los más importantes: El arte y la revolución, 1849; La obra de arte del futuro, 1850; Ópera y drama, 1851; El arte alemán y la política alemana, 1865. No es posible aquí aclarar, ni siquiera en grandes rasgos, la complicada y confusa situación histórico-espiritual de mediados del siglo XIX. En la década de 1850 a 1860 se mezclan nuevamente, entrelazándose de extraña manera, la auténtica y bien conservada tradición de la gran época del movimiento alemán y el penoso vacío y desarraigo de la existencia que saldrán completamente a la luz en los «Gründerjahre» [1871-1873]. No podrá comprenderse nunca este siglo sumamente ambiguo recurriendo a una descripción sucesiva de sus diferentes períodos. Es necesario delimitarlo desde dos lados en dirección convergente, desde el último tercio del siglo XVIII y desde el primer tercio del siglo XX.”
“la obra de arte debe ser una celebración de la comunidad del pueblo: «la» religión. Para ello, las artes determinantes son la poesía y la música. El propósito era que la música fuera un medio para hacer valer el drama, pero en realidad, en la forma de ópera, se convierte en el auténtico arte. El drama no tiene su peso y su esencia en la originariedad poética, es decir en la verdad conformada en la obra lingüística, sino en el carácter escénico de lo representado y de la gran coreografía. La arquitectura sólo vale en cuanto construcción de teatros, la pintura en cuanto decorado, la plástica en cuanto representación gestual del actor. La poesía y el lenguaje se quedan sin la esencial y decisiva fuerza conformadora del auténtico saber. Se busca el dominio del arte como música, y con él el domínio del puro estado sentimental: el frenesí y el ardor de los sentidos, la gran convulsión, el feliz terror de fundirse en el gozo, la desaparición en el «mar sin fondo de las armonías», el hundimiento en la embriaguez, la disolución en el puro sentimiento como forma de redención: «la vivencia» [antítese suprema do grego, certa falta inata de inocência ou transparência, pesantez, neblina, cenho e vida sobrecarregados, densos ao insuportável cúbico…] en cuanto tal se vuelve decisiva. La obra es ya sólo un excitante de la vivencia. Todo lo que se represente ha de actuar sólo [en soledad] como primer plano, como fachada, con la mira puesta en la impresión, el efecto, la voluntad de excitar: «teatro». El teatro y la orquesta determinan el arte.”
“¿Y el estado en el que el preludio de Lohengrin, por ejemplo, transporta al oyente, y más aún a la oyente, se diferencia esencialmente del éxtasis sonambúlico? Después de escuchar este preludio le oí decir una vez a una italiana, con esos ojos belamente embelesados que saben poner las wagnerianas: <come si dorme con questa música!>”
“Pero lo absoluto es ahora experimentado sólo como lo puramente carente de determinación, como la total disolución en el puro sentimiento, como el balancearse que se hunde en la nada. No es de sorprender que Wagner encontrara en la obra capital de Schopenhauer, que leyó detenidamente cuatro veces, la confirmación y explicación metafísica de su arte. Por más que, en su realización y en sus consecuencias, la voluntad wagneriana de construir la «obra de arte total» se convirtió de modo inevitable en lo contrario del gran arte, tal voluntad es, sin embargo, única en su tiempo y, a pesar de lo mucho de histriónico y aventurero que tuviera, eleva a Wagner por encima de los demás esfuerzos que se han hecho por el arte y por mantener su carácter esencial en la existencia.”
«Sin ninguna duda, Wagner les dio a los alemanes de esta época la idea más abarcadora de lo que podría ser un artista: el respeto por “<el artista> creció de pronto enormemente; suscitó por todas partes nuevas valoraciones, nuevos deseos, nuevas esperanzas; y quizás no en último término precisamente por el carácter meramente anunciador, incompleto, imperfecto de sus creaciones artísticas. ¡Quién no ha aprendido de él!»
NASCI “CERTO” AFINAL DE CONTAS: “Que el intento de Richard Wagner tuviera que fracasar se debe no solamente al predominio de la música respecto de las otras artes. Al contrario: que la música haya podido asumir esa preeminencia tiene ya su razón en el creciente desarrollo de una posición fundamental de tipo estético respecto del arte en su conjunto; se trata de la concepción y valoración del arte desde el mero estado sentimental y de la creciente barbarización de este último que lo convierte en la mera ebullición del sentimiento abandonado a sí mismo. Por otra parte, esta excitación de la embriaguez de los sentimientos, este desencadenarse de los afectos, podía tomarse como una salvación de la «vida», sobre todo frente al creciente desencanto y desolación de la existencia provocados por la industria, la técnica y la economía, en conjunción con el debilitamiento y vaciamiento de la fuerza conformadora del saber y la tradición, para no hablar de la falta de toda gran finalidad de la existencia. La ascensión a la ola de los sentimientos debía ofrecer ese espacio que faltaba, el espacio para una posición fundada y estructurada en medio del ente, posición que sólo la gran poesía y el gran pensar son capaces de crear.”
“Pero puesto que Wagner buscaba meramente la ascensión de lo dionisíaco y desbordarse en él, mientras que Nietzsche queria sujetarlo y conformarlo, la ruptura entre ambos estaba ya predeterminada.”
“Wagner no pertenecía a esa clase de personas para las que lo más horroroso son sus propios seguidores. Wagner necesitaba wagnerianos y wagnerianas. Nietzsche, en cambio, quiso y admiró a Wagner toda su vida; su disputa con él era de contenido y tenía una carácter esencial. Durante años aguardó y mantuvo la esperanza de que surgiera la posibilidad de una confrontación fértil.”
“Sobre la relación entre Wagner y Nietzsche, cfr. Kurt Hildebrand, Wagner und Nietzsche; ihr Kampf gegen das 19. Jahrhundert [Wagner y Nietzsche; su lucha contra el siglo XIX], 1924.”
“sabemos, por ejemplo, lo mucho que apreciaba Nietzsche una obra como el Nachsommer [Verano tardío] de Stifter, casi exactamente el mundo opuesto al de Wagner.”
GENEALOGIA SINUOSA DO FASCISMO: “Lo que en la época de Herder y Winckelmann estaba al servicio de una gran autorreflexión de la existencia histórica, es ejercido ahora por sí mismo, es decir como disciplina profesional; comienza la investigación histórica del arte propiamente dicha, aunque figuras como las de Jakob Burckhardt e Hippolyte Taine, a su vez totalmente diferentes entre sí, no pueden calibrarse con los instrumentos de medida de la especialización profesional. La investigación de la poesía desemboca en el ámbito de la filologia [temos de saber trafegar nas duas vias]; «creció con el sentido por lo pequeño, por la auténtica filología» (Dilthey, Gesammelte Schriften, XI, 216). La estética se convierte en una psicología que trabaja con métodos científico-naturales, es decir, los estados sentimentales son sometidos por sí mismos a experimentación, observación y medida en cuanto hechos que suceden; también aquí F. T. Vischer y W. Dilthey son excepciones, sostenidas y guiadas por la tradición de Hegel y Schiller. La historia de la poesía y de las artes plásticas consiste en que haya una ciencia de ellas que saque a la luz importantes conocimientos y al mismo tiempo mantenga despierta una disciplina de pensamiento. El cultivo de estas ciencias pasa por ser la auténtica realidad del «espíritu». La propia ciencia es, al igual que el arte, un fenómeno y un campo de actividad cultural. Pero allí donde lo «estético» no se convierte en objeto de investigación sino que determina la actitud del hombre, el estado estético se convierte en uno entre otros estados posibles, como p.ej. el político o el científico; el «hombre estético» es un producto del siglo XIX.”
VOLTAR AO FENÔMENO: “Lo que Hegel formulara respecto del arte —que había perdido poder en cuanto configuración y preservación determinante de lo absoluto— lo reconoce Nietzsche respecto de los «valores supremos» religión, moral y filosofía: la ausencia y la falta de fuerza creadora y de capacidad vinculante para fundar la existencia humano-histórica sobre el ente [sendo] en su totalidad. Pero mientras que para Hegel el arte, a diferencia de la religión, la moral y la filosofía, había caído en el nihilismo y se había transformado en algo pasado y carente de realidad efectiva, Nietzsche busca en él el contramovimiento [acabou X só está começando…]. En ello se muestra, a pesar de su essencial separación de Wagner, una repercusión de la voluntad wagneriana de «obra de arte total». (…) mientras que la estética hegeliana encontraba su desarrollo en una metafísica del espíritu, la meditaciónnietzscheana sobre el arte se convertía en una «fisiología del arte».”
“«La estética no es más que una fisiología aplicada». De este modo, ya ni siquiera es «psicología», como ocurre en general en el siglo XIX, sino investigación científico-natural de los estados y processos corporales y de las causas que los provocan. (…) aquí se piensan hasta el final las consecuencias últimas del preguntar estético por el arte. El estado sentimental es reducido a excitaciones de las vías nerviosas, a estados corporales.”
“todo suceder es igualmente esencial e inesencial; en ese ámbito no hay ningún orden jerárquico ni se establecen criterios; todo es tal como es y sigue siendo lo que es, y su simple derecho radica en el hecho de que es. La fisiología no conoce ningún ámbito en el que algo estuviera sometido a decisión y elección. Dejar el arte en manos de la fisiología parece ser como rebajar el arte al nivel del funcionamento de los jugos gástricos. ¿Cómo podría el arte al mismo tiempo fundar y determinar la posición de valores auténtica y decisiva? El arte como contramovimiento al nihilismo y el arte como objeto de la fisiología, esto equivale a querer mezclar fuego y agua. Si aun es posible aquí un acuerdo, sólo lo será en el sentido de declarar que el arte, en cuanto objeto de la fisiología, no es el contramovimiento sino el movimiento capital y extremo del nihilismo.”
“4) (…) la peligrosidad fisiológica del arte. Considerar: en qué medida nuestro valor «bello» es completamente antropomórfico: basado en presupuestos biológicos relativos al crecimiento y el progreso. (…)
7) La colaboración de las facultades artísticas en la vida normal, su ejercicio tonificante: inversamente lo feo.
8) La cuestión de las epidemias y el contagio.
9) El problema de la «salud» y la «histeria»; genio = neurosis.
10) El arte como sugestión, como medio de comunicación, como ámbito de invención de la induction psycho-motrice.
(…) 16) El tipo del romántico: ambiguo. Su consecuencia es el «naturalismo».
17) Problema del actor. La «falta de sinceridad», la típica capacidade de transformación como defecto de carácter… La falta de pudor, el payaso, el sátiro, el bufo, el Gil Blas, el actor que hace de artista…”
“Todo cuerpo viviente (Leib) es también un cuerpo físico (Körper), pero no todo cuerpo físico es un cuerpo viviente.”
“la embriaguez de la fiesta, de la competición, de los accesos de valentía, de la victoria, de todo movimiento extremo; la embriaguez de la destrucción; la embriaguez bajo ciertas influencias meteorológicas, por ejemplo la embriaguez primaveral; finalmente la embriaguez de la voluntad, la embriaguez de una voluntad colmada y exhuberante.” “a embriaguez da festa, da competição, dos acessos de valentia, da vitória, de todo movimento extremo; a embriaguez da destruição; a embriaguez sob certas influências meteorológicas, por exemplo a embriaguez primaveril; finalmente a embriaguez da vontade, a embriaguez duma vontade abundante e exuberante.”
“Según El nacimiento de la tragedia, el fragmento n. 798 y otros pasajes, sólo a lo dionisíaco le corresponde la embriaguez, mientras que a lo apolíneo le corresponde el sueño; ahora (El ocaso de los ídolos), en cambio, lo dionisíaco y lo apolíneo son dos tipos de embriaguez; éste es el estado fundamental. La doctrina definitiva de Nietzsche tiene que comprenderse de acuerdo con esta aclaración, aparentemente insignificante, pero muy esencial.” “La embriaguez es siempre un sentimiento de embriaguez.”
“Una pesadez estomacal puede tender un velo de sombra sobre todas las cosas. Lo que normalmente nos parece indiferente resulta de pronto irritante y molesto. Lo que normalmente se hace con facilidad, queda paralizado. La voluntad puede interponerse, puede contener la desazón, pero no puede despertar y crear imediatamente el temple de ánimo contrario: en efecto, los temples de ánimo siempre son superados y transformados sólo por otros temples de ánimo.”
“El temple de ánimo es precisamente el modo fundamental en el que estamos fuera de nosotros mismos. Pero así estamos esencialmente y siempre. En todo ello vibra el estado corporal, nos eleva y lleva más allá de nosotros mismos, o bien deja al hombre apático y prisionero de sí mismo. No estamos en primer lugar «vivos» y después tenemos un aparato llamado cuerpo, sino que vivimos (leben) en la medida en que vivimos corporalmente (leiben). Este vivir corporalmente es algo esencialmente diferente del mero estar sujeto a un organismo. La mayoría de lo que sabemos del cuerpo y del correspondiente vivir corporalmente en las ciencias naturales son comprobaciones en las que el cuerpo ha sido previamente malinterpretado como mero cuerpo físico. De ese modo pueden encontrarse muchas cosas, pero lo essencial y decisivo queda siempre ya fuera de la mirada y la comprensión; la búsqueda que va detrás de lo «anímico» para un cuerpo que previamente ha sido malinterpretado como cuerpo físico desconoce ya la situación real.”
“De alguien que ha bebido mucho podemos decir que «tiene» una embriaguez, pero no que está embriagado. En ese caso, la embriaguez no es el estado en el que se está junto a sí y más allá de sí mismo, sino que lo que aquí llamamos «embriaguez» es, usando la expresión común, una mera «borrachera», que precisamente impide toda posibilidad de un estado tal.”
“El acrecentamiento no quiere decir que «objetivamente» aparezca un plus, un incremento de fuerza, sino que debe entenderse en la dimensión del temple de ánimo: estar en subida, ser llevado por la subida. Del mismo modo, el sentimiento de plenitud no se refiere a una creciente acumulación de sucesos internos sino, sobre todo, a ese estar templado que se deja determinar de modo tal que para él nada es extraño ni nada es demasiado, que está abierto a todo y pronto para todo: el mayor frenesí y el riesgo supremo, uno junto al otro.”
«Los artistas no son los hombres de las grandes pasiones, cuenten lo que cuenten, a nosotros y a sí mismos.»
“En la medida en que son artistas, es decir creadores, tienen que observarse, les falta pudor ante sí mismos, y más aún ante la gran pasión; en cuanto artistas tienen que explotarla, espiarla, sorprenderla y transformarla en la configuración creadora. Los artistas son demasiado curiosos para sólo ser grandes en una gran pasión, pues ésta no conoce la curiosidad respecto de sí misma (…) Los artistas, con su talento, son también siempre la víctima de su talento; éste les impide el puro derroche de la gran pasión.
«No se acaba con la propia pasión representándola: más bien, ya se ha acabado cuando se la representa.»
“El estado artístico mismo no es nunca la gran pasión, pero es sin embargo pasión; y por ello ésta tiene continuidad al salir a captar la totalidad del ente, de manera tal que ese salir mismo se captura en su propio captar, se retiene en la mirada y se fuerza en una forma.”
“La fórmula de la contraposición de lo apolíneo y lo dionisíaco hace tiempo que se ha convertido en el refugio de todo que se dice y escribe de modo confuso y confusionista sobre el arte y sobre Nietzsche. Para él esta contraposición siguió siendo una continua fuente de oscuridades no superadas y de nuevas preguntas.”
O FILÓSOFO DO MENOS? “En su contenido, Schopenhauer vive de aquellos a quienes denosta: Schelling y Hegel. A quien no denosta es a Kant; pero en cambio lo entiende radicalmente mal.” Não DEPRECIA Kant? Imagina se o fizesse! Talvez que Heidegger tenha entendido Schopenhauer (e seu pseudo-êmulo Nie.) radicalmente mal. Dialeticamente mal. Tragicamente mal. Genealogicamente mal.
“Puede decirse que la Crítica del Juicio de Kant, la obra en la que está expuesta su estética, sólo ha tenido efecto hasta ahora por obra de malentendidos, proceso corriente en la historia de la filosofía. Schiller ha sido el único que comprendió algo essencial respecto de la doctrina kantiana de lo bello y del arte, aunque también el conocimiento al que llegó fue sepultado por las doctrinas estéticas del siglo XIX.”
“Si se determina que la relación con lo bello, el agrado, es «desinteresado», el estado estético será, de acuerdo con Schopenhauer, una suspensión de la voluntad, el apaciguamiento de todo tender, el puro reposo, el puro no-querer-nada-más, el puro estar suspendido en la impasibilidad. ¿Y Nietzsche? Nietzsche dice: El estado estético es la embriaguez. Esto es evidentemente lo opuesto de todo «agrado desinteresado», por lo tanto también el mayor antagonismo frente a Kant en lo que hace a la determinación del comportamiento respecto de lo bello.” Uma embriaguez anti-utilitária – como pôde Heidegger ser tão ingênuo?
“Y cuando Nietzsche dice (La voluntad de poder, n. 804): «Lo bello no existe, del mismo modo en que no existe lo bueno y lo verdadero», coincide también con la opinión de Kant.”
“La esencia del «placer de la reflexión» como comportamiento fundamental respecto de lo bello está expuesta en los parágrafos 57 a 59 de la Crítica del juicio.”
“Este elevarnos más allá de nosotros mismos en la plenitud de nuestra capacidad esencial es lo que acontece, para Nietzsche, en la embriaguez. O sea que en la embriaguez se abre lo bello. Lo bello mismo es lo que transporta al sentimiento de embriaguez.”
“Por mucho que el modo en que Nietzsche lo dice y lo expone pueda sonar al wagneriano torbellino de sentimientos y al mero hundirse en la mera «vivencia», lo que quiere es, con certeza, lo contrario. Lo extraño y casi absurdo reside sólo en el hecho de que intente acercar e imponer a sus contemporáneos esta concepción del estado estético empleando el lenguaje de la fisiología y la biología.”
“el estado de creación es «un estado explosivo”
«Los artistas no deben ver nada tal como es, sino más pleno, más simple, más fuerte: para ello les tienen que ser propias una especie de juventud y primavera, una especie de embriaguez habitual en la vida.» [itálicos meus] (800)
Estou viciado no que já me viciou, mas como?
“el efecto de la obra de arte no es otro que el de suscitar nuevamente el estado del creador en quien goza de ella. Recibir el arte es volver a realizar la creación.”
«Se es artista al precio de sentir como contenido, como <la cosa misma>, lo que todos los no artistas llaman <forma>. De este modo se está, evidentemente, en un mundo invertido: pues a partir de entonces el contenido se convierte en algo meramente formal, incluyendo nuestra vida.» (n. 818)
“Cuanto menos violentemos la «estética» nietzscheana para convertirla en un edificio doctrinal aparentemente transparente, cuanto más dejemos seguir su propio camino a ese buscar y preguntar, con tanta mayor seguridad nos encontraremos con esas perspectivas y representaciones fundamentales en las que el conjunto adquiere para Nietzsche una unidad desarrollada, aunque oscura y carente de configuración. Es necesario aclarar esas representaciones si queremos comprender la posición metafísica fundamental del pensamiento de Nietzsche.” Às vezes o problema do curioso é exumar o cadáver do sagrado…
“Incluso Kant, que gracias a su método trascendental tenía posibilidades más amplias y determinadas para interpretar la estética, quedó atrapado dentro de los límites del concepto moderno de sujeto.”
“¿quién debe establecer qué es lo perfecto? Sólo pueden hacerlo aquellos que lo son y que por eso lo saben. Aquí se abre el abismo de ese girar en círculo en el que se mueve toda la existencia humana. Qué es salud, sólo puede decirlo quien está sano. Pero lo sano se mide de acuerdo con lo que se establezca como esencia de la salud. Qué es verdad sólo puede establecerlo quien es veraz; pero quién es veraz se determina de acuerdo con lo que se establezca como esencia de la verdad.” Porque sim, deve-se explicar aos tartamudos…
«El poeta hace entrar en juego la pulsión que quiere conocer, el músico la hace descansar» Aurora, 337
“ahora también vemos con más claridad en qué sentido esa proposición nietzscheana es una inversión de la de Schopenhauer, que definía al arte como un «quietivo de la vida». La inversión no reside en suplantar simplemente «quietivo» por«estimulante», en cambiar lo que calma por lo que excita. La inversión es una transformación de la determinación esencial del arte. Este pensar acerca del arte es un pensar filosófico, un pensar que instaura una medida y que es por ello una confrontación histórica y se transforma en prefiguración de lo futuro.”
“estamos a punto de creer que <bueno es lo que nos gusta>”
“El arte no se somete simplemente a reglas, no sólo tiene leyes que seguir, sino que es en sí mismo legislación y sólo en cuanto tal es verdaderamente arte. Lo inagotable y lo que hay que crear es la ley. Lo que el arte que disuelve el estilo interpreta erróneamente como una mera efervescencia de sentimientos es, en esencia, la inquietud por encontrar la ley, que en el arte sólo se vuelve real cuando la ley se oculta en la libertad de la forma para entrar así en el juego abierto.” Crise de meia-idade é a adolescência dos lerdos de pensamento.
“El pensar nietzscheano acerca del arte es, en su apariencia más inmediata, un pensar estético, mientras que en su voluntad más íntima es un pensar metafísico, es decir una determinación del ser del ente [do ser do sendo]. (…) El arte es para Nietzsche el modo esencial en el que el ente es creado como ente. Puesto que lo que importa es este carácter creador, legislador y conformador que posee el arte, la determinación esencial de este último sólo puede llevarse a buen fin si se pregunta qué es en cada caso lo creativo en el arte. Esta pregunta no se plantea con el propósito de comprobar psicológicamente cuáles son los motores de la creación artística que se dan en cada ocasión, sino como una pregunta que decide si, cuando y cómo están o no están dadas las condiciones fundamentales del arte de gran estilo. Esta pregunta no es para Nietzsche una pregunta de la historia del arte en sentido corriente sino en sentido esencial, una pregunta que contribuye a configurar la historia futura de la existencia.”
“Los términos «romántico» y «clásico» no constituyen más que una fachada y un punto de apoyo.”
“Todo homem faminto não passa de um nostálgico.”
QUEM NÃO ACREDITA EM SUPERIORIDADE INATA PATINHO FEIO É: “el anhelo de cambio y devenir también puede surgir del descontento de quienes odian todo lo existente simplemente porque existe. Aquí lo creador es el rechazo de quienes sufren una carencia, de los desfavorecidos, de los frustrados, para los cuales toda superioridad existente es ya una objeción en contra de su derecho de existir. //Análogamente, el anhelo de ser, la voluntad de eternización puede provenir de la posesión de la plenitud, del agradecimiento por lo que es; pero lo permanente y vinculante puede también ser instituído como ley y coacción por la tiranía de un querer que quisiera liberarse de su padecimiento más propio.”
“El gran estilo es la voluntad activa de ser, pero de manera tal que conserva en sí el devenir.”
“A propósito de esto, hay que reflexionar sobre el significado que tiene para la metafísica de Nietzsche la prioridad, expresamente recalcada [enfatizar, ao contrário da convicção vulgar], de la distinción activo-reactivo respecto de la de ser y devenir. Pues formalmente podría alojarse la distinción activo-reactivo dentro de uno de los miembros de la oposición subordinada, dentro del devenir. La conjunción en una unidad originaria de lo activo y del ser y el devenir, conjunción propia del gran estilo, tiene por lo tanto que estar comprendida en la voluntad de poder, si se piensa a ésta de modo metafísico. Pero la voluntad de poder es como eterno retorno. En él Nietzsche quiere pensar conjuntamente, en una unidad originaria, ser y devenir, acción y reacción. Con esto tenemos una visión del horizonte metafísico en el que hay que pensar lo que Nietzsche llama gran estilo y, en general, arte.”
“El gran estilo es el sentimiento supremo de poder. El arte romántico, que surge del disgusto y de la carencia, es un querer-alejarse-de-sí. Pero querer, de acuerdo con su esencia propia, es: querer-a-sí-mismo, el «sí» no entendido nunca como algo que está sólo allí delante y simplemente subsiste, sino como lo que aún quiere devenir lo que es. El querer en sentido propio no es un alejarse-de-sí, y sí en cambio un ir-más-allá-de-sí en el que, en ese sobrepasarse, la voluntad recoge [reavém] precisamente al que quiere, lo lleva consigo y lo transforma. Por eso, querer-alejarse-de-sí es, en el fondo, un no-querer.”
“De acuerdo con ello, el cuerpo y lo fisiológico son también más conocidos y, en cuanto pertenecen al hombre, son para él lo más conocido. En la medida, sin embargo, en que el arte se funda en el estado estético y éste tiene que ser comprendido de modo fisiológico, el arte es la forma más conocida de la voluntad de poder, pero al mismo tiempo también la más transparente. El estado estético es un hacer y un recibir que llevamos a cabo nosotros mismos. No assistimos simplemente como espectadores a un suceder, sino que nos mantenemos nosotros mismos en ese estado.”
“Como ente-en-sí vale, desde Platón, lo suprasensible, lo que está eximido y sustraído de la mutabilidad de lo sensible. Para Nietzsche, el valor de algo se mide de acuerdo con lo que contribuya a acrecentar la realidad del ente. El arte tiene más valor que la verdad, quiere decir: el arte, en cuanto «sensible» es más ente que lo suprasensible. Si este ente era tenido hasta ahora por el más elevado y el arte es, sin embargo, más ente, el arte se revela como lo que es más ente dentro del ente, como el acontecer fundamental dentro del ente en su totalidad.”
“el nihilismo, es decir el platonismo, pone como lo que es verdaderamente a lo suprasensible, desde lo cual todos los demás entes se rebajan a lo que propiamente no es, se los difama y se los declara nulos.”
Pôncio
“En el diccionario los significados están enumerados y listos para que se los escoja. La vida del lenguaje real reside en la multivocidad. La transformación de la palabra viviente y fluctuante en la rigidez de una serie de signos unívoca y mecánicamente fijada sería la muerte del lenguaje y la congelación y devastación de la existencia.”
“Cuando Hegel o Goethe dicen la palabra «cultura» y cuando la dice una persona culta de los años noventa del siglo pasado, no sólo el contenido formal del significado de la palabra es diferente, sino que también difiere, aunque no carezca de relación, el mundo contenido en el decir.”
“La voluntad de originariedad, de estrictez y medida en la palabra no es, por lo tanto, un jugueteo estético sino el trabajo en el núcleo esencial de nuestra existencia en cuanto existencia histórica.”
“Así como llamamos justicia a la esencia de lo justo, cobardía a la esencia de lo cobarde, y belleza a la esencia de lo bello, la esencia de lo verdadero tiene que llamarse verdad. Pero la verdad, en cuanto esencia de lo verdadero, es sólo una, pues la esencia de algo es aquello en lo que coincide todo lo que tiene tal esencia, en nuestro caso, todo lo verdadero.”
“Si la tomamos en cambio en el significado que alude a una pluralidad, la palabra «verdad» no nombra la esencia de lo verdadero sino, en cada caso, algo verdadero en cuanto tal. Ahora bien, la esencia de una cosa puede comprenderse preferente o exclusivamente como aquello que corresponde a todo lo que satisface esa esencia.”
“La objeción de que la mutación de la esencia conduce al relativismo es sólo posible sobre la base del desconocimiento de la esencia de lo absoluto y de la esencialidad de la esencia.”
“El hecho de que en el pensamiento de Nietzsche falte la pregunta por la esencia de la verdad es una omisión de un tipo peculiar, omisión que, en caso de que pueda achacarse a alguien, no sería sólo ni en primer lugar a él. Esta «omisión» atraviesa, desde Platón y Aristóteles, toda la historia de la filosofia occidental.” Blá, blá, blá… “Que muchos pensadores se ocupen del concepto de verdad, que Descartes interprete la verdad como certeza, que Kant, no independientemente de este giro, distinga una verdad empírica y una trascendental, que Hegel elabore una nueva determinación de la importante distinción entre verdad abstracta y concreta, es decir entre verdad científica y especulativa, que Nietzsche diga que «la verdad» es el error, todos éstos son avances esenciales del preguntar pensante. ¡Y sin embargo! Todos ellos dejan intacta la esencia misma de la verdad.” Querida, Desmistifiquei as Crianças!
“predicar acerca de una «esencia eterna e inmutable de la ciencia», o es una mera manera de hablar que no toma en serio ella misma lo que dice o, de lo contrario, implica un desconocimiento de los hechos fundamentales que conciernen al origen del concepto occidental de saber.”
Só a carne tem sombra.
“En su época de Basilea impartió en varias ocasiones lecciones sobre Platón: «Introducción al estudio de los diálogos platónicos», 1871-1872 y 1873-1874», y «Vida y doctrina de Platón», 1876 (cfr. XIX, 235-ss.).” Verificar XIX do Obras Completas
“El propio Schopenhauer basa toda su filosofia consciente y expresamente en Platón y en Kant. Así, en el prólogo de su obra capital, El mundo como voluntad γ representación (1818), escribe: «La filosofía de Kant es pues la única respecto de la cual se presupone un conocimiento detallado en lo que se va a exponer. Pero si además de ello, el lector también se ha detenido en la escuela del divino Platón, estará tanto mejor preparado y será tanto más receptivo para escucharme». En tercer lugar, nombra además a los Veda hindúes.”
“Ya en sus años juveniles, su interpretación de Platón alcanza (con las lecciones de Basilea) una notable independencia y con ella una mayor verdad que la de Schopenhauer.”
“La experiencia fundamental de Nietzsche es la creciente comprensión del hecho básico de nuestra historia. Este es, para él, el nihilismo. Nietzsche no ha cesado de expresar de forma apasionada esta experiencia fundamental de su existencia pensante. Para los ciegos, para quienes no pueden y sobre todo no quieren ver, sus palabras suenan fácilmente como algo desmesurado, como un delirio. Y sin embargo, si evaluamos la profundidad de su comprensión y reflexionamos acerca de la cercanía con la que el hecho histórico fundamental del nihilismo lo acosaba, casi podría decirse que sus palabras son suaves.”
“Por poner una meta Nietzsche entiende la tarea metafísica de establecer un orden del ente en su totalidad, no simplemente la indicación de un hacia dónde y para qué provisorios.”
“Esta no puede afectar sólo a determinados grupos, clases y sectas, ni siquiera a determinados estados y pueblos, sino que tiene que ser, como mínimo, europea.” Que golpe!
“Pero la auténtica lucha es aquella en la que los que luchan se superan alternativamente y despliegan desde sí la fuerza para esta superación.” A verdade é que nunca lutei de verdade, porque sempre superei meus “rivais” de golpe só, isso na remota possibilidade em que já não era superior a eles de nascença.
“El gran estilo sólo puede crearse a través de la gran política, y la gran política tiene la más íntima ley de su voluntad en el gran estilo. ¿Qué dice Nietzsche acerca del gran estilo?”
Me chame quando tudo estiver pronto. Acho que vou hibernar um pouco no meu caixão de tampa de crosta de gelo.
«Lo que hace el gran estilo: convertirse en amo tanto de la propia dicha como de la propia desdicha.» (Proyectos e ideas para una continuación independiente del Zaratustra, del año 1885; XII, 415)
“¿Por qué falta esa fuerza fundamental para ganar de modo creador un puesto en medio del ente? Respuesta: porque desde hace tiempo que se la ha debilitado contínuamente y transformado en su opuesto. El principal debilitamiento de la fuerza fundamental de la existencia consiste en la difamación y degradación de la fuerza fundadora de metas de la «vida» misma.”
«Ya no somos más cristianos: nos hemos salido del cristianismo no porque hayamos habitado demasiado lejos de él sino porque hemos habitado demasiado cerca suyo, más aún, porque hemos salido de él; es nuestra propia piedad más estricta y exigente lo que hoy nos prohibe seguir siendo cristianos.» (XIII, 318)
“el hecho de que [caracteres gregos – arte como técnica], como «poesía», se haya convertido preferentemente en el nombre del arte de la palabra, el arte poético, es un testimonio de la posición preeminente que adquiere este arte dentro de la totalidad del arte griego. Por ello tampoco es casual que Platón, cuando lleva a la palabra la relación entre arte y verdad y plantea una decisión de la misma, trate en primer lugar y de manera dominante del arte poético y del poeta.”
“el conocimiento decisivo de todo el diálogo sobre la república reza: es esencialmente necesario que los filósofos sean los gobernantes (cfr. Politeia, V, 473). Esta proposición no quiere decir: los profesores de filosofía deben dirigir los asuntos del Estado, sino: los modos de comportamiento fundamentales que sostienen y determinan a la comunidad tienen que estar fundados en el saber esencial, en el supuesto, claro, de que la comunidad, en cuanto orden del ser, se funde desde sí misma y no quiera tomar sus criterios de un orden diferente. La libre autofundación de la existencia histórica se coloca a sí misma bajo la jurisdicción del saber, y no de la fe, en la medida en que por ésta se entienda una manifestación divina de la verdad autorizada por una revelación.”
É essencialmente necessário que não haja reis, santos nem o político de vocação de que falaria Weber, em suma, à frente do Estado. Apenas o mundano esclarecido cuidando do mundano (e, por incrível que pareça, na definição tipológica weberiana ainda restam traços de uma “metafísica”, vestígios do sagrado, uma nostalgia de predestinação, a negação, por inferência, pelo tipo oposto, de que o sábio deva se interessar por política, como se ou a própria política ou, pior, o mundo – indiretamente, o sábio! –, não fossem coisa deste mundo…). O homem governa o homem. O primado não cabe a uma classe política, que é “pura mitologia” de nossa época. Pensamento (o weberiano) decadente ou pretensioso demais, mas natural, do ponto de vista lógico, se oriundo da primeira metade do século XX.
“El planteamiento de la República y el del Banquete se funden en el Fedro en una base originaria y al mismo tiempo en vista a las cuestiones fundamentales de la filosofía. Se hace alusión a esto para que no olvidemos ya ahora que las consideraciones sobre el arte de la República, las únicas importantes para nosotros por el momento, no constituyen la totalidad de la meditación platônica al respecto.”
“el Stellmacher es el que hace [macht]productos [Gestelle]”
#TítulosdeLivros
SEM ESPELHOS
…E VIVA O ÓCIO!
“Algo superior y algo inferior pueden mantener una distancia y un antagonismo, pero nunca una discrepancia, porque les falta la igualdad de medida.”
O Fedro como o diálogo mais perfeito de Platão.
“cuanto más cae la mayor parte de los hombres en la vida cotidiana en la apariencia del caso y en las opiniones corrientes acerca del ente, sintiéndose bien en ello y encontrándose así justificados, tanto más «se oculta» para ellos el ser”
“Só na medida em que o ser é capaz de desdobrar o poder «erótico» em referência ao homem, só nessa medida ele é capaz de pensar no ser mesmo e de superar o esquecimento do ser.”
“Lo bello es ese movimiento en sí mismo antagónico que se compromete en la apariencia sensible más cercana y, al hacerlo, se eleva al mismo tiempo hacia el ser: es lo que cautiva y arrebata [das Berückend-Entrückende]. Es lo bello, por lo tanto, lo que nos arranca del olvido del ser y nos proporciona la mirada a él.”
“La mirada llega a la mayor y más distante lejanía del ser, y al mismo tiempo a la más próxima y brillante cercanía del parecer.”
“esta desunión, esta discrepancia en sentido amplio, para Platón no provoca pavor, sino que es bienhechora [benfeitora]. Lo bello eleva más allá de lo sensible y retrotrae hacia lo verdadero.”
PENSAMENTO IDIÓTICO: “En la época en la que la inversión del platonismo se convirtió para Nietzsche en una expulsión de él [del platonismo], le sobrevino la locura. Hasta ahora ni se ha reconocido que esta inversión es el último paso dado por Nietzsche, ni se ha visto que sólo ha sido consumado con claridad en el último año de creación (1888).”
HEIDEGGER FALANDO DE SI MESMO: “Cuanto más preciso y simple sea el modo en el que se reconduce la historia del pensamiento occidental a sus pocos pasos esenciales desde un preguntar decisivo, tanto más crece su fuerza anticipadora y vinculante, especialmente si se trata de superarla. Quien cree que el pensar filosófico puede deshacerse de esa historia con una simple decisión, se encontrará sin advertirlo golpeado por ella misma, com un golpe del que nunca podrá recuperarse, porque es el golpe de la ceguera. Ésta cree ser original cuando no hace más que repetir lo recibido y mezclar interpretaciones heredadas para formar algo pretendidamente nuevo. Cuanto mayor tenga que ser un cambio, tanto más profundamente partirá de su historia.”
“Los seis períodos de la historia del platonismo que termina con la expulsión de él, son los siguientes:
«1) El mundo verdadero, alcanzable para el sabio, el piadoso, el virtuoso; éste vive en él, es él».Aquí se constata la fundación de la doctrina por parte de Platón. Aparentemente no se trata específicamente del mundo verdadero sino sólo del modo en el que el hombre se relaciona con él y de la medida en que es alcanzable.Y la determinación esencial del mundo verdadero radica en que es alcanzable para el hombre aquí y ahora, aunque no para cualquiera ni sin ninguna condición. El mundo verdadero es alcanzable para el virtuoso (…) «(La forma más antigua de la idea, relativamente inteligente, simple, convincente. Paráfrasis de la proposición ‘yo, Platón, soy la verdad’)». (…) El «mundo verdadero» no es el objeto de una doctrina sino el poder de la existencia, lo presente que ilumina, el puro aparecer sin velo.
«2) El mundo verdadero, inalcanzable por ahora, pero prometido a los sabios, los píos, los virtuosos (‘al pecador que cumple penitencia’).»
(…)
Comienza la posibilidad del sí y el no, del «tanto lo uno como lo otro»; el aparente decir sí al lado de acá, pero con reservas; la posibilidad de participar en el lado de acá, pero dejando abierta una última puerta trasera. [É instrutivo que o Além não exista sem o Aqui em nenhuma religião.]” Advento do Platonismo. «(Progreso de la idea: se vuelve más fina, más capciosa, más inaprehensible; se vuelve mujer, se vuelve cristiana…)»
«3) El verdadero mundo, inalcanzable, indemostrable, imprometible, pero ya en cuanto pensado un consuelo, una obligación, un imperativo.» 2000 anos jogados fora¿
“Lo suprasensible es ahora un postulado de la razón práctica; incluso fuera de toda posibilidad de experiencia y de demostración, es exigido como algo necesariamente existente con el fin de salvar un fundamento suficiente para la legalidad de la razón. Se duda críticamente de la posibilidad de acceder a lo suprasensible por la vía del conocimiento, pero sólo para dejar lugar a la fe en la exigencia racional. Nada cambia con Kant respecto de la existencia y la estructura de la imagen cristiana del mundo, sólo que toda la luz del conocimiento cae sobre la experiencia, es decir sobre la interpretación científico natural-matemática del «mundo.” «(En el fondo, el antiguo sol, pero a través de la niebla y el escepticismo; la idea se ha vuelto sublime,pálida, nórdica, königsbergiana)» Nunca estive errado: Könisberg já foi território russo, teutônico (prússio), soviético e, finalmente, russo novamente, agora como Kalinigrado! Mas esse promete não ser o fim: Wikipédia da cidade: “Germany currently places no claims, however it also has not renounced any claims to the possibility of territory reunification.” “It was the easternmost large city in Germany until it was captured by the Soviet Union on 9 April 1945, near the end of World War II.” Hoje, 09/04/17. Terra natal também de Hannah Arendt.
Voltando ao Plato-Kantismo, o Cristianismo do advogado de coração puro. A má-fé já se cristalizou debaixo da carne mole do coração e das ondas cerebrais conscientes.
«4) El mundo verdadero, ¿inalcanzable? En todo caso, inalcanzado. Y en cuanto inalcanzado también desconocido. En consecuencia, no consuela, ni redime, ni obliga: ¿a qué podría obligarnos algo desconocido?…» No que o pai cria já não crê o filho.
“Es la época posterior a la del dominio del idealismo alemán, a mediados del siglo pasado.” Ápice da aceleração histórica.
“Se muestra que lo suprasensible no ha entrado en la filosofía kantiana en razón de los principios filosóficos del conocimiento, sino como consecuencia de inquebrantadas presuposiciones teológico-cristianas. Respecto de esto, Nietzsche comenta en una ocasión refiriéndose a Leibniz, Kant, Fichte, Schelling, Hegel y Schopenhauer: «Son todos meros Schleiermachers» (XV, 112)”
“el rechazo, aunque sea poco sutil, de lo suprasensible por desconocido, por ser aquello que según Kant ningún conocimiento por principio habría de alcanzar, es el primer albor de «probidad» de la meditación dentro de la capciosidad y la «falsa moneda» que se había vuelto dominante con el platonismo. Por eso:
«(Mañana gris. Primer bostezo [bocejo] de la razón. Canto del gallo del positivismo)».”
«5) El ‘mundo verdadero’—una idea que no sirve ya para nada, que ya ni siquiera obliga—, una idea inútil, que se ha vuelto superflua, en consecuencia una idea refutada: ¡suprimámosla!» Mas não é mais frustrante como fôra outrora…
“Ahora escribe el «mundo verdadero » entre comillas.”
“«(Día claro; desayuno; retorno del bon sens y de la alegría; sonrojo [rubor; ofensa] de Platón; gritería infernal de todos los espíritus libres)».”
“Nietzsche no quiere quedarse en el amanecer, ni se contenta con una simple mañana. A pesar de la eliminación del mundo suprasensible como mundo verdadero, sigue estando el lugar vacío de ese arriba y la hendidura en la construcción entre un arriba y un abajo: el platonismo.”
«6) Hemos suprimido el mundo verdadero: ¿qué mundo queda? ¿el aparente quizá?…¡Pues no! ¡con el mundo verdadero también hemos suprimido el aparente!»
O itálico representa a velocidade da luz das conclusões enfáticas, rááááá…
“Mediodía; instante de la sombra más corta; fin del error más largo; punto más elevado de la humanidad”
A L U Z C E G A
“la expresión «punto más elevado de la humanidad» tiene que entenderse como el punto culminante de la decisión acerca de si, con el final del platonismo, también debe llegar a su final el hombre tal como es hasta el momento, de si debe llegarse a ese tipo de hombre que Nietzsche designa como el «último hombre»; o si más bien ese hombre puede ser superado y comenzar el «superhombre»” Não faz sentido uma opção entre os dois; seria uma série inevitável. Nada muito animador! Segundo H., é necessário assumir a hipótese de que escolheu-se o último homem. O que advém¿ Baudrillard, e depois a implosão e (p)recessão im(pre)visíveis¿ “El gran peligro que Nietzsche ve es el de quedarse en el último hombre, en un mero arranque [arrebatamento; preâmbulo], en la difusión cada vez mayor y en el aplanamiento creciente del último hombre.”
«Deseo para mí mismo y para todos los que viven —para todos los que se permiten vivir— sin los miedos de una conciencia puritana una espiritualización y una multiplicación cada vez mayor de sus sentidos; sí, queremos estar agradecidos a los sentidos por su fineza, su plenitud y su fuerza, y ofrecerles en cambio lo mejor del espíritu que tengamos»
“la inversión tiene que convertirse en una expulsión fuera del platonismo.”
“La representación mecanicista de una naturaleza «sin vida» es sólo una hipótesis con fines de cálculo; pasa por alto que también en ella reinan relaciones de fuerzas y, por lo tanto, de perspectivas. Todo punto de fuerza es en sí mismo perspectivista. De eso se desprende claramente «que no hay un mundo inorgánico» (XIII, 81). Todo lo «real» es viviente, es en sí mismo perspectivista y se afirma en su perspectiva frente a otras.”
ETERNO RETORNO E GARGALHADAS: “Queda abierta la pregunta de si esa extrañeza puede eliminarse con la interpretación de la doctrina del eterno retorno de lo mismo que hace Ernst Bertram en su muy leído libro sobre Nietzsche, en el que la llama «ese engañoso y burlesco misterio de la locura del último Nietzsche» (2ed., p. 12).”
“Con demasiada facilidad podría intentar explicarse este modo de hablar de sí mismo en sus escritos diciendo que Nietzsche es víctima de una exagerada tendencia a autoobservarse y autoexponerse. Si se le agrega la circunstancia de que su vida terminó en la locura, la cuenta cuadrará fácilmente: este dar importancia a la propia persona se tomará como un anuncio de la posterior locura. En qué medida es éste un juicio falaz es algo que al final de estas lecciones tendrá que desprenderse por sí mismo. (…) su tarea pensante y el instante histórico de ésta. La reflexión sobre sí mismo a la que contínuamente vuelve Nietzsche es lo opuesto de un vanidoso mirarse en el espejo, es la preparación siempre renovada para el sacrificio que su tarea exigía de él, una necesidad que sintió desde el tiempo lúcido de su juventud.”
“(Mein Leben. Autobiographische Skizze des jungen Nietzsche [Mi vida. Esbozos autobiográficos del joven Nietzsche], Francfort, 1936) Esta autopresentación no fue encontrada hasta 1936, al revisar la hermana de Nietzsche sus manuscritos postumos, y fue publicada separadamente por el Archivo Nietzsche siguiendo una sugerencia mía.”
“Las miradas retrospectivas γ panorámicas que Nietzsche dirige a su propia vida son siempre y exclusivamente miradas anticipadoras en dirección de su tarea. Ésta es para él la auténtica realidad. En ella vibran todas sus relaciones, tanto las que mantiene consigo mismo como con las personas cercanas o con los extraños que quiere conquistar. Desde esta perspectiva tenemos que interpretar asimismo el sorprendente hecho de que, por ejemplo, los esbozos de sus cartas los escribiera directamente en sus «manuscritos», no por ahorrar [economizar] papel, sino porque las cartas, pues también ellas son meditaciones, pertenecen a la obra.”
“Por mucho que por momentos tenga la apariencia contraria, estos comentarios han sido para él lo más difícil, porque pertenecen al carácter único de una misión que era sólo suya. Ésta consiste, entre otras cosas, en hacer visible por medio de la propia historia, en una época de decadencia, de falsificación de todo, de mera actividad en todos los ámbitos, que el pensar de gran estilo es un auténtico actuar, un actuar en su forma más poderosa, aunque también más silenciosa. Aquí la habitual distinción entre la «mera teoría» y la «práctica» útil no tiene ya ningún sentido. Pero Nietzsche también sabía que los creadores poseen la grave distinción de no tener que necesitar de los otros para liberarse del pequeño yo propio”
bosta purê de batata hmmm vida inteligente inexistente sou eu
bosqueja bosteja hey you hel-her enxaqueca com aura perdida da obra de arte
fumando na janela suado e zoado pelos colegas vingançaulo
dente do tempo
dragão cearense
roca do dentista broca piramidal
egipto antigus
não mais que eu
cri-cri
interpretação cabal
“(Quien no conozca este paisaje lo encontrará descrito por C. F. Meyer en el comienzo de su Jürg Jenatsch.)”
O ÚLTIMO JANTAR DOS PATRÍCIOS
O SEXTO MACARRÃO INSTANTÂNEO ENTRE 3 AMIGOS:
É QUASE MADRUGADA
30/04/2017 00:28
“Estamos acostumbrados a considerar que esos pensamientos son «meros» pensamientos, algo irreal e inefectivo. Pero en verdad, el pensamiento del eterno retorno de lo mismo es una conmoción de todo el ser. El ámbito visual al que el pensador dirige su mirada no es ya el horizonte de sus «vivencias personales», es algo diferente de él mismo, algo que le ha pasado por debajo y por encima y desde entonces está allí, algo que a él, el pensador, ya no le pertenece, sino algo a lo que él pertenece.”
DESCONFIE DOS PEDAGOGOS APAIXONADOS
«Apenas se lo comunica, ya no se ama lo suficiente el propio conocimiento» (Más allá del bien γ del mal, 160)
“Aurora. Lleva como epígrafe un aforismo del Rigveda indio: «Hay tantas auroras que aún no han alumbrado».”
“quien calla absolutamente delata precisamente que calla; quien, en cambio, al comunicarse de manera ocultadora habla parcamente, calla que en realidad calla.”
“Sin la técnica de los grandes laboratorios, sin la técnica de las grandes bibliotecas y archivos y sin la técnica de un perfecto sistema de información, son hoy impensables tanto un trabajo científico fértil como el efecto que le corresponde. Todo debilitamiento, todo freno de estos estados de cosas es reacción.
A diferencia de la «ciencia», la situación en la filosofía es totalmente diferente. Cuando se dice aquí «filosofía» se hace referencia exclusivamente a la creación de los grandes pensadores. Esta creación tiene sus propios tiempos y sus propias leyes también en lo que hace al modo de comunicarse. La prisa por exponer resultados y el miedo de llegar tarde desaparecen ya por el hecho de que forma parte de la esencia de toda auténtica filosofía que sea necesariamente mal entendida por sus contemporáneos. Incluso respecto de sí mismo el filósofo tiene que dejar se ser su propio contemporáneo. Cuanto más esencial y revolucionaria es una filosofía, tanto más necesita que se formen primero aquellos hombres y aquellas generaciones que habrán de asumirla. En ese sentido, aún hoy tenemos que esforzarnos, por ejemplo, en comprender el contenido esencial de la filosofía de Kant, liberándola de las falsas interpretaciones de sus contemporáneos y sus seguidores.”
“la expresión de Feuerbach: «el hombre es [ist] lo que come [isst]»”
O PAI MORTO, A MÃE TIRÂNICA E O IRMÃO INDESEJADO
«Contra la doctrina de la influencia del milieu y de las causas exteriores: la fuerza interior es infinitamente superior.» VdP
Tu te afastas com freqüência das boas companhias, não é, Rafa¿
“«¿Qué vuelve heroico?», pregunta Nietzsche en La gaya ciencia (n. 268). Respuesta: «Ir al mismo tiempo al encuentro de su supremo sufrimiento y de su suprema esperanza» (…) es decir, no engañarse con la pretendida victoria.”
“sólo en el ámbito del conocimiento y de quien conoce acontece la suprema tragedia: «Los supremos motivos trágicos no han sido hasta ahora utilizados: los poetas nada saben por experiencia de las cien tragedias del que conoce» (XII, 246; 1881/82).”
“para hacer que comience el pensamiento más grave, es decir la tragedia, previamente tiene que crear poeticamente al pensador que pueda pensarlo. Esto acontece en la obra que comienza a gestarse en 1883, un año después de La gaya ciencia.”
“Este final de La gaya ciencia constituirá, sin alteración ninguna, el comienzo de la primera parte de Asi habló Zaratustra, publicada al año siguiente. Sólo el nombre del lago, «Urmi», será sustituido por «el lago de su país natal». Al comenzar la tragedia de Zaratustra comienza su ocaso.”
“en el instante en que comienza, todo lo que se suele tomar por «tragedia» ya ha sucedido; «tan sólo» acontece el ocaso.”
ODE ALOÍSIA
“Yo os digo: hay que tener aún caos dentro de sí para poder dar a luz una estrella que dance. Yo os digo: aún tenéis caos dentro de vosotros.
¡Ay! Llega el tiempo en el que el hombre ya no dará a luz ninguna estrella. ¡Ay! Llega el tiempo del hombre más despreciable, del que ya no puede despreciarse a sí mismo.
¡Mirad! Os muestro al último hombre.”
“Mientras el desprecio provenga de la repugnancia por lo despreciado no es aún el supremo desprecio; ese desprecio por repugnancia es aún él mismo despreciable”
* * *
«El necesario ocultamiento del sabio: su conciencia de no ser comprendido en absoluto; su maquiavelismo, su frialdad frente a lo actual.» (XIII, 37; 1884)
“Y si decimos que esta obra es el centro de la filosofía de Nietzsche hay que decir al mismo tiempo que está totalmente fuera del centro, que es «excéntrica» respecto de ella. Y si se recalca [releva] que es la cima más alta que alcanzó el pensamiento de Nietzsche, nos olvidamos, o mejor, tenemos poca idea de que, precisamente después del Zaratustra, en los años 1884-1889, su pensamiento dio aún pasos esenciales que lo pusieron ante nuevas transformaciones.
A la obra que lleva por título Así habló Zaratustra Nietzsche le puso un subtítulo que reza: «Un libro para todos y para ninguno». Lo que el libro dice está dirigido a cada uno, a todos; pero nadie tiene el derecho de leer verdaderamente el libro mientras permanezca tal como simplemente es, es decir, si previa y simultáneamente no se transforma; o sea que es un libro para ninguno de todos nosotros tal como simplemente somos: un libro para todos y para ninguno, por lo tanto un libro que nunca puede ni debe simplemente «leerse».”
“En la época de Aurora, alrededor de 1881, apuntó (XI, 159):
«Lo nuevo de nuestra posición actual respecto de la filosofía es una convicción que ninguna época había tenido: que no tenemos la verdad. Todos los hombres anteriores <tenían la verdad>, incluso los escépticos.»”
«Profunda aversión a descansar de una vez por todas en alguna consideración global del mundo. Encanto del modo de pensar opuesto: no dejarse quitar el atractivo del carácter enigmático.» (La voluntad de poder, n. 470; 1885-1886)
“Zaratustra cuenta el enigma a bordo de un barco, en viaje hacia el mar abierto, «inexplorado». ¿Y a quién le cuenta el enigma? No a otros viajeros sino sólo a los marineros”
“Todo brilla para mí nuevo,
sobre espacio y tiempo duerme el mediodía:
Sólo tu ojo, inmenso,
me dirige la mirada, ¡oh, infinitud!”
«No sólo de un sol ha vivido el ocaso»
o eterno retorno da ponta italiana
do cocô nas calças e no chão
da risada de mofa e troça
da guerra de bolinha de isopor e das trincheiras
das velharias, cacarecos e do
campeonato de carros que nunca vai acabar
aos 44 do 1º e último turno
o cúmplice de outrora
é hoje o idiota que vigia seus passos
confio mais em qualquer úlcera
que neste sêm-pelos e escovado,
sorridente, esbranquiçado,
com seu mafioso suspensório de não-trabalhador
não dá trabalho não pensar
em nada
só cagar cagar cagar
na vida dos outros,
o que é muito pior
que cagar a sua
até a alma!
você é muito sujo e feio, ó anão!
ah não! ana nias… coma bananas
tome pílulas de entorpecimento…
para ver se cresce mais saudável
não force a vista
vamos assistir um chaves
e rir dos nossos irmãos mais velhos
o seu ímpeto sumiu em las vegas
com uma camisa da seleção brasileira
que tortura rebuscar
mas o pior é você
que nunca vai lembrar!
“Lo que para nosotros tiene el aspecto de dos callejones rectilíneos que se alejan uno de otro es en verdad el fragmento inmediatamente visible de un gran círculo que vuelve constantemente sobre sí.”
“En lugar de alegrarse de que el enano haya pensado su pensamiento, Zaratustra replica «encolerizado». O sea que el enano, en realidad, no ha comprendido el enigma; se ha tomado demasiado a la ligera la solución. Por consiguiente, no se piensa aún el pensamiento del eterno retorno de lo mismo con sólo representarse: «todo gira en círculo». En el pasaje de su libro sobre Nietzsche en el que caracteriza a la doctrina del eterno retorno de «engañoso y burlesco misterio de la locura», E. Bertram cita de modo admonitorio, es decir como una visión que estaría por encima del pensamiento del eterno retorno, una sentencia de Goethe. Ésta dice así: «Cuanto más se conoce, cuanto más se sabe, se reconoce que todo gira en círculo». Se trata precisamente del pensamiento del círculo tal como lo piensa el enano que, según las palabras de Zaratustra, se lo toma demasiado a la ligera, precisamente al no pensar el gigantesco pensamiento nietzscheano.”
“todo lo que en general puede ser tiene que haber sido ya como ente, pues en un tiempo infinito el curso de un mundo finito tiene que haberse completado necesariamente.”
“cuando la soledad habla, lo hace en el discurso de sus animales.”
Os animais só falam quando o homem fecha a matraca.
“En una ocasión Nietzsche dice (sept. 1888, Sils-Maria, al final de un prefacio perdido para El ocaso de los ídolos, en el que se habla retrospectivamente de Así habló Zaratustra y Más allá del bien γ de mal): «El amor a los animales: en todas las épocas se ha reconocido por ello a los ermitaños…» (XIV, 417).”
DIGRESSÕES NÃO-ANTROPOMÓRFICAS SOBRE O PROFETA ZARATUSTRA II
A águia não come a serpente. O alto não mata o baixo. O que voa não mata o que rasteja, pois precisa dele. É ele. O baixo é eterno, fechado em si mesmo. O alto tem até o que o homem não tem, é mais que homem, já não é homem. O veneno do baixo mata qualquer alto (e muitas vezes é indiferente a qualquer outro baixo). Mas há ocasiões em que o alto se põe inalcançável para suas garras – ó, o que digo, o baixo não tem garras, foi punido por Deus no começo de tudo! O começo que é cada dia, cada dia de mediocridade da massa… Ouroboros é cobra, leão e, claro, pássaro num só ao mesmo tempo. Ressurge rugindo em seus altos e baixos, em seus propósitos e despropósitos, dentro da caverna ou nos arredores dela…
“El orgullo es la madura decisión de mantenerse en el rango esencial propio que surge de la tarea, es la seguridad de ya-no-confundirse. Orgullo es el mantenerse arriba que se define desde la altura, desde el estar ariba, y es esencialmente distinto de la presunción y la arrogancia. Éstas precisan la relación con lo inferior como aquello de lo que se quisieran separar y de lo que siguen dependiendo, necesariamente, por la razón de que no tienen nada dentro de sí por obra de lo cual pudieran pretender estar arriba.”
“La serpiente es el animal más inteligente. Inteligencia significa dominio sobre un saber efectivo, sobre el modo en el que el saber en cada caso se anuncia, se retrae, pretende y cede y no cae en sus propias trampas. De esta inteligencia forma parte la fuerza de disimulación y transformación, no la simple y rastrera falsedad, forma parte el dominio sobre la máscara, el no abandonarse, el mantenerse en el trasfondo al jugar con lo que está en primer plano, el poder sobre el juego de ser y apariencia.”
“el águila y la serpiente no son animales domésticos, animales que se llevan a la casa y se habitúan a ella. Son ajenos a todo lo habitual y acostumbrado y a todo lo familiar en sentido mezquino. Estos dos animales son los que determinan la más solitaria soledad, que es algo diferente de lo que entiende por ella la opinión común; en efecto, ésta opina que la soledad nos libera y separa de todo; el punto de vista común piensa que en la soledad a uno «ya nada le molesta».”
Que meu conhecimento rasteje com minha depressão… Com minha gravidade…
“el gusano dormido que yace en el suelo como un extraño es la figura opuesta a la serpiente enroscada que con la vigilia propia de la amistad se eleva en anillos hacia lo alto describiendo amplios círculos. Cuando comienza a increpar a su pensamiento más abismal para que se levante, los animales de Zaratustra se asustan, pero el miedo no los hace retroceder sino que se acercan, mientras que alrededor todos los demás animales huyen. Sólo el águila y la serpiente permanecen. En la más pura soledad, se trata de llevar a la despierta luz del día lo que ellos mismos simbolizan.”
“Zaratustra no se pierde a sí mismo, sigue alimentando su orgullo y asegura la seguridad de su rango, aunque tenga que yacer abatido y la inteligencia no se preocupe por él, con lo que no puede darse a conocer a sí mismo su saber. «Bayas [baios; bagas] amarillas y rojas» le lleva el águila, entre otras cosas, y recordamos que anteriormente (3a parte, «Del espíritu de la gravedad») se aludía al «amarillo profundo y el rojo ardiente»; estos dos colores quiere tener juntos ante su vista el gusto de Zaratustra: el color de la más profunda falsedad, del error, de la apariencia, y el color de la suprema pasión, de la creación más abrasadora.”
“«El amarillo profundo» puede interpretarse también como el oro del «destello [centelha] de oro de la serpiente vita» (La voluntad de poder,n. 577), o sea «la serpiente de la eternidad» (XII, 426).”
“Tiene que ser un placer, entonces, lanzarse al mundo nuevo, porque todas las cosas brillarán ahora bajo la luz del nuevo conocimiento y querrán ser integradas en las nuevas determinaciones y, al hacerlo, darán al conocimiento una confirmación profunda y curarán a los que antes buscaban de la enfermedad del preguntar.”
«La soledad, necesaria por un tiempo, para que el propio ser se vuelva íntegro y compenetrado, completamente curado y duro. Nueva forma de la comunidad: que se afirma de manera belicosa. De lo contrario, el espíritu se vuelve mortecino. Nada de <jardines> y de mero <eludir las masas>. ¡Guerra (¡pero sin pólvora!) entre diferentes pensamientos!, ¡y sus ejércitos!» (XII, 368; 1882-1884)
“ese jardín no es el mundo —«el mundo es profundo»—: y más profundo de lo que nunca pensó el día» (III, «Antes de la salida del sol»)
«Las cosas mismas todas danzan para quienes piensan como nosotros»
“Quizás el discurso de los animales es sólo más brillante, más habilidoso y juguetón, pero en el fondo es lo mismo que el discurso del enano al que Zaratustra le replica que se lo toma demasiado a la ligera. En efecto, tampoco el discurso de sus propios animales, que le exponen su doctrina con las más bellas fórmulas, es capaz de engañar a Zaratustra”
“si todo retorna, toda decisión y todo esfuerzo y todo querer ir hacia adelante son indiferentes; que, si todo gira en círculo, nada vale la pena; que de esta doctrina sólo resulta el hastío y finalmente el no a la vida. También sus animales, a pesar del bello discurso sobre el anillo del ser, parecen en el fondo pasar danzando por encima de lo esencial. También sus animales parecen querer comportarse como los hombres: o bien se escapan como el enano, o bien simplemente miran y describen lo que pasa cuando todo gira; se acurrucan frente al ente [Jeca Tatu], «contemplan» su eterno cambio y lo describen con las más bellas imágenes. No presienten lo que allí ocurre”
“Cuando el gran hombre grita, el pequeño corre hacia él y tiene compasión. Pero toda compasión, nuevamente, yerra y queda fuera de lugar; su interés sólo hace que el sufrimiento se falsee y empequeñezca con pequeños consuelos y que se impida o retrase el verdadero conocimiento. La compasión no tiene la menor idea de en qué medida el sufrimiento, el supremo mal que ahoga, se mete en la garganta y hace gritar, es «necesario para el bien» del hombre.”
“Los dos callejones, futuro y pasado, no se chocan, corren uno detrás del otro.
Y sin embargo hay allí un choque. Pero sólo para quien no se queda en observador sino que es él mismo el instante, instante que actúa adentrándose en el futuro y, al hacerlo, no abandona el pasado sino que, por el contrario, lo asume y lo afirma. Quien está en el instante está girando en dos direcciones: para él, pasado y futuro corren uno contra otro.”
“Esto es lo más grave y lo propio de la doctrina del eterno retorno, que la eternidad es en el instante, que el instante no es el ahora fugaz, no es el momento que se desliza veloz para un observador, sino el choque de futuro y pasado. En él el instante accede a sí mismo. Él determina el modo en que todo retorna.”
«Pues cantar es apropiado para los convalecientes»
“Zaratustra, que ha superado la enfermedad, su disgusto por lo pequeño, al reconocer su necesidad.” “Por ello, la poesía, si ha de cumplir con su tarea, no puede ser nunca una cantilena [Leier] y un organillo. Todavía está por crearse la lira [Leier] que sirva de instrumento para el nuevo decir y cantar.”
“Sólo cuando el maestro de la doctrina se comprende a sí mismo desde ella, como una víctima necesaria, como aquel que tiene que vivir su ocaso porque es un tránsito, sólo cuando el que va hacia el ocaso se bendice así a sí mismo, sólo entonces alcanza su meta y su final.”
«En contra del valor de lo que permanece siempe igual (v. la ingenuidad de Spinoza, igualmente la de Descartes), el valor de lo más breve y pasajero, el seductor destello de oro en el vientre de la serpiente vita.»
“Zaratustra se ha convertido él mismo en héroe al haberse incorporado el pensamiento del eterno retorno con todo su contenido como el peso más grave. Es ahora el sabio que sabe que lo más grande y lo más pequeño se pertenecen mutuamente y retornan, que por lo tanto incluso la gran doctrina del anillo de los anillos tiene que convertirse en una cantilena de organillo, que ésta acompaña siempre a su verdadera anunciación. Es ahora alguien que marcha al mismo tiempo al encuentro de su supremo sufrimiento y de su suprema esperanza.”
“El velo del devenir es el retorno en cuanto verdad sobre el ente en su totalidad, y el sol de mediodía es el instante de la sombra más corta, la claridad más clara, la imagen sensible de la eternidad.”
“Se dice: después del Zaratustra, Nietzsche no supo ir adelante. Hay que considerar siempre un juicio de este tipo como una señal de que no el pensador sino sus sabihondos intérpretes no saben ir adelante y tapan su desconcierto más mal que bien con una necia pedantería.”
“El comienzo de Zaratustra es su ocaso, Nietzsche no ha pensado nunca una esencia diferente de Zaratustra.”
“Los «fragmentos postumos» no son una confusa y arbitraria mescolanza de notas escritas al azar que por casualidad no llegaron a la imprenta. Las notas son diferentes no sólo por su contenido sino también por su forma, o incluso por su falta de forma; surgen, en efecto, de temples de ánimo cambiantes y de múltiples propósitos y perspectivas, en unas ocasiones registrados fugazmente, en otras más elaborados, en unas ocasiones sólo ensayados en medio de dudas y tanteos, em otras logrados repentinamente al primer intento.” “No obstante, quien tenga sólo una vaga idea de las dificultades que presenta precisamente una publicación adecuada de la obra postuma de Nietzsche correspondiente a la última época (a partir de 1881), se abstendrá de hacer ningún reproche a los primeros y hasta ahora únicos editores por el procedimiento elegido. Por encima de las carencias de la edición actual, a los primeros editores les corresponde el mérito decisivo de habernos hecho accesibles los trabajos manuscritos dejados por Nietzsche en una versión legible; esto sólo lo podían hacer ellos, especialmente P. Gast, quien por haber colaborado durante años con Nietzsche en la preparación de sus manuscritos para la imprenta, estaba totalmente familiarizado con su escritura y sus variantes. De otro modo, mucho de lo que hay en los difícilmente legibles manuscritos, y con frecuencia lo más importante, estaría hoy cerrado para nosotros.”
“al pensar Nietzsche su pensamiento fundamental, lo «poético» es tan «teórico» como lo «teórico» en sí mismo «poético». Todo pensar filosófico, y especialmente el más estricto y prosaico, es en sí mismo poético, y a pesar de ello no es nunca una obra poética. A la inversa, una obra poética puede ser —como los himnos de Hölderlin— pensante en grado sumo, y a pesar de ello no es nunca filosofía. El Así habló Zaratustra de Nietzsche es poético en grado sumo, y sin embargo no es una obra de arte sino «filosofía». Puesto que toda efectiva filosofía, es decir toda gran filosofía, es en sí misma pensante-poética, la distinción entre «teórico» y «poético» no puede servir para distinguir notas filosóficas.”
“Infinita importancia de nuestro saber, nuestro errar, nuestras costumbres, nuestros modos de vida, para todo lo venidero. ¿Qué haremos con el resto de nuestras vidas, nosotros que hemos pasado la mayor parte de ella en la ignorancia mas esencial? Enseñaremos la doctrina, es el medio más fuerte para incorporarla nosotros mismos. Nuestro tipo de bienaventuranza como maestros de la mayor doctrina.”
Esboço da época de Gaia Ciência e Assim Falou…
“«¿Qué haremos con el resto de nuestra vida?». Se trata, por lo tanto, de un corte decisivo de la vida, que separa lo anterior (lo transcurrido) del «resto» que aún queda. Evidentemente, el corte es provocado por el pensamiento del eterno retorno, que todo lo transforma. No obstante, lo que se encuentra antes de este corte y lo que le sigue no están separados de manera cuantitativa. Lo ocurrido antes no queda apartado. El punto 5 está precedido de otros cuatro y el 4 termina con la indicación: «transición». Por muy nueva que sea, la doctrina del eterno retorno no sale del vacío sino que está sujeta a una «transición».”
“Si el pensamiento del eterno retorno de todas las cosas no te subyuga, no es culpa tuya; ni tampoco es un mérito si lo hace. Pensamos de todos nuestros antepasados de modo más indulgente de lo que ellos lo hacían, lamentamos los errores que habían incorporado, no su maldad.”
Mais do espólio
“¿O no será esta distinción entre «metafísico» y «existencial», aun suponiendo que sea en sí misma clara y sostenible, tan poco adecuada respecto a la filosofía de Nietzsche como lo era la que se establecía, en otro sentido, entre su carácter teórico-prosaico y su carácter poético?”
“Zaratustra, nacido a orillas del lago Urmi, abandonó su patria a los treinta años, se dirigió a la provincia de Aria y, en los diez años que duró su soledad en las montañas, compuso el Zend-Avesta” [Bem e Mal]
O que são dez anos¿
“«mediodía y eternidad»: ambos son conceptos y nombres para el tiempo, si tenemos en cuenta que también la eternidad sólo la pensamos a partir del tiempo.”
“Este proyecto escoge las supremas determinaciones temporales como título para una obra que tiene que tratar del ente en su totalidad y de la vida nueva. Cómo se piensa el ente en su totalidad está también indicado en la imagen: la serpiente, el animal más inteligente, la «ser-piente de la eternidad» yace enroscada en la luz de mediodía del sol del conocimiento. Una imagen grandiosa, ¡cómo puede decirse que no es poético! Evidentemente lo es, pero sólo porque está profundamente pensado, y está pensado así porque el proyecto de aquello dentro de lo cual ha de comprenderse y elevarse al saber el ente en su totalidad se arriesga aquí más lejos que nunca, pero no para penetrar en el espacio sin aire ni luz de una «especulación» vana sino para internarse en el ámbito central de la trayectoria del hombre.”
“<Muertos están todos los dioses: ahora queremos que viva el superhombre>;
¡que ésta sea alguna vez, en el gran mediodía, nuestra
última voluntad!
Así habló Zaratustra.”
“Por eso, si hay algo así como una catástrofe en la creación de los grandes pensadores, ésta no consiste en que fracasen y no puedan seguir adelante sino precisamente en que van adelante, es decir, en que se dejan determinar por el efecto inmediato de su pensamiento, que es siempre un efecto desviado. Lo funesto es siempre el seguir «adelante», en lugar de quedarse atrás em la fuente del propio inicio.”
“La incomprensión que hace del pensamiento del eterno retorno una «teoría» con posteriores consecuencias prácticas vio facilitada su aceptación por el hecho de que las notas de Nietzsche que debían proporcionar una «exposición y fundamentación» hablan un lenguaje «científico-natural». Nietzsche recurre incluso a obras científico-naturales, físicas, químicas y biológicas de aquella época y em cartas de esos años habla de planes de estudiar ciencia natural y matemáticas en una gran universidad. Todo eso confirma de modo suficientemente claro que el propio Nietzsche tomaba en consideración un «aspecto científico-natural» dentro de la doctrina del eterno retorno.”
«La totalidad de nuestro mundo es la ceniza de innumerables seres vivientes: y aunque lo viviente sea tan poco en comparación con el conjunto, todo ya ha sido alguna vez transformado en vida, y así continuará siendo.» (XII, 112)
«Guardémonos de decir que la muerte se opone a la vida. Lo viviente sólo es una especie de lo muerto, y una especie muy rara.»
“la física, en cuanto física, no puede jamás pensar la fuerza como fuerza.”
“con el cálculo está puesta la racionalidad. Una física que pretenda ser utilizable técnicamente y que al mismo tiempo quiera ser irracional es un contrasentido.
A LINGUAGEM DA ESPERANÇA UNIVERSAL
«Si se hubiera alcanzado alguna vez un equilibrio de la fuerza, duraría aún hoy: por lo tanto no ha sucedido nunca.» (n. 103)
«El espacio sólo ha surgido gracias a la suposición de un espacio vacío. Éste no existe.Todo es fuerza.» (n. 98)
«la fuerza es eternamente igual y eternamente activa.» (n. 90)
“Vistas en conjunto, las reflexiones de Nietzsche sobre el espacio y el tiempo son muy escasas, y los pocos pensamientos acerca del tiempo, que apenas si van más allá de lo tradicional, son discontinuos: la prueba más infalible de que la pregunta por el tiempo respecto del despliegue de la pregunta conductora de la metafísica, y con ello también ésta misma en su origen más profundo, le permanecieron cerradas.”
“del eterno fluir de las cosas, una concepción que Nietzsche, junto con la tradición usual, consideraba falsamente como de Heráclito; nosotros la llamaremos, más correctamente, pseudo-heraclítea.”
“Larepresentación de la totalidad del mundo como «caos» tiene para Nietzsche la función de rechazar una «humanización» del ente en total. Humanización es tanto la explicación moral del mundo a partir de la resolución de un creador como la correspondiente explicación técnica a partir de la actividad de un gran artesano (demiurgo). (…) Pero también hay humanización si hacemos de la irracionalidad un principio del mundo.”
«¡Atribuir al ser un <sentimiento de autoconservación>! ¡Qué delirio! ¡Atribuir a los átomos una <tendencia al placer y al displacer>!» (XII, n. 101).
“En el ente tampoco hay «metas», ni «fines», ni «propósitos», y si no hay fines también está excluido lo que carece de fin, lo «contingente».”
«Guardémonos de creer que el universo tiene la tendencia de alcanzar ciertas formas, de que quiere ser más bello, más perfecto, más complicado. ¡Todo eso no es más que humanización! Anarquía, feo, forma, son conceptos impropios.» (XII, n. 111)
«La suposición de que el universo es un organismo contradice la esencia de lo orgánico.» (XII, n. 93; La gaya ciencia, n. 109)
«¿Cuándo dejarán de oscurecernos todas estas sombras de Dios? ¡Cuándo habremos desdeificado totalmente la naturaleza! ¡Cuándo nosotros, los hombres, podremos comenzar a naturalizarnos junto con la naturaleza pura, con la naturaleza nuevamente encontrada y redimida!»
“en la desdeificación más extrema el pensamiento verdaderamente metafísico presiente un camino, únicamente en el cual los dioses, si acaso es otra vez posible en la historia del hombre, saldrán al encuentro.”
“Lo que aquí hace Nietzsche respecto de la totalidad del mundo es una especie de «teología negativa» que trata de captar de la manera más pura posible lo absoluto manteniendo alejada toda determinación «relativa», es decir, referida al hombre.”
“¿O será quizás «la nada» la más humana de todas las humanizaciones? A este extremo tenemos que llegar com nuestro preguntar para divisar el carácter único que tiene la tarea que se nos presenta, la de determinar el ente en su totalidad.”
ESTAMOS INCLUÍDOS ENTRE OS FÓSSEIS EXUMADOS: “o bien uno duda y desespera de toda posibilidad de verdad y se toma todo como un juego de representaciones; o bien uno se decide, en un acto de fe, por una intepretación del mundo, siguiendo el principio de que una es mejor que ninguna” “o bien uno se acomoda a la situación y se mueve con la aparente superioridad de quien duda de todo, no se compromete con nada y quiere preservar su tranquilidad; o bien uno logra olvidar la humanización y con ello se la considera eliminada, consiguiendo de este modo su tranquilidad. Así pues, siempre que la objeción de la humanización se toma como algo insuperable se cae en la superficialidad, por mucha que sea la facilidad con que estas reflexiones se dan la apariencia de ser sumamente profundas y, sobre todo, «críticas». ¡Qué revelación se produjo hace dos décadas (1917) para todos los que no estaban familiarizados con el pensamiento real y su rica historia cuando Spengler creyó haber descubierto por primera vez que toda época y toda cultura tienen su visión del mundo! Y sin embargo no era más que una hábil e ingeniosa popularización de ideas y cuestiones que ya habían sido pensadas con mayor profundidad hacía tiempo —y en último lugar por parte de Nietzsche—, aunque de ninguna manera hubieran sido resueltas y no lo hayan sido hasta hoy. La razón de ello es tan simple como de peso y difícil de pensar.”
“Hablar de humanización sin haber decidido, es decir, sin haber preguntado quién es el hombre, no es, em efecto, más que palabrerío, y lo seguirá siendo aunque se acuda para ilustrarlo a toda la historia universal y a las más antiguas culturas de la humanidad, que nadie está en condiciones de comprobar. O sea que para tratar la objeción de humanización, tanto su afirmación como su rechazo, de un modo que no sea superficial y sólo aparente hay que recoger en primer lugar la pregunta: ¿quién es el hombre? Porque la pregunta por quién es el hombre no es tan inofensiva ni es posible despacharla de la noche a la mañana; si han de mantenerse las posibilidades de preguntar de la existencia, esta pregunta es la tarea futura de Europa en este siglo y en el próximo.”
“sigue abierta la pregunta de si la determinación de la esencia del hombre lo humaniza o lo deshumaniza. Cabe la posibilidad de que llevar a cabo la determinación de la esencia del hombre sea siempre y necesariamente una cosa del hombre y por lo tanto humana, pero que la determinación misma, su verdad, eleve al hombre más allá de sí mismo y por lo tanto lo ¿«humanice, otorgando de este modo una esencia diferente también a la realización humana de la determinación esencial del hombre.”
“Quien en otros tiempos tuvo una vez la ocurrencia de decir que la ciencia sólo podía afirmar su esencia si la recuperaba desde un preguntar originario, tiene que aparecer en esta situación como un loco y un destructor de «la» ciencia; en efecto, preguntar por los fundamentos provoca un agotamiento interior y es un procedimiento para el que se encuentra disponible el efectivo nombre de «nihilismo». Pero este fantasma ya ha pasado, ahora hay tranquilidad y los
estudiantes —se dice— quieren de nuevo trabajar. El filisteísmo general del espíritu puede volver a empezar. «La ciencia» no tiene la menor idea de que su pretensión de práctica inmediata no sólo no excluye la meditación filosófica sino que, por el contrario, en esse instante de sumo aprovechamiento práctico de la ciencia surge la suma necesidad de meditación sobre aquello que jamás puede evaluarse por su utilidad y provecho inmediato, aquello que lleva la inquietud suma a la existencia, inquietud no en el sentido de perturbación y confusión sino en el de despertar y mantenerse en vigilia, por oposición a la quietud de la somnolencia filosófica, que es el auténtico nihilismo. Pero sin lugar a dudas, si se calcula de acuerdo con la comodidad, resulta más fácil cerrar los ojos ante sí mismo y esquivar el peso de las preguntas, aunque más no sea con la excusa de que no se tiene tiempo para esas cosas.
Extraordinaria época del hombre en la que nos movemos desde hace décadas, un tiempo en el que no se tiene tiempo para la pregunta acerca de quién es el hombre. Con la descripción científica de los hombres actuales y pasados no puede llegar a saberse jamás quién es el hombre. Este saber tampoco puede provenir de una fe para la que todo saber es de antemano y necesariamente una necedad y algo «pagano». Este saber sólo surge de una originaria actitud cuestionante.”
“Pero se nos había dicho que el ente en su totalidad sólo recibe su interpretación por parte del hombre, y ahora resulta que el hombre mismo tiene que ser interpretado desde el ente en su totalidad. Aquí todo gira en círculo. Efectivamente. La cuestión es precisamente si se consigue, y de qué modo, tomarse en serio este círculo, en lugar de cerrar continuamente los ojos ante él.”
“La objeción de humanización, por muy evidente que sea y por más que pueda ser groseramente manipulada con facilidad por cual quiera, carece de validez y de fundamento en tanto no sea ella misma retrotraída al preguntar de la pregunta acerca de quién es el hombre, pregunta que ni siquiera puede ser planteada, y mucho menos respondida, sin la pregunta acerca de qué es el ente en su totalidad. Esta pregunta, sin embargo, encierra en sí otra aún mas originaria, otra pregunta que ni Nietzsche ni la filosofía anterior a él jamás han desplegado [desdobrado] o podido desplegar.”
“La referencia a la conexión esencial entre «ser» y «tiempo» ha despertado la atención. Se plantea entonces la siguiente cuestión: si la doctrina nietzscheana del eterno retorno de lo mismo se refiere a la totalidad del mundo, o sea al ente en su totalidad [o sendo enquanto sempre sendo]—en cuyo lugar se dice, sin ninguna distinción, «el ser» [passado e futuro da espécie e do indivíduo]—y si la eternidad y el retorno, en cuanto ruptura de pasado y futuro, deben tener que ver con el «tiempo», entonces es posible que la doctrina del eterno retorno de lo mismo tenga, a pesar de todo, alguna importancia, y que no debamos como hasta ahora que pasar por alto las demostraciones como proyectos fracasados.”
“Si el devenir finito que transcurre en ese tiempo infinito hubiera podido alcanzar una situación de equilibrio, en el sentido de una situación de estabilidad y quietud, ya la tendría que haber alcanzado hace mucho, pues las posibilidades del ente, finitas por su número y su tipo, tienen necesariamente que acabarse y que haberse acabado ya en un tiempo infinito. Puesto que no existe una situación de equilibrio tal en forma de un estado de quietud, essa situación no ha sido alcanzada nunca; es decir, aquí: no puede existir en absoluto. Por lo tanto, el devenir del mundo, al ser finito y al mismo tiempo volver sobre sí, es un devenir constante, es decir, eterno. Pero puesto que este devenir del mundo, en cuanto devenir finito, acontece constantemente en un tiempo infinito, y puesto que no acaba una vez que ha agotado sus posibilidades finitas, desde entonces ya tiene que haberse repetido, más aún, tiene que haberse repetido un infinidad de veces y seguirse repitiendo del mismo modo en el futuro. Dado que la totalidad del mundo es finita en cuanto a las formas de su devenir, pero a nosotros nos resulta prácticamente inconmensurable, las posibilidades de variación de su carácter general son sólo finitas, pero para nosotros tienen siempre la apariencia de infinitud, puesto que son inabarcables, y por lo tanto la apariencia de algo siempre nuevo.”
“cada proceso, en su vuelta atrás, arrastra todo lo pasado, y, al actuar hacia adelante, simultáneamente lo empuja. Esto implica: todo proceso del devenir tiene que volver a traerse a sí mismo; él y todo lo demás retorna como lo mismo.”
“La ciencia natural usa necesariamente una cierta representación de la fuerza, el movimiento, el espacio y el tiempo, pero jamás puede decir qué son la fuerza, el movimiento, el espacio y el tiempo, porque no puede preguntar esto mientras siga siendo ciencia natural y no franquee de improviso el paso a la filosofía.” “Precisamente porque se precisa en tal medida a la química y a la física, la filosofía no se ha vuelto superflua sino aún más necesaria —en un sentido más profundo de necesidad— que, por ejemplo, la química misma, porque ésta, dejada sola, se consume a sí misma; el hecho de que este proceso de posible devastación requiera 10 o 100 años y sólo entonces se vuelva visible a los ojos corrientes, carece de importancia para lo esencial que se trata aquí de rechazar desde su base.”
“O bien se considera posible la exclusión de toda humanización, y entonces tiene que poder haber algo así como el punto de vista de la falta de punto de vista; o bien se reconoce al hombre en su esencia de estar en el ángulo, y entonces hay que renunciar a una captación no humanizadora de la totalidad del mundo. ¿Qué decisión toma Nietzsche ante esta disyuntiva, que difícilmente puede habérsele escapado puesto que sería él quien habría de contribuir en parte a desarrollarla? Se decide a favor de las dos opciones, tanto de la voluntad de deshumanización del ente en su totalidad como de la voluntad de tomarse en serio la esencia del hombre como un «estar en el ángulo». Nietzsche se decide en favor de la unión de ambas voluntades. Exige al mismo tiempo la suprema humanización del ente y la extrema naturalización del hombre. Sólo quien penetra hasta esta voluntad pensante de Nietzsche tiene alguna idea de su filosofía.”
«La historia futura: este pensamiento triunfará cada vez más, y los que no crean en él, finalmente, por su naturaleza, tendrán que extinguirse.» (n. 121)
«Esta doctrina es clemente con los que no creen en ella, no tiene infiernos ni amenazas. El que no cree tiene una vida fugaz en su conciencia.» (n. 128)
«¡Para el pensamiento más potente se precisam muchos milenios; durante mucho, mucho tiempo tiene que ser pequeño e impotente!» (n. 130)
«Él [el pensamiento del eterno retorno] deberá ser la religión de las almas más libres, más alegres y más sublimes, ¡una deliciosa pradera entre el hielo dorado y el cielo puro!»
“un tenerse [Sichhalten] en el doble sentido de tener un sostén yde mantener una actitud.”
«Vosotros, que os mantenéis en pie por vosotros mismos, tenéis que aprender a poneros de pie vosotros mismos, o si no caeréis.» (XII, 250, n. 67)
«’Ya no creo en nada’, éste es el modo de pensar correcto de un hombre creador»(XII, 250, 68).
“En general, esta sentencia es tomada como testimonio de «escepticismo absoluto» y «nihilismo», de duda y desesperación respecto de todo conocimiento y todo orden, y por lo tanto como un signo de huida ante toda decisión y toma de posición, como expresión de esa actitud negativa para la cual ya nada vale la pena. Pero aquí, no creer y no-tener-por-verdadero significan otra cosa, significan no recoger directamente y sin más lo previamente dado, rehuyendo así toda inquietud y cerrando los ojos ante la propia comodidad bajo la apariencia de una supuesta decisión.
¿Qué es lo verdadero, según la concepción de Nietzsche? Es lo fijado en el continuo flujo y cambio de lo que deviene, lo fijado a lo que los hombres tienen que —y también quieren—mantenerse fijos, lo fijo con lo que trazan un límite a todo preguntar y a toda nueva inquietud y alteración; de este modo consigue el hombre consistencia para su propia vida, aunque sea la consistencia de lo usual y dominable, como protección ante cualquier inquietud y como consuelo de su quietud [na corda do equilibrista].”
«Todo crear es comunicar. El hombre del conocimiento, el creador, el amante, son uno.» XII, 250(…)
“La esencial falta de necesidad de la creación de que se le agregue posteriormente una finalidad puede tomar la apariencia de un mero juego sin finalidad, de l’art pour l’art”
“Nietzsche busca la figura de un hombre que, en la transformada unidad de esa alterada tríada, sea al mismo tiempo el que conoce, el que crea y el que dona. Este hombre futuro es el propiamente dominante, el que se ha vuelto señor del último hombre, de manera tal que éste desaparece. Esto significa que el dominador no se comprenderá ya por oposición a él, lo que todavía sigue sucediendo mientras el hombre futuro tenga que comprenderse partiendo del último hombre, como super-hombre, es decir como transición. El que domina, esa unidad del que conoce, el que crea y el que ama, es, desde su fundamento más propio, algo totalmente diferente.” “¿Qué puede aún significar, en ese anillo, actuar, planear, tomar una resolución, en una palabra, la «libertad»? Eneste anillo de la necesidad, la libertad es tan superflua como imposible. Pero con ello se reniega de la esencia del hombre, y se niega incluso la posibilidad de su esencia.” Invertir la rueda, ¡que inesencial!
«Mi doctrina dice: vivir de manera tal que tengas que desear vivir nuevamente, ésa es la tarea; ¡de todos modos lo harás!»
“La mención que hace el pensamiento remite así al «ser-ahí» en cada caso propio. En él y a partir de él debe decidirse lo que es y lo que será, puesto que lo que deviene es sólo lo que retorna, lo que ya fue en mi vida.” “Por el contrario: representarse simplemente que uno es un transcurrir de procesos y, encadenado a él, un eslabón [elo] de una serie de sucesos que vuelven siempre a ocurrir en una monotonía circular y sin fin, representarse así quiere decir no estar cabe sí mismo [?], no ser en el modo de ese ente que, en cuanto tal[,] pertenece a la totalidad del ente; representarse así al hombre significa, en medio de todo el cálculo, olvidarse de él como un sí mismo, como quien al hacer un recuento de los presentes se olvida de contarse a sí mismo.”
“También aquí, como en tantos otros aspectos esenciales, Nietzsche no desarrolló su doctrina y dejó más de un punto en la oscuridad; no obstante, ciertas alusiones evidencian contínuamente que lo que había experimentado y sabía respecto de este pensamiento era mucho más que lo que aparece en sus notas y, por supuesto, que lo publicado.”
“Aquí se muestran de manera aún más clara las dos visiones posibles: considerar y decidir nuestras referencias al ente en su totalidad desde nosotros mismos, desde el tiempo experimentado propiamente [1] en cada caso, o bien salir de este tiempo de nuestra temporalidad para, sirviéndonos sin embargo de este mismo tiempo, dar cuenta del todo por medio de un cálculo infinito [2]. El tiempo intermedio entre cada retorno tiene en cada uno de los casos una medida diferente. Visto desde la temporalidad propia [1], desde la temporalidad que nosotros experimentamos, entre el final de un transcurso vital y el comienzo del otro no hay ningún tiempo (cfr. Aristóteles,Física, IV, 10-14), mientras que calculado «objetivamente», la duración no es ni siquiera captable [2] con billones de años. ¿Pero qué son billones de años si se toma corno medida la eternidad, es decir, a la vez, el instante de una decisión?”
[1] A falta de um abismo – “existencialismo clássico” do século XX. Antropoformismo no acme.
[2] Um grão de poeira que assujeita todas as coisas, inclusive o trono vermelho e dourado reluzente no centro dos centros das galáxias… O cúmulo da ninguendade. Eclesiastes.
[1]+[2]=muito mais que [3]!
Eram 7 vezes um nanico que trabalhava na mina e conheceu dúzias de princesas dorminhocas avarentas…
“Pero este pensamiento del eterno retorno es para la vida el más difícil de pensar, porque con él le resulta precisamente más fácil extraviarse respecto de sí misma en cuanto creadora y hundirse en dejar que todo simplemente pase y se deslice. En la frase citada se muestra que el eterno retorno surge de la esencia de la vida y con ello se lo sustrae de antemano de la arbitrariedad de ser una ocurrencia o una «profesión de fe personal». Desde aquí puede verse también la relación que mantiene la doctrina del eterno retorno de lo mismo, en cuanto constante devenir, con la antigua doctrina, usualmente llamada heraclitea, del eterno fluir de todas las cosas.” “Es ciertamente indiscutible que Nietzsche se sentía cercano a la doctrina de Heráclito, entendida ésta en el modo en que él la veía, juntamente con sus contemporáneos. En especial alrededor del año 1881, inmediatamente antes de la aparición del pensamiento del eterno retorno, habla con frecuencia del «eterno fluir de todas las cosas» (XII, 30, n. 57); incluso llama a la doctrina «del fluir de las cosas» «la verdad última» (n. 89), aquella que no soporta ya que se la incorpore. Esto quiere decir: la doctrina del eterno fluir de todas las cosas, en el sentido de una permanente falta de existencia consistente, no puede ya ser tenida por verdadera; en ella el hombre no puede sostenerse como en algo verdadero porque quedaría entregado a la inconsistencia, al cambio sin fin y a la total destrucción, ya que entonces es imposible algo firme y por lo tanto verdadero.”
“el pensamiento del eterno retorno de lo mismo fija el eterno fluir; esta última verdad queda ahora incorporada (cfr. los primeros planes, 1881). Desde aquí se muestra por qué se hablaba entonces de «incorporación» con tanto énfasis. Ahora, en cambio, la doctrina del eterno fluir de las cosas queda superada junto con su esencia destructiva. A partir de la doctrina del eterno retorno el «heraclitismo» de Nietzsche resulta en general algo bastante peculiar.”
«Os enseño la redención del eterno fluir: el río retorna siempre a sí en su fluir, y vosotros, los mismos, descendéis siempre en el mismo río.» Nota 723, contemporânea à criação do Zaratustra
“El devenir es conservado como devenir, y sin embargo se introduce en el devenir la consistencia, es decir, entendido de modo griego, el ser.”
«¿No lo sabes? En cada acción que haces está reproducida y abreviada la historia de todo acontecer.» (n. 726)
«Un proceso infinito no puede ser pensado de ninguna otra manera que como periódico.»(n. 727)
«La doctrina del eterno retorno le sonreirá en primer lugar a la chusma que vive con frialdad y sin gran necesidad interior. El impulso de vida más vulgar será el primero en darle su apoyo. Una gran verdad sólo conquista en último término a los hombres más elevados: éste es el sufrimiento de los veraces.»(n. 730; cfr. n. 35)
“¿Pero qué pasa con lo que Nietzsche ha pensado y escrito perono comunicado en el período que va de 1884 a 1888?
El conjunto de lo no publicado proveniente de este período es muy grande y está repartido en los tomos XIII, XIV, XV y XVI; pero tenemos que agregar de inmediato que lo está en una forma que desorienta y que ha llevado por caminos profundamente equivocados a la interpretación de la época decisiva de la filosofía de Nietzsche, suponiendo que pueda hablarse realmente de una interpretación, es decir de una confrontación a la luz de la pregunta fundamental de la metafísica occidental.La razón principal del equívoco está en un hecho que se acepta con demasiada obviedad.”
“Nietzsche había planeado como título de la obradurante un cierto tiempo, préstese atención, sólo durante un cierto tiempo (1886-1887): «La voluntad de poder».Incluso se la nombra explícitamentecon ese título, empleando caracteres especiales, en La genealogía de la moral,aparecida en 1887 (VII, 480, n. 27), en cuyasolapa [aba, lapela] aparece también anunciada. Esta obra, sin embargo, no sólo no fue nunca publicada por Nietzsche, sino que tampoco llegó nunca atener la forma de una obra, la forma que Nietzsche le hubiera dado auna obra de este tipo. Tampoco quedó incompleta en el camino de su realización, sino que hay simplemente fragmentos sueltos.”
“Desde la intervención de los editores de la obra postuma, quehan publicado una obra titulada La voluntad de poder,existe falsamente una obra —más aún, una obra capital— de Nietzsche: «La voluntad de poder».En verdad, se trata de una selección arbitraria denotas de los años 1884 a 1888, en las que el pensamiento de la voluntadde poder pasa a un primer plano sólo por momentos; e inclusorespecto de esto hay que preguntarse aún de qué modo y por quépasa a un primer plano. Con esta arbitraria selección, que ciertamente busca un apoyo en planes muy aproximativos del propio Nietzsche, queda predeterminada de antemano la concepción que se tiene de la filosofía nietzscheana de este período. En manos de sus expositores, la auténtica filosofía de Nietzsche se convierte de pronto en «filosofía de la voluntad de poder». Los editores del libro «La voluntad de poder»,que trabajaban con más cuidado que sus posterioresusuarios y expositores, no podían pasar por alto, sin embargo, queen las notas de Nietzsche también hace oír su voz la doctrina deleterno retorno; por ello, y siguiendo el hilo conductor de un plan del mismo Nietzsche, la incorporaron en su propia recopilación.”
“En este período hayactividad alrededor del plan para la obra capital, pero no se encuentraninguna huella del título «La voluntad de poder». Por el contrario, los títulos rezan: «El eterno retorno» (1884), en tres planes diferentes del mismo año; «Mediodía y eternidad. Una filosofía del eterno retorno» (1884); o, transformando en título el subtítulo anterior, «Filosofía del eterno retorno» (1884).
Del año 1885 se encuentra, en cambio, la nota: «La voluntad depoder. Intento de una interpretación de todo suceder». El prólogodebía tratar «sobre la amenazante ‘falta de sentido’» y el «problema del pesimismo». Muy pronto, cuando hablemos del «ámbito» de ladoctrina del eterno retorno, comprenderemos que de este modotodo el plan, que no habla del eterno retorno como tal, queda colocado, sin embargo, bajo el dominio de este pensamiento.”
“el quinto punto, que lleva el título: «La doctrina del eterno retornocomo martillo en la mano del hombre más poderoso».”
“¿qué hay oculto en realidad detrás de esta diferencia entre el eterno retorno en cuanto «pensamiento más grave» y la voluntad de poder en cuanto «hecho último»? Mientras no retrocedamos con nuestro preguntar hacia este ámbito fundante quedaremos presos de las palabras y no iremos más allá de un cálculo extrínseco del pensar de Nietzsche.”
“El plan de 1886 está titulado «La voluntad de poder. Intento deuna transvaloración de todos los valores». El subtítulo expresa lo quela meditación sobre la voluntad de poder tiene que realizar: una transvaloración de todos los valores. Por «valor» entiende Nietzsche aquello que es condición de la vida, es decir del acrecentamiento de la vida. Transvaloración de todos los valores significa poner para lavida, para el ente en su totalidad, una nueva condición por medio dela cual la vida vuelva a sí misma, es decir, sea impulsada más allá de síy de ese modo se torne posible en su verdadera esencia. La transvaloración no es otra cosa que lo que tiene que llevar a cabo el peso más grave, el pensamiento del eterno retorno. Por eso, el subtítulo, que señala cuál es el contexto más amplio al que pertenece la voluntad de poder, podría ser, al igual que en el año 1884: «Unafilosofía del eterno retorno» (XVI, 414, 5).”
“En el libro primero, «El peligro de los peligros», la cuestión apunta nuevamente a la amenazadora «falta de sentido», también podríamos decir al hecho de que todas las cosas pierden su peso.”
Nazismo – Ingá
(-o último grito do último homem, que não consegue passar-)
Filosofia Futura – identidade de Rafael com uma missão (ser-escritor)
Zaratustra passa a ser apreciado da forma correta
“El nihilismo es el acaecimiento de la desaparición de todo pesode todas las cosas, el hecho de la falta de un peso grave. Pero esta faltasólo se vuelve visible y experimentable cuando es sacada a la luz enel preguntar por un nuevo peso. Visto desde allí, el pensar del pensamientodel eterno retorno es, en cuanto preguntar que remite continuamentea una decisión, el acabamiento del nihilismo. Este pensarpone un fin al ocultamiento y disimulación de aquel acaecimiento,pero lo hace de manera tal que se convierte, al mismo tiempo, en eltránsito hacia una nueva determinación del mayor de los pesos.”
“Los títulos de la última parte varían: «Los inversos. Su martillo, ‘La doctrina del eterno retorno’» (425); «Liberación de la incertidumbre» (426); «El arte curativo del futuro» (427).” “Los títulos del libro cuarto son ahora los siguientes: «La liberación del nihilismo»; «Dionysos. Filosofía del eterno retorno»; «Dionysos philosophos»; «Dionysos. Filosofía del eterno retorno».”
“La cuestión del nihilismo y del pensamiento del eterno retorno tratada en el libro primero requiere una discusión aparte.”
“La voluntad de poder sería así el fundamento real del eterno retorno de lo mismo”
“La voluntad de poder es un «presupuesto» del eterno retorno delo mismo en la medida en que sólo desde la voluntad de poderpuede saberse qué quiere decir eterno retorno de lo mismo. Porqueel eterno retorno de lo mismo es, en cuanto a la cosa misma, elfundamento y la esencia de la voluntad de poder, ésta puede ponersecomo fundamento y punto de partida para llegar a ver la esencia deleterno retorno de lo mismo.”
“Ya sea que se distinga entre uncontenido «científico-natural» y un significado «ético» o, más ampliamente,entre una parte «teórica» y una «práctica», o que se sustituyaesa distinción por la hoy más en boga, pero de ninguna maneramás clara, entre sentido «metafísico» y fuerza de apelación «existencial»,en cualquier caso se muestra una huida hacia una dualidad, ningunade cuyas partes es por sí adecuada, lo que constituye el signo de unaperplejidad creciente, pero no admitida. De esta manera, no se poneal descubierto lo esencial y lo más propio sino que se lo troca inmediatamenteen otros modos de representación hace tiempo usuales yya desgastados. Lo mismo sucede con las distinciones que en unadirección diferente se hacen entre una exposición «poética» y unaexposición «prosaica» de la doctrina o entre una parte «subjetiva» yuna «objetiva». Se ha ganado ya algo importante si se advierte, aunquesea a partir de una experiencia aún poco determinada y segurade la «doctrina», que tales criterios de interpretación son cuestionables y obstruyen nuestra mirada.”
“la forma que se buscaa sí misma. Los tres títulos se refieren a la totalidad de esta filosofía, yninguno de ellos acierta con ella totalmente, porque la forma de estafilosofía no se deja constreñir a una vía única. (…) el propio Nietzscheveía posibilidades claras de llegar a una forma, pues sin esta visiónresultaría incomprensible la seguridad con la que la actitud fundamentalaparece a través de los múltiples planes. (…) Para acercarnos a la meta, o mejor aún, para llegar a descubrir cuál es la meta, tenemos que elegir un camino provisorio que al mismo tiempo nos evite el peligro de la vacuidad tópica de lostítulos.
Lo que se busca es la estructuración interna de la verdad delpensamiento del eterno retorno de lo mismo en cuanto pensamientofundamental de la filosofía de Nietzsche. La verdad del pensamientose refiere al ente en su totalidad. Pero puesto que, por suesencia, el pensamiento quiere ser el peso más grave y, de este modo,determinar el ser hombre, y por lo tanto a nosotros mismos, en mediodel ente, la verdad de este pensamiento sólo será verdad si esnuestra verdad.” “Los que piensan este pensamiento tampoco son nuncahombres cualesquiera que aparecen en cualquier lugar y cualquier momento. El pensar de este pensamiento tiene su muy propia necesidadhistórica y él mismo determina un instante histórico. Sólodesde ese instante surge la eternidad de lo pensado en ese pensamiento.” “Al nombrar el ente en su totalidad, «en su totalidad» debeentenderse siempre como una expresión interrogativa, como una expresióncuestionable, es decir que merece que se la cuestione”
“quizás toda filosofía sea uncontramovimiento frente a cualquier otra. En el pensamiento deNietzsche, sin embargo, el movimiento en contra tiene un sentidoespecial. Aquello en contra de lo que piensa no quiere rechazarlo paraponer algo diferente en su lugar. El pensamiento de Nietzsche quiereinvertir. Pero aquello a lo que se refiere la inversión y elcontramovimiento que así se forma no es una dirección cualquiera,pasada o incluso contemporánea, de alguna cierta filosofía, sino latotalidad de la filosofía occidental en la medida en que es el principioconformador en la historia del hombre occidental.
La totalidad de la historia de la filosofía occidental es interpretadacomo platonismo. La filosofía de Platón es la medida con la que seaprehende tanto la filosofía posplatónica como la preplatónica. Estamedida sigue siendo determinante mientras la filosofía ponga, para laposibilidad del ente en su totalidad y para el hombre en cuanto que esdentro de esa totalidad, determinadas condiciones de acuerdo con lascuales se acuña el ente. A lo que tiene validez en primera y últimainstancia, a aquello que es por lo tanto condición de la «vida» encuanto tal, Nietzsche lo denomina valor.Lo propiamente determinanteson los valores supremos. Así pues, si la filosofía de Nietzsche quiereser, en el sentido descrito, el contramovimiento que se enfrente a todala historia de la filosofía occidental hasta el momento, tendrá que dirigirsecontra los valores supremos establecidos en la filosofía.”
“Un contramovimiento de tal alcance y con tal pretensión tieneque ser también necesario. Lo que impulsa a él no puede basarse enuna opinión arbitraria acerca de lo que se trata de superar. Aquelloen contra de lo cual se quiere poner en acción el contramovimientotiene que valer la pena de que se lo haga. Por eso, en un contramovimientode este estilo se halla al mismo tiempo el mayor reconocimientodel contrario, se lo toma en serio de la manera más profunda.Esta apreciación supone, a su vez, que lo contrario ha sido radicalmente experimentado y pensado, es decir padecido, con todo supoder y todo su significado. El contramovimiento, en su necesidad,tiene que surgir de una experiencia originaria de este tipo y, al mismotiempo, permanecer enraizado en ella.”“En la experiencia del hecho del nihilismo se enraiza y palpitala totalidad de la filosofía de Nietzsche; pero al mismo tiempo,ésta conduce a aclarar por vez primera la experiencia del nihilismo ya hacerla cada vez más transparente en todo su alcance. Con el desplieguede la filosofía de Nietzsche crece conjuntamente la profundidadcon la que se comprende la esencia y el poder del nihilismo, yse acrecienta el estado de necesidad y la necesidad de su superación.”
“La nada es —tomada formalmente— la negación de algo, másprecisamente, de todo algo. Todo algo constituye el ente en su totalidad.La posición de la nada es la negación del ente en su totalidad.De acuerdo con ello, el nihilismo contiene, explícita o implícitamente,la siguiente doctrina fundamental: el ente en su totalidad esnada. Sin embargo, precisamente esta proposición puede entendersede un modo tal que Nietzsche habría puesto reparos en tomarlacomo expresión del nihilismo.”
“Cuando Hegel, enel comienzo de su metafísica general (Ciencia de la lógica),pronuncia lafrase: «Ser y nada son lo mismo», esto puede expresarse fácilmente en la forma: el ser es la nada. Pero esta frase hegeliana tiene tan poco de nihilismoque precisamente contiene, en el sentido de Nietzsche, algo de esa «grandiosa iniciativa» (La voluntad de poder, n. 416) del idealismo alemán porsuperar el nihilismo.” Momento mais alarmante: quando o devir se equipara ao nada.
“el pensamiento del eterno retorno debe pensarse «nihilistamente» y sólo «nihilistamente». Pero esto quieredecir aquí: el pensamiento del eterno retorno sólo puede pensarseen la medida en que también piensa el nihilismo como aquello quetiene que ser superado y como aquello que está ya superado en lavoluntad de crear. Sólo quien extiende su pensar hasta el más extremoestado de necesidad del nihilismo será capaz de pensar tambiénel pensamiento que lo supera como dando un giro a la necesidad[not-wendend]y como necesario [notwendig].”
“Ahora aparece en las proximidades de Zaratustra unperro, no un águila con la serpiente alrededor del cuello; y un aullido,no el canto de los pájaros. Todo se transforma en la imagen opuestaa la del temple propio del pensamiento del eterno retorno.”
“«Justo entoncesla luna llena se elevó, con un silencio de muerte, por encima dela casa, justo entonces se quedó inmóvil, un círculo incandescente,inmóvil sobre el techo plano, como sobre una propiedad ajena…»
En lugar de la claridad del sol brilla la luna llena, que también es unaluz, pero una luz prestada, sólo el reflejo externo de un brillar real, elpuro fantasma de una luz, que sin embargo alumbra lo suficientecomo para que los perros se asusten y aullen: «porque los perroscreen en ladrones y fantasmas». Pero el niño entonces tuvo piedaddel perro que se asustaba de un fantasma y aullaba armando tantoalboroto. En un mundo así, la compasión aparece especialmente entre los niños, que no comprenden todo eso y aún no han llegado a lamayoría de edad para lo que es.”
“aún entonces, no siendo ya unniño, cayó también en el temple de ánimo de la piedad y la compasióny se representó el aspecto del mundo a partir de ella. Con las palabrasde Zaratustra, Nietzsche alude a la época en que su mundo estabadeterminado por Schopenhauer y Wagner, cada uno de los cuales, a sumanera, enseñaba un pesimismo y en ultima instancia la huida en ladisolución, en la nada, en un puro estar flotando y dormido, y anunciabaun despertar, para poder seguir durmiendo mejor. (…) El mundo de Schopenhauer y de Wagner se le había vuelto cuestionable muypronto, antes de que él mismo lo supiera, ya al escribir la tercera ycuarta Consideración intempestiva: Schopenhauer como educador y RichardWagner en Bayreuth. En ambas obras, y por más que aparezca como sudefensor y que quiera serlo con su mejor voluntad, se produce yauna separación de ellos; no obstante, no era aún un despertar. Nietzscheno había llegado aún a sí mismo, es decir a su pensamiento,primero tenía que pasar por la historia previa de ese pensamiento ypor ese estadio intermedio en el que no sabemos adonde ir, en queno encontramos cómo salir realmente de lo anterior ni cómo entraren lo venidero. ¿Dónde estaba Zaratustra?”
A meia-noite de Nietzsche: dos 30 aos 37 anos. Um ano canino.
“Un hombre joven, o sea un hombre que ha abandonadohace poco la niñez, quizás aquel que había oído aullar al perro, elpropio Zaratustra; un joven pastor, alguien que está dispuesto a guiary conducir. Éste yace en la desolación de la luz reflejada. «¿Se habríaquedado dormido? Entonces la serpiente se deslizó en su garganta, yse aferró a ella mordiéndola.»”
“La serpiente negra es el sombríosiempre igual del nihilismo, su fundamental carencia de meta y desentido, es el nihilismo mismo. El nihilismo se ha aferrado mordiendoal joven pastor durante el sueño; el poder de esta serpiente sólopodía disponerse a deslizarse en la boca del joven pastor, es decir aincorporársele, porque no estaba despierto.” “Esto quiere decir: el nihilismo no se puede superar desde afuera, tratando de quitarlo con tirones y empujones, poniendo en lugar delDios cristiano otro ideal, la razón, el progreso, el «socialismo» económico-social, la mera democracia. Con estos intentos de eliminarla, laserpiente sólo se aferra cada vez más fuerte.” “Todos los tironeos y maquinaciones hechos desde afuera, todos losremedios temporarios, todas las simples presiones para apartarlo,desplazarlo y postergarlo son en vano. Todo es aquí en vano si el hombremismo no hunde los dientes en el peligro, y no en cualquier partey ciegamente: a la serpiente negra hay que cortarle la cabeza, lo querealmente determina y dirige, lo que está delante y arriba.” “A partir de aquí resulta claro: el joven pastor es Zaratustra mismo que en esta visión va al encuentro de sí, que tiene que gritarse a sí mismo con toda la fuerza de su íntegraesencia: ¡Muerde!” “el que sabe tiene que liquidar necesariamente este hastío que provoca el hombre despreciable.”
“De una parte está: todo es nada, todo es indiferente, con lo que nada merece la pena: todo es lo mismo. De la otra parte está: todo retorna, cada instante importa, todo importa: todo es lo mismo.”
“una meditación sobre lo recibido en dote y una decisión acerca de lo encomendado como tarea. La situación de necesidad misma no es otra cosa que aquello que abre el trasladarse al instante.”“En este pensamiento, lo que ha de pensarse, por el modo en que ha depensarse, repercute sobre el que lo piensa, apremiándolo; y esto, a suvez, sólo para integrarlo en lo que ha de pensarse. Pensar la eternidadexige: pensar el instante, es decir trasladarse al instante del ser sí mismo.” “Un pensamiento de este tipo constituyeun pensamiento «metafísico».”“¿Qué quiere decir entonces «posición metafísica
fundamental»?” “eso que llamamos «posición metafísica fundamental» pertenecepropia y exclusivamente a la historia occidental y contribuye esencialmentea determinarla. Algo así como una posición metafísica fundamental sólo era posible en el pasado y, en la medida en que se la intente aún en el futuro, lo pasado seguirá vigente como algo nosuperado, es decir, no apropiado. La posibilidad de una posiciónmetafísica fundamental debe discutirse aquí en un sentido básico y no exponerse con el carácter de un relato historiográfico. De acuerdocon lo dicho, esta discusión básica es esencialmente histórica.” “Metafísica es, por lo tanto, el título para la filosofía en sentidopropio [primeiro] y se refiere, por consiguiente, a lo que en cada caso constituyeel pensamiento fundamental de una filosofía. Incluso el significado habitual de la palabra, es decir el que ha llegado al uso común ycorriente, contiene aún un reflejo, aunque débil y muy indeterminado, de este carácter: con la denominación «metafísico» se designalo enigmático, lo que nos supera, lo inapresable. La palabra se empleaya sea en sentido peyorativo, según el cual estos enigmas no son másque algo imaginario y en el fondo un absurdo, ya sea en un sentidovalorizador, según el cual lo metafísico es lo inalcanzable último ydecisivo. En cualquier caso, sin embargo, el pensamiento se muevedentro de lo indeterminado, inseguro y oscuro. La palabra nombra más el final y el límite del pensar y del preguntar que su auténtico comienzo y despliegue.”
“Con la referencia a la desvalorización de la palabra «metafísica»no hemos penetrado en el auténtico significado de la palabra. Lapalabra y su surgimiento son muy singulares, su historia lo es másaún. Y sin embargo, del poder y del predominio de esta palabra y desu historia depende, en una porción esencial, la configuración delmundo espiritual de occidente, y con ello del mundo en general. Enla historia, las palabras son con frecuencia más poderosas que las cosas y los hechos.” “Con la referencia a la desvalorización de la palabra «metafísica»no hemos penetrado en el auténtico significado de la palabra. Lapalabra y su surgimiento son muy singulares, su historia lo es másaún. Y sin embargo, del poder y del predominio de esta palabra y desu historia depende, en una porción esencial, la configuración delmundo espiritual de occidente, y con ello del mundo en general. Enla historia, las palabras son con frecuencia más poderosas que las cosas y los hechos.”
“Quién es Nietzsche no lo sabremos nunca porun relato historiográfico de su vida, ni tampoco por la exposición del contenido de sus escritos. Quién es Nietzsche no querernos nitampoco debemos saberlo mientras nos refiramos sólo a la personalidady la figura histórica, al objeto psicológico y a sus producciones.”“En contra de su voluntadmás íntima, Nietzsche se transformó en incitador y promotor deuna amplificada autodisección y puesta en escena anímica, corporaly espiritual del hombre que tiene como consecuencia final y mediatala publicidad sin límites de toda actividad humana en «imagen ysonido», gracias a los montajes fotográficos y los reportajes”“Nietzsche forma parte de los pensadores esenciales. Con el nombrede «pensador» denominamos a aquellos señalados que están destinadosa pensar un pensamiento único, que será siempre un pensamiento«sobre» el ente en su totalidad. Cada pensador piensa sólo unúnico pensamiento. Este no necesita ni recomendaciones ni influenciaspara llegar a dominar.” Carta de recomendação da História
“El abuso casi increíble de la palabra «de|cisión»[Entscheidung]no puede disuadirnos, sin embargo, de conservarle ese contenido envirtud del cual está referida a la escisión [Scheidung] más íntima y a ladistinción [Unterscheidung]más extrema. Ésta es la distinción entre elente en su totalidad, lo que incluye a dioses y hombres, mundo ytierra, y el ser, cuyo dominio es lo que permite o rehusa a todo enteser el ente que es capaz de ser.” “Pues ésa es la otra característica que distingue al pensador: que envirtud de su saber llega a saber en qué medida no puede saber algoesencial.”
“Con el no conocer de lo que aún puedeconocerse acaba el conocer corriente. Con el saber de lo que nopuede saberse comienza el saber esencial del pensador¹. El investigadorcientífico pregunta para llegar a respuestas utilizables. El pensador pregunta para fundar la dignidad de ser cuestionado [Fragwürdigkeit]del enteen su totalidad.”
¹ Missão: restrição.
“Nietzsche es la transición desde el período preparatorio de lamodernidad —calculado historiográficamente, la época entre 1600y 1900— al comienzo de su acabamiento. La extensión temporal deeste acabamiento nos es desconocida. Presumiblemente será, o bienmuy breve y catastrófica o bien, por el contrario, muy prolongada,en el sentido de que se instituya lo ya alcanzado con una capacidadde durar cada vez mayor. En el estadio actual de la historia del planetano habrá ya lugar para medianías.”
“El ser es,pensado metafísicamente, aquello que se piensa, desde el ente comosu determinación más general y hasta el ente como su fundamento ysu causa.”
“El acabamiento metafísico de unaépoca no es la simple continuación hasta su fin de algo ya conocido.Es el establecimiento por primera vez incondicionado y de antemanocompleto de lo inesperado y que tampoco cabía esperar jamás.Respecto de lo anterior, el acabamiento es lo nuevo. Por eso tampocoes nunca visto ni comprendido por aquellos que sólo calculanretrospectivamente.”
“Inclusocuando ya no se conozca ni siquiera el nombre de Nietzsche,lo que su pensar tuvo que pensar seguirá dominando. A todo pensadorque piensa en dirección de la decisión lo mueve y lo consume lapreocupación por un estado de necesidad que no puede aún sersentido y experimentado en vida del pensador en el círculo de suinfluencia, historiográficamente comprobable pero inauténtica.”
“En el pensamiento de la voluntad de poder llega de antemano a su acabamiento el pensamiento metafísico mismo. Nietzsche, elpensador del pensamiento de la voluntad de poder, es el último metafisicode occidente. La época cuyo acabamiento se despliega en su pensamiento, la época moderna, es una época final. Esto quiere decir: unaépoca en la que, en algún momento y de algún modo, surgirá la decisiónhistórica de si esta época final será la conclusión de la historiaoccidental o bien la contrapartida de un nuevo inicio.”
“Lo que acontece no lo experimentamos nuncacon comprobaciones historiográficas de lo que «pasa». Como bienlo da a entender esta expresión, lo que «pasa» es aquello que desfiladelante de nosotros en el primer plano y en el fondo del escenariopúblico conformado por los sucesos y las opiniones que surgen sobreellos. Lo que acontece no puede jamás llegar a conocerse historiográficamente. Sólo es posible saberlo de modo pensante al comprenderlo que ha sido elevado al pensamiento y la palabra por aquella metafísica que ha predeterminado la época.”
“Si integramos la «filosofía» de Nietzsche en nuestro patrimoniocultural o la dejamos de lado, carece igualmente de significación. Loúnico funesto sería que nos «ocupáramos» de Nietzsche sin estardecididos a un auténtico preguntar y que pretendiéramos tomar esta«ocupación» por una confrontación pensante con el pensamientoúnico de Nietzsche. El rechazo inequívoco de toda filosofía es unaactitud que siempre merece respeto, pues contiene más filosofía delo que ella misma cree. El mero jugueteo con pensamientos filosóficosque desde el comienzo se mantiene fuera con múltiples reparosy que se lleva a cabo con fines de entretenimiento y diversión intelectuales, en cambio, despreciable, pues no sabe lo que está en juegoen el curso de pensamientos de un pensador.”
“todo pensador, cuando piensa por primera vez su pensamiento único lo piensa ya en su acabamiento, pero todavía no en su despliegue”
“Incluso el plan másgeneral que establece la división en la que se ordenan los manuscritosescritos en diferentes años es obra suya. Esta recopilación y publicaciónen forma de libro de las notas escritas por Nietzsche entrelos años 1882 y 1888, que no puede decirse que sea totalmentearbitraria, fue realizada, en un primer intento, después de la muertede Nietzsche y apareció en 1901 como tomo XV de sus Obras. Laedición de 1906 del libro La voluntad de poder recoge un númeroconsiderablemente mayor de manuscritos y fue integrada sin cambiosen 1911 en la «Edición en Gran Octavo», como tomos XV yXVI, reemplazando la primera publicación de 1901.”
“Con esta sentencia, la vida es voluntad de poder, llega a su acabamientola metafísica occidental, en cuyo inicio se encuentra laoscura expresión: el ente en su totalidad es ψνσις. La sentencia deNietzsche, el ente en su totalidad es voluntad de poder, enunciasobre el ente en su totalidad aquello que estaba predeterminadocomo posibilidad en el inicio del pensamiento occidental y que seha vuelto ineludible por obra de una inevitable declinación de ese comienzo. Esta sentencia no transmite una opinión privada de lapersona Nietzsche. Quien piensa y dice esta sentencia es «un destino». Esto quiere decir: el ser pensador de este y de todo pensador esencial de occidente consiste en la fidelidad casi inhumana a la ocultahistoria de occidente.”Graças a D.!
“la voluntad de poder, un peculiar dominio delser «sobre» el ente en su totalidad [bajo la forma velada del abandonodel ente por parte del ser]”
“ya Aristóteles y Platón, e incluso Heráclito y Parménides, y después Descartes, Kant y Schelling, «también» habían «hecho» una «teoría del conocimiento» tal, aunque ciertamente la «teoría del conocimiento» del viejo Parménides tenía que ser necesariamente muy imperfecta aún [western standards], ya que no disponía todavía de los métodos y aparatos del siglo XIX y XX.”
“Kant ha administrado la cuestión «gnoseológica» mucho mejor que los «neokantianos» que lo «mejoraron» posteriormente.”
“Precisamente el que goza de mejor parecer —y esto quiere decir: el más digno de fama— es aquel que tiene la fuerza de prescindir de sí y dirigir la mirada exclusivamente a lo que «es».”
“No debemosinterpretar a Heráclito con el auxilio del pensamiento fundamental de Nietzsche ni comprender la metafísica de Nietzsche simplementedesde Heráclito y declararla «heraclitea»” “Por eso, sólo tiene un interés historiográfico saber que Nietzsche«conocía» a Heráclito y lo apreció más que a nadie a lo largo de todasu vida, ya desde muy temprano, cuando aún se ocupaba exteriormentede sus tareas de profesor de filología clásica en Basilea. Filológico-historiográficamente quizás hasta podría demostrarse que la concepciónnietzscheana de la verdad como «ilusión» «proviene» deHeráclito, o dicho con más claridad: que al leerlo lo había plagiado.Dejamos a los historiógrafos de la filosofía la satisfacción por el descubrimiento de este tipo de relaciones de plagio.” “Se podríaaún responder a esta pregunta indicando que ya cuando era estudiantede bachillerato Nietzsche admiraba especialmente al poeta Hölderlin,en cuyo Hiperiónse alaban pensamientos de Heráclito. Pero la mismapregunta se plantea nuevamente: por qué apreciaba tanto precisamentea Hölderlin, en una época en que generalmente sólo se lo conocíade nombre y como un romántico fracasado. Con esta historiográficaciencia de detectives dedicada a rastrear dependencias no avanzamosabsolutamente nada, es decir no avanzamos jamás en dirección de loesencial sino que sólo nos enredamos en parecidos y relaciones extrínsecas.”
“Verdad quiere decir: adecuacióndel representar a aquello que el ente es y tal como es.”
INFANTILISMO GNOSEOLÓGICO DE GABRIEL KEENE: “Corrección en el sentido decorrección lógica quiere decir que una proposición se sigue de otra de acuerdo con las reglas de la inferencia. A la corrección en el sentido de no contradictoriedad y de corrección lógica se la llama también «verdad» formal, no dirigida al contenido del ente, a diferenciade la verdad material, de contenido. La conclusión es «formalmente» verdadera, pero materialmente no.” Uma metafísica de primeira também pode ser uma teoria do conhecimento de quinta. Literalmente, um erro antigo.
“¿Cómo un pensar cuyopensamiento fundamental concibe al ente en su totalidad como «vida»no habría de ser biológico, más biológico aún que cualquier tipo debiología que conozcamos?”
“¿Por qué un modo de pensar metafísico no habría de serbiologista? ¿Dónde está escrito que esto sea un error? ¿No es, por el contrario, un pensar que comprende a todo el ente como algo viviente y como un fenómeno de la vida el que está más cerca de lo efectivamente real y por ello el más verdadero? «Vida»: ¿no nos resuena en esta palabra lo que comprendemos propiamente por «ser»? El propio Nietzsche observa en una oportunidad (La voluntad de poder, n. 582; 1885-1886):
«El <ser>: no tenemos de él otra representaciónmás que <vivir>. ¿Cómo puede entonces <ser> algo muerto?».”
“Efectivamente,sería algo forzado y, además, un esfuerzo vano, pretender ocultar,o siquiera debilitar, el lenguaje biológico que está tan manifiestoen Nietzsche, pretender ignorar que ese lenguaje encierra un modode pensar biológico y no es, por lo tanto, una capa externa. A pesarde ello, la caracterización usual, y en cierto sentido incluso correcta,del pensar nietzscheano como biologismo representa el obstáculo principalque impide avanzar hacia su pensamiento fundamental.” “Qué sea lo viviente y que tal cosa sea, es algo que no decide nunca la biología en cuanto biología, sino que el biólogo, en cuanto biólogo, hace uso de esa decisión como algo que ya ha ocurrido, un uso ciertamente necesario para él. Pero si el biólogo, en cuanto tal persona determinada, toma una decisión acerca de lo que debe considerarse como viviente, entonces no lleva a cabo esa decisión encuanto biólogo, ni con los medios y las formas de pensamiento y de demostración propios de su ciencia, sino que habla como metafísico, como un hombre que, más allá de la región correspondiente, piensa el ente en su totalidad.
De la misma manera, el historiador del arte no puede nunca, en cuanto historiador, decidir qué es para él arte y por qué tal obra es una obra de arte. Estas decisiones sobre la esencia del arte y sobre el carácter esencial del ámbito histórico del arte son tomadas siempre fuera de la historia del arte, aun cuando sean continuamente empleadas dentro de la investigación que ésta realiza.”“Más allá del dominio meramente calculante de una región, toda ciencia sólo es un auténtico saber en cuanto se fundamentametafísicamente, o cuando ha comprendido que esa fundamentaciónes una necesidad inamovible para su consistencia esencial”
“El paso del pensar científico a la meditaciónmetafísica es esencialmente más extraño y por lo tanto más difícilque el paso del pensar cotidiano precientífico al modo de pensar deuna ciencia.” “La idea de una «concepción del mundo científicamentefundada» es un significativo engendro de la confusión espiritual quefue tomando carácter público con fuerza cada vez mayor en el últimotercio del siglo pasado y que alcanzó notables éxitos en el área de lapseudocultura y la vulgarización científica.” “(…) el fundamento metafísico de las ciencias unas veces esreconocido como tal, aceptado y nuevamente olvidado, y otras veces,
las más, no es pensado en absoluto o rechazado como unafantasmagoría filosófica.
Ahora bien, si,por ejemplo, determinadas concepciones sobre loviviente dominantes en la biología y provenientes del ámbito de lo vegetal y lo animal, se trasladan a otros ámbitos, por ejemplo el de lahistoria, puede hablarse de biologismo; ese nombre designa entonces el hecho ya aludido de que el pensamiento biológico se extiende, excediéndose quizás y rebasando sus límites, más allá del ámbito de la biología. En la medida en que se ve en ello un abuso arbitrario, una violencia infundada del pensar y, finalmente, una confusión delconocimiento, es necesario preguntar cuál es la razón de todo ello.”“El biologismo no es tanto la simplepérdida de límites del pensar biológico como el completo desconocimientode que ya el pensar biológico mismo sólo resulta fundamentable y decidible en el ámbito metafísico y que no puede jamás justificarse a sí mismo científicamente.”
“Se diga sí o se diga no al «biologismo» de Nietzsche, en cualquier caso se permanece en la superficie de su pensar. La tendencia a actuar así encuentra su apoyo en el carácter que poseen las publicaciones de Nietzsche. Sus palabras y sus frases provocan, arrastran, penetran y excitan. Se cree que con sólo dejarse llevar por esta impresión ya se ha entendido a Nietzsche.”
“Si se la traduce de un modo aparentemente literal:«Pues es lo mismo representar y ser», se tiene la tentación de extraercomo contenido de la sentencia la superficial concepción de Schopenhauer: el mundo es meramente nuestra representación, no «es»nada en y por sí. Pero a diferencia de esa interpretación subjetiva, la sentencia tampoco significa simplemente lo contrario: que el pensar es también algo ente y pertenece al ser. La sentencia significa lo ya dicho: sólo hay ente donde hay percibir, y sólo percibir donde hay ente. La sentencia alude a un tercero, o a un primero, que sostiene lacopertenencia de ambos: la alétheia.”
“Este exameny discusión de los γένητοίόντος, de las «proveniencias del ente» (en cuanto tal), se llama desde Platón «dialéctica». El último y a la vez más potente intento de examinar de este modo las categorías, es decir los respectos de acuerdo con los cuales la razón piensa el ente en cuanto tal, es la dialéctica de Hegel, a la que éste configuró en una obra que lleva el auténtico y adecuado título de Ciencia de la lógica.”“En la medidaen que la elucidación y determinación de la razón puede y tieneque llamarse «lógica», también puede decirse: la «metafísica» occidental es «lógica»; la esencia del ente en cuanto tal se decide en el horizonte visual del pensar.”
“Los más grandes racionalistas son los quemás fácilmente caen en el irracionalismo, y a la inversa: cuando el irracionalismo determina la imagen del mundo, el racionalismo celebra su triunfo. (…) «Lógico» no quiere decir aquí: pensado de acuerdo con las reglas de lalógica escolar, sino: calculado a partir de la confianza en la razón.”
“La explotación prácticasólo se vuelve posible sobre la base de la «utilidad» teórica.”
Estou no perfeito ponto médio entre o artista, o moralista e o filósofo, conforme o entendimento clássico. Isso quer dizer que eu sou péssimo em cada um dos três (Filosofia, Direito e Arte) ou que sou um prefigurador do filósofo-legislador-arauto que irá surgir como síntese da nova aristocracia nos próximos séculos?
“La casidad, lo que hace que una casa sea una casa, es lo propiamente ente en ella; lo verdaderamente ente es el είδος, la «idea».”
“¿Qué se considera como ente, incluso cuando ya se ha perdido el originario modo de percibir platónico?”
“Pero el pensamiento de Nietzsche no apunta a poner otra interpretación de lo verdaderamente ente en lugar de la cristiana, a suplantar el Dios cristiano y su cielo por otro Dios, manteniendo la misma dei-dad.”
“Preguntar qué es el conocimiento humano quiere decir quererconocer el conocer mismo. Con frecuencia se encuentra que este propósito es un contrasentido, algo absurdo y paradójico, comparable con el propósito del barón de Münchausen¹ de sacarse de la ciénagatirando él mismo de sus propios cabellos. (…) En efecto, el conocer no es para el hombre algo que se conozca y reconozca sólo ocasionalmente, o quizás sólo cuando se pone a construir una teoría del conocimiento, sino que en el conocer mismo ya está implícito que éste se ha conocido.”
¹ Aceito como “Münchausen” ou “Münchhausen”.
“Por ser así, sólo a este hombre histórico occidental puede sucederle que sea atacado por la falta de meditación, por una perturbación de la meditatividad, destino del que queda totalmente preservadauna tribu negra. A la inversa, la salvación y la fundación del hombrehistórico occidental sólo pueden provenir de la suprema pasión de la meditación.”
“La vida vive viviendo corporalmente. Quizás tengamos muchosconocimientos, casi inabarcables, acerca de lo que llamamos el cuerpoviviente [Leibkorper], sin que hayamos meditado seriamente sobrelo que sea vivir corporalmente [leiben].Es algo más y algo diferenteque «llevar consigo un cuerpo», es aquello en lo que adquieren supropio carácter procesual todos aquellos sucesos y fenómenos quecomprobamos en el cuerpo de un ser viviente. Vivir coroporalmentequizás sea por el momento una expresión oscura, pero nombra algoque, a propósito del conocimiento de lo viviente tiene que experimentarsey mantenerse presente en la meditación en primer lugar yconstantemente.” “Caos es el nombre para la vida que vive corporalmente, parala vida en cuanto vida corporal tomada en gran escala.”
“el pensamiento de Nietzsche quiere decir que el hombre y el mundo deben verse primariamente desde el cuerpo y la animalidad, de ninguna manera que el hombre descienda del animal, y más exactamente del «mono», ¡como si una doctrina de la descendenciade este tipo pudiera decir algo sobre el hombre!”
«Los monos son demasiado bonachones como para que el hombrepueda descender de ellos».
(XIII, 276; 1884)
“El valor supremo, a diferencia del conocimiento y la verdad, es el arte. Éste no copia lo que está allí delante ni lo explica desde otra cosa queesté allí delante, sino que transfigura la vida, la eleva a posibilidadessuperiores, aún no vividas, que no están suspendidas «por encima» dela vida sino que, por el contrario, la despiertan nuevamente desde ellamisma a su estado de vigilia, pues «sólo por el encanto permanecedespierta la vida» (Stefan George, Das Neue Reich, p. 75).”
“El arte es así el experimentar creador de lo que deviene, de lavida misma, y también la filosofía —pensada de modo metafísico,no estético— no es, en cuanto pensar pensante, otra cosa que «arte».”
“Lo que ha de conocersey es cognoscible es caos, pero éste nos sale al encuentro demodo corporal, es decir en estados corporales e integrado y referidoa ellos; el caos no sale al encuentro sólo en los estados corporales,sino que ya al vivir nuestro cuerpo vive corporalmente como unaola en la corriente del caos.”
“El conocer no es como un puente que en algún momento y secundariamente une dos orillas de un río que subsistenpor sí, sino que es él mismo un río que al fluir crea las orillas y las vuelve una a la otra de un modo más originario que lo que pueda nunca hacerlo un puente.”
“«Vida» es, sin embargo, el término que designa al ser, yser quieredecir: presenciar, resistir a desaparecer y desvanecerse, consistir, consistencia. Si, por lo tanto, la vida es ese caótico vivir corporal y esesobrepujarse en medio del acoso [umdrangtes Sichüberdrängen], sidebeser lo propiamente ente, entonces a lo viviente tiene que importarleal mismo tiempo y con igual originariedad resistir al impulso [Drang]y al sobrepujamiento [Überdrang],suponiendo claro que este impulsono impulsa a la mera aniquilación. Esto no puede suceder porqueentonces el impulso se expulsaría a sí mismo y de ese modo tampocopodría jamás ser un impulso. Por ello, en la esencia del impulso que se sobrepuja se encuentra algo que le es conforme, es decir algoimpulsivo, que lo impulsa a no sucumbir al embate [Andräng] sino aestar erguido en él, aunque más no sea para poder ser pasible de impulso[bedrängbar]y poder ser sobrepujándose. Sólo lo que está erguido puede caer.¹ Pero resistir el embate empuja hacia la consistencia yhacia lo que tiene existencia consistente. Lo consistente y el impulsohacia ello no son, por lo tanto, algo ajeno al impulso vital, algo quelo contradice, sino que, por el contrario, corresponden a la esencia de lavida que vive corporalmente: para vivir, lo viviente tiene que, pormor de sí mismo, impulsar hacia algo consistente.”
¹ Como já dizia Gillette’s Neymar Jr.
“La praxis como ejercicio de la vida es en sí aseguramiento de la existencia consistente. La praxis es en sí misma —en cuanto aseguramiento de la existencia consistente— una necesidad de esquemas. De la esencia de lo viviente en lo que hace a su vitalidad, del aseguramiento de la existencia consistente en el modo de la necesidad de esquemas, forma parte un horizonte. La vitalidad de un viviente no termina en este círculo delimitador, sino que comienza constantemente desde él.”
“Para Nietzsche el hombre es el animal que aún no ha sidofijado. Se trata de decidir en primer lugar en qué consiste la animalidady en qué sentido hay que comprender la fijación esencial que se hahecho hasta ahora del animal «hombre», su distinción por medio dela racionalidad.”
“El horizonte está siempre dentro de una perspectiva, de un mirar através en dirección de algo posible que se eleva y sólo puede elevarsedesde lo que deviene, es decir desde el caos. La perspectiva es unatrayectoria de la mirada previamente abierta sobre la que se formaen cada caso un horizonte.”
“Pero sobre todo, horizonte y perspectiva se fundan en una figura esencial másoriginaria del ser humano (en el ser-ahí), que Nietzsche, lo mismoque toda metafísica anterior a él, ni ve ni puede ver.”“Lo consistentesólo es perceptible en cuanto tal en la perspectiva que se dirige aalgo que deviene, y lo que deviene sólo se descubre en cuanto talsobre el fondo transparente de algo consistente.”
“Así pues, la razón, como lo fue viendo Kant de manera cada vezmás clara en el curso de su pensamiento, es en su esencia «razónpráctica», lo que quiere decir: percepción proyectante de lo que ensí mismo tiende a posibilitar la vida. Proyectar la ley moral en larazón práctica quiere decir: posibilitar el ser hombre como persona,la cual está determinada por el respeto ante la ley. La razón despliegasus conceptos y categorías de acuerdo con la correspondiente direccióndel aseguramiento de la existencia consistente.”
“Si desde antiguo se considera al conocer como un re-presentar[dar-stellen], el concepto nietzscheano del conocimiento conservaesta esencia del conocimiento, pero el peso del poner–delante [Vor–stellen]se traslada al poner-delante [Vor-stellen], al llevar ante sí comoun poner en el sentido de establecer [auf-stellen], es decir de fijar[Festmachen],de pre-sentar [Dar-stellen]en el dispositivo [Gestell]deuna forma. Por ello el conocer no es «conocer», es decir, no es reproducir.El conocer es lo que es en cuanto remitir [Zustellen]en loconsistente, en cuanto subsumir y esquematizar.”
“Existe siempre la tendencia a partir del hombre«individual» para atribuirle sólo después las relaciones con losotros y con las cosas. Tampoco se consigue nada afirmando que elhombre es un ser social y un animal gregario, puesto que inclusoentonces la comunidad puede seguirse entendiendo como una merareunión de individuos. Así como hay que decir, en general, que inclusoesa formulación más plena «del» hombre como aquel que secomporta respecto del otro y de la cosa y de ese modo respecto de símismo seguirá manteniéndose en un nivel superficial si, previamentea todo ello, no se ha señalado aquello que remite al fundamentosobre el que descansa la relación con el otro, con la cosa y consigomismo. (Este fundamento es, según Ser y Tiempo,la comprensión de ser.Ésta no es la instancia última sino sólo el elemento primero del queparte la indagación del fundamento para el pensar del ser comofundamento abismal[Ab-Grund].)”
“Si estuviéramos entregados a una marea de representaciones ysensaciones cambiantes y fuéramos arrastrados por ella, no seríamosnunca nosotros mismos, ni tampoco los demás hombres podrían jamásaparecerse a sí mismos y a nosotros como los mismos y como símismos. De la misma manera, también aquello acerca de lo cual losmismos hombres deberían entenderse entre sí sería algo carente deexistencia consistente. En la medida en que el mal entendimiento yla falta de entendimiento son sólo modos derivados del entenderse,el salir al encuentro de esos mismos hombres en su identidad[Selbigkeit